segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Correr e comer...

... são duas palavras que se escrevem quase da mesma maneira. Acredito que não seja coincidência!
 
Nesse sentido, Évora é um local perfeito para se fazerem ambas! Não foi, portanto, surpresa que eu tenha ido fazer a Meia Maratona pelo quarto ano consecutivo, mantendo-me como totalista na prova. Em itálico, porque descobri recentemente que num dos anos fiz a prova com o dorsal de um colega de equipa que não pôde comparecer. Já nem me lembrava disso e foi um ligeiro balde de água fria. Sou totalista de forma oficiosa, mas por causa disto nunca serei de forma oficial. Fica aqui também a nota para juntar à discussão sobre participar em provas com dorsal alheio.

Confesso que, apesar de tudo, não estava com muita vontade em ir. Nenhuma razão em particular, circunstâncias da vida, talvez. Ou apenas parvoíce porque quando o despertador tocou às 6:00 não precisei de muito para saltar da cama e às 7:00 conforme combinado já estava o grupo todo reunido para arrancarmos. A viagem fez-se de forma tranquila e com chuva ligeira - o regresso foi com um temporal, mas não tão violento como o que apanhámos depois do Porto - que ainda caia quando chegámos ao estacionamento habitual. Os dorsais foram levantados de forma rápida e ficámos com bastante tempo para queimar que foi passado em amena cavaqueira num dos cafés próximos da partida. Cafézinho tomado, idas ao wc, tudo em ordem. Quase, porque da minha parte não ficou o serviço feito na totalidade, o que se veio a revelar muito incómodo a certa altura da prova.
 
Foi no café que percebi que a nossa enfermeira de serviço afinal não ia fazer a Meia Maratona, mas sim os 10km. Isso significava que desta vez eu seria o único elemento a fazer os 21km, dois fariam os 10km e o grosso do grupo estava presente na caminhada. Isso dava-me alguma pressão extra e azo a promessas de que se eu demorasse muito a terminar a malta ia pegar nos carros para irem andando para o restaurante e eu teria que ir a correr até lá. 'Tá bem... Também gosto muito de vocês!

Regresso aos carros para terminar de equipar, escolher os casacos certos para a chuva (que iria desaparecer antes do início da prova), tirar umas últimas fotos e lá fomos até aos pórticos de partida. E aqui tenho que fazer um comentário de algo que me incomodou e que parece ser cada vez mais habitual em provas. O speaker estava bastante animado e ia dando os agradecimentos finais nesta que foi a última prova do ano do circuito Running Wonders. Até aqui, tudo bem. Mas no momento em que disse que estavam presentes 6000 pessoas eu achei completamente descabido. Já vi que terminaram a Meia 604 atletas e os 10km 703 atletas. Aqui estão 1507 e garantidamente que não havia 4500 pessoas na caminhada. Também duvido muito que estivessem 6000 inscritos e que para aí metade não tenham aparecido. Este exagerar do número de participantes nas provas chateia-me. Desabafo feito.

Vamos é correr antes que chova! Os primeiros quilómetros no centro de Évora são complicados. As ruas estreitas, muita curva e contra-curva, empedrado, mais empedrado, sobe e desce. Um Urban Trail, ouvi eu de outro atleta. Senti foi menos atropelos e, mais importante, sentia-me bem pelo que fui andando a um ritmo agradável, mesmo quando se começa a subir pelo zona exterior das muralhas. Até achei que estava a ir demasiado depressa. Não sabia eu o furacão que aí vinha após o quarto quilómetro. Estou eu tranquilo nos meus pensamentos e a começar a ver que a malta da caminhada estava a começar a aparecer em sentido contrário quando alguém me dá o braço e me puxa. Era uma amiga, aquela que há uns tempos me chamou estúpido por ter desistido no Douro Vinhateiro naquela altura fatídica da minha vida. E fomos na conversa durante largos quilómetros, apenas interrompidos pelo facto de ter conseguido ver o nosso grupo de caminhada e termos feito uma grande festa!   
Ora, esta amiga é uma máquina. Daquelas que em dia sim faz tempos do caraças, mas que hoje me disse que ia mais tranquila porque estava toda lixada (mensagem original censurada) por causa do treino muito rápido feito ontem. Disse-me que ia comigo porque eu ia a um ritmo agradável. 5:30m/km, boa? Pronto, já tenho companhia, mas se ela acelera dá cabo de mim. E como se pode ver, os quilómetros seguintes foram bem rápidos. Íamos na conversa, em amena cavaqueira sobre provas, dilemas entre trail e estrada, a menos motivação dela para a estrada por sentir que está a perder velocidade portanto com mais vontade de dar prioridade ao trail. E eu confirmei que sentia que estava com dificuldades em reduzir o tempo aos 10km, mas que quem me tira o alcatrão tira-me tudo, portanto tenho-me sentido mais confortável nas provas mais longas. E fomos, e fomos, conversámos imenso e os quilómetros iam passando. Novamente no ritmo ideal, até porque a estrada inclinava um pouco para cima. Apanhámos novamente a malta da caminhada, desviei-me da estrada para me fazer à foto em modo aviador, de braços bem abertos e sorriso rasgado. Ela percebeu que aqueles breves momentos significavam uma motivação extra e continuou sempre a puxar por mim para nos mantermos juntos. Ela disse que nunca fez uma Meia acima das duas horas, eu respondi que queria tentar fazer Évora abaixo das duas horas pela primeira vez. Vamos ajudar-nos mutuamente! Assim fomos até meio da prova. Nessa altura ela já ia uns metros à minha frente e dois atletas tinham metido conversa com ela sobretudo quando ela gritou o meu nome e eu prontamente respondi a confirmar que estava perto. Ainda tentei puxar por mim, mas aos chegar ao abastecimento dos 10km ela já estava a ficar mais longe e ir atrás dela era escusado. Máquina é máquina! Via novamente no final onde demos um enorme abraço e ela me pediu desculpa por não ter esperado por mim. Qual desculpa, qual quê? Obrigado e mantém-te sempre assim, porque quando se tem bom coração a cor da camisola que representamos é irrelevante.
Parei uns segundos no abastecimento para beber isotónico. Tenho que tentar parar com esta mania, mas beber naqueles copos em andamento é virtualmente impossível
 

Baterias carregadas e um tempo de uma hora certinha aos 11 quilómetros, altura em que tomei um gel. Só preciso de fazer uma hora nos restantes 10km e a coisa fica feita. Tentei manter o ritmo anterior e até acelerei um pouco quando encontrei um atleta de Leião e meti conversa com ele. Estiquei-me um bocado e tive que abrandar, mas foi pena porque ir a falar com alguém estava a fazer-me bem. Nesta zona mais afastada da cidade sabia que íamos fazer uma espécie de quadrado. Mais um menos dois quilómetros e viramos à esquerda, a mesma coisa a seguir e novamente e repete outra vez até fechar os quatro lados, pelo que o meu objectivo era sempre chegar à próxima viragem à esquerda. Infelizmente tive mesmo que voltar a parar no abastecimento seguinte, aos 15km. Foi aqui que comecei a sentir o peso e o desconforto de não ter feito tudo o que devia no wc antes da prova.
Respirei fundo e tentei abstrair-me disso. Ia mais devagar que antes, mas mesmo assim a um ritmo controlado que me permitia gerir o tempo que tinha ganho até ali. Infelizmente não foi possível continuar assim até final. O quilómetro 19, onde havia um último abastecimento, foi mais complicado e tive mesmo que caminhar um pouco. Foi aqui que o objectivo de tempo para a prova se esfumou. Ainda tentei ganhar um ânimo final ao reentrar em Évora, mas aí foi o empedrado que me tirou as esperanças finais. Caraças que ao fim de quatro anos aquilo continua a custar. Nesta fase já me tinha cruzado algumas vezes com um atleta em que ou passava ele ou passava eu e antes da placa dos 20km ele pergunta-me se agora vamos a correr até ao fim. Disse-lhe que sim, só que não. Paciência, as pernas já não davam para muito mais. 

Engane-se quem pensa que eu estava desanimado com este rombo final no ritmo. Ainda deu para uma animada troca de palavras com um elemento da organização e para lhe dizer que a subida até ao Giraldo continua demasiado íngreme e com muito empedrado. Ficou a promessa de resolverem a situação para o ano. Deixe estar, se não tratarem disso eu venho cá na mesma comer sopa de cação.

E pronto, agora é só virar à esquerda para aqueles 500 metros finais até à meta que parecem ter 10 quilómetros. Um dos meus colegas veio ter comigo para um apoio final. O resto da malta está ali em cima, à direita. E a corda? Onde é que está a corda para me puxar? De alguma forma lá consegui subir aquela montanha até passar a meta com um ar de pura alegria. Nem percebi bem o tempo, mas pouco interessava. Vamos é almoçar, pá!

Fotos finais, abraços finais e muitos sorrisos. Mais uma prova feita e as dificuldades dos últimos quilómetros já estavam esquecidas. Enquanto descíamos para o estacionamento já ia todo contente a dar força a quem ainda acabava a prova. O sorriso transformou-se em ligeira preocupação quando me de uma valente câimbra quando estava a alongar. Nunca me tinha acontecido de forma tão intensa! Felizmente quem tem uma enfermeira como a nossa, tem tudo. E ela tinha uma ampola de magnésio que, por acaso, não tinha tomado antes da prova e deu-me para ajudar. E ajudou.
 
Vamos almoçar! E fomos, apesar da dificuldade em dar com o caminho certo tal era a quantidade de estradas ainda cortadas. O almoço demorou praticamente tanto tempo como a minha prova e devo ter recuperado todas as calorias que perdi. Oh meus amigos, come-se tão bem no Alentejo. E bebe-se igualmente bem. Deve haver por aí fotos, algumas até passíveis de causar algum embaraço. Felizmente eu faço sempre questão de reservar o lugar do pendura nos regressos pós-prova.

Não fiz abaixo das duas horas. Não melhorei o meu tempo em Évora por 21 segundos.
Chateado? Nada disso! Corri, comi e diverti-me. Enquanto for assim está tudo bem.
Venha a próxima, a Meia Maratona dos Descobrimentos.
 
 
Prova nº 97 - Meia Maratona de Évora 2018 - 21km - 02:02:31

sábado, 24 de novembro de 2018

Oh pá...!

Na mesma noite, quase ao mesmo tempo, fico a saber que:
 
- vamos mesmo ter companhia para a aventura em Madrid. Havia muitos comentários a mostrar interesse, mas agora já há mesmo confirmações e há cada vez mais gente na calha para se juntar. Para quem guardou segredo da inscrição durante um mês e meio e estava a planear apenas revelar a notícia na véspera da prova, agora estou muito contente por saber que não estarei sozinho. Vamos a isso, malta!
 
- há outra grande amiga minha que está a preparar-se para fazer a Maratona do Porto em 2019. Em dois dias consecutivos duas enormes amigas deste mundo partilham esta notícia comigo. Caramba, querem matar-me do coração? Fazem-me isto no ano em que eu não estou a pensar em ir ao Porto? Está-se mesmo a ver que tenho que repensar os planos...

domingo, 18 de novembro de 2018

Pódio

Começar o texto logo com este título estraga um bocado o suspense, não é? Mas, mais uma vez, a coisa já se soltou por essas redes sociais fora, portanto...

Andei um ano com esta prova secretamente debaixo de olho, depois de no ano passado ter visto as classificações e a vitória do meu amigo Zatopek no seu (e meu) escalão. Olhei, olhei, vi os resultados no geral e meti na cabeça que ia tentar uma brincadeira em 2018. Ele nem sequer está em Portugal, portanto... A certa altura o meu maior receio era que a prova coincidisse com a Maratona do Porto, mas rapidamente percebi que não havia esse risco. Passei, portanto, um ano a pensar nisto quase tanto como pensava no Porto.

Ah e tal, o gajo é modesto e diz que gosta de correr porque é fixe e pelo convívio e mais-não-sei-o-quê, mas afinal é fanático por isto das medalhas e não dizia nada a ninguém. Ora bem, antes de hoje, em 95 provas eu apenas tinha ficado na primeira metade da classificação em 24 delas. E em provas de 10km de média dimensão fiquei duas vezes dentro dos primeiros 200 classificados. Bem bom. Isso e um terceiro lugar - por erro da organização - numa das edições da extinta MEO Urban Trail. Nunca na vida irei ganhar nada mais sério, portanto no dia em que percebi um pequeno vislumbre de poder fazer uma gracinha, tentei. Garantidamente que para o ano isso já não acontece.

A única vez que falei na prova foi quando um colega de equipa se tentou inscrever e eu lá estava como responsável pela equipa porque já o tinha feito antes. E mesmo assim, nem lhe disse que "só" ia fazer os 5km. Comentei isso mais tarde, mas sem fazer grande alarido. Ele também nem achou estranho eu optar pela prova curta num evento que tem prova de 10km, mas como o percurso não é sequer muito plano e eu vinha da Maratona... Hoje, depois de aquecermos, ele e o resto dos amigos que foram connosco seguiram para o pórtico da partida dos 10km e eu pedi para fazer a foto de grupo naquele momento porque ia para o pórtico dos 5km que era noutra rua. Todos acharam estranho, perguntaram se eu estava bem, se estava lesionado, se eu estava a brincar, se... se... 

"Não, venho da Maratona e tenho duas Meias de seguida, hoje venho só para relaxar um pouco. Fiquem tranquilos."

Na partida confirmei que estava pouca gente. Tentei ler os rostos, o físico e os dorsais de quem por ali estava para perceber se teria muita gente do escalão. Já tinha encontrado vários amigos antes da prova, um dos quais "subiu" este ano para o meu escalão e também ia para os 5km. Pronto, ele faz 40' aos 10km, portanto...  Tentava também esquecer o péssimo treino que fiz na 5a feira com a equipa. Respiração não acalmava, pernas não reagiam, cabeça não funcionava. Aproveitei a "desculpa" de ficar com o grupo mais lento para conseguir sentir-me minimamente útil naquele dia e num treino de 10km só ao fim do sexto é que a coisa lá estabilizou. Enfim, não foi uma semana fácil, portanto...

Hoje a ideia era simples: correr o mais depressa possível, aguentar-me nas subidas e voar nas descidas. A chuva parou antes da prova, havia apenas que tentar evitar as imensas poças de água no chão. Relógio pronto e, de repente, deu-se a partida. O speaker estava mais próximo do pórtico dos 10km e na nossa zona, numa rua uns 300 metros mais à frente, não se ouvia nada. Não sei se ter aquecido ajudou, mas o que é certo é que disparei rápido e, sendo poucos, longe de atropelos. Obviamente que os verdadeiros craques voaram bem mais depressa atrás do carro-relógio e eu foquei-me em seguir a Luzia Dias, anfitriã do evento, que no ano passado tinha feito 24 minutos. Hoje fez abaixo dos 22, daí que a meio da prova eu tenha deixado de a ver por perto.

As partidas em separado foram, disseram-me, uma novidade em relação aos anos anteriores. Isto fez com que ainda antes do primeiro quilómetro estivesse a malta dos 10 a passar por nós. Ou, pelo menos, pelos não-tão-rápidos, tipo eu. O que foi porreiro para mim foi que tanto a minha malta, como outras caras conhecidas me iam desejando força quando me ultrapassavam. Eu agradecia e naqueles breves metros tentava ir na peugada deles, algo que só consegui fazer mais ou menos na altura em que deixei de ver a Luzia. Foi bom porque foquei precisamente no meu colega de equipa que ao passar por mim me disse que era só mais esta subida dura e depois era tranquilo.

Devo ter olhado umas duas ou três vezes para o relógio. Independentemente do que ele dissesse, a única opção era ser rápido e manter o ritmo até à meta. Naquela altura já era quase impossível perceber quem estava para os 5 ou para os 10. Como a partida tinha sido quase inesperada e este relógio tem uma contagem decrescente (que me irrita um pouco e não dá para tirar) quando se inicia um treino, só começou a contar uns 50 metros após o início e como não havia placas de distância não valia a pena fazer grandes contas.

Ia conseguindo visualizar na estrada aquilo que tinha visto no mapa em relação ao percurso e quando percebi que estava perto de entrar no último quilómetro ouço uma voz conhecida. Mais um amigo (e conterrâneo) que vinha para os 10km e se colou a mim. Houve aquele momento sempre estranho, como acontece quando, por exemplo, nos despedimos de alguém à saída do escritório e depois vamos ambos para o mesmo lado. Ambos desejámos bom resto de prova um ao outro. Dissemos até já. Ele diz-me que a minha está quase a terminar e... vamos lado a lado o resto do tempo. Só na separação para a minha meta é que deixámos de ir juntos. Foi porreiro para ter ali companhia para a parte final.

Desvio para a meta e está feito. Abaixo dos 24 minutos, vejo por alto. Ok, nem sequer é o meu melhor tempo aos 5km, mas o percurso é sinuoso e os outros dois registos que tenho de prova são em provas que foram maioritariamente planas e/ou a descer. O speaker vai dando força a quem chega e diz que já há resultados online em tempo real no site. Não tenho telemóvel comigo, ficou no carro. Não tenho as chaves do carro. Eu espero. Encontro o vencedor da prova - outro amigo - e fico à conversa com ele. Começo a dar umas voltas à zona da chegada em ritmo de descompressão enquanto espero pelo resto da malta, até que vejo outro amigo que me diz que falhei o pódio por um segundo. Fosga-se, para não dizer pior. Foi o atleta que chegou à minha frente. Paciência, tento novamente para o ano.

Vai chegando a malta dos 10km, uns mais rebentados que outros e vamos até aos carros para mudar de roupa enquanto esperamos pelas cerimónias do pódio. Encontro o tal rapaz que agora me faz concorrência de escalão e ficamos imenso tempo à conversa sobre esta e outras provas. Conhecemo-nos há uns dois anos na B2Run porque ambos ganhámos um passatempo para ir correr pela equipa da Rádio Comercial e ficámos amigos deste então. Coisas boas disto do running e tal. Ele até me pediu desculpa por me ter "tirado" um lugar no pódio.

Regressamos à zona da chegada, eu já com o telemóvel na mão a ver as restantes classificações. Temos mais dois elementos às portas do pódio na prova de 10km: um 6º e um 7º. Bom esforço malta. Até que chamam o meu nome! O quê? Estava mesmo ao lado do organizador do evento que ia chamando os atletas e pergunto-lhe se chamou o meu nome. Confirma. Mas no site não estou no top-3, digo-lhe. Mas essas são classificações provisórias, as que eu tenho são certas, portanto...

Subi ao pódio com um ar quase incrédulo, mas muito bem acompanhado. Só quando fomos mudar de roupa aos carros é que tinha confessado ao pessoal a minha secreta esperança e o meu objectivo escondido por trás de uma inscrição para fazer "apenas" 5km. Malandro, dizem-me! 

E pronto. Adorei estar lá em cima. Foram 30 segundos, talvez um pouco mais. A mim pareceram-me passar demasiado depressa, mas tentei aproveitá-los ao máximo porque tão depressa - ou nunca mais - não tenho esta oportunidade. Fotos e mais fotos. Consegui, venho com o pescoço um pouco mais dorido que o habitual por causa do esforço extra, mas esta medalha já ninguém me tira!



Melhor ainda a seguir. Afinal aquele 6º de escalão também era 3º. O 7º é que era mesmo 7º.
Regresso a casa e pronto. Nada mais há a fazer.

Como já aqui disse antes: hoje foi bom, mas amanhã começa tudo de novo.



Prova nº 96 - Corrida Luzia Dias 2018 - 5km - 00:23:38

sábado, 10 de novembro de 2018

2019

Está cumprida uma comprida semana de descanso pós-Maratona. Ok, ainda não voltei a correr, portanto até isso acontecer ainda estou em fase de ressaca. Mas uma ressaca boa, desta vez, ao contrário dos outros anos em que toda a bolha de excitação da Maratona rebentou numa onda de cansaço, preguiça e, acima de tudo, uma sensação de vazio pós-prova. Este ano não, este ano ainda tenho objectivos nas provas que me faltam fazer. Um deles é fazer a prova de trail na qual estou inscrito e lutar contra a vontade de me baldar na véspera se estiver a chover copiosamente. Adiante...!

2019 está já ao virar da esquina e já estou inscrito em três provas, para além de ter também renovado a inscrição no troféu das localidades cujo calendário para Oeiras começa ainda este ano. Até ao fim de Abril o meu, supostamente famoso, Excel está assim:



Ainda faltam algumas provas ali pelo meio cujas datas não estão confirmadas. A Scalabis, por exemplo, que deve ser no fim de semana antes de Madrid e na qual gostava de continuar a marcar presença. Para o resto do ano há ideias, há planos, algumas incertezas mas, sobretudo, muito tempo para decidir o que fazer.

Para a semana há nova prova, portanto agora é voltar aos treinos. Hoje não. Amanhã também não. 2a feira, ok?


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Maratona do Porto 2018

Concluí ontem no Porto a minha terceira Maratona, mas fui menos feliz que no ano passado. Seis minutos e quarenta e um segundos menos feliz, para ser mais preciso, pois foi esse o tempo que tirei ao meu record que trazia de 2017! Nem vale muito a pena guardar suspense até ao fim, tendo em conta que já tinha partilhado o resultado nas minhas restantes redes sociais. E mesmo que não o tivesse feito, no domingo quando a malta se sentou para almoçar e eu tive finalmente disponibilidade para ligar o wi-fi no telemóvel já tinha recebido duas mensagens de parabéns pelo record! Obrigado por isso! Quem corre sabe bem a importância do apoio que vem de fora, mas vocês não têm noção do quanto isso me ajudou ontem a chegar ao fim. Obrigado, 42,195kms de obrigados!

Seis minutos e quarenta e um segundos menos feliz? Claro, quanto mais tempo corro mais feliz fico!

A aventura para o Porto começou praticamente na altura em que tinha terminado a Maratona do ano passado. Já sabia que iria voltar e aproveitei a típica promoção de fim de ano para fazer a inscrição, mesmo que o preço fosse um pouco superior e que a pasta party tivesse sido à parte em vez de estar incluída. Sabia também que iria comigo à prova um grande amigo e colega de equipa, pelo que o fim de semana iria ser em excelente companhia e com muito apoio das respectivas famílias do lado de fora do gradeamento!

Ultrapassando algumas questões logísticas inesperados com o hotel - este ano foi tudo muito estranho - lá chegámos à Alfândega para levantar os dorsais, beber daquele espírito e acabar com o reforço de hidratos de carbono. Foi também aí que comecei a ver muitas caras conhecidas o que ajuda sempre. Aliás, a primeira cara conhecida que vi até foi o João Lima na estação de serviço da Mealhada. 


Muita brincadeira e boa disposição, muita ansiedade e lá fomos até Matosinhos fazer o check-in, relaxar um pouco, jantar e dar um curto passeio antes de regressar à base para preparar tudo para as emoções do dia seguinte. Eu não dispensei a tradicional foto nocturna à Anémona.



A minha preocupação era sobretudo uma: a que horas ia começar a chover? Isso ia fazer toda a diferença! Fazer 10km à chuva é bem diferente de fazer 42. As previsões iniciais diziam que só chovia a partir do meio-dia, depois a actualização dizia ser a partir das 9h e eventualmente a partir das 7h. Já sabia que não ia escapar a uma boa molha.

A manhã acordou sem chuva, mas ela apareceu durante o pequeno-almoço. Já agora, o hotel que é pequeno estava carregado de atletas como nunca vi nos últimos anos! Fomos os últimos a sair, mas ainda a tempo da prova. Tínhamos marcado foto de equipa às 8:30 com a restante malta presente, mas à hora que chegámos não estava lá ninguém portanto tirámos nós e acabámos por nos cruzar com o restante pessoal durante os retornos da prova. E lá fomos, uma dupla da maratonistas, a nossa ET na Family Race e o resto da falange de apoio na caminhada, mas a fazer uma maratona por fora e a dar high-5 sempre que possível a quem passava enquanto esperavam por nós.

O plano que tínhamos era mais ou menos simples e ia adaptar-se ao longo dos quilómetros. O meu colega, Gajo da ET, é um gajo com pouco juízo no que diz respeito a gerir esforço portanto estipulou que se ia agarrar a mim até meio da prova e depois logo se via como se iria sentir para a segunda metade. Eu agradeci a companhia - e o elogio relativamente ao meu juízo - e aproveitei também para ir ligeiramente mais rápido do que planeado nessa fase, mas nada que fosse ter grandes implicações negativas no cansaço final. Relativamente à companhia, fiz as contas e nas três maratonas que tenho no currículo apenas fiz cerca de 32 quilómetros sozinho. Ou seja, sem nenhum colega de equipa ao lado.

O ritmo que eu tinha em mente era a rondar os 5:50m/km, mas se fosse a 5:45m/km também não era mau de todo. Depois de uma fase inicial a ganhar posição no pelotão passou por nós a bandeira das 4:15 e fomos confortavelmente atrás dela até que quase sem querer a ultrapassámos com relativa facilidade. Percebemos que ou fomos nós que aceleramos um pouco ou ela tinha reduzido o ritmo e estava também a estabilizar o andamento. O que é certo é que fomos bastante tempo à frente e sempre de olho no outro lado da estrada quando apareceram os primeiros retornos. Conseguimos ver parte da malta da equipa, para além de mais malta amiga. Rapidamente estávamos nos 5kms à procura da nossa claque que encontrámos sem problemas apesar da quantidade de gente ali presente. Tudo tranquilo, ambos a um ritmo saudável para as nossas ambições. E quando acelerámos na descida até foi ele a comentar isso, ao que eu respondi que sabia mas que já voltávamos ao planeado. A ida até ao porto de Leixões e regresso à rotunda da Anémona fez-se num ápice, novamente entre bom ambiente, procura de amigos e colegas e sorrisos. Recordo-me que a certa altura ouço algo - que já nem me lembro o que foi - vindo de dois atletas atrás de mim e a minha reacção imediata, sem olhar, foi: "Temos Pernetas por perto, chegou a festa!" "É isso mesmo!" ouvi em resposta. Bem antes disso também já tinha visto o Carlos nos quilómetros iniciais. Outra cara que é sempre um prazer rever. Mais tarde haveria de encontrar a Dora a quem desejei força, sem ela fazer ideia de quem eu era, suponho eu. Mas essa é uma das belezas disto de correr, sobretudo numa Maratona. 
Encontrámos a ET, seguimos em direcção à Anémona, o João Lima passou por nós e desejou-me força para me tornar tri-maratonista. Pequenos momentos que muita importância teriam lá mais para a frente. Chegámos ao ponto de separação das provas, vamos lá fazer mais 30 quilómetros que os primeiros 12 passaram a voar.

Como habitual, nota-se logo que algo mudou. Menos atletas em prova, menos público na estrada. Não que o apoio tivesse desaparecido, mas as zonas de Matosinhos, Parque da Cidade e Anémona têm sempre uma moldura humana brutal. Agora a interacção era mais com colegas de estrada. A chuva - sim, já tinha começado a chover - afastou naturalmente algum pessoal, mas o Porto nisto não desilude e quem lá estava fez sempre os possíveis para dar força aos atletas. Portugueses, estrangeiros, não interessava!

Nós continuávamos ao nosso andamento, nada de novo. Mesmo. Ele ainda me perguntava se não estávamos a ir muito depressa para o que eu queria e eu ia olhando para o relógio para confirmar que aquilo que ele marcava batia certo com o que as pernas sentiam. Um pequeno início de cansaço era amenizado com o segundo gel, também dentro do planeado. Ele também tinha uma estratégia de gel que correu bem. À beira da estrada havia malta num café a quem eu pedi imperiais. Não tinham, mas havia finos! Esqueci-me de onde estava e ele corrigiu-me no imediato. À nossa frente um atleta tinha o telemóvel no bolso dos calções com a luz do flash ligada. Quando o alertámos ele solta um "Fogo, tenho um pirilampo no rabo, carago!" Agora metam sotaque do norte nesta frase e estamos no ambiente certo. Carago! 
Em sentido contrário vimos os primeiros classificados, batemos palmas e comentava-se o ritmo frenético a que vão. E recordámos o vídeo da passadeira a simular a velocidade do record do mundo da Maratona batido em Berlim e a impossibilidade de fazer sequer um quilómetro àquele ritmo, quando mais 42!

A segunda fase da prova estava a terminar. Passagem aos 20km, a confusão habitual naquele abastecimento que é o primeiro a ter reforço sólido. Consegui tirar duas embalagens de gel para substituir os que tinha tomado. O facto do gel oficial da prova ser exactamente aquele que tomo facilitou esta questão e deixou-me muito mais tranquilo. A passagem pela ponte Dom Luís é sempre um marco da prova. É preciso algum cuidado na zona antes da ponte porque o empedrado a descer pode causar alguma escorregadela inadvertida, sobretudo com as condições climatéricas de ontem. Já disse que estava a chover? Ele avançou um pouco e eu tive cuidado extra ali. Depois começo a ver o mar de gente habitual e não me contive nos gritos, nos pedidos de palmas e de barulho. Tive imenso retorno, malta a gritar o meu nome, malta a dizer-me que quando eu passar de regresso ao Porto ali estarão para apoiar novamente. E fiz um sprint tão grande para o apanhar no meio desta loucura que fiquei sem fôlego, mas valeu muito a pena. Nem eu sabia o quanto, naquela altura! Agora era uma altura em que teríamos que tomar uma decisão e ela aconteceu sem sequer falarmos. À passagem pelo pórtico da Meia Maratona eu abrandei ligeiramente o ritmo e ele seguiu no mesmo andamento. Isto foi tão natural que ele nem se apercebeu. O nosso trabalho de equipa em conjunto terminava aqui: ele tinha mantido o juízo durante metade da prova para não rebentar muito cedo e eu tinha feito uma meia maratona em boa companhia e ia agora fazer a outra meia até à meta a tentar continuar a gerir o esforço. Ele só rebentaria aos 33km, mas a marretada foi bem mais suave do que ele temia. Eu rebentei aos 26/27km. Pois.
Ainda antes disso vieram momentos engraçados. No espaço de um ou dois minutos tive um atleta do Correr Lisboa a desejar-me força e chamando-me pelo meu apelido! Logo a seguir alguém que me incentivou através do nome da equipa e atrás dele outro atleta que me chamou pelo primeiro nome. Confesso aqui que não reconheci nenhum destes três atletas e fiquei à nora enquanto ia ouvindo estes incentivos "anónimos". Da mesma forma, vi também o outro maratonista da equipa que ia bem, juntamente com outro amigo nosso que estava a lutar contra uma gripe e posteriormente o André que fez uma marca excelente na sua prova!

Decidi também dar uma de apoiante anónimo e quando vi a Susana passar gritei-lhe um "Força Unicórnio!" Apoio nunca é demais, pois não?

Com isto vinha o abastecimento dos 25km onde fiz uma pequena pausa para hidratar, respirei fundo e segui!

E quebrei. Foi um misto de muita coisa: pés frios, esforço extra por causa da chuva e do empedrado, não sei, foi tudo junto. Gelou-se-me tudo, desde o coração à cabeça, passando pelo resto do corpo. E o pior foram os fortes espasmos que comecei a sentir no joelho direito. Tentei continuar a correr, mais devagar, mas em breve tive que caminhar pela primeira vez. E os espasmos iam e vinham. Quando desapareciam ganhava forças e esquecia, mas quando voltavam ficava assustado. E ao quilómetro 27 da minha terceira Maratona pensei pela primeira e única vez que não iria conseguir acabar.

Só pensava em voltar a atravessar a ponte e logo se via o que ia fazer depois disso. Caminhei um pouco, alternei com corrida ligeira e ia dizendo ao joelho que estava a ser parvo. Decidi que não iria passar a ponte a andar, porque aquilo havia de ter imensa gente ainda a apoiar. E assim foi. O que eu não esperava foi ter-me sentido tão emocionado com o apoio do público nessa altura. Tentei conter as lágrimas - que haveriam de cair um pouco mais à frente - e cerrei os dentes! Esta Maratona era para acabar! E quase sem dar por isso estava no abastecimento dos 30km. Excelente! A minha meta já era pensar de abastecimento em abastecimento e ir fazendo o resto em blocos de 5kms. Ganhei ainda novo ânimo ao ver o marcador de ritmo das 4:15 a passar do outro lado e o meu colega de equipa logo atrás, com talvez um quilómetro de vantagem para mim. Não estou assim tão mal, pensei! Siga...! Siga durante um quilómetro, porque os dois seguintes foram praticamente a caminhar depressa. Tempo suficiente para apanhar uma conversa entre dois atletas, uma das quais polaca e que completou no domingo o seu 42º aniversário tendo decidido celebrá-lo a correr precisamente uma Maratona. Agarrei-me a exemplos de motivação como este para me manter focado. Ao meu lado passavam dois atletas e um deles dizia que "se isto fosse fácil qualquer pessoa fazia".
Voltar a passar junto à ponte Dom Luís deixou-me novamente emocionado com o apoio contínuo que existia e o cheque-mate deu-se no túnel da Ribeira. Podia estar a passar o Chariots of Fire ou a música do Rocky como nos anos anteriores, mas estar a passar o Don't Stop me Now dos Queen fez-me soltar as lagrimitas que eu andava a conter. Malandros, pá! Ganhei força, ganhei alento! Os espasmos no joelho direito tinham desaparecido, mas agora era a perna esquerda que estava com queixas, talvez a compensar. Nada que me impedisse de continuar a correr. Não era a 6:00m/km, era a 7:00m/km! Não ia era parar! Don't stop me now!

Quando percebi que já via o abastecimento seguinte no horizonte nem acreditei. Eram só mais 5 quilómetros, porque na minha cabeça os dois últimos iam ser feitos com o coração e não com as pernas. Voltei a hidratar com o isotónico da Prozis. Fora dos abastecimentos andei sempre com uma garrafa de água na mão que ia trocando ao chegar a um novo. Foi aos 35km que vi a Dora. E quando retomei a corrida passa o marcador de ritmo das 4:30. Ora, apesar dos vossos desejos e previsões de 4:15, a minha ambição era terminar próximo das quatro horas e meia e seguir ali com companhia parecia-me perfeito para me aguentar. Até pensei que se estivesse bem depois no final ainda ia acelerar mais para acabar à frente.

Está bem, está... Um quilómetro e pouco junto à bandeira e não aguentei mais. Vamos caminhar novamente e esquecer esta coisa do tempo final. Na verdade, desde os 27km que eu nem sequer sabia se ia acabar, portanto estar ali tão perto já era uma vitória. Se tivesse que fazer em 5 horas, fazia. Maratonas há muitas! Seja como for, foi um balde de água fria ver fugir com a bandeira de tempo os objectivos propostos, independentemente do meu sub-consciente saber que me falharam muitos quilómetros na preparação. Voltei a quebrar psicologicamente e meti na cabeça que ia a caminhar o resto que faltava e que se lixe. 

Olhei para o relógio e fiz contas só para ver quantas mais horas ia deixar o pessoal preocupado na meta. A chuva forte que caia deixava-me em pânico. Comentei no final que esperava até que não estivesse ninguém à minha espera e que eu só queria é que estivessem abrigados e/ou no conforto do hotel. Eu haveria de ir lá ter depois. Mas ter olhado para o relógio deu-me o click final de motivação que me faltava. Contas rápidas ao quilómetro anterior diziam-me que se fizesse os restantes quilómetros até à meta a um ritmo de 8:00m/km iria terminar com 4:40! Como era possível quando a bandeira dos 4:30 já tinha ido embora há tanto tempo? A bandeira dos 4:45 devia estar a apanhar-me a qualquer instante. Olhei para trás e não vi nada que indicasse isso. Então ainda consigo fazer um tempo bom? 
Ao mesmo tempo que fazia estas contas pensava que tinha o pessoal a seguir-me pela aplicação e que um quilómetro tão lento ia deixar todos preocupados - confirmou-se, aquele quilómetro deixou o pessoal na meta em pulgas! E não era só o pessoal na meta, era toda a gente que tanto apoio me deu ao longo destes meses! Não era uma questão de desiludir ninguém, não queria nem podia era deixar ninguém apreensivo. Agarrei-me a toda a gente que conheço, a todos os amigos do mundo das corridas, levei-vos a todos comigo! Estavam ali ao meu lado!

E quem é que apareceu também ali ao lado? Um casal no passeio a dar força aos atletas. Na altura eu ia isolado e lá veio a senhora gritar por mim e pelo nome da equipa com uns valentes "Vamos lá"! Era a mesma senhora que há dois anos exactamente naquele sítio me disse que eu ia com demasiada roupa e o senhor que estava ao lado foi o que no ano passado nos gritou por ali que chegar tão longe era para campeões. Foi incrível! E foi novamente com a lágrima a querer cair que lhes gritei energicamente que "Vocês são os maiores, carago! São os maiores!"

Impossível parar depois daquilo! A partir dali foi sempre a correr, excepto por uns segundos no abastecimento dos 40kms. Mais dor, menos dor, mais cansaço, menos cansaço, tinha uma meta à minha espera. E eu só pensava que se fosse ver o pessoal junto ao gradeamento então ia cruzar a meta a chorar copiosamente porque não ia aguentar. Olhava de relance para o relógio para confirmar que a matemática não me tinha enganado. A chuva tornou-se intensa a certo ponto mas nem isso me ia parar, já tinha transformado todos os infortúnios em entusiasmo, todas as dificuldades estavam a uma curta distância de serem ultrapassadas! Para ajudar ainda há um atleta de uma equipa da zona de Sintra que se meteu comigo para dizer à colega que ele ia a rebocar até à meta que isto agora era um tirinho. Olha aqui o N. fresco e fofo ao fim destes quilómetros todos. Eu sorri e disse-lhe que comparado com as provas do troféu das localidades, isto da Maratona era uma brisa.

Passar o quilómetro 40 foi o melhor momento daquela epopeia até ao final. Os dois últimos quilómetros são para fazer sem parar e sempre a acelerar até ao fim. Dei um high-5 à placa dos 41kms e o meu rosto já era todo ele um sorriso rasgado! Ouvir os sons que vinham do speaker naquela zona e ver o recinto da chegada ali tão perto não deixava margem para qualquer dúvida: aquele tipo que teve medo aos 27kms ia conseguir terminar a Maratona! E em grande parte graças ao apoio que veio de fora!

Subida até à meta, quase sem ninguém junto ao gradeamento, mas isso não me fazia esmorecer. Ali à frente consegui ver a claque de apoio que se tinha acabado de colocar estrategicamente segundos antes depois de verem na aplicação que eu estava a chegar. Não houve lágrimas! O que houve foi um grito de satisfação onde libertei tudo aquilo pelo qual passei nesta epopeia. Curva final rumo à meta, novo grito, agarro-me ao símbolo da equipa na camisola e passo a meta em euforia total com um libertar final de emoções de braços bem erguidos no ar. Consegui! Consegui, carago! E agarro-me ao gradeamento a chorar durante uns segundos. Bateu forte, mas passou rápido.

Fui buscar a medalha e ainda soltei um YES de alegria que fez com que a senhora que me ia dar a medalha me tivesse dado os parabéns e pedido um abraço!



A chuva era intensa, ainda fui buscar uma cerveja que nem bebi na totalidade. Agarrei nas ofertas, na t-shirt de finisher e fui ter com o pessoal que estoicamente aguardava por mim. O meu colega fez menos 15 minutos que eu e decidiu que não queria ir andando até ao hotel antes de eu chegar. Obrigado!

No final, depois de um banho quente, tivemos uma muito merecida refeição de francesinhas que nos encheu o estômago. A alma, essa, já estava bem cheia! 



O regresso a casa foi tão ou mais atribulado que a prova em si. Quatro horas de viagem pela auto-estrada debaixo de um dilúvio tal que nos tirava qualquer visibilidade e nos obrigou a vir a não mais que 70km/h durante mais de metade da viagem. Felizmente tudo correu bem no final.

Está feita a terceira Maratona, cheia de altos e baixos, tal como tem que ser. Depois da emoção há-de chegar a altura para analisar mais a frio tudo o que correu bem e mal durante estes últimos meses para depois afinal a estratégia para a quarta.




Prova nº 95 - Maratona do Porto 2018 - 42km - 4:33:49