quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Não me tentem...

Retido numa estação de comboios devido a problemas na circulação causados por "incidentes com passageiros".

Vou ao Google Maps confirmar: são 17km a pé até casa...

Não estivesse eu de sapatos e calças de ganga e era um belo treino longo, era...!

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Bom dia!

Diz que é por ali o caminho até ao trabalho, mas eu vejo isto e só consigo pensar que é assim que quero encontrar Sintra no domingo!


domingo, 21 de janeiro de 2018

O regresso ao Trail

Todos nós temos, com maior ou menos regularidade, aquele sonho em que estamos a cair e de repente acordamos, certo? Nos últimos tempos tem sido recorrente acordar assim a meio da noite ou até pouco tempo depois de ter adormecido. Ora o que a minha mente fez foi adaptar este sonho (ou devo chamar-lhe mesmo pesadelo?) às minhas próprias circunstâncias: no meu sonho eu estou a andar/correr e começo a cair até ao infinito porque torci o pé.

Foi precisamente num trail que eu tive uma das minhas maiores lesões precisamente porque torci um pé. Mas também já me aconteceu o mesmo num treino de estrada - poucos dias antes da MM Douro Vinhateiro - e no primeiro treino que fiz este ano. Foi só susto em ambos estes casos.

A minha gritante falta de jeito para andar em percursos que não sejam de estrada afasta-me constantemente de trails e faz-me torcer... o nariz quando sei que é esse o destino. Raramente alinho quando são treinos de equipa e meter-me em provas então está quase fora de questão. Tenho uma falta de confiança brutal quando estou perante uma descida mais pronunciada que, no entanto, é quase inversamente proporcional à tranquilidade com que encaro as subidas.

Não entrei em 2018 com particular vontade de mudar esta minha apetência para o trail, nem faço disso nenhuma espécie de resolução de ano novo, mas a verdade é que a equipa marcou um treino de trail especial para hoje e eu não hesitei em estar presente. Na ementa estavam previstos 20km com a menor quantidade de alcatrão possível. Estava entre amigos e sem pressão portanto sabia que ia ter ajuda em caso de necessidade. Foi curiosa a festa que a malta me ia fazendo à medida que ia chegando. Muitos nunca me tinham visto com coisas como ténis de trail nos pés e mochila de hidratação às costas. A gata cá de casa também mostrou a sua estranheza relativamente à mochila tanto ontem quando a preparei como hoje quando me veio fazer companhia enquanto me equipava.

O que aconteceu durante aqueles quilómetros foi aquilo que esperava. Tive dificuldades em algumas descidas, mas de facto só numa é que precisei de apoio extra por ser íngreme e estar enlameada. Depois não me poupei nas subidas e tentei correr todas as que pude. Uma espécie de preparação para o Fim da Europa. E o desfecho final foi que... gostei. Não estou surpreendido, a minha aversão ao trail nunca foi tanto pelo trail em si (as imperfeições técnicas a descer corrigem-se da mesma forma como uma pessoa em estrada tenta melhorar a maneira como corre em empedrado, por exemplo) mas sim por outras questões que me fazem associar trails e pensamentos e momentos negativos. Um pouco como o Alex na Laranja Mecânica ser submetido a um "tratamento" que consiste em associar imagens de violência à Nona Sinfonia do Beethoven que ele tanto adora. 

Isto não significa que a partir de agora vou passar a inscrever-me que nem louco em trails - apesar de estar nos planos fazer um este ano - mas é um passinho para os voltar a olhar de outra forma. Porque o importante são sempre as pessoas com quem partilhamos estes momentos e que nos fazem felizes e os trails em geral não têm culpa da maneira como eu os passei a observar nos últimos dois anos, mais coisa menos coisa.

Fiquem com algumas das imagens. Acreditem que isto ao vivo é imensamente mais bonito!




Uma boa semana para todos!

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

"When you can't keep going, go faster!"

Foi com este lema que hoje calcei os ténis e saí à rua para correr, naquele que foi o meu primeiro treino depois da não-ida a Peniche. E para ser ainda mais masoquista fiz um treino com séries. E passei exactamente pelo mesmo sítio onde torci o pé neste mesmo treino de séries há 15 dias atrás, mas tive o cuidado de ver onde estava a pisar. Curiosamente, acho que era o mesmo carro que lá estava estacionado.

Era para ter ido logo na 2a feira, mas a coisa não se deu e ontem não pude ir ao treino da equipa porque estava em actividades extra-curriculares que ainda devem ter direito a um post também. Não podia passar de hoje, apesar de várias serem as possibilidades de desculpa para não ir. O vento frio, os stresses, a Manuela Moura Guedes poder estar a passar por aqui a caminho de uma consulta. Felizmente fui impedido impelido a sair de casa pouco depois de ter chegado. Música a bombar nos ouvidos e lá fui eu.

O treino teve 11km, com uns circuitos de séries pelo meio em três pontos diferentes do percurso. Rolar antes do primeiro, rolar no caminho entre os três locais, meter alguma altimetria pelo meio, rolar após o último. E dar tudo, mas tudo nas séries. E sentir-me como o próprio Zatopek, guardando fazendo o melhor tempo na última série, tal como ele fazia na última volta das suas provas de 5000 e de 10000 metros (Baptista, ia a meio do livro, mas como já não me lembrava exactamente onde tinha ficado decidi voltar a ler desde o início com o mesmo entusiasmo da primeira vez!)

Deixei a frustração de domingo marcada no equipamento. Festejei o fim do treino como se estivesse a passar uma meta. Parvoices. Amanhã há mais.

E domingo vou voltar a calçar estes... Wish me luck.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Alive

Alto lá que isto afinal começa a ficar mesmo mais interessante. Tenho dois nomes que gostava que viessem, mas se eu os revelo aqui ainda alguém me começa a reclamar aos ouvidos.


domingo, 14 de janeiro de 2018

Peniche a Correr (mal)

Era com imenso entusiasmo que eu aguardava por fazer esta prova, em ano de estreia. Por ser Peniche, por ser organizada por um grupo fantástico, por todas as razões e mais algumas. Mas a vida dá sinais e nós às vezes não os percebemos.

Houve uns contratempos durante a semana mas uma pessoa vai resolvendo de uma maneira ou de outra. A deslocação para o treino de 5a foi um bocado surreal e o próprio treino podia (devia!) ter corrido melhor, mas havia aniversário e houve bolo e comidinha no fim! Para terminar em beleza a semana acabou com notícias que me deixaram de coração nas mãos e a pensar se não teria de cancelar a participação na prova ou, na melhor das hipóteses, fazer um desvio no caminho no regresso a casa. Felizmente o sábado trouxe boas novas.

Ontem pensei em ir até ao Jamor assistir aos campeonatos nacionais de estrada e fazer umas fotos do evento. Acabei por fazer outros planos que passaram por nem sequer sair de casa. Hoje tinha tudo pronto, acordei cedo confirme planeado, pego nas tralhas e lá vou eu rumo a Peniche até que o carro começa a dar problemas de aquecimento e decide desistir da viagem. Estava ainda demasiado longe de Peniche para tentar continuar. Acabei por voltar a casa assim...


Imagem real, não tirada da Internet nem nada

Estou desolado. Eu sei que provas há muitas, já percebi que o problema no carro não é grave. Mas estou desolado na mesma. E escrevo isto ainda dentro do carro à porta da oficina. E comecei a escrever a fazer contas e a dizer que ainda conseguia recomeçar a viagem a tempo de chegar antes da prova iniciar. Estava escrito que iria ser assim, nem fui a Valejas ao Troféu das Localidades nem fui a Peniche. Vou ali enviar a cabeça na almofada na esperança de ainda ter After Eight ou Ferrero Rocher suficientes do Natal para conseguir superar este desgosto.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Plágio

É um assunto sério. É cada vez mais difícil controlar o que é propriedade intelectual de cada um. Que o digam os Tonys Carreiras e afins desta vida.

As redes sociais então são uma fonte fácil de roubo de tudo e mais alguma coisa. Fotografias, piadas em páginas de comédia, eu sei lá. Eu sigo uma série de páginas de comédia relacionadas com futebol - até sou administrador de uma, lembrei-me agora, só para verem há quanto tempo não escrevo lá - e é muito normal ler a mesma piada, o mesmo trocadilho, a mesma imagem repetida em várias páginas, às vezes mudando apenas uma vírgula, às vezes nem isso. Citar a fonte? Esqueçam lá isso que dá trabalho e assim parece que a piada é nossa.

Há largos anos atrás costumava contribuir com alguma regularidade numa página chamada Salão Neurótico. Aquilo era muito popular, mas com o tempo passou de moda. Nem sei se ainda existe, nem fui procurar enquanto escrevia. A ideia era pegar em trocadilhos parvos e rápidos e transformar em imagem. Tipo isto:

Sabem o que é? É Chá Pinto.
Um dia alguém publicou uma imagem com a legenda Acrobat Reader. Foi um sucesso! A pessoa disse ser a autora da montagem que até teve direito a grande destaque no 9Gag. Rapidamente apareceram outros eventuais autores que encontraram a imagem já partilhada noutros sítios e reclamaram para si o original. Acho que nunca se percebeu quem tinha tido a ideia. A coisa há-de ter morrido com o tempo. Procurando no Google o que mais se encontra agora são várias versões do mesmo trocadilho com esta ou outra imagem.

Na corrida acontece algo semelhante. Eu vejo uma prova que gosto e partilho com a malta. A mesma prova já há-de ter sido partilhada antes por outros atletas e há-de ser partilhada novamente por muitos outros. Estou a plagiar? De acordo com alguns entendidos na matéria, sim. "Ah e tal, eu disse que ia à prova/evento/etc X ontem e tu hoje foste fazer exactamente a mesma inscrição!"

Poupem-me! E se querem reagir de alguma forma então que se sintam felizes por terem incentivado outros a fazer o mesmo. Já aconteceu ter sido o primeiro atleta a inscrever-me na Corrida dos Sinos. No final da prova o meu sino e a minha garrafa de água eram iguais às do atleta 561 ou 1875. Já fiquei com um dorsal abaixo do número 10 em pelo menos duas noutras provas - daquelas que têm tendência a esgotar rápido - por querer garantir que não ia ficar sem vaga, tal como já me inscrevi mesmo à última da hora antes do preço das inscrições aumentar. 

Querem falar de plágio? Ok, fiquem com este pequeno excerto sobre o assunto, retirado da excelente sitcom chamada "O Terceiro Calhau a contar do Sol" (3rd Rock from the Sun no original) que era sobre uma família de extraterrestres a viver na Terra para recolher dados sobre a cultura e comportamento dos seres humanos, sem terem noção das coisas mais básicas. Porque é disso que se fala aqui. De extraterrestres? Não, de calhaus!


segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Troféu das Localidades - CCD Cascais

O primeiro fim de semana do ano teu origem à primeira prova de 2018. Antes disso tinha feito dois treinos durante a semana, um onde fiz algumas séries e terminou comigo a torcer o pé ao não calcular o desnível da berma da estrada, tendo depois atropelado literalmente um carro que estava estacionado no passeio. Já ia com o treino quase no fim e como nunca me afastei muito de casa foi rápido regressar a caminhar para não forçar mais. Água fria do banho no tornozelo, Voltaren, meia elástica e no dia seguinte estava ok para o treino de equipa embora o tenha completado um bocado a medo. 

Lá vesti a minha "segunda pele" em termos de equipas para rumar a Cascais onde curiosamente na época passada nunca tinha marcado presença nas provas do troféu. A malta estava meio dividida por outras provas mas mesmo assim ainda estava um grupo simpático com vontade de se divertir e fazer uns pontinhos lá pelo meio. A partida/meta era na zona onde se parte para a Maratona de Lisboa e ao lado do Parque Marechal Carmona que me pareceu um espaço bastante agradável e que eu não conhecia propriamente. A visitar novamente noutras circunstâncias, se nos esquecermos que naquela zona se paga parquímetro todos os dias.

O sol brilhava lá no alto, mas com o vento que estava era insuficiente para nos aquecer. Felizmente os bons resultados dos escalões mais jovens deixavam-nos animados e faziam-nos esquecer do frio gélido que se sentia. Era um bom início para o resto das provas e que foi tendo continuidade à medida que os diversos escalões iam competindo. A malta faz aquilo por carolice, mas se puder ganhar umas medalhas ainda melhor, sobretudo porque isso também ajuda a motivar os mais pequenos a querer continuar a correr sem nunca lhes impor ou exigir resultados descabidos.

Quando começou a prova feminina alguns dos homens da equipa foram acompanhar as respectivas esposas usando esses 3,5km para aquecer. A prova tinha anunciado um percurso de 3,7km para elas e para nós seriam duas voltas ao mesmo trajecto. Quando terminei vi que tinha feito 7 quilómetros e confirmei depois que batia certo com os relógios de toda a gente e tinha sido um pouco menos que o esperado. Nessa altura eu fiquei a fazer reportagem fotográfica e a conversar com outro dos rapazes que ficou também a dar um olho aos miúdos que brincavam alegremente depois de terem feito a sua parte. Disse-lhe por brincadeira que gostava, um dia, de ficar entre os 30 primeiros do escalão numa destas provas para conseguir fazer 2 pontinhos em vez do habitual ponto de participação. Tirei logo essa ideia da cabeça porque apesar de ter sentido que havia uma ou outra equipa que não estava presente já havia um número muito razoável de mulheres a correr e de homens a fazer aquecimento, algo que contrastava com a hora a que chegámos. Paciência.

Chegou a nossa hora e lá fomos para a partida, bem dispostos como sempre. E, quase sem estar à espera, deu-se o arranque para a prova. Juro-vos que nunca senti tanto a falta de um aquecimento consistente como ontem! Andei sempre de um lado para o outro antes da prova começar, mas não tirei uns 10 minutinhos para correr um pouco e isso notou-se assim que comecei. As pernas estavam presas, a respiração uma lástima e até a cabeça estava noutra onda. Péssimo!

A altimetria da prova era muito acessível, tendo em conta aquilo que costumam ser estas provas e tratando-se de um percurso circular de duas voltas era fácil saber aquilo que iríamos passar. Também foi bom, no meu caso, porque dava para ir observando e dando (e recebendo) força a quem vinha do outro lado da estrada. Meti o objectivo de fazer 35 minutos, o que daria um ritmo ligeiramente abaixo dos 5:00m/km para os tais 7,4km esperados. O primeiro quilómetro foi penoso e o segundo corria da mesma maneira. Apesar de estar a conseguir correr próximo do ritmo que queria tinha clara noção que ia rebentar mais cedo ou mais tarde. Apanhei a companhia de dois colegas de equipa - um deles com objectivo igual ao meu - mas mantinha-me sempre em esforço atrás deles e fiquei mesmo para trás. Até que o corpo começou a responder devidamente! Fruto de ter finalmente aquecido? Por ter recorrido à bomba da asma, algo que raramente sinto necessidade de fazer apesar de me acompanhar sempre no bolso dos calções? Ambos? Não sei, mas à entrada do terceiro quilómetro já tinha apanhado um dos meus colegas e fomos juntos durante um bocado até eu ter decidido dar o tudo-ou-nada numa das subidas.

Ele ficou um pouco para trás mas não muito. Não estava obviamente a competir contra ele mas recordo-me de me ter ultrapassado na Cruz Quebrada na subida a seguir ao Jamor e eu não tive pernas para ir atrás dele. Ontem estava ali a tentar dar o máximo naquela fase para não perder tempo e era pelo menos um bom indicador. Quem diria que da primeira volta ali estava em sofrimento puro? Estava a um ritmo semelhante ou ligeiramente mais rápido e muito mais solto. Comecei a ver ao longe o meu outro colega, o que queria (e conseguiu) fazer abaixo de 5:00m/km. As flechas da equipa só me passavam pelos olhos nos retornos e bem acima das minhas possibilidades, portanto focava-me no que sei que consigo. Não o cheguei a apanhar, mesmo tendo feito a 4:30 a descida final contrária à tal subida, mas terminei uns segundos acima dos 35 minutos como tinha planeado. Só fiz foi menos 400 metros que o originalmente previsto. 

Foram 7 quilómetros onde passei por um turbilhão de emoções e sensações diferentes. Comecei a penar e depois tudo mudou, felizmente para melhor. No meio disto tudo queixava-me dos calções (e dos boxers também!) que são novos (mas já tinham sido devidamente estreados em treinos) e queixava-me do pé torcido que eu não sabia se me estava a doer ou se era eu que queria sentir lá uma dor que me daria uma desculpa razoável para parar. Enfim. O que é certo é que consegui no final de contas terminar mesmo dentro dos 30 primeiros do escalão e com uma boa margem até! Só não vi ainda quantos atletas havia, mas comparativamente o colega que acabou à minha frente e que eu não consegui apanhar ficou fora dos 50 primeiros do seu escalão apesar de ter chegado uns 10 ou 15 lugares à minha frente na classificação geral. Pimba, dois pontos para mim! 

Veremos como me correm as restantes provas de Cascais, mas já fico com pena de não poder estar presente na próxima que é dia 21 de Janeiro. 

A próxima meta é agora em Peniche no próximo domingo, de volta à minha pele original. Gostava de continuar a fazer sub-50 aos 10km mas tenho que ver melhor o percurso da prova para estudar o ritmo que quero. Não espero a mega festa que é nas Fogueiras mas sendo onde é promete ser uma animação em termos de ambiente.

Bons treinos e boas provas para todos!

(E é assim que se transforma uma prova de 7 quilómetros numa Maratona!)

Prova nº 75 - Troféu das Localidades (Sintra, Oeiras e Cascais) - Corrida CCD Cascais  - 7km - 00:35:20

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

São Silvestre de Lisboa 2017

Há várias semanas que um colega de equipa me andava a tentar desencaminhar para ir fazer a São Silvestre dos Olivais (como se fosse difícil convencer-me a ir fazer uma prova) mas por um motivo ou outro eu não estava 100% seguro que a queria fazer. Em boa hora decidi que não queria mesmo, o que se veio a revelar uma boa decisão porque no dia antes o nosso treino das 5as feiras foi temático e, de repente, havia 50 pessoas para levar a correr pelas ruas da cidade num percurso que foi traçado por mim. Daquilo que mais me lembro é de dizer no briefing que estava cheio de medo de me enganar no caminho mas felizmente nada disso aconteceu e a coisa foi, sem falsas modéstias, um pequeno sucesso. Como já se falou o suficiente do assunto ali na rede social - com direito a reportagem na imprensa local e tudo - vamos lá ao assunto que nos trouxe aqui: a São Silvestre de Lisboa.

Este meu colega acabou por se convencer a fazer a prova porque era onde já estavam inscritos muitos dos elementos da equipa. Mesmo assim ainda foram dois aos Olivais. Azar dos azares, ele teve um impedimento pessoal que o forçou a não estar em Lisboa no sábado e na véspera cedeu-me o dorsal dele. Foi daquelas situações chatas porque podia na mesma ter feito os Olivais como pretendia originalmente, mas ele também não pareceu muito chateado com isso. Até calhava bem porque ele - tal como eu se me tivesse inscrito - tinha um dorsal sub-50.

A questão é que eu já há muito tempo que andava a dizer que queria estar na prova com o pessoal mas sem competir. Queria estar ali pela Rua da Arsenal à espera de os ver passar, correr ao lado de quem precisasse, fazer umas palhaçadas e dar apoio moral, empurrá-los pela Avenida da Liberdade acima um passinho de cada vez e depois do Marquês sair de cena antes da meta para não a cruzar ilegalmente sem dorsal. Assim sendo a coisa já era diferente. A única ilegalidade era mesmo ter um dorsal com outro nome, algo que também não gosto como já aqui referi mas onde o risco é exclusivamente meu.

Lá me juntei com o pessoal à hora marcada, mas a partida para Lisboa foi um pouco confusa e com atrasos, ao que se somou muito trânsito já dentro da cidade. Comentei por sms que se estivesse ali para competir "a sério" estaria a ficar nervoso. Como é normal nestas situações tudo acabou por se resolver, carros todos estacionados algures e todos juntos no ponto de encontro para tirar fotos, tentar um grito de guerra que ainda não está bem ensaiado, acima de tudo, rir. Pelo meio ia vendo uma ou outra cara conhecida e trocando alguns cumprimentos. A caminho dos blocos de partida ignorei a porta dos sub-50 e fui com a malta foi ficando para o último dos blocos. Disse-lhes repetidamente, tal como tinha comentado na semana antes, que estaria ali para me divertir e que nos grupos de trás é que se corre com tempo e calma suficiente para se desfrutar de todos os momentos.


A Avenida estava lindíssima àquela hora da tarde. Muito mais bonita ao vivo do que alguma das fotos que eu tirei. E acreditem que tirámos imensas enquanto aguardámos pelo início da prova. Pelo início da nossa prova que foi uns 10 minutos depois do arranque oficial das Elites. E lá fomos. Confesso que fui sem qualquer plano. Estava só ali por perto a correr ao ritmo das minhas colegas de equipa. Nem sabia muito bem quem iria acompanhar ou se iria andar a fazer piscinas entre elas. Foi com alguma naturalidade que duas foram mais para a frente com bom andamento e uma ficou um pouco para trás portanto fiquei num ponto intermédio junto de outras duas colegas. Ao mesmo tempo pensava que podia estar a tentar fazer de lebre ao meu colega que queria fazer 45 minutos (mas isso é mais rápido do que eu corro) ou estar com o outro colega que ia tentar chegar aos 52 minutos ou estar com... Enfim, tanta gente a quem eu queria fazer companhia.

Lá fomos os três num ziguezague constante para tentar ultrapassar outros atletas enquanto nos mantínhamos unidos e sem perder ritmo. Íamos a 6:15m/km o que era um ritmo interessante para elas, ao mesmo tempo que eu já ia tentando ver quem vinha em sentido contrário para ver se percebia onde ia o resto da malta. Encontrei alguns, mas não todos. Encontrei também mais pessoal amigo o que é algo que muito me agrada. E de vez em quando ouvia também o meu nome, embora nem sempre fosse para mim. E quando era demorei imenso tempo a reagir para retribuir a mensagem de força. O nosso trio manteve-se quase sempre coeso, mas aos 4km uma delas fez-me sinal que tinha que abrandar um pouco mas que nós fossemos em frente que ela já nos apanhava. Cumpriu a promessa e logo a seguir ao abastecimento já estava junto a nós novamente, no entanto teve que abrandar pouco depois. Ficámos só os dois e eu sempre a tentar perceber se o ritmo era tranquilo para ela. Disse-me que também queria abrandar mas que não o ia fazer. Não sei se a minha presença ali lhe deu ânimo ou se se sentiu pressionada para não dar parte de fraca, mas gabei-lhe a força de vontade e a excelente prova que estava a fazer. Com isto já estávamos de regresso ao Cais do Sodré e havia cada vez mais gente na rua a assistir - em silêncio - à prova.

Ora se eu já puxo pelo público quando vou a correr no limite com os dentes cerrados em busca de um bom tempo, então agora que ia a um ritmo tranquilo para mim ainda mais energia tinha para animar os espectadores. Assim fiz e várias foram as vezes em que gritei a pedir palmas e a pedir barulho, mas infelizmente nem sempre fui correspondido. A minha colega devia estar a chamar-me louco, pensava eu... mas como ia eu à frente a servir de lebre nem sempre via a reacção dela. Entretanto percebi que ela estava a achar interessante o meu esforço. No meio do pessoal que estava à beira da estrada lá havia, como sempre, elementos do Correr Lisboa a dar um apoio constante. Por falar neles, foi a caminho do Rossio que encontrei a minha amiga Inês que me disse que até no meio de 10 mil pessoas nos conseguimos encontrar sem ser preciso combinar e que me "confidenciou" também que afinal não era só na Avenida da Liberdade que se começava a subir porque ali também já não era fácil. Ainda lhe tentei dizer que era pura ilusão, mas as pernas sentem logo quando o terreno começa a inclinar. Ao mesmo tempo perguntava à minha colega se ela tinha energia para enfrentar o que faltava e disse-me que tinha que ser. Sugeri-lhe não ter a  tentação de querer aumentar o ritmo para compensar a subida mas para ir tranquila, um passo de cada vez, lá está.

Aguentou-se muito bem, só teve necessidade de caminhar no último cruzamento da Avenida já com o Marquês à vista. Mandou-me seguir, que não esperasse por ela. Já o tinha feito no abastecimento quando teve que parar para beber água sem se engasgar. Seguir? Sem ti? Então mas eu estou aqui é para te ajudar, não tenho pressa em chegar à meta que ela espera por mim. E assim foi até dar quase meia volta ao Marquês. Disse-lhe que o mais difícil estava feito e que agora era só gerir a descida até à meta. Vou voltar para trás - acrescentei - à procura da nossa colega. Não tive que descer muito porque ela não vinha longe e fiz o mesmo. Deixei-a no mesmo sítio e fui pela Avenida abaixo "em contra-mão" à procura da última colega da equipa que eu imaginava viria com mais dificuldades, mas o último é o mais importante e ninguém fica para trás!

Vinha efectivamente cansada e ainda a começar a subir. O marido já a vinha a ajudar (fez 47 minutos em vez dos 45 que queria) e fomos os três por ali acima. Eu e ele mais na conversa para não a pressionar, ela a lutar com todas as forças contra aquela inclinação tramada. Fomos subindo, mais depressa ou mais devagar e ele dizia-me que a certa altura nos deviam barrar a passagem, até porque já lá atrás não o queriam deixar passar para a acompanhar quando o viram de medalha posta e com o resguardo prateado que foi dado no final da prova. Ok, disse-lhe eu, não te preocupes que se não te deixarem seguir eu acompanho-a até à meta. Valha a verdade eu gostava de terminar a minha prova, pá! Ficou incrédulo porque achou que eu já tinha passado a meta e tinha regressado ao percurso como ele. Nada disso, nada disso.

Ele foi efectivamente connosco até próximo das barreiras. Ao darmos a volta completa ao Marquês - e enquanto tentávamos convidar uma outra atleta do Correr Lisboa a seguir na nossa boleia e combinar onde era o ponto de encontro com a malta da nossa equipa após a meta - eis que vemos um foguete a passar sorridente pela Avenida abaixo! Ela ganhou forças vindas não sabemos de onde e estava com energias renovadas. Deu para ir quase sempre sem parar até à meta que foi cruzada de mãos dadas, seguindo-se um forte abraço!

(Gostava de encontrar uma foto da chegada, mas ainda não fui à página da prova na Running & Medals ver os álbuns que já estão disponibilizados e catalogados.)

Melhor ainda, todo o resto do pessoal que partiu connosco tinha aguardado por nós após a meta antes de ir receber a medalha. Esta amizade que nos une e este espírito que temos é completamente indescritível. Saber os bons resultados do resto do pessoal foi um bom complemento. A colega que eu acompanhei durante o percurso todo até ao Marquês já me tinha dito que a prova estava a passar muito depressa e veio a comprovar que fez o seu melhor tempo aos 10km. Maravilha!

Quanto a mim, passei a meta com o meu pior tempo de sempre numa prova de 10km - e no meio do vai-vem acabei obviamente por fazer mais que isso - mas foi das metas que mais alegria me deu a passar. Daqui a uns largos anos hei-de olhar para este tempo e por uns segundos hesitar se não me enganei a registar a prova no meu arquivo mas rapidamente me lembrarei de todos os momentos daquele final de tarde. Não podia ter tido uma meta melhor para terminar o ano. Adorei cada quilómetro, cada momento, cada passada dada pelo prazer de correr, pelo prazer da companhia, pelas gargalhadas, por tudo! Achei mesmo que ia sentir falta da adrenalina de estar a lutar contra o relógio para fazer "aquele" tempo mas isso nunca aconteceu. Em 2018 vou querer continuar a trabalhar para atingir alguns objectivos, eventualmente bater algumas das minhas melhores marcas actuais mas também vou querer voltar a ter dias assim em que o coração está tão cheio de carinho acumulado ao longo dos tempos que começa a transbordar e a retribuir tudo na mesma moeda e em todas as direcções.



Agora é voltar a respirar fundo e recomeçar tudo novamente. Nova semana com treinos, nova prova no domingo.

Para todos, votos de um 2018 em grande e que possam atingir a felicidade e o sucesso que procuram e que merecem!

Prova nº 74 - São Silvestre de Lisboa 2017 - "10km" - 01:21:40