segunda-feira, 23 de abril de 2018

Scalabis

"Olha lá, tu percebeste que era eu quando te cruzaste comigo no primeiro retorno? É que ias a dar high-5 a toda a gente que nem deves ter visto quem eu era!" - perguntava-me a minha colega de equipa depois do final da prova. É que eu falei com tanta gente, antes, durante e depois da prova que já podia estar em modo de piloto automático e nem reparar com quem estava a interagir. Mas sabia, claro que sabia!

A Scalabis Night Race tem sido um turbilhão de emoções para mim. Da primeira vez que fui acabei a prova e senti um vazio tremendo causado pelo meu estado de espírito na altura, apesar de ter ido com imensa companhia. No ano passado fui lá vingar-me e bater o meu record pessoal aos 10km (48:18) que ainda é o actual. A comitiva presente foi novamente muita, mas muito diferente para melhor. Isso notou-se no resultado final. Este ano fomos poucos, mas novamente bons. Ia com ideia de atacar o record, mas com a noção que a minha forma em Abril do ano passado era melhor que a actual.

O dia acordou chuvoso mas acabou por melhorar gradualmente e à hora da chegada a Santarém estava uma temperatura até bastante agradável. Dorsais levantados, jantar e primeiros encontros com amigos e conhecidos. O ambiente pela cidade era de festa, como sempre. As ruas estavam cheias de gente e havia imensa animação. Tudo isto ajuda a entrar no espírito da prova e torna o ambiente muito mais convidativo. É nisto que a Scalabis se torna uma prova de referência do calendário nacional. O facto da prova se realizar num sábado à noite (com a prova dos mais novos a meio da tarde e a caminhada ao lusco-fusco) ajuda a que haja sempre festa durante o dia todo e faz com que quem vem de mais longe acabe por passar o dia pelas ruas da cidade. E claro que se fala muito da prova por causa do abastecimento de vinho tinto, mas confesso que só no primeiro ano é que abasteci nessa zona.

Antes de irmos até ao carro equipar ainda ficámos um pouco a assistir e a aplaudir quem chegada da Mini Race (o termo oficial da caminhada). Ao equipar a minha dúvida era levar ou não a camisola de manga comprida por baixo ou ir só de manga curta. Acabou por ganhar a primeira opção porque podia sempre arregaçar as mangas. Como a temperatura se manteve sempre estável podia perfeitamente ter dispensado a manga comprida. Até me bastou um curto aquecimento para começar a suar em bica! E lá fui, juntamente com o Gajo da ET, até à nossa zona sub-50. Ela ficou na parte fixe do pelotão, aquela onde a malta se diverte à brava.

O Benfica estava a jogar à hora da prova, tal como no ano passado. Já se tinha ouvido falar num golo, mas eu nem sequer ia preocupado com isso. Mal imaginava eu que a corrida me iria poupar a uns ataques de nervos.

O início ali é sempre difícil. Há imensa gente e mesmo com a divisão por blocos de partida temos que fazer uns ziguezagues por ruas relativamente estreitas. Ou, pelo menos, estreitas para tanta gente. Quando fazemos nova passagem pela meta já com um quilómetro nas pernas já é mais fácil transitar e sentir novamente o apoio do público. É outro factor importante e constante, há sempre público e animação durante o percurso para dar força aos atletas. Foquei-me em tentar apanhar uma lebre que fosse em bom ritmo e isso resultou durante um bom bocado, até ao momento em que eu a ultrapassei e fui atrás de outra lebre mas que era demasiado rápida para mim. Acabei por encontrar o ritmo que queria e no primeiro retorno lá ia concentrado na estrada e na malta que passava do outro lado. Aqueles high-5 não me fizeram perder tempo nenhum e deram-me ânimo para continuar.

Cheguei a meio da prova com pouco menos de 24:30, o que significava que teria que fazer um segundo parcial melhor para ter hipótese de chegar ao tempo do ano passado. A partir deste momento só voltei a olhar para o relógio antes da meta. Independentemente do tempo, ia bem disposto e sempre a corresponder às palmas que vinham de fora ou a pedi-las caso fosse preciso. Foi nos quilómetros seguintes que percebi que tinha de redefinir o objectivo final. Comecei a ver o meu colega ao longe. Depois estava mais perto e tentei apanhá-lo para ver como é que ele estava (fez a prova após uma lesão recente) e eventualmente irmos juntos. Tentei, mas o melhor que consegui foi ir ao mesmo ritmo dele sem nunca me aproximar mais.

Foi ao sétimo quilómetro que abandonei de vez a ideia do record pessoal. Já tinha dado tudo o que podia. Curiosamente nesta altura passou em sentido contrário uma das muitas caras conhecidas com quem me cruzei que me grita em plenos pulmões: "Já vais todo roto!!!"  E por mais ruim que esta frase possa parecer, ele tinha toda a razão... Eu já estava rebentado e isso notava-se a léguas! Foi aí que entrei em modo "faca nos dentes e coração na boca" como tínhamos ouvido horas antes durante o dia. Nos dois quilómetros seguintes perdi quase 20 segundos em cada, comparando com o ritmo a que ia antes. Passei de 5:00/km para 5:20/km, mais coisa, menos coisa. Estes 40 segundos tinham dado jeito no final.

No último quilómetro voltaram as forças e recuperei algum tempo perdido, sobretudo na aproximação à recta da meta quando vi que ia conseguir fazer sub-50. Quando me coloquei numa posição favorável para ser apanhado por um fotógrafo (uma pessoa tem sempre que pensar nestas coisas, pá!) fui ultrapassado por uma atleta que fez um sprint vigoroso e se foi colocar mesmo à minha frente. Não podia ser e respondi também eu com um sprint final antes de cortar a meta agarrado ao símbolo da camisola onde cabem sempre todos os elementos da equipa que não estão presentes pessoalmente. Fim de prova e logo ali à frente estava o meu colega juntamente com outro amigo nosso que terminara praticamente ao mesmo tempo. Acabei por ficar a 30 segundos dele. Aqueles segundos perdidos davam para termos feito a parte final da prova juntos.

Depois de respirarmos e de bebermos água viemos em sentido contrário à procura da ET, mas ainda fomos interpelados duas vezes por pessoal que já tinha terminado e tivemos que ainda tratar da vertente social das corridas. Foi agradável porque num dos casos consegui falar pessoalmente com malta com quem tenho estado a tratar de convites apenas através das redes sociais. Encontrá-mo-la à saída da Escola de Armas, bem disposta e com pouco mais de um quilómetro para terminar. Fomos juntos até ao final como estava previsto e tivemos o privilégio de ver nessa fase o fogo de artifício que tinha começado entretanto. Chegar à meta enquanto um bonito espectáculo de pirotecnia explode nos céus não é para todos. Estão a ver como a malta que não corre tão depressa está na parte fixe do pelotão?

E por falar em partes fixes, agora faltava comer enquanto tocava a banda de tributo aos Queen. Valha a verdade, não gostei assim muito do que ouvi, mas era Queen, pronto. A cerveja soube-me bem melhor que a bifana e se pudesse tinha comido outro pampilho. Com o passar das horas já não fomos a tempo de ir à pastelaria que ficou aberta até mais tarde. Isso é sinal que temos que lá voltar novamente. Ainda em Fevereiro tinha tido um almoço de aniversário em Almeirim com uma curta passagem por Santarém e aguardo já pelo regresso àquela zona que espero que seja bem antes dos 20km de Almeirim.

Deixo só uma nota negativa e estranha. No ano passado o relógio marcou-me exactamente 10km, mas este ano ficou-se pelos 9,7km e os registos que vi no Strava apontam todos para uma distância de 9,8km. É pena. Houve uma pequena alteração de percurso, será que justifica estes metros a menos?

Fim de festa. No dia seguinte alguns loucos ainda iriam para a segunda parte de um fim de semana passado a correr enquanto eu teria uma Maratona para acompanhar, para além de seguir com o máximo de atenção o desempenho de uma colega que fazia a estreia na Meia Maratona também em Madrid. Sofrer à distância custa tanto, mas ver o esforço recompensado com bons resultados é muito gratificante.

Agora seguem-se algumas provas do troféu das localidades. Tenho que ver a quais consigo ir nas próximas semanas.

Prova nº 83 - Scalabis Night Race 2018 - 10km - 49:36

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Braga

Caros leitores, escrevo em directo do Alfa Pendular de regresso a Lisboa. E pergunto: o que é que faz uma pessoa tirar um dia de férias para acordar às 5:30, enfiar-se num Alfa pelas 7:00 rumo ao Norte e regressar no mesmo dia para chegar a casa depois da meia-noite? A resposta é: amizade!

É claro que a viagem tinha um propósito que foi cumprido com sucesso, mas nada teria acontecido sem a amizade que une pessoas, independentemente da distância geográfica que as separa. 

Em resumo, parte do dia foi passado aqui.




E depois dos compromissos oficiais houve tempo para conhecer uma minúscula parte da cidade.




Soube a pouco. A muito pouco mesmo. Resta cumprir a promessa de voltar e visitar devidamente uma das cidades portuguesas que me envergonho de não conhecer. E se eventualmente meter uma corrida pelo meio ainda melhor.

Corridas, encontro corridas em todo o lado!

Amanhã é dia de trabalho. Agora há que dormir na viagem. À nossa!


segunda-feira, 16 de abril de 2018

Estafeta Cascais-Lisboa

Desde que comecei a participar de forma regular em provas que fazer uma estafeta era um objectivo. Quando o concluí no ano passado fiquei com a certeza que era algo que queria repetir e esta era a prova que tinha em mente. Infelizmente nunca tinha tido oportunidade de a fazer antes, sobretudo por dificuldades de calendário, mas este ano foi o ano!

Tudo começou comigo com algumas dificuldades em encontrar outros três colegas disponíveis para fazermos equipa e acabou com uma comitiva de doze atletas que rumaram a Algés de manhã cedinho para apanhar o comboio para os diversos pontos de transmissão - ou no nosso caso, para ir a pé até à Cruz Quebrada. E pelo meio, uma equipa inteira que teve que ser gradualmente substituída por indisponibilidades que surgiram desde a data da inscrição, o que significa que para o ano se tudo correr bem até podemos levar mais gente para a prova. É que quem foi, quer repetir! (Embora nem todos pretendam o mesmo trajecto, mas sobre isso falo mais tarde.)

Não quero deixar passar a oportunidade de agradecer ao João Lima pelas imensas dicas de logística que me deu quando lhe pedi alguma ajuda, precisamente por saber que ele já tinha marcado presença na estafeta por várias vezes. Não segui todas a 100%, mas foram excelentes indicações para quem ia pela primeira vez e estava um pouco receoso de organizar tudo e depois lixar a prova a toda a gente ainda antes da partida por causa de algum percalço não calculado.

É claro que houve contratempos. Para além de ter andado a trocar elementos e a convidar outros para ocupar os lugares de quem não podia ir, o problema maior ainda aconteceu no próprio dia. Partida combinada para as 7:30 e às 7:45 ainda faltava uma pessoa - por acaso das mais certinhas e que nunca se atrasa. Tinha o telemóvel desligado. Ainda por cima era ele que ia iniciar a estafeta de uma das equipas. Tivemos que tomar a decisão de partir sem ele e de "aldrabar" um pouco a coisa, fazendo com que o segundo atleta fizesse os primeiros 10km. Mesmo que no final houvesse uma (justa) desclassificação daquela equipa, pelo menos toda a gente corria a sua parte do percurso. Felizmente não foi preciso e quando íamos a caminho ele ligou de volta depois de ter ido a casa buscar o telemóvel. Tinha ido para o ponto de encontro errado e pegou no carro, virou o boné ao contrário (é a sua marca registada a correr) e chegou a Algés dois minutos antes do último comboio partir. Ufa! 

Lá metemos três quartos da equipa no comboio e fui com as minhas duas parceiras de final de percurso a pé até à Cruz Quebrada, numa caminhada animada e pautada por alguma chuva constante. Fomos num misto de desejar estar no comboio com o resto da malta (e secos) com aproveitar os três para estar também na galhofa a fazer umas fotos pelo caminho. Tínhamos imenso tempo para queimar, mas como chegámos cedo ficámos logo abrigados debaixo dos toldos da organização e fomos metendo conversa com outros atletas, alguns até nossos conhecidos. A meio caminho, no entanto, uma chamada telefónica deixou alguma preocupação no ar. Onde estava a pulseira/testemunho do nosso colega que chegou atrasado? Com a confusão tinha ficado dentro do envelope, no carro. Seria possível a organização na partida no Estoril facultar outra?

Agora era aguardar. Num momento de pura telepatia perguntam-me ali se a malta do Estoril teria conseguido ir buscar uma pulseira nova. Exactamente ao mesmo tempo recebo um SMS a confirmar-me que sim. Perfeito.
Ainda recebemos um rápido esclarecimento da organização sobre a maneira como se deveria processar a transmissão para não ser demasiado confuso e passado alguns largos minutos - passados à conversa e a fazer mais fotos - começam a chegar os primeiros classificados dos 20km em linha. Quando passou o 3º classificado soltei um "Força Vítor!" Depois lancei vários outros "força" ao Joaquim, ao Rúben, ao Fernando, ao João, ao Nuno e a vários outros nomes que me possa estar a escapar, ao ponto das minhas colegas ficarem cansadas de me ouvir e terem dito "bolas, mas tu conheces toda a gente que passa?!?"  "Quase...!"

Fazíamos contas a qual de nós seria o primeiro a partir e para mim era óbvio que era a colega que por acaso até é a menos rápida dos três. Ela não acreditava, até porque foi ela que teve a equipa toda refeita depois da inscrição, mas tínhamos razão. O trio antes dela era rápido e muito homogéneo e o terceiro elemento chegou dentro do tempo de prova que eu lhe tinha dito. Ficou preocupada por ser a tartaruga da equipa, disse que ia fazer os 5km a um ritmo de 6:30m/km e ia demorar imenso. Nós dissemos-lhe que não se preocupasse, o importante sempre foi o espírito, mas eu ainda atirei que ela ia fazer 30 minutos de prova na boa. Fez 30:12. Excelente!

Eu parti pouco depois. Estava prontinho, mas foi tudo tão rápido que só meti o relógio a contar durante a descida. E arranquei a toda a velocidade por ali abaixo num sprint contante. Custou-me mais a controlar a respiração mas meti na cabeça que eram só 5km portanto era para deixar tudo ali. O colega que me passou o testemunho é uma das flechas que temos (fez abaixo dos 18:00) e eu já tinha dito que ele ainda fazia os últimos 5km mais depressa que eu. Ele disse-me que ia descansar um pouco enquanto bebia água e já me apanhava e assim foi. Fez o resto do percurso comigo não necessariamente para me marcar o ritmo mas para me ir dando ânimo. Com companhia a coisa faz-se melhor, eu é que mal falava porque estava a tentar ir no limite. "Então não digas nada e poupa o oxigénio para correr" - dizia-me ele. "Bora lá, bora lá!"

Passámos pela nossa colega do quarto percurso (e pelo colega do terceiro que lhe deu o testemunho) e continuámos em ritmo constante a rondar os 4:50m/km, excepto no primeiro quilómetro onde a descida foi claramente mais rápida. Para quem faz os restantes percursos não sei se sente o mesmo, mas fazendo o último fiquei com uma sensação bipolar de estar fresco e pronto para fazer uns quilómetros rápidos ao mesmo tempo que passava ao lado de atletas já cansados por estarem a terminar a prova de 20km e querer dar-lhes a eles umas palavras de força e ânimo. Ainda o fiz a um ou dois que há alguns minutos atrás tinham passado por mim.

Na aproximação à meta, o meu companheiro de percurso disse-lhe que ia voltar para trás para ir buscar a última participante que lá tinha ficado aos 15km à espera da sua vez. Agradeci-lhe a companhia e o espírito de solidariedade. Ninguém fica para trás. Fantástico como esta questão da estafeta reforça ainda mais os laços de companheirismo que já existem. Eu terminei a minha parte da prova sem bater o meu record aos 5km, embora tivesse pensado que se calhar o tinha feito. Só em casa percebi que estava a pensar no minuto errado, mas isso não era o mais importante.

Recolhi as medalhas do meu quarteto, mas não voltei para trás e acabei por ficar a tirar fotos e a conversar com quem ia chegando à meta. Muitos dos colegas tinham optado por regressar a correr fazendo o resto do percurso em ritmo de treino. Foi assim, aliás, que consegui convencer um colega a vir connosco. Ele queria fazer um treino longo, portanto ofereci-lhe a possibilidade de fazer os 5km do segundo percurso em competição e os restantes 10km em treino. Outros voltaram de comboio e aos poucos a equipa ia ficando completa em Belém, onde também tinha ido ter um outro colega. A festa fez-se no final quando a nossa terceira equipa completou o percurso. Desafio concluído.

Pensei várias vezes no stress que foi organizar a nossa ida à prova. Quase que jurei a mim mesmo que não voltava a passar pelo mesmo. Nada contra as pessoas que não puderam ir, atenção! Lesões, motivos profissionais e até um rapaz que tinha uma prova no mesmo dia foram tudo motivos mais do que válidos para não poder ir, mas procurar atletas disponíveis quase em cima da data não foi fácil. Felizmente houve malta receptiva. O feedback foi tão bom que já sei que para o ano assim que abrirem inscrições estou novamente a melgar a malta para fazermos equipas. E até já recebi pedidos para fazer percursos diferentes porque eu tinha sido mauzinho e lhes tinha dado o pior percurso. Confesso que a única coisa que fiz questão foi de ser eu a terminar numa das equipas. Para o ano logo vemos!

E para o ano também vemos melhor a ordenação das equipas. É certo que isto foi para brincar (e ainda aguardo os resultados individuais oficiais) mas também é verdade que podemos apostar todas as fichas numa equipa muito forte para tentar uma gracinha, eventualmente com uma equipa mista. Como a malta disse em tom de brincadeira, este ano fomos apalpar terreno e ver como funcionam as coisas, para o ano vamos lá a sério!

Próxima paragem: Santarém!

Prova nº 82 - Estafeta Cascais-Lisboa (percurso 4) - 5km - 23:19

P.S: Agora com os resultados oficiais vejo que a minha colega fez 29:55 de chip! Nunca correu tão rápido, disse-me. E sim, entrando por um patamar mais competitivo, sem a alteração forçada podíamos ter entrado na luta pelo top5 das equipas mistas, talvez até top3!

domingo, 8 de abril de 2018

Leceia

" - Não dás dois nós nos atacadores dos ténis?"
" - Normalmente não, nem penso nisso."
" - E nunca se desapertam enquanto corres?"
" - Não, é raro"

Foi esta a conversa com um colega da equipa na qual faço as provas do Troféu das Localidades, um minuto antes de começar a prova. Na verdade, houve uma altura em que a cada treino que fazia tinha que parar ao fim do primeiro quilómetro para apertar melhor os ténis. Já estão a ver o que aconteceu, não já? A meio da prova tive que parar 10 segundos para tratar disso.

Não tenho sido tremendamente assíduo nestas provas. Apesar de gratuitas mantêm-se como uma alternativa e nunca como primeira opção. Mesmo assim, a prova de hoje ganhou à Corrida do Benfica onde já participei duas vezes e estive no ano passado na bancada a dar apoio e a fazer fotos. Já não é novidade que aqui as provas são curtas e exigentes, com uma altimetria interessante e um carrossel jeitoso. O gráfico no regulamento deixava-me um pouco de pé atrás, mas na verdade lá dentro a prova fez-se com mais facilidade do que eu achava. Ou isso ou o corpo reage melhor do que a cabeça acha. O ritmo final foi do melhor que tenho feito neste troféu.


A coisa até não começou bem com os escalões mais jovens. Um erro no percurso (da organização, dos miúdos, enfim) fez com que se tivesse gerado alguma confusão e se tivesse perdido um pouco o foco nas provas. Um grupo de atletas seguiu atrás da mota e do carro da polícia (que iam a abrir caminho à frente do carro da organização) pela rua errada e ultrapassou os primeiros. Não posso falar do que não vi, mas quando fiz a prova masculina percebi claramente onde tinha acontecido o engano e nessa altura já lá estava bem colocado um elemento a indicar qual era a rua pela qual deveríamos ir. Agora aquilo que vi foi uma falta de tacto tremenda por parte de duas pessoas perante um miúdo de 12 anos. Uma foi o condutor do carro da organização (seria o director da prova?) que ao chegar à meta disse alto e a bom som pelo megafone que "este miúdo está enganado e não faz parte da prova". Mais à frente quando ele segue pelo gradeamento até à carrinha da organização assim que lá chega dizem-lhe que "não vale a pena dar-te os parabéns porque vais ser desclassificado". Malta, estamos a falar com um miúdo que acabou uma prova, está super surpreendido por não ver ninguém na meta antes dele e nem tem noção do que aconteceu. Eu sei que a competitividade nestas provas é enorme, mas não é assim que ajudamos a formar crianças que pretendem ser o futuro do atletismo, nem que seja de forma amadora. Não é assim que se fomenta o gosto pelo atletismo. Resultado: um miúdo lavado em lágrimas, super nervoso e com imensa raiva e frustração.
Menos mal, pelo que percebi depois a coisa resolveu-se com esta mesma pessoa a falar directamente com todos os atletas que chegaram a acordo em relação à classificação final que foi determinada pelo lugar em que estavam antes da bifurcação demoníaca. Ainda cheguei a ouvir outros miúdos dizerem que fizeram uma volta a mais naquela zona, portanto a confusão foi mesmo geral.

Afastei-me ainda a tempo de fazer umas fotos à prova feminina, tanto na partida como depois na chegada. Com tudo isto quase que nos esquecíamos delas e quando chegaram estavam com um ar muito mais exausto do que o habitual. Era assim tão mau? A dica que nos traziam era para levarmos menos roupa. Eu ia com camisola de manga comprida por baixo e todas insistiram para eu a tirar porque estava muito abafado durante o percurso. Era mesmo isso ou estavam as meninas a flirtar connosco? Convenci-me com um "Se não fizeres o que eu te digo quando acabares a prova vais-me dizer que eu tinha razão." E eu fiz. E ela tinha. Apesar da chuva que começou a cair e se fez sentir durante o primeiro quilómetro e meio, quando ela desapareceu estava mesmo muito quente na zona mais afastada da meta e ir só de manga curta soube bem.

Tentei olhar o menor número de vezes possível para o relógio mas sempre que o fazia estava contente com o que via. A certa altura passou por mim um atleta em bom ritmo e fiz tudo o que pude para me agarrar a esta lebre. Aguentei-me bem a subir e acelerei a descer, mas sem abusar porque já sabia que lá à frente havia mais. E mais ou menos a meio da prova comecei em "picardia" com outro atleta. Passei por ele numa subida - ele ia a andar - e nessa altura ele volta a correr e ultrapassa-me. Depois volta a andar até eu, que mantive a mesma passada certinha, o passei. E ele... voltou a correr.
Ai o caraças! Confesso que estava a ficar incomodado e assim que pude acelerei para sair deste ping-pong. Até que tive que atar os atacadores e ele foi-se embora.


E apanhei-o no fim, no último quilómetro. Estava ele já exausto e eu ainda fresquinho e com pernas para dar uma segunda volta ao trajecto. E sim, com a moral em alta. Aquele sétimo quilómetro sempre a descer deu-me essa moral e o último, mesmo com algumas rampas, foi feito com a corda toda. A recta, perdão, rampa da meta foi feita a sprintar. Vá, e não tenho nada contra o rapaz com quem "embirrei" hoje, nem sequer é esse o meu espírito.

Tudo feito, fotos finais e só faltou sair a classificação do meu escalão em tempo útil. Desta vez não fiquei para o convívio habitual pós-prova. E fui obviamente agradecer a dica de ter ido de manga curta.

A parte chata veio depois, à hora de almoço. Então não é que o Monção que eu abri era tinto quando eu achava que era branco? Tragédia! Felizmente sendo Alvarinho uma pessoa nunca fica mal, qualquer que seja a cor.

Para a semana: Estafeta Cascais-Lisboa.

Prova nº 81 - Troféu das Localidades (Sintra, Oeiras e Cascais) - Grande Prémio de Atletismo de Leceia - 7,850km - 41:01

sábado, 7 de abril de 2018

Noiserv

Estava apalavrado assim que se soube do concerto, depois a coisa foi ficando meio esquecida e de repente voltou à baila e rapidamente se confirmou a ida e se compraram os bilhetes. Gosto quando as coisas são assim simples e espontâneas. 

E o dia, que era de férias tal como os restantes da semana, tornou-se também assim meio espontâneo e ao sabor do vento pelas ruas de Lisboa. Da zona do El Corte Inglés até ao Saldanha e vice-versa, com curta passagem em jeito de corta-mato pelos jardins da Gulbenkian.
E-Turista
Oops, não sei como é que isto me apareceu nas mãos. Era de Snickers, by the way.

 Até deu para dar um breve salto ao meu local de trabalho. Sim, num dia de férias entrei alegremente no escritório e senti-me com uma leveza brutal. É claro que só lá fui porque estava nas imediações e porque tinha acabado de lá chegar uma encomenda que, já agora, não ia lá dormir durante o fim de semana. Uma pessoa habitua-se a comprar coisas vindas da China que demoram duas ou mais semanas a chegar e estranha quando algo vindo de Espanha demora um dia e meio. Também deu para a minha chefe me confirmar o descalabro que foi a tentativa de comprar bilhetes para a final da Eurovisão (tenho um feeling que ainda hei-de ser convidado a ir assistir na Praça do Comércio ou algo do género) e para me dar a notícia que uma das pessoas da minha equipa vai rumar a prados mais verdejantes, algo que me acontece muito quando vou de férias. O que ela não sabia é que mesmo de férias eu estava a par do assunto. Preocupo-me com isso na 2a feira.
Encomenda nas mãos, vamos lá apanhar mais um pouco de vitamina D, agora em plena Avenida da Liberdade, Rossio, Praça do Comércio. Enfim, mini-turista em plena Lisboa. Jantar no sítio do costume nestas ocasiões e vamos lá a isso que está na hora da partida do concerto. Após alguma insistência ("Isso foi no São Luiz.") lá consegui somar 2+2 e confirmar que nunca tinha ido ao Tivoli numa troca de argumentos que culminou com a frase cliché "Certo, mas isso não foi comigo." 

Na partida, à espera do início
E o concerto? Foi tudo aquilo a que uma pessoa que tem ido a concertos do David está à espera. Quer seja com 10 ou 1000 pessoas ele está ali como se estivesse na garagem a ensaiar ou a tocar para um pequeno grupo de amigos. "Obrigado por terem vindo. Uma pessoa espera que esteja sempre muita gente mas tem sempre medo que não apareça ninguém."
A simplicidade com que ele comunica já é imagem de marca, mesmo quando começa a divagar e quase se perde nos pensamentos. Ou quando já lançou os primeiros acordes da música e pára para completar a ideia sobre a qual estava a falar. Ou quando confessa ter-se distraído com o assobio vindo do público. Ou quando se esqueceu de carregar no pedal e não gravou o sampler, portanto tem que recomeçar a música desde o início. Ou quando está com cãibras a meio da música.

Música atrás de música, história atrás de história, o tempo foi voando num serão muito agradável, onde não faltou a "música para vocês os dois, os maratonistas". Fica só a ressalva que a história até não tem um final feliz.


Venha de lá o próximo concerto, de preferência com a mesma companhia. Deste ficam pérolas de sabedoria - e não há qualquer ponta de ironia aqui, isto fez mesmo tudo sentido - como:
"Tu só te borras quando não te estás a cagar."
"Uma pessoa tem que aproveitar tudo ao máximo: a vida e as pilhas!"
Galeria fotográfica: http://infocul.pt/cultura/galeria-fotografica-noiserv-no-teatro-tivoli-bbva-celebrando-13-anos-carreira/

"E pronto. Foi mais ou menos isto."
 

(E nem digo quem é que cá vem dar um concerto em Setembro mesmo na altura dos meus anos...)