quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Massa, massa, massa

É certo que a preparação para uma Maratona envolve muito tempo prévio - tempo que nem sempre temos. Envolve muitos quilómetros, vários treinos longos - de preferência pela manhãzinha, o que corta horas de sono - muitas escolhas pessoais em termos sociais. O apoio de família e amigos é fundamental. Isto que digo não deveria ser novidade para quase ninguém, não há assim nada de novo nas minhas palavras. 

Mas calma, nem tudo são agruras nos meses que antecedem o grande evento! Na semana antes vem uma parte porreira que consiste em enfardar o maior número de hidratos de carbono possíveis para que o corpo os armazene e os use depois durante aqueles 42kms. Pronto, em termos técnicos não é bem assim, mas na realidade é como uma pessoa gosta de pensar que vai ser. À pala disso, tenho massa suficiente para dar e vender e, se necessário, para comer em todas as refeições do dia, pequeno-almoço e lanches incluídos!

Se tudo o resto falhar, pelo menos aquela "maçada" de ter que acordar para treinar ao fim de semana mais cedo do que se acorda para trabalhar durante a semana transforma-se numa "massada" em termos alimentares. Não que eu precise de uma boa desculpa para comer um bom prato de massa, diga-se.

A excitação e o nervosismo para domingo estão cá. Suponho que nunca passem, independentemente do número de maratonas que já tenhamos corrido. Daqui a umas quantas digo-vos. Por agora vou continuar o meu carboload ao mesmo tempo que faço um marathonload. Já vi que o IPMA e o WindGuru apresentam uma previsão de chuva para domingo que deverá começar a cair durante a prova. Uma "maçada", se assim for, mas são aquelas coisas que não conseguimos controlar.

Agora já só cá devo voltar depois da prova para contar como foi. Espero regressar aqui como tri-maratonista e, sejamos ambiciosos, com um tempo final abaixo das 4:40. Mas se o cronómetro marcar mais não vem mal nenhum ao mundo, não será nenhuma "maçada".

O que é uma "maçada" é ter que esperar um ano inteiro para passar por este turbilhão todo de emoções!

Boa prova para todos! Lá nos encontraremos!
Até breve!

domingo, 28 de outubro de 2018

20km de Almeirim - uma luta a três

"Estás a ser cobaia para tudo o que hei-de escrever no blog."

Estava eu a partilhar as aventuras da ida a Almeirim quando me saiu esta frase. E não é mentira, tudo o que eu estava a dizer já era um resumo das ideias chave que tinha pensado em partilhar aqui. Ora bem, assim sendo não é tarde nem é cedo (são 18:00) e toca a escrever já o texto enquanto está tudo muito fresco na minha cabeça.

E, por falar em cabeça, ela hoje foi essencial para que este último desafio em modo de treino longo corresse às mil maravilhas. Nem vou guardar suspense, até porque já partilhei o resultado de forma generalizada.

Grande parte da prova foi feita numa luta a três: o coração dizia-me que eu aguentava na boa um ritmo de 5:15m/km e sempre que eu me deixava ir as pernas puxavam-me para um um ritmo de 5:30m/km. Felizmente a cabeça meteu juízo em ambos e fez-me manter o foco num ritmo médio final de 5:45m/km que era exactamente o que estava planeado. Tinha demasiada gente preocupada com o facto de fazer esta prova uma semana antes do Porto e eu próprio tinha que ganhar esta luta. E é tão difícil forçar a correr mais devagar quando nos sentimos bem. Aquilo que me fui mentalizando ao longo das semanas foi que o plano de treinos - se é que eu o posso usar a meu favor depois de o ter seguido de forma ligeira - dizia para fazer 8km lentos seguidos de 11km a ritmo de maratona. Ora eu transformei isso em 20km a ritmo controlado. Vou acabar no Porto com 5:45m/km? Não, tirem daí a ideia, vá.

A ida até Almeirim correu bem, as dicas do Filipe ajudaram a estacionar longe da confusão, mas entre ir levantar os dorsais e regressar ao carro para equiparmos já me tinha cruzado com 3287 amigos e conhecidos. Felizmente os meus companheiros de equipa também reconheceram algumas caras que lhes eram familiares portanto não desesperaram por eu ter que parar ao fim de 10 passos. Até deu para falar duas vezes com o João Lima acompanhado pela armada dos 4 ao KM onde se incluíam a Isa e o Vítor. Na segunda das vezes ele diz-me que o Filipe já tinha perguntado por mim. Só me cruzei com ele num retorno e depois tive finalmente o prazer de o conhecer pessoalmente depois da prova. Muito prazer Filipe, tive imenso gosto em conhecer-te em carne e osso, em visitar Almeirim sem ser em dias de almoços de aniversário e em fazer esta prova. Também vi o Vítor, alguns elementos dos azulinhos com quem corro nos troféus das localidades, caras conhecidas do Correr Lisboa e estou certamente a esquecer-me de alguém.

Com tantos encontros imediatos o que ficou para o fim foi a ida ao WC que tanto eu e um dos meus colegas tanto precisávamos antes da partida. Foi aliviar a bexiga, correr até à partida e começar a correr, não sem antes desejar os habituais votos de boa prova. Deixei-os ir ao ritmo deles e fiquei para trás para não me entusiasmar. Talvez por causa do vento frio, fiquei com dor de burro ao fim do primeiro quilómetro. Assustei-me um pouco, tentei controlar a respiração e a coisa passou para não mais voltar.

Os primeiros 5km são uma volta inicial dentro de Almeirim para depois se voltar a passar pela meta. Achei que estava pouca gente nas ruas, mas estava muita malta concentrada na zona da partida e meta. Na segunda passagem a coisa não melhorou mas havia quem fizesse barulho e batesse palmas para aquecer as mãos. Não fiquei desiludido, percebo que o frio era mesmo muito e o vento não ajudava. Se um dos nossos colegas de equipa acabou por ficar em casa por causa do tempo, entendo que o público também tivesse reservas em sair à rua.

Pouco depois da saída de Almeirim o João passa por mim e diz-me, de forma inspiradora, que vou bem a controlar o ritmo e que ao contrário do habitual não ia desejar força, mas sim calma. Ele seguiu em óptimo andamento e aquela frase deu azo a que um senhor mais experiente metesse conversa comigo. Falou-me de quando no ano passado começou feito louco e pagou a fava aos 18,5kms e ali fomos juntos durante uns quantos quilómetros. Eu disse-lhe que ia ao Porto para a semana, daí hoje ter que ir de forma tranquila, mas que em provas longas também gostava de fazer provas de trás para a frente e já tinha aprendido isso por má experiência própria. A conversa durou e durou e eu senti que estava a baixar o andamento mais que o desejado portanto acabei por deixar aquele companheiro mais ou menos na altura em que começaram a vir de frente os primeiros classificados.

O vento ali fazia-se sentir de forma mais pronunciada. Dentro da cidade estávamos mais protegidos pelos prédios, mas a caminho da ponte não havia hipótese de abrigo. Era uma fase de luta contra outro elemento que não conseguimos controlar. Fui-me distraindo a ouvir conversas alheias e à procura de mais caras conhecidas do outro lado. Vi passar o casal de colegas de equipa com quem fui e iam bem. Fiquei tranquilo com isso e segui até ao ponto de retorno. Aquela subida é chatinha.

O que eu não percebi foi que tinha ido a subir ligeiramente durante largos quilómetros e só notei isso quando... comecei a descer. Nota-se bem ali ao quilómetro 14, não é? 

Se para lá tinha visto passar os primeiros, agora no regresso  vi passar os últimos e lá estava uma cara conhecida a quem desejei uns enormes fotos de força para o resto da prova. Recebi um grande agradecimento no final. Nesta altura, precisamente a partir do quilómetro 14 formou-se de forma tácita um grupo de 4 atletas onde eu estava incluído. Fomos calados até ao abastecimento dos 15kms, até que eu tive que quebrar o gelo. "Estamos juntos há um quilómetro e vamos todos calados. É fome ou cansaço?". Recebi risos de volta e respostas de fome, de cansaço e de ambos. Uma senhora era de Almada e disse já ter 50 e não sabia se aguentava o ritmo. Os 50 não eram quilómetros como eu insinuei, eram anos. O ritmo era marcado por um atleta que já tinha 60. Anos também. E a tentar manter-se connosco estava uma atleta do Correr Lisboa que eu ainda pensei ser a mesma que tinha encontrado em Coimbra, mas não era. E eu ali feliz e contente por ter companhia, por ir bem disposto e por poder também ajudar. Fomos puxando à vez e sempre juntos até à meta. Íamos trocando umas palavras e uns rasgados sorrisos para os fotógrafos. Às palavras de cansaço seguiam-se outras de ânimo e de força. Tinha pensado esticar um pouco nos quilómetros finais, mas acabei até por abrandar para não largar ninguém. A tal atleta de 50 ficou ligeiramente para trás no final, mas acompanhada por outra atleta com quem já tinha ido no início da prova. Depois da meta esperámos por ela, dei-lhe um abraço e quando viro costas ouço-a comentar com alguém que "estes dois senhores ajudaram-me imenso a acabar, estou-lhes muito agradecida." Foi o momento #ninguemficaparatras!

Quem também ia quebrando era a atleta do Correr Lisboa, mas não a deixámos terminar sozinha. Uns cumprimentos finais de agradecimento entre todos antes de cortar a meta e estava feito. Já diz o ditado que sozinhos podemos correr mais rápido, mas juntos corremos mais longe. E estava tão pouco preocupado com o meu tempo que nem vi o que marcava quando parei o relógio. Foi mais importante o abraço. Assim que parei para respirar já estava o João novamente (belo tempo!) com quem troquei ideias sobre recordes dos 20km. Tecnicamente o meu record é no Douro Vinhateiro no dia em que bati o record da Meia, mas vou contabilizar que em provas de 20km o meu record foi batido hoje. Não era difícil, já vinha de Fevereiro de 2016, dos extintos 20km de Cascais, e era de 02:01:57.

Tecnicamente, portanto, bati um record antes da Maratona. Mesmo que esse record em provas de 20km seja superior ao meu record em Meias Maratonas. Confuso? O melhor é voltar a Almeirim para o ano sem rédea curta para fazer abaixo de 1:50! E foi de voltar a Almeirim que se falou enquanto se comia a bela da sopa da pedra no final. E voltar com mais malta da equipa, porque uma prova com este convívio no final e a este preço merece ter mais gente, tal como acontece quando vamos a Tagarro, Mafra ou Peniche, por exemplo. Temos marcado sempre presença em Almeirim, mas por uma razão ou outra sempre em número modesto.

O tempo final aqui apresentado é o absoluto. O relógio marca 1:55:50. O tempo de chip estará entre um e outro.

Nada mais havendo a dizer, encerrou-se assim esta prova da qual se lavrou o presente texto.

Próxima paragem: Maratona do Porto. (E um arrepio na espinha ao escrever isto!)



Prova nº 94 - 20kms de Almeirim 2018 - 20km - 01:56:25

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Meia Maratona de Coimbra

"Força? Só se for para ti que estás no passeio. Desse lado é fácil falar, aqui dentro é mais difícil!"


Foi mais ou menos esta a reacção de um atleta ao meu lado, por volta do sexto quilómetro, quando alguém no passeio - com camisola da equipa Viseu 360º e com dorsal colocado - desejou força a uma colega que passava a correr. O comentário foi meio entre-dentes e só terá sido escutado por quem estava mesmo ali ao pé dele. Pode ter sido só um desabafo de alguém a ter um dia mais complicado, mas não gostei do tom da resposta. Também posso ter interpretado mal, mas não me pareceu de todo ter sido uma resposta em modo brincalhão. Marquei aquele atleta.

Isto tocou-me também de forma particular porque tínhamos acabado de passar pelo centro de Coimbra, zona cheia de público a assistir... em silêncio quase absoluto. À entrada fiz o que faço sempre que é pedir palmas e barulho e aquilo que ouvi foi o som de grilos, seguido de um lamento do atleta que vinha atrás de mim. "Ninguém apoia, ninguém disse nada." Ainda atirei para o ar se não era suposto ser uma festa, respondeu-me uma das voluntárias a dizer que o barulho que faz é para nos indicar que há águas ali à frente. É justo. Agradeci, continuei e concentrei-me nos atletas à minha volta. A partir daí praticamente ignorei a hipotética existência de público, sobretudo porque sabia que saíndo da cidade raras seriam as pessoas que estariam a assistir.


Depois dos quilómetros iniciais a aproveitar a descida da Universidade até ao centro da cidade era altura de estabilizar o ritmo e ignorar as vozes na minha cabeça que me diziam para continuar a atacar em busca de uma marca melhor. Olhei em volta e segui um atleta para me fazer de lebre improvisada. Só que ele agarrou-se à coxa, encostou ao passeio a alongar e não sei se terá continuado. Rapidamente olhei para outro mesmo ao lado, camisola da selecção vestida, que... encostou ao outro lado do passeio. Fiquei na dúvida se ia cumprimentar alguém mas pareceu-me que também não continuou. E dou por mim ao lado do tal atleta do comentário que dá início a este texto. Oh pá, não me apetece ir com ele. Felizmente ele tinha um ritmo mais rápido e passei a vê-lo mais ao longe.

Passa então por mim um grupo de 4 Viriathvs Runners (Viseu deve ser a cidade do país com maior concentração de equipas por metro quadrado) e fui na cola deles. Uma das atletas pareceu-me desconfiada porque olhou para trás vezes sem conta. Eu não disse nada mas devia ter metido conversa já que ainda fui quase dois quilómetros atrás deles até ao abastecimento dos 10km. Parou tudo para beber isotónico e eu segui à frente deles. Voltei a encontrá-los depois da meta. Um dos meus colegas de equipa conhece um deles e trocaram algumas palavras. Tão extrovertido que consigo ser e tão encavacado ao mesmo tempo!
Na segunda metade da prova vinha a parte que eu mais gosto: os retornos! Vi muitos amigos que iam à minha frente, deu para perceber quem vinha bem e quando virei vi os restantes elementos da equipa que vinham atrás de mim. Uma festa cruzar-me com a malta, festa que durou até próximo do abastecimento dos 15km. Ao meu lado ia seguindo quase sempre o tal atleta, em amena cavaqueira com outros dois amigos. De entre tantas camisolas de várias equipas dei por mim a puxar pelos Vicentes com quem me cruzava. Desta vez não conhecia nenhum, mas não fazia mal. Apoio é apoio!


A paragem no abastecimento foi ligeiramente mais prolongada para reforçar a dose de Red Bull. Olhei para o relógio, fiz umas contas em relação ao tempo final que percebi estarem erradas e passei os metros seguintes a corrigir mentalmente a minha matemática. E comecei a sentir umas dores de cabeça pouco vulgares. Pensei serem do facto de ter acordado às 6 da manhã e já ter conduzido 200kms até Coimbra - e de não ter bebido café! - mas descobri que era apenas o chapéu que estava apertado. Problema resolvido num ápice. Olhei em frente, porque olhar em frente era melhor que olhar em volta e ver a quantidade de árvores partidas e de troncos no chão ainda fruto das condições climáticas do fim de semana passado. Mas olhando em frente via lá ao fundo "o" atleta. Dez quilómetros depois daquele comentário ele continuava no meu raio de visão. Achei que o único modo de resolver isso era ir atrás dele para o ultrapassar. Pequenos objectivos parvos para uma pessoa se manter focada are à meta.

Pelo caminho já eram vários os atletas a fraquejar e a caminhar. Fui tentando dar alguma força e energia a quem ia ultrapassando. Passei por uma atleta em particular, do Correr Lisboa, com quem ainda troquei umas palavras. Vamos com 19 quilómetros, 'bora lá está quase, não dá para mais? Resposta negativa, já tinha rebentado. Infelizmente era sempre esta a reacção que tinha e não consegui trazer ninguém comigo na parte final. O que consegui foi ultrapassar o tal atleta, na recta que antecede a entrada na Ponte de Santa Clara. Ainda bem!

Não que o sucesso da prova dependesse disso, mas assim permitia-me concentrar na melhor parte: a chegada à meta. Em primeiro lugar foi preciso desviar-me de quem ia à minha frente para chamar a atenção da ET que estava lá do outro lado da ponte com a dupla tarefa de tirar fotos e de avisar a malta na meta de quem vinha aí. Depois entrando na meta foi ver onde estava a minha claque pessoal com quem tive novamente o prazer de atravessar a meta. Tem sido um hábito nas provas das Running Wonders e dá-me um gosto especial que assim seja.

A prova não terminava ali, ainda havia mais colegas de equipa em prova portanto estava na altura de voltar atrás. Rapidamente chegaram alguns, excepto uma que vinha um pouco mais atrás. Ainda nos preocupou a demora e lá íamos nós à procura dela quando a avistamos no horizonte com o seu maior sorriso. Tive direito a segunda passagem pela meta! Ou como ouvi depois: "Já sei porque quiseste passar a meta com a Maggie: foi para ires beber outra cerveja!" Tecnicamente não foi, mas como ela até não bebeu...

Completou-se assim a terceira presença na Meia Maratona de Coimbra. Infelizmente nunca deu para mais do que uma curtíssimo passeio antes da prova e um almoço sempre na Pastelaria Vénus onde se repõem os açúcares gastos apenas por olhar para a vitrine dos bolos. Seguiram-me mais 200kms de regresso a casa. Coimbra merece um fim de semana prolongado. E merece também uma ida à prova sem ser na antecâmara da Maratona do Porto para poder aproveitar ao máximo a altimetria negativa do percurso e não me retrair no ritmo. Para o ano, talvcz. Veremos. Foi a minha vigésima Meia Maratona e foi o meu quinto melhor tempo de sempre. Aproveitando a descida inicial para embalar e fazendo o resto em "ponto morto". Um dia que lá vá e acelere logo se vê o que acontece. Ou faço um tempo canhão - para as minhas possibilidades - ou rebento a meio e não acontece nada. 

Faltam duas semanas para o grande dia. Senti-me melhor que na Meia da semana anterior, sobretudo na zona intermédia da prova nos locais mais "chatos". Repito aqui o que já disse hoje: estou confiante, mas sem nunca perder o respeito pela distância.

Próxima paragem: Almeirim!

Prova nº 93 - Meia Maratona de Coimbra 2018 - 21km - 01:57:48

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Meia Maratona do IC2

Surreal!
 
Até só ano passado, somando ambas as provas, tinham-se realizado 45 edições de Meias Maratonas das pontes. Nunca tinha sido necessário recorrer ao plano B por questões de segurança. Em 2018 isso aconteceu não numa ponte, mas em ambas. Tenho a sensação que por mais anos que corra isto nunca mais vai acontecer em qualquer das duas provas. Ter que activar o plano de contingência duas vezes no mesmo ano é algo único. E surreal! E eu, tal como muitos outros, teremos um dia o privilégio de dizer que participámos nestas edições "especiais". É claro que hoje ainda estou muito em cima do acontecimento para dizer de caras que "até foi engraçado" mas o certo é que já tenho esse sentimento em relação à prova de Março. 

Não me vou alongar novamente sobre a decisão de adiar a hora de partida das provas. Pessoalmente pareceu-me desnecessário no que diz respeito à Meia Maratona mas percebo que tendo que mudar a hora da Maratona então todo o programa teria que sofrer alterações. O que foi incompreensível foi a ausência de sanitários no IC2, por mais que se diga que não houve autorização da protecção civil para tal. A espera foi bastante desconfortável, não só por isso mas pela falta de espaço. Pelo menos no local em que estávamos inicialmente o aperto era grande.

Após as dúvidas da véspera a vontade de correr não era muita. A manhã já tinha começado atribulada quando um dos colegas da equipa teve que voltar a casa por se ter esquecido do dorsal. E ele até foi o primeiro a chegar à estação. Conseguiu chegar a tempo da prova mas já só o vimos durante o percurso e depois no final. Já no Oriente deu para uma foto de grupo com outros elementos que já lá estavam e que iam fazer a Mini. Votos de boas provas e lá fomos para os respectivos autocarros.

De volta ao IC2 conversava-se sobre provas, tempos, desafios futuros e objectivos para esta prova. Desde 1:30 a 2:30 havia expectativas de tempos para todos os gostos. Eu cá só queria fazer uns segundos abaixo das duas horas. Ir em modo de treino num ritmo a rondar os 5:40/km. Por causa das necessidades fisiológicas o nosso grupo separou-se e deixei de estar próximo do outro colega que também vai ao Porto e que também queria fazer um ritmo calmo. Ele acabou por fazer um belo tempo, sem querer. Eu ainda parti rápido à procura dele mas só o voltei a encontrar a descer o Marquês quando eu subia. Quem eu encontrei mesmo ali ao lado em amena cavaqueira foi a Vonita. Já estava a seguir a conversa dela há algum tempo até que aproveitei um momento oportuno para lhe dar um toque no ombro. Fizemos a foto da praxe e continuou-se em conversa. É tão bom que uma pessoa para cada lado que se vire encontre caras conhecidas. Ivone, espero que a prova tenha corrido bem às estreantes na Meia Maratona!

Parti rápido, mas ao fim de 500 metros tive um contratempo. Um atleta saltou o separador central vindo da outra faixa sem qualquer atenção para quem estava a correr. Para evitar um choque frontal com ele desviei-me, meti o pé na berma e torci-o. Felizmente foi coisa muito ligeira. Nós quilómetros seguintes fui a ver se sentia desconforto mas nunca me doeu nada. O meu receio era que só fosse sofrer as consequências depois de arrefecer, mas está tudo ok.

Apesar do início acima do ritmo pretendido passaram por mim alguns amigos a quem eu prontamente disse para seguirem porque eu estava em modo de passeio. Estabilizei o ritmo e ainda olhei demasiadas vezes para o relógio nesta fase. Depois acabei por só olhar quando ele indicava o ritmo do quilómetro que tinha acabado de concluir.

Fui separando a prova por pequenas metas. Sair do IC2, chegar ao Parque das Nações à separação da Mini, sair do Parque das Nações, Santa Apolónia e a primeira passagem no Terreiro do Paço. Estava mais preocupado em não me aborrecer na zona de Xabregas e Beato do que com a subida ao Marquês. Precisava de estar em zonas com mais público. O apoio era dado por alguns estrangeiros e por muitos elementos do Correr Lisboa espalhados pelo trajecto. Mesmo no Parque das Nações onde havia muita gente a assistir não havia muito apoio, apenas umas palmas circunstanciais. Ao contrário do que é habitual também não ia muito expansivo portanto mantive-me em silêncio. Por acaso do destino acabei por ter direito a claque pessoal quando vi lá ao longe uma cara que reconheci à medida que me aproximei. Era a Agridoce que, curiosamente, estava a fazer um directo da prova naquele preciso momento. Meti logo o meu melhor ar de corredor para a foto e afinal... Que desilusão! 😉

Querem ver a importância que o público tem numa pessoa durante uma prova? Não fazia ideia que ela estaria por ali - eu até podia ir mais próximo do outro lado do passeio e nem a encontrar - mas assim que passei por ela comecei a imaginar na minha cabeça mil e uma teorias. Será que x? Ou y? Querem ver que z? Corri grande parte do abecedário para descobrir ao fim do dia que estava enganado e todas as minhas teorias, inclusive teorias da conspiração, estavam erradas! Não faz mal! Enquanto pensava nisto passaram-se uns bons três ou quatro quilómetros sem eu dar por isso! Obrigado, já cheguei a meio da Meia.

Confesso que nos quilómetros seguintes tive uma espécie de apagão. Estava em piloto automático e não me lembro de quase nada. Apenas de agarrar umas quantas embalagens de gel num abastecimento - e confesso que não gostei muito dele - para além de estar sempre a trocar de garrafa de água, sendo isso também parte do treino para a Maratona. Parei uns segundos onde havia isotónico para beber sem me entornar e/ou engasgar todo. Lembro-me de ver o Panteão lá ao longe, eventualmente mais próximo até deixar de o ver. Estava ansioso por chegar a Santa Apolónia porque depois até ao Terreiro do Paço era um tirinho. Tantas vezes que já fiz o percurso inverso nas minhas caminhadas por Lisboa naquela zona, ontem era dia de o correr em sentido inverso.

Ao avistar a Praça do Comércio renasci na emoção e a primeira coisa que fiz foi - acertaram - pedir barulho ao público. Mas barulho a sério, palmas e tudo aquilo a que temos direito! Esbracejei como nunca e tive muito retorno! Estava na minha praia. Isto sem pessoal do lado de fora não tem piada. Não vou dizer que ganhei forças onde já não as tinha, porque na realidade eu não ia cansado, mas ganhei um ânimo para os quilómetros finais. Ao meu lado um atleta dizia que "agora é que vão ser elas!" Lembro-me de lhe responder que "Nem pensar, agora vem a melhor parte da prova! Vamos até ao Marquês festejar e depois festejamos outra vez na meta!"

Não era, mesmo, a subida que me preocupava. Chateia-me mais o empedrado, por exemplo. Como nestas coisas parece estar tudo feito à medida, a banda no Rossio tocava o Final Countdown quando passei a subir. (E o Highway to Hell quando desci. Pensando melhor, perfeito tinha sido ao contrário!) De por mim a cantar o refrão enquanto ia por ali acima e aproveitei também para ver quem vinha a descer no único ponto de retorno. Caraças, fizeram-me falta os retornos, pá.
 
Subi nas calmas. Vendo o ritmo depois até achei que não subi nada mal. E depois desci a todo o gás. Pelo menos com todo o gás possível ao fim de tantos quilómetros. E bom, foram os mais rápidos da prova. Um sprint final já na recta da meta e assunto encerrado. Medalha ao peito, grupo reunido novamente, gelado na mão, fotografia final e... caminhada rumo a Santa Apolónia para apanhar o comboio. Ainda deu para apoiar alguns atletas menos rápidos mas que estoicamente lutavam para completar a prova. E deu para me cruzar com a Inês e com o grupo de camisolas amarelas que iam com ela numa bela missão de amizade.

No comboio procurávamos saber resultados de amigos, resultados oficiais dos profissionais. Celebrávamos a estreia na distância de um companheiro de muitas lutas e que estava ali connosco. Foi uma longa aventura. A ida até à partida e a espera pelo início da prova duraram mais tempo que a Meia Maratona em si. Passei o resto da tarde a dormitar várias sestas e no intervalo delas espreitava as redes sociais que estavam cheias de medalhas, dorsais, fotos e textos de felicidade.
 
Mais um passo rumo ao Porto, rumo ao que o futuro trouxer!
 
Próxima paragem: Meia Maratona de Coimbra!
 
 
Prova nº 92 - Meia Maratona Ponte Vasco da Gama 2018 - 21km - 01:59:52



quinta-feira, 4 de outubro de 2018

30 dias

Está na hora. Faltam 30 dias para a Maratona do Porto.



Está na hora:

- de deixar de lamentar os quilómetros que devia ter corrido e não corri.
Neste que é o terceiro ano em que lá vou fazer a mítica distância, neste que é o ano em que eu disse que ia ser mais rigoroso, é também o ano em que menos quilómetros vou fazer nos meses antes da prova. E sim, tenho um excel com os treinos para a Maratona todos registados, cheio de fórmulas e cálculos, que me mostra a comparação com 2016 e 2017.

- de voltar a devorar tudo que é informação, texto, vídeos, etc sobre maratonas.
O que eu gosto dos serões passados no YouTube a navegar entre vídeos feitos por atletas durante maratonas, documentários sobre a prova, textos antigos de outros bloggers. E, de vez em quando, reler aquilo que eu próprio escrevi. E também ler tudo aquilo que vocês me disseram, tanto aqui como na rede social.

- de começar a tomar o meu doping: vitaminas e magnésio.
Há dois momentos que não esqueço na preparação para a primeira maratona. Um foi a altura em que o percurso da Meia Maratona Vasco da Gama se fundiu com o fim da Maratona de Lisboa. Vi gente a passar mal, gente a alongar no passeio, gente à procura de forças para acabar. E quem ia na Meia estava relativamente tranquilo. O outro foi o momento em que, no Porto, o meu mentor que me ia a acompanhar me disse - pouco antes de me "abandonar" aos 32km - que a partir dali eu iria ver muita gente a alongar no passeio...... mas que nem por sombras isso me iria acontecer porque andei a tomar magnésio precisamente para evitar câimbras!  É claro que isto tudo pode ser só psicológico, mas um mês antes das maratonas repito o ritual e para além de me sentir com mais energia durante o dia-a-dia, nunca sofri de câimbras na prova. A Prozis agradece e tem aqui um cliente fiel.

- de pensar já na próxima!
Obviamente! O dilema mantém-se o mesmo: um ano quero fazer a de Lisboa. É para o ano? Se for, não consigo voltar ao Porto porque são demasiado próximas e, embora conheça quem faça ambas, eu não arrisco isso. Mas o Porto é sempre o Porto e a cada ano que passa há sempre alguém que faz planos para lá ir no ano seguinte e eu não consigo deixar a malta ir sozinha, não é verdade? Depois também há uma Maratona que tenho debaixo de olho, ali em Dezembro, mas que para além de ser ainda mais longe que o Porto é dura como o raio. Um excelente desafio, portanto.

- de decidir como cruzar a meta!
Não há nada mais importante! Primeiro porque é sinal que fica feita, mas também é um momento único. Ninguém se vai lembrar de como cruzámos o pórtico dos 5km, pois não? Pensando bem, depois dos 15km eu festejo em todos os pórticos. Os que têm imagens comprovam isso. Mas sejamos honestos, uma pessoa não pode acabar 42km e cruzar a meta de forma banal. E eu já ando há imenso tempo a pensar nisso. Juro! Hei-de decidir entre os 35 e os 40 quilómetros enquanto tento saltar o Muro!

Pessoal, está na hora! Vamos a isso!