terça-feira, 27 de março de 2018

Corrida dos Sinos 2018

Começo já por dizer que não consegui pensar num título mais original para esta publicação. 
Resumo também já o que digo sempre que falo de Mafra: gosto de lá ir e de correr e passear por lá, portanto a Corrida dos Sinos é sempre um ponto de paragem obrigatório no calendário anual de corridas, não só para fazer a prova mas também para o belo do picnic no final.

Juntou-se um grupinho simpático de elementos da equipa e lá partimos domingo de manhã com a vantagem de já termos os dorsais levantados por um casal de colegas no dia anterior, mas sempre com a preocupação de chegar cedo na mesma por causa do estacionamento e dos cortes de estrada. Com mais ou menos mudanças de planos de última hora - questões de saúde fizeram com que nem toda a gente pudesse ir - chegámos a Mafra bem antes das 9:00, ainda a tempo de sentir umas gotas de chuva mas que foi prontamente desviada de lá pelo vento forte que se fazia sentir. Caros leitores: que ventania medonha que estava! Nem dava para aquecer devidamente e estivemos abrigados ora dentro dos carros, ora no café dentro do parque desportivo, ora no restaurante em frente à partida e que é um dos principais patrocinadores da prova. E conseguimos não fazer uma foto de grupo com toda a gente tanto antes como depois da prova. Malta, temos que afinar isto melhor...

Ainda houve tempo para uma rápida ida ao secretariado por questões burocráticas e isso permitiu-me trocar umas rápidas palavras com uma série de amigos e conhecidos. Aliás, este foi o mote para a prova toda.

Às 10:00 tocou o tradicional sino que dá o "tiro de partida" para a prova. Enquanto estávamos naquele impasse de chegar ao pórtico um colega diz-me que tocou o sino para assinalar que estamos a entrar na última volta. Uma volta de 15 quilómetros em que os primeiros são sempre uma luta para ganhar uma posição onde se possa correr tranquilamente sem atropelar ninguém e sem ser atropelado. Quando já vinha a subir após o retorno vi em sentido contrário um atleta com uma ferida e algum sangue na testa e na cara. Percebi depois quando vi as primeiras fotos da prova na Running and Medals que à passagem do primeiro quilómetro esse atleta já estava assim, pelo que terá provavelmente caído nos metros iniciais.

Ao chegar à zona da Escola de Armas já era possível correr sem slalom e de forma mais tranquila. Foi lá dentro que vi a Aurora Cunha a parar para umas fotos depois de ter começado a um ritmo elevado. No final ainda deu para tirar umas fotos com ela e conversar bastante. Já a tinha visto a apoiar atletas noutras provas, mas foi a primeira vez que tive oportunidade de privar com ela e digo que ela é de uma simpatia impressionante e nota-se que tem gosto e prazer no apoio e no contacto com os atletas.

Não parti para a prova com qualquer objectivo. A ideia é sempre fazer melhor que no ano anterior, mas confesso que nem sequer me lembrava ao certo do meu tempo. Só sabia que era no minuto 18 ou 19. Foi sem qualquer pressão que fui correndo. Sem pressão e sem música que optei por deixar em casa. Já devia ter um feeling que ia passar a prova sempre a cumprimentar atletas. Poucas também foram as vezes em que olhei para o relógio. Numa delas, já a descer depois da zona do Sobreiro, ia a sentir-me tão tranquilo que achei que podia forçar um pouco mais. Quando vi, ia a 4:24m/km! 

Assim que os primeiros classificados passaram começou o rol de caras conhecidas. Uns no grupo da frente, outros dentro do ritmo habitual bem superior ao meu. E umas rápidas trocas de "Força!" e uns quantos high-five a quem vinha em sentido inverso. Da mesma forma, no mesmo sentido que eu ainda passaram por mim alguns amigos cujo ritmo ainda tentei, mas não consegui, acompanhar. Quando cheguei ao retorno no fim da descida deu eu um high-five ao Sino que tínhamos que contornar e comecei novamente à procura de malta que agora vinha mais atrás para dar eu o apoio possível e necessário. E que grande festa foi sempre que me cruzava com alguém, sobretudo malta da equipa mas não só.

Foi nesta altura que ouvi alguém a gritar por mim e quando olhei de repente vi que era a Vonita! Voltei a vê-la quando ela cruzou a meta e consegui - FINALMENTE - conhecê-la pessoalmente. Depois de tanto tempo a estarmos em provas em simultâneo e nunca nos encontrarmos, foi desta! Deu para trocarmos uns dedos de conversa e fazermos umas fotos da praxe. Só por estes pequenos extras de convívio já vale a pena!

Voltando à estrada, quando dei por mim já tinha terminado a subida, já tinha pedido palmas e barulho ao pessoal que estava a assistir ao longo do percurso e já tinha percebido que estava quase sempre a acompanhar um atleta que estava ali a ser uma espécie de lebre improvisada e que andou sempre próximo de mim tanto a descer como a subir. Nunca falámos durante a prova, mas depois de passar a meta agradeci-lhe por ter sido minha lebre sem saber durante um bom bocado. Ele ainda estava cansado e acho que nem percebeu bem.

Tão distraído e tranquilo que ia que quando olhei para o relógio novamente para ver o tempo que ia fazer aos 10km... ele já marcava 12! Ah, já só falta isso? Vi que o ritmo até ao momento andava pelos 5:15m/km e fiquei satisfeito, sobretudo pelo facto de nunca ter tido necessidade de abrandar e caminhar, ao contrário do que tinha acontecido em 2017. Mentalizei-me para a última subida na aproximação ao último quilómetro. É aquela que me chateia sempre, mas domingo passei por ela com relativa tranquilidade. E assim que pude acelerei no final e fui quase em sprint até entrar no estádio. Ainda ouvi chamarem por mim mesmo ao passar o portão do parque desportivo - já percebi quem foi, obrigado! - e naquela fase já era a parte mais fácil com a emoção de entrar na pista de tartan. Ao ouvir gritar por mim e perceber onde estava a nossa malta dos Sininhos na bancada a tirar fotos virei-me para lá sorridente e de braços bem abertos. Missão cumprida.

Não há tempo de chip porque não havia tapete na partida, pelo que vou confiar no tempo do relógio para ser o registo oficial. Curiosamente terminei 2018 exactamente com o tempo final de 2017. No relógio a diferença é mínima. No corpo a diferença foi enorme! Não acabei exausto e tinha energia no tanque para fazer mais uns quantos quilómetros. Olhando para trás, penso que podia ter arriscado mais um pouco a descer, mas também sei que isso me poderia ter causado mossa a subir. Foi bom assim, muito bom mesmo.

Era altura de ver quem já tinha terminado e esperar por quem faltava. Mais umas fotos, a tal conversa com a Aurora Cunha, e não resisti à ansiedade e fui também procurar a nossa ET que já tinha companhia mas que nunca mais chegava... Felizmente não tive que correr muito para trás e lá vinha ela já quase a entrar no estádio. Agora sim, com toda a gente a cruzar a meta estava a missão cumprida, mesmo que tenha havido ainda uma... "descarga de emoção" que nos deixou ainda um pouc
o apreensivos.

Vamos ao picnic? Vamos! Mas onde? Em Mafra, como sempre. Mas está uma ventania desgraçada... Então vamos a outro lado. Fazemos o picnic "em casa"? Vamos para onde? E fomos. Para mais perto de casa onde estava... uma ventania desgraçada também! E isso interessa? Havia calor humano, havia amizade, havia minis, havia convívio e havia sopinha quente. Havia tudo o que nos move para continuarmos a repetir estas aventuras sempre que possível.




Histórico da prova:
2015 - 1:30:31
2016 - 1:22:49
2017 - 1:18:49
2018 - 1:19:00

P.S: Já me ia esquecendo e voltei cá para editar o post! No meio disto tudo, também deu para conhecer pessoalmente e falar um pouco com o Vítor Oliveira a quem agradeço desde já por aquilo que ele sabe (mas vocês ainda não).

Prova nº 80 - Corrida dos Sinos 2018 - 15km - 01:19:00

terça-feira, 13 de março de 2018

Meia Maratona de Lisboa 2018 - uma prova única

Vamos partir do pressuposto que dificilmente se vão repetir as condições climatéricas recentes nos próximos anos e que obrigaram a organização a accionar o Plano B e mudar o ponto de partida da Meia Maratona de Lisboa. Isto fará com que daqui a largos anos muitos de nós nos possamos sentir privilegiados com a possibilidade de termos feito uma prova única e de termos tido a sensação de fazer este novo percurso. É certo que choveram críticas à organização e que fazer a "Meia da Ponte" sem passar pela ponte tira parte do brilho da prova. Muitos são os que querem participar pela experiência de atravessar a ponte a pé e a Ponte 25 de Abril é atravessada na totalidade, o que não acontece, por exemplo, na Meia Maratona da Ponte Vasco da Gama. Também é verdade que bastava um atleta sofrer uma fatalidade em cima da ponte por causa do vento forte para choverem ainda mais críticas e se julgar a falta de responsabilidade por não se ter alterado o percurso. 

Qualquer decisão que uma organização tome é sempre sujeita a descontentamento, mas neste caso parece claro que foi a opção certa. E para quem reclamou outras opções, há que perder um pouco de tempo a ler o regulamento. Para mim e para a minha malta a grande diferença foi termos dormido mais um pouco e apanhado o comboio uma hora depois da ideia inicial. Só tive pena de alguma desorganização à chegada a Lisboa que me fez não ter conseguido encontrar a Nádia e a Inês que foram, já agora, responsáveis por eu ter estado naquela linha de partida. Antes de eu ganhar um passatempo já elas me tinham colocado um dorsal nas mãos, fruto de outro passatempo. Fica também o convite para seguir as respectivas páginas

Agora chega a altura das minhas críticas. Se não fosse com passatempo nunca teria voltado a fazer esta prova. O preço de inscrição esteve demasiado caro desde o início e a discussão sobre a camisola já vai longa em tantos sítios que nem sequer vou abordar esse assunto. Na prova em si o que mais me queixo é uma coisa tão banal como a inexistência de pórtico de partida. Eu sei que estava vento, mas nem que fossem dois membros da organização a levantar uma cartolina. E, já agora, o speaker que estava a tecer largas críticas - justas, pareceu-me - ao facto de haver atletas a atirar peças de roupa que não iam usar pela ponte abaixo também podia ter anunciado o início da prova. Eu e o colega que partiu ao meu lado só percebemos que era ali a partida por termos tropeçado nos sensores no chão. Relógio a contar e vamos a isso antes que chova.

E choveu logo ao fim de 10 minutos, mas foi coisa passageira. Eu que tinha deixado o impermeável junto da malta da caminhada não me arrependi da decisão. Ia bem disposto, sem pressão, rumo à marca das duas horas que tinha prometido, mesmo que ainda tivesse ouvido que "ah e tal, este gajo quando faz estes comentários é quando depois acaba melhor e com tempos record e mais-não-sei-o-quê." Confirma-se... a certa altura pensei em record. Devia ter chovido mais.

Encontrei a Inês, dei-lhe um abraço e desejei-lhe boa prova. Disse-me que a Nádia tinha saído dali agora mesmo, portanto fui à procura dela. À minha frente já tinha desaparecido o meu colega, outro que ah e tal, vou nas calmas. Foi tanto nas calmas que só o voltei a ver hoje à noite. Para trás ficaram outros colegas e amigos, um dos quais tinha dito que ia comigo mas acabámos por nos perder na confusão da partida e do arranque no início da prova. Curiosamente já falei com ele, mas ainda não o voltei a ver. E foi num ápice que saímos do Eixo Norte-Sul rumo a Alcântara.

Brilhava o sol, ia em bom ritmo e nem dava pelos quilómetros passarem. Porque raramente olhava para o relógio e porque raramente os encontrava marcados no percurso. Meia crítica aqui, porque não ter essa referência estava a ajudar-me a ir tranquilo. E quando vi um placa, ela estava virada para o lado errado e eu julgava já ter feito 9km e até disse à Isa e ao Vítor que os 10km e a metade da prova estavam já ali. O balde de água fria veio a seguir quando se deu a viragem no Cais do Sodré e ainda só íamos com 7km. Mais água fria chegaria volvidos mais 7kms.

Como era natural fui-me cruzando com várias caras conhecidas pelo caminho, fui metendo conversa, fui cumprimentando pessoal aqui e ali. Tudo coisas que ajudam a passar os quilómetros sem se dar por eles. Antes de chegar ao retorno lá estava a Nádia do outro lado. Uma rápida mensagem de força foi o que conseguimos desejar um ao outro. E depois do retorno um dos momentos pelos quais eu esperava: reencontrar ao vivo e a cores o João Lima a correr. Já tinha visto umas fotos e lido uns relatos, mas aquele curto abraço e troca de palavras foi essencial. Rumo aos 10kms onde passei com 55:30 aproximadamente. Foi aqui que fiz as contas habituais: faço o resto numa horinha e é sucesso garantido. Esqueci-me é que para isso funcionar tenho que fazer os primeiros 11kms em 55 minutos e depois sim os restantes 10 numa hora. Não faz mal, ia dentro do tempo previsto.

Ainda antes de chegar a Belém o percurso da Meia juntou-se ao da Mini, separados pelo gradeamento. Desviei o olhar para o lado de lá e encontrei imediatamente quem queria ver. "Então boa tarde e tal e até já que eu vou ali até Algés e já venho!" Pronto, o reencontro só se deu quase uma hora depois de eu ter terminado. Parecia um dia pródigo para perder pessoas de vista. Felizmente tinha outra repórter na meta à procura das nossas camisolas para fotografar.

Em 2015, da única vez que tinha feito a prova, o meu maior problema foi ter passado em Belém junto à meta e depois ter ido e ido e ido e ido e cada vez que me afastava mais cansado me sentia. Psicologicamente afectou-me, mas na altura era apenas a minha segunda Meia Maratona e eu não sabia fazer bem este tipo de gestão psicológica da prova. No domingo ia tentar inverter esse sentimento e estava a conseguir. E depois o céu escureceu e eu arrependi-me de ter dito algures lá atrás que durante a prova já não chovia mais. E não choveu, granizou!

Chuva forte, granizo, tocada a vento que soprava de frente. O mesmo vento que nos estava a impedir de correr e nos empurrava para trás. Baixei a cabeça, cerrei os dentes e fiz o meu quilómetro mais rápido da segunda metade da prova. Devo ter ultrapassado uns 20 ou 30 atletas nesta fase e a única coisa que tentava era ver por onde ia para não tropeçar em ninguém. Que chuvada! Meteu a um canto o dilúvio da Meia Maratona dos Descobrimentos de 2016. Ainda vi um amigo a passar já em sentido inverso. Confessou-me ele horas mais tarde que levar com o granizo por trás tinha sido como ter agulhas a espetarem-se nas costas. Eu continuava a não sentir saudades do impermeável. Foi um quilómetro, uns 5 minutos brutais. Senti-me a correr contra o mundo, contra todas as adversidades. E não neguei o desafio. A roupa ficou colada ao corpo e os ténis encharcados de forma instantânea e aquilo foi tudo mágico e surreal ao mesmo tempo. Agora que olho para trás ainda nem consigo ter a noção exacta do que foi correr debaixo daquele temporal. Só queria ter uma fotografia para guardar. E digo isto sem desejar nenhuma pneumonia a nenhum dos fotógrafos - amadores ou profissionais - que lá estiveram naquela manhã.

Passada a intempérie e já com dois terços da prova feita aguardava o retorno em Algés. Mas ele nunca mais chegava. E Algés não era ali atrás? Já estava todo baralhado e a trocar as provas. Tinha dito ao pessoal que íamos até Santa Apolónia, mas isso é nos Descobrimentos. E depois pensei que se não tínhamos ido tanto para aquele lado, então estávamos a compensar agora neste retorno. Tudo errado, o percurso era exactamente aquele com retorno na zona do Dafundo/Cruz Quebrada. Enfim, meia crítica a mim que devia ter olhado devidamente para o percurso em vez de achar que ainda me lembrava dele de cor e salteado. Chegado ao tão desejado retorno comecei a fazer contas ao que faltava até à meta. Próximo objectivo o abastecimento de água, depois o da fruta. Ou era ao contrário? Não interessa, há dois abastecimentos e primeiro quero chegar a um e depois a outro. E há malta para ver do outro lado da estrada para me fazer pensar noutra coisa sem ser o cansaço acumulado. E deixa cá espreitar para o relógio que continua a marcar a média dentro do que quero.

Agora era só rolar até ao fim sem precisar de acelerar, mas ali aos 19km entrou-me nos ouvidos uma das músicas da playlist que me dá pica e aqui o vosso amigo começou a abanar o capacete. Literalmente. E a fazer "air guitar" e "air drums" e cenas assim. Felizmente que os fotógrafos estavam abrigados porque a chuva tinha voltado ou estavam já concentrados na meta.

E a meta chegou rapidamente, não sem antes fazer um sprint final para ultrapassar alguns atletas e garantir que não ficava escondido atrás de um dinamarquês alto e espadaúdo que me fosse tapar ao cruzar a chegada. Uma pessoa tem que ter objectivos definidos, independentemente da zona da classificação onde termina. E consegui. Não fiquei tapado por ninguém e acabei 13 segundos abaixo do objectivo. Não podia pedir muito mais. Na verdade, a razão principal pela qual me inscrevi - e repito que nunca o faria se tivesse que pagar a inscrição - foi para melhorar o meu tempo nesta prova. Foi aqui que fiz a minha pior Meia Maratona de sempre (a desistência no Douro Vinhateiro não entra nestas contas) e jurei a mim mesmo que havia de voltar apenas para melhorar essa bela marca de 2:20:39 feita em 2015. E atenção: não tenho nada contra quem faz estes tempos! Na altura foi uma prova mal calculada e muito mal gerida da minha parte e com mais maturidade e experiência corrigi esses erros. Três anos depois tirei aproximadamente 21 minutos a essa marca. Um por quilómetro. (Mas tendo em conta que foi neste percurso único, será que conta na mesma ou tenho que voltar em 2019?)

No fim veio a medalha, o gelado, ainda mais fotos e uma curta caminhada até ao carro com direito a uma chuvada e a vestir o impermeável - afinal ainda o usei! - enquanto estávamos todos abrigados numa paragem de autocarro a 200 metros dos carros e onde tínhamos quase todos uma muda de roupa. Caramba que até aqui foi preciso lutar contra o Félix que me deu mais problemas que o temporal da Meia Maratona dos Descobrimentos, prova que me correu mal e que foi feita em modo de birra com o impermeável vestido.

Foi a minha 15ª Meia Maratona e foi a 5ª que terminei abaixo das duas horas. E se a ideia é apagar resultados menos conseguidos do passado, então alguém avise a Meia das Lampas que em Setembro conversamos.

O meu colega que partiu comigo disse-me antes de desaparecer por entre a multidão de atletas que começava aqui a preparação rumo ao Porto. Ainda faltam demasiados meses para pensar nisso, mas como dizia o Prof. Moniz Pereira: "Há treino todos os dias!" 

Próxima paragem: Corrida dos Sinos, Mafra.     


Prova nº 79 - Meia Maratona de Lisboa (Ponte 25 de Abril) 2018 - 21km - 1:59:47

terça-feira, 6 de março de 2018

Leião

Quando a meio da semana confirmei a ida à prova dizendo "Bora lá ao Leitão!" no grupo que me acolhe nestas provas e não tive reacção desconfiei que tinha falhado redondamente na tentativa de piada. E se calhar o melhor era encher-me logo de vergonha e não ir. O problema é que no ano passado esta foi das provas que mais gostei de todas as que fiz do troféu. E no domingo confirmei que essa sensação se mantém.

Estive a ler o relato de 2017 e relembrei-me que também tinha regressado recentemente de uma paragem, nesse caso por lesão. Este ano foi por doença. Quando defini o objectivo único de fazer melhor que em 2017 nem sequer tinha esse interregno em mente. O que é certo é que consegui e isso já foi mais do que suficiente para me deixar feliz, sobretudo depois da experiência de 5a feira me ter deixado com um amargo de boca. (Nota: já recebi uma resposta bastante simpática à minha reclamação.)

O dia acordou risonho. Na noite anterior tinha colocado o impermeável a jeito junto do material e antes de sair de casa a minha hesitação até era se valeria a pena correr com manga comprida por baixo. O sol prolongou-se até perto da hora da partida masculina, mas entretanto o tempo piorou. Vento, céu bastante encoberto e uns pingos de chuva esporádicos que, felizmente, não marcaram presença enquanto corríamos. Na última ida ao carro trouxe o buff, confirmei que o impermeável não ia fazer falta e esqueci-me de trazer o mp3. Já estava com a playlist na cabeça e avisei logo a malta que ia correr a cantar. Corram mais depressa ou mais devagar, mas não arrisquem a ir ao meu lado porque eu sou um gajo que desafina. (Na verdade, durante a prova tentei várias vezes entoar as músicas da playlist na minha cabeça e nunca consegui. Ou não me recordava das letras ou do ritmo.)

Subir até ao Tagus Park continua a ser difícil, mas descer a seguir é porreiro. Curiosamente subi mais depressa e desci mais devagar. Deu para conversar com outros atletas, incluindo com o atleta canino que acompanhou sempre o seu dono e que foi quase sempre junto a mim durante toda a prova, ora um pouco mais à frente, ora um pouco mais atrás. Deu para rever caras conhecidas, para conversar com amigos, para rir muito, para ser apanhado em fotos, para sentir a loucura e boa disposição da malta da equipa local. No final, um resultado ligeiramente melhor que no ano anterior com uma média de 5:24m/km que está dentro daquilo que eu esperava.

E no final, mesmo final, uma chuvada brutal quando já estávamos em final de lanche pós-prova que nos acompanhou durante todo o regresso a casa.

E no cômputo geral, foi o reforçar de laços de camaradagem que se têm criado dentro e fora das estradas e foi a confirmação de que isto da amizade entre equipas faz sentido e vale sempre muito a pena. Outros há com uma ideologia diferente - não digo que é melhor nem pior, é só diferente - e que fará sentido dentro dos objectivos próprios que têm e dentro daquilo são as suas convicções pessoais. Que sejam felizes à sua maneira. Eu serei (mais) feliz à minha.

Depois disto, o foco é na Meia Maratona do próximo domingo. É só para desfrutar. 


Prova nº 78 - Troféu das Localidades (Sintra, Oeiras e Cascais) - Grande Prémio de Atletismo de Leião - 7,750km - 41:40

sexta-feira, 2 de março de 2018

Challenge 3000 OZ Energia

18 dias depois de ter corrido pela última vez, voltei a equipar-me e a calçar os ténis. E fui directo para uma prova. É certo que eram só 3 quilómetros, mas é uma prova, com dorsal e ofertas e coisas.

A manhã começou atribulada. Como ia para a prova depois do trabalho levei carro para Lisboa e ele começou a dar-me exactamente os problemas que me tinha dado no dia em que não fiz a prova de Peniche. Há ali um misto de algum desleixo meu a controlar o líquido do radiador vs uma possível fuga que esteja a fazer com que ele entre em sobre-aquecimento. É certo que a maioria das viagens que faço com ele no dia-a-dia são curtas, mas começa a ser sina isto acontecer em dias de prova. Reposto o líquido o resto das viagens correram bem, sem qualquer stress.

Carrito, tu tens reparado nos concertos que eu vou assistir este ano? Desculpa, mas não sobra qualquer espaço para reparações no orçamento, tá? Obrigado.

O que parece é que isto foi o mote para o dia em que "chateado" é a palavra de ordem. No trabalho houve uma série de chatices que são para esquecer. E na prova a coisa não correu melhor. À chegada ao Jamor andei demasiado tempo às voltas para perceber onde se levantavam os dorsais, recebi indicações incorrectas de seguranças em relação aos sítios onde podia estacionar e ainda levei um raspanete de outro segurança por ter tirado esta foto.

Porquê? Depois de levantar o dorsal fui cumprimentar um amigo meu, elemento da Federação Portuguesa de Atletismo e que estava a ajudar a preparar o espaço da prova. Eu estava, aparentemente, num local proibido: junto à pista onde dentro de menos de uma hora iria estar a correr. E o segurança ainda questionou se eu ia mesmo fazer a prova porque eu não estava equipado, apesar de ter a sweatshirt da equipa. Pois não, meu caro, não estava equipado porque perdi demasiado tempo a chegar ali porque o seu colega segurança do outro lado me disse que não podia estacionar ao pé do estádio, portanto o melhor era deixar o carro nas piscinas e ir a pé até lá. E agora vou de volta para o carro e vou buscá-lo para o colocar no estacionamento enorme que existe à porta do estádio, ok?

Nota-se que eu conheço muito mal o espaço do Complexo Desportivo do Jamor?

O que era certo é que o espírito de prova era zero. Nada me fazia entrar na onda. Eventualmente mais próximo da partida lá fui falando com um conhecido destas andanças e fiz uma amizade de circunstância com o responsável por um projecto online que eu descobri quando tinha feito o Challenge no ano passado na Pista Moniz Pereira mas onde nunca me registei. Foi uma agradável conversa e fiquei a conhecer melhor o projecto. Durante o fim de semana registo-me, pronto.

Quando reentro no estádio, já equipado, o tal segurança vem ter comigo todo contente. É que olhando para a camisola da equipa ele já me tratava pelo primeiro nome e dizia ter vivido cá durante largos anos. Pediu-me inclusive desculpa por estar a fumar ao meu lado antes de eu fazer a prova. Provavelmente agora já poderia fazer fotos, pensei eu que tinha deixado o telemóvel no carro.

Duas voltas e meia ao estádio como aquecimento, umas fotos oficiais antes de partir e estava dado o tiro de partida. Literalmente, porque isto é uma prova à profissional. Aliás, eu continuarei a estar atento ao calendário de provas deste challenge, não necessariamente pela distância, mas porque correr em pistas de tartan é algo que me agrada e dá um cheirinho de profissionalismo a este pobre atleta amador.

Sobre a prova pouco há a dizer. Ia sem qualquer expectativa depois da paragem e mesmo só pela experiência de estar no Jamor. São voltas e voltas à pista, sempre com o speaker de serviço a dar ânimo a cada passagem pela meta, dizendo os nossos nomes e equipas e os tempos de prova. Ao lado dele um juiz com mais uma (ou duas?) a controlar as passagens pela meta e a indicar a todos quantas faltavam para terminar. E caso achem que isso é enervante ou irrelevante, acreditem que não é. São sete voltas e meia para completar os 3km e uma pessoa pode perder a noção de quantas já fez. Eu optei por nem sequer olhar para o relógio e mantive um ritmo que era ligeiramente desconfortável. Ou seja, estava a tentar puxar por mim para ver até onde conseguia ia e tentava focar-me no atleta que ia à minha frente para o tentar apanhar.

Sete voltas e meia. Eu sabia quantas voltas eram. E estava a contá-las, tal como os juízes da prova. Achei estranho quando me dizem que faltam duas, mas como um dos atletas mais rápidos tinha acabado de me dar uma volta de avanço achei que a indicação era para ele.

ÚLTIMA VOLTA, gritam-me quando passei na meta na vez seguinte. Aqui não havia dúvidas, era comigo que estavam a falar. Mantive o ritmo e continuei. Ao entrar na recta da meta diz o speaker que lá vem o atleta a terminar a prova. Olho para o relógio e penso: "Era bom, era..."

E ao passar a meta dão-me os parabéns e desviam-me para ir buscar uma água e para não perturbar a prova de quem vinha mesmo atrás de mim. E fiquei como? Chateado, pois claro. Olho para o relógio que marca 2,600km certinhos. Faltava uma volta, porra! Agarro na água e faço questão de concluir mais uma volta, pela pista de fora e em ritmo de descompressão já sem o relógio a contar.

Vou à procura de resultados, mas a folha onde estavam a apontar à mão já tinha ido para a zona de entrega dos dorsais mas ainda não estavam lançados no sistema nem impressos na zona das classificações. Desisti de insistir e vim-me embora que tinha ainda uma reunião importante na qual queria muito estar. Nem consegui encontrar ainda os resultados oficiais. Ainda estou a pensar se reclamo da situação. Este tempo - mais segundo, menos segundo - não é meu. E vai ficar bonito na classificação, mas não é meu. E isso deixa-me mais chateado do que o tempo que eu iria fazer, ali a rondar os 14:30, 14:40. Fica a nota que no Challenge anterior, em Junho, fiz 13:52.

Também estou chateado comigo que devia ter insistido, mas quando se tem toda a gente a dizer-me que já acabou e a barrar-me o caminho para não continuar, o que posso eu fazer? Hei-de reclamar, acho. Não sei. Entretanto ficarei à espera da divulgação do resto do calendário de provas para este ano. Agora quero ir ao Restelo, mas a avaliar pela desilusão de hoje é melhor nem me entusiasmar. Não sei onde mais haverá provas por Lisboa. Nos outros anos as provas foram também em mais zonas do país, mas já fica tudo fora de mão para fazer tão pouca distância.

Resumo da coisa: voltei aos treinos e entre aquecimento, prova e arrefecimento corri 4km
Domingo há mais.

Prova nº 77 - Challenge 3000 OZ Energia, Jamor 2018 - "3km" - 00:12:49