segunda-feira, 28 de novembro de 2016

I Got My Mind Set On You

Não sou uma gajo vingativo. Tento não guardar rancores. Gosto de ser o mais boa-onda possível. A vida é curta. Carpe Diem. Etc, e tal.

Mas tenho um objectivo muito específico em 2017. Ser feliz aqui!
Apagar de vez todos os fantasmas que provocaram este desfecho. Devolver a medalha que tenho e que não é minha. Completar aquilo que deixei inacabado naquele dia.

A data já está marcada, as inscrições já abriram, mas o que eu gostei mesmo de fazer para dar o pontapé de saída para este desafio foi na semana passada ter entrado no booking.com, ter procurado alojamento na zona e ter feito reserva de quarto em dois (sim, dois) hotéis diferentes tendo apenas visto por alto as condições e focando o critério no preço e na proximidade para o local onde se faz o transporte da Régua até à barragem onde a prova começa. Depois com calma escolhe-se melhor o hotel, que isto dá para cancelar a reserva sem custos até um ou dois dias antes e até pode ser que alguém do grupo aproveite uma das reservas porque as vagas vão acabar num instante para esse fim de semana. No ano passado ficámos relativamente longe, em Amarante, onde a noite de sábado com a malta foi fabulosa. Aliás, corrida à parte foi um fim de semana simpático e despreocupado. Mas não o quero repetir naqueles moldes. Eu estava incompleto.

Faltam 6 meses para o Douro Vinhateiro 2017, mas já estou focado no que quero.

I got my mind set on you
Set on you
I got my mind set on you
Set on you


(...)

 It's gonna take time
A whole lot of precious time
It's gonna take patience and time, ummm
To do it, to do it, to do it, to do it, to do it
To do it right


(O login que uso no booking não é meu, portanto vinte horas depois de ter feito as reservas tive feedback a perguntar-me - de forma meio retórica - o que eram aqueles e-mails de reservas em hotéis na Régua. A conversa acabou com uma pergunta chave: "Então e não é melhor marcar também já o mesmo hotel para o Porto para o ano que vem?")

(Reservei lá quarto enquanto escrevia este post.)

texto escrito no dia 21/11

O que raio aconteceu aqui?

12 horas depois de ter terminado a Meia Maratona de Évora, ainda não consigo muito bem explicar o que aconteceu. Vinha de regresso no autocarro da equipa a pensar que viria aqui apenas partilhar o tempo final e guardar tudo o resto para mim. Aliás, admito já que vou mesmo guardar coisas que são só minhas.

Sair de casa às 6:30 da manhã depois de só ter ido dormir por volta das 2:00 se calhar é um bom tópico de partida para as parvoíces que se vão seguir.

Corria tudo dentro do previsto: ponto de encontro, viagem, levantamento dos dorsais. E depois da prova também correu tudo às mil maravilhas: almoço (a fabulosa sopa de cação!), viagem de regresso, etc.

O primeiro sinal menos bom ocorreu a 15 minutos do início da prova. Liguei o relógio e... bateria fraca. Mesmo fraca. Com o símbolo de bateria completamente vazio. Picuinhas como sou - e o relógio fica "esquecido" ligado ao pc depois de descarregar treinos - não sei como é que isto foi acontecer. Terá sido sinal do destino o facto de ter sido a última coisa que me lembrei de arrumar? Enfim, entrei um bocado em parafuso. A última vez que fiz uma prova sem relógio foi nos - agora - extintos 20kms de Cascais e correu malzinho, vá.

Tentei esquecer isso, não havia nada a fazer. Fui andando para a meta a mentalizar-me que tinha que gerir o esforço "às cegas" sem ter noção dos tempos que iria fazer. E mesmo quando tive oportunidade para isso, acabei por nunca perguntar a atletas com quem me cruzava com quanto tempo de prova íamos.

Apesar do percurso ter sido alterado em relação ao ano passado, o início da prova era exactamente igual: mau! Atletas da Meia, dos 10kms e até - como??? - da caminhada juntos a tentar avançar pelas ruas e ruelas estreias do centro de Évora, num sempre complicado empedrado. O mais importante era não tropeçar nos outros atletas, nos carros, em todos os obstáculos naturais, num slalom constante e desgastante. Se a ideia é permitir que os atletas aproveitem para ver os monumentos e a beleza da cidade numa altura em que ainda estão frescos, não resulta. Seria bem mais viável fazer um começo diferente e passar à Praça do Giraldo (onde é efectivamente a partida) com uns 3 ou 4 kms nas pernas já com alguma divisão no pelotão e ainda com a frescura suficiente para nos deliciarmos com a cidade. Seria mais monumental do que é, na minha modesta opinião. No fim da prova quase que jurei a pés juntos a quem fez a caminhada que o nosso percurso não passava ao Templo de Diana,

Estou por ali. Não, não sou um dos coelhos cor-de-rosa.
Continuando.

Ao sairmos de Évora, ali à entrada do terceiro quilómetro pensei em desistir. Não estava a entrar no espírito da coisa, o corpo não estava a reagir, foram quilómetros penosos. Depois achei que não tinha feito quase 150kms para desistir ao fim de dois. Segui, vi o LS passar com outro colega nosso e fui atrás deles sempre a uns 100 metros de distância. Pouco depois encontrei esta amiga que tinha ido no autocarro connosco e que estava em bom ritmo. Segui ao lado dela, apanhei o duo da frente aos 7kms e passei-os. Pouco depois seguia-se a separação das provas e meti na cabeça desviar-me para os 10km e ficar por ali. Ideia parva, por várias razões. Virei para o lado da Meia e meti pernas à obra!

Parei uns bons 30 segundos no abastecimento dos 10kms a beber um copo de isotónico - faria o mesmo aos 15kms - e nessa altura o meu colega apanhou-me, sem o LS que tinha ficado para trás com dificuldades fruto de uma lesão que o incomoda de vez em quando. Na altura nem percebi se tinha seguido logo para a meta dos 10kms ou se ainda lá vinha. Percebi mais tarde que lá vinha.

Sou o primeiro a querer ajudar em treinos e a "prescindir" de um treino e andar na cauda do grupo para dar apoio a alguém que precise. Por outro lado, não gosto muito de correr acompanhado em provas, a não ser que seja algo previamente combinado. Chamem-lhe egoísmo, mas isto tanto é válido para ir a rebocar alguém como para ser rebocado. A não ser que seja um caso daqueles óbvios em que a entreajuda é a única forma de prosseguir. O meu colega seguiu comigo até aos 13kms e começou a fraquejar na altura em que apanhámos subidas em empedrado. Por outro lado eu estava a sentir-me melhor a cada km que passava e segui. Tenho mesmo pena de não ter os meus tempos por km, tenho a certeza que estes terão sido os meus melhores e ia ultrapassando imensos atletas. 

Sabia que ainda me esperava a subida mais complicada que terminava aos 19kms, mas nesta altura já ia mais ou menos lançado e - acho eu - rápido. Por outro lado estava farto da prova e só queria mesmo acabar. Em diversas alturas do percurso meti na cabeça ceder o meu dorsal para a Meia dos Descobrimentos por falta de pachorra para passar por outros 21kms novamente para a semana.

Lá ultrapassei a subida dos 19kms, já com a mente na descida seguinte e na aproximação à meta - outra subida curta e dura, mas onde me esperava o melhor momento da prova e aquele que me fez sempre querer continuar.

Meta à vista e nem percebi bem quanto tempo tinha feito. Só sabia que tinha passado na partida com 1:30 de atraso em relação ao tempo total. Pronto, venham de lá as medalhas e no próximo domingo há mais.

Ouvi várias vezes durante a semana que isto em Évora era "só" uma meia maratona e que depois do Porto tudo iria parecer quase irrisório. Eu sei que foi dito sempre na brincadeira, mas é certo que não há duas provas iguais e nenhuma distância deve ser menosprezada porque todas são um desafio. Esta prova custou-me e desgastou-me mais que a Maratona. É tudo uma questão de mentalização.

Em termos globais foi a minha 8ª Meia Maratona e obtive a minha 3ª melhor marca na distância, tendo melhorado em relação à prova do ano passado que era o objectivo que me tinha proposta a atingir. E entre os dois abastecimentos com isotónico, ainda estive cerca de um minuto parado. Posto isto, para quê tanta complicação mental durante a prova?

P.S: Tenho um post agendado, escrito há uma semana, para ser publicado na 2a feira. Foi curioso voltar a lê-lo enquanto escrevia este.

Prova nº 49 - Meia Maratona de Évora - 21km - 02:02:10 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Qual é o melhor dia para...

Quem estiver agora a cantar Quim Barreiros que meta o dedo no ar.

Neste caso a pergunta é: qual é o melhor dia para o telemóvel falecer de vez? É em dia de Black Friday, que por acaso coincide com o dia em que recebi o ordenado e o subsídio de Natal.

É claro que ao bom estilo português a Black Friday é um bocado Grey - sem qualquer conotação com o filme - e as promoções são muito modestas, portanto o telemóvel vem lá de longe da Ásia e deve chegar algures até ao fim do ano. Espero eu.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Da série "Livros que tenho que reler"

“...So please, be tolerant of those who describe a sporting moment as their best ever. We do not lack imagination, nor have we had sad and barren lives; it is just that real life is paler, duller, and contains less potential for unexpected delirium.” ― Nick Hornby, Fever Pitch 

terça-feira, 22 de novembro de 2016

À Boleia pela Galáxia

Quem sabe do que eu estou a falar só pelo título do post que levante o braço. Quem não sabe, que procure. Posso já garantir que é daquelas coisas que ou se adora ou se detesta.

Eu, obviamente, adoro. Coisa de geekzinho. Humor inglês no seu melhor.
O Marvin, the Paranoid Android é das minhas personagens preferidas de todos os tempos, tem tiradas brilhantes. Caramba, tenho que rever o filme e/ou pegar nos livros.

Deixo aqui um excerto do filme. Resumidamente, trata-se da parte onde se fala do super computador construído para calcular a resposta à derradeira questão, da vida, do universo, de tudo.


Tive uma verdadeira epifania no início do ano quando estava a começar a mentalizar-me nisto da Maratona. Percebi porque sempre gostei deste universo surreal, percebi que esta resposta sempre esteve certa. Eu é que ainda não tinha feito a pergunta de forma correcta. 

Obviamente que a resposta só podia ser 42!

E aproveito para confirmar que está aventura dos 42 vai mesmo continuar. Tenho duas datas em mente, mas ambas calham em dias especiais para mim: 23/04 e 15/10, pelo que tenho que olhar com atenção para o calendário.

E é claro, we will always have Porto. 

domingo, 20 de novembro de 2016

Lanterna Vermelha

Tenho uma amiga que desde sempre me chama carinhosamente de Lanterna Vermelha. Nos primeiros treinos do grupo eu era (quase) sempre o último e a alcunha nasceu. Entretanto, por questões geográficas, ela já não treina connosco mas sempre que nos cruzamos em provas ela tece-me rasgados elogios com a minha evolução desde então. Continua a chamar-me lanterna vermelha. A alcunha ficou e eu continuo a achar-lhe piada.

Estava na hora de fazer jus à alcunha, caramba! Foi hoje!

Estou inscrito no Troféu das Localidades que é uma série de provas gratuitas nos concelhos de Sintra, Oeiras e Cascais e estas provas vão acabar por funcionar como uma espécie de plano B como alternativa às provas principais onde estou inscrito. Como hoje não tinha nenhuma prova, fiz a minha estreia nesta competição, que tem um sistema muito próprio de classificação e de pontuação individual e de equipa que eu ainda estou a tentar perceber na íntegra. Diferentes escalões fazem distâncias diferentes, partem em horários diferentes também e não há tempos na classificação geral, sendo esta organizada por ordem de chegada dentro dos diferentes escalões. Depois há pontos de acordo com a classificação, um bocado como nas provas de Fórmula 1.

Hoje fui o único da equipa a estar presente - foi toda a gente encher-se de lama no Trail de Arruda - e eu fui na companhia de amigos que fazem parte de outra equipa. Fui um bocado à aventura, mas quando vi o percurso no regulamento já tinha percebido que isto não ia ser uma prova ao meu estilo. Mas fui, porque - como disse a uma das elementas que estava connosco - sempre que passamos a meta no fim chegamos antes de todos os que ficaram no sofá ou na cama.

A prova era curta, mas 80% do percurso era por trilhos. E com a chuva que antes e durante a prova, isso significa lama. (Ah e tal, então não foi só a malta que foi para Arruda que apanhou com isso, pá!)
Assim que a prova começou aproveitei ao máximo o primeiro quilómetro (a 4:30/km) e estava muito animado com este início algo explosivo. Obviamente que tudo mudou nos restantes 5 onde o que acontecia era eu passar muita gente nas subidas e ser ultrapassado por muita gente nas descidas, sempre com medo de derrapar na lama. Lembram-se disto do treino de segunda feira? Bate certo.

Foi um bom momento para me lembrar as poucas saudades que tenho de fazer trails, sobretudo à noite. Não é que desgoste - e se fosse de dia teria certamente gostado mais - mas não me anda a cativar nada. Foi só um quilómetro e meio, dois no máximo. Não me imagino a fazer 15km ou 20km nos próximos tempos.

No último quilómetro, que foi praticamente o percurso inverso do primeiro, ainda consegui ultrapassar algum pessoal e acabar a prova com relativa tranquilidade. Percebi pouco depois quando saíram os resultados oficiais que... fui o último do meu escalão! Lanterna Vermelha, yeahhhh! Sem stress, diverti-me e, pelo menos por enquanto, o pé não me dói como andava a acontecer depois de cada treino desde a Maratona! Veremos se assim continua. 

Aguardo agora pelas próximas provas deste troféu em que eu possa participar, mas o objectivo principal até ao final do ano passa pelas próximas duas Meias Maratonas (em fins de semana consecutivos): Évora e Descobrimentos. Tenho objectivos bem definidos para ambas as provas!

Prova nº 48 - Troféu das Localidades (Sintra, Oeiras e Cascais) - I Trilho Saloio, Covas de Ferro - 6,3km - 37:50 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ainda o Porto

Como era de esperar já li e reli o meu próprio relato. Faço-o quase sempre que venho ao blog ou que tenho um comentário novo no post. Eu sei, chega de narcisismo, pá!

Mas foi por ler o post na totalidade há pouco - e como o escrevi por fases tinha sempre que ver o que já tinha escrito antes para não perder o fio à meada - que percebi que me esqueci de relatar um fait-divers importante. Ou pelo menos curioso.

Naquela fase complicada pelos 35km cada quilómetro parecia ser uma maratona e olhei para o relógio mais vezes que nunca na esperança que ele já marcasse mais do que aquilo que eu já tinha corrido. Numa dessas vezes o relógio tinha uma mensagem. Não era de motivação, não era de alento, não era de força. Era uma mensagem que dizia: LOW MEMORY!

O quêêêêê?!? No dia da Maratona?!?!?

Então fui alegremente durante uns bons 10 quilómetros - pensava eu - a correr e a procurar nas opções do bicho o menú certo para apagar treinos. E quando dei por isso e resolvi o problema já ia a chegar aos 37kms - afinal aqueles 10 quilómetros na minha cabeça foram no máximo dois.

Há uma boa explicação para isto ter acontecido. Eu descarrego religiosamente todos os treinos para o Strava, mas não os tenho apagado do relógio. Da última vez que tinha o relógio cheio de actividades apaguei-as todas. No dia seguinte fui fazer os 20km de Cascais e ele nunca apanhou GPS. Nem nesse dia nem nunca mais. Felizmente estava na garantia e deram-me um novo à troca. Com o relógio novo nas mãos disse que só voltava a apagar treinos depois do Porto, não fosse dar-lhe outra travadinha. Felizmente não foi o caso. Nem sei se o problema do GPS esteve relacionado com o facto de ter limpo os treinos todos ou se foi apenas coincidência. O que é certo é que toda esta longa história me ajudou a fazer dez dois quilómetros da Maratona de forma mais descontraída e numa altura crítica.

Isto continua a ser aquela coisa do destino?

(Tenho uma epifania - sobre a Maratona, imaginem só! - mais antiga para partilhar, mas isso fica para outro post. É da maneira como já tenho assunto para escrever amanhã ou depois.)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Bohemian Rapsody

Não, não vou fazer um post sobre a melhor música de todos os tempos.
Este foi o nome que dei ao meu treino de ontem. Basicamente, tal como a música tem um mix de vários géneros musicais, o treino de ontem também teve um pouco de tudo: corrida, trail e caminhada.

Corrida
Voltei aos treinos depois da Maratona do Porto. Estava ansioso por me voltar a equipar, por voltar a correr. Senti-me preso de movimentos no primeiro km mas depois o corpo lembrou-se como é que isto se fazia. É como andar de bicicleta, não se esquece. Mesmo tendo em conta que eu - hahahaha - não sei andar de bicicleta! Como andei os últimos meses mais preocupado em resistência e não velocidade, tinha verdadeiramente saudades de acelerar um pouco, portanto em duas zonas propícias a isso - e a aproveitar o "picanço" de outros colegas - meti prego a fundo e tenho um segmento de 500 metros a correr a 3:30/km e outro de quase 1km a 4:00/km. Agora é fazer isto um dia durante 10kms seguidos, boa?

Trail
A meio caminho tínhamos duas opções: subir pelo caminho normal pela estrada ou fazer o percurso pelo monte. A ideia era chegar ao miradouro para vermos a tal super lua lá de cima. Íamos todos com frontal e como já sabia que havia essa possibilidade até tinha levado os ténis de trail. Ofereci-me para levar a malta pela estrada, mas acabámos por ir todos juntos pelo mato. Foi um bom momento para me lembrar as poucas saudades que tenho de fazer trails, sobretudo à noite. Não é que desgoste - e se fosse de dia teria certamente gostado mais - mas não me anda a cativar nada. Foi só um quilómetro e meio, dois no máximo. Não me imagino a fazer 15km ou 20km nos próximos tempos. A parte boa foi que quando chegámos ao miradouro havia abastecimento providenciado por quem não chegou a tempo do treino. Gosto tanto destes mimos espontâneos que existem na equipa.
No regresso, parte do grupo voltou pelo caminho de trail e outro grupo desceu comigo pela estrada. Não me importo de subir zonas com inclinação de 25%, mas descê-las - e de noite - não é para mim, obrigado.

Caminhada
Quando tudo estava previsto para que fosse um regresso calmo, umas das minhas colegas deu um trambolhão e esfolou o joelho. Acabei por fazer o resto do percurso a caminhar com ela para garantir que chegava minimamente bem. Ela bem me mandou embora, mas o mais importante era o estado dela. Treinos há muitos.

E pronto, i'm back in business. E prometo não escrever um romance sempre que for treinar. Guardo só isso para as provas.

(E o pé voltou-me a doer. Bolas.)

domingo, 13 de novembro de 2016

Ressaca

Há precisamente uma semana atrás estava a cortar a meta no Porto.
O que aconteceu desde então foi uma semana de completa e total descompressão. Não corri por causa de uma dor na planta do pé direito que me incomodou durante toda a semana - estavas à espera de fazer a primeira maratona e escapar completamente ileso, não? - e uma formação deveras desgastante no trabalho fez-me passar estes dias a compensar todos os chocolates que eu não comi durante os últimos meses... A juntar a isso, tive poucos cuidados alimentares no geral e até abusei na cerveja e no vinho. Eu podia mentir e dizer que foi só água pé para acompanhar as castanhas, mas não foi...O que vale é que era o vinho branco da Wine Run de Alenquer e aquilo é bom, mas mesmo bom. (Nota mental: tenho que ir comprar mais para renovar o stock.)
E a juntar a tudo isto, o frio trouxe com ele umas dificuldades respiratórias adicionais. De vez em quando tenho que me lembrar que sou asmático.

Pronto, já me queixei de todas as minhas maleitas, ao bom estilo de muito bom idoso na sala de espera do centro de saúde. Agora é altura de voltar a entrar nos eixos! As dores no pé já mal se sentem, o stress no trabalho lá fica (e como me dizia uma colega esta semana "Deixa estar, não fiques assim. É só trabalho.") e na 2a feira já é dia de treino e promete ser bem durinho. É disso que estou a precisar, já estou com saudades de calças os ténis e ir correr com a malta!

Saudades sobretudo de começar a pensar na próxima meta, porque como diz a música, eu vivo para esses momentos!



Kaiser Chiefs - On The Run

Who got hit and who hit first?
Who was bad and who got worse?
Who got caught up in the life? (ooh-ooh-ooh-ooh)
Who went down and who got higher?
Who ran back into the fire?
Who was really hypnotised? (ooh-ooh-ooh-ooh)

And if I didn't believe you then
Then I won't believe you now
And if I didn't believe you then
Then I don't believe you now

I'm on the run
I'm on the run
I'm on the run
We'll ride into the sun
Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh

Who was them and who was us?
Who stood up and robbed the bus?
Who is wrong and who decides? (ooh-ooh-ooh-ooh)
Who went left and who was right?
Who went out on a mischief night?
Who was really hypnotised? (ooh-ooh-ooh-ooh)

And if I didn't believe you then
Then I won't believe you now
And if I didn't believe you then
Then I don't believe you now

I'm on the run
I'm on the run
I'm on the run
We'll ride into the sun
Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh
I'm on the run
We'll ride into the sun
Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh

Oh, I live for these moments, just like this one
Oh, I live for these moments, just like this one
Oh, I live for these moments
Oh, I live for these moments, just like this one
Oh, I live for these moments, just like this one
Oh, I live for these moments, just like this one
Oh, I live for these moments, just like this one

(I'm on the run) [oh, I live for]
(I'm on the run) [these moments, just like this one]
(I'm on the run) [oh, I live for]
(I'm on the run) [these moments, just like this one]

 

domingo, 6 de novembro de 2016

Maratona do Porto

(Yeahhhhhhhhh!!!
Vou demorar algum tempo a passar todas as emoções que sinto da cabeça para a escrita. Aguardem, por favor.)

POST CONCLUÍDO!
DEMOREI MAIS TEMPO A ESCREVER DO QUE A CORRER!

Já li e reli muito daquilo que eu escrevi em relação à preparação para a Maratona do Porto. Já li e reli muitas das palavras de ânimo e de motivação que fui recebendo ao longo destes meses, desde o abençoado dia 23 de Dezembro de 2015, dia em que me inscrevi para a prova. Foi a minha prenda de Natal para mim mesmo, inscrevi-me no dia em que recebi e fi-lo sem partilhar com ninguém. (Mentira: partilhei no Facebook em jeito de mistério e a coisa correu mal e ia dando para o torto, mas adiante!) Já escutei novamente na minha cabeça todas as recomendações e conselhos que amigos e família me deram ao vivo e a cores, desde as excelentes dicas até aos receios de que eu fosse parar ao Hospital mais próximo. Tudo me ajudou a chegar à meta. Tudo contribuiu para o meu sucesso nesta primeira maratona. Tudo, desde a conversa "secreta" entre duas pessoas que levou à concretização desta inscrição (e só uma foi ao Porto) até à conversa segundos antes da partida onde o meu amigo e mentor (daqui em diante conhecido por LS) me dizia que eu não tinha nada que provar a ninguém, nem a mim mesmo e que não ia correr com ninguém às cavalitas porque isso era peso indesejado sobretudo numa prova tão extensa. Foi incrível a tranquilidade que ele me transmitiu, não só ali mas também em toda a prova.

Vamos então por partes.

Capítulo 0 - Antes da prova

Tudo arranjado na 6a feira à noite para sair de casa pelas 8h rumo ao Porto. Material visto, revisto, trivisto, sei lá quantas vezes foi visto para garantir que nada faltava. Equipamento, gel, relógio, comprovativo de inscrição, da reserva do hotel, etc. Com alguns atrasos, várias paragens obrigatórias pelo caminho e, sobretudo, sem pressa nem horários, chegámos ao Porto pouco antes das 13h. Primeira paragem: estádio do Dragão. (Sim, teve que ser...) No exterior muitos grupos pareciam já preparar "algo" relacionado com o jogo de domingo. Dali fomos até à Alfândega e agora sim começava a sentir o bichinho da Maratona, começava a entrar no espírito, começava a sentir a pressão da prova. Mas era uma pressão boa, era o sentir cada vez mais perto o momento e a responsabilidade do momento. Dorsal na mão - o primeiro arrepio na espinha. Nessa altura também nos cruzámos com outros companheiros de aventura, os nossos vizinhos e amigos daqui do lado chegavam também e foi no meio de muitos cumprimentos e abraços que estava dado este passo. Pelo meio fiz na feira da Maratona algo que já tinha visto no Facebook da prova: adquiri por 5€ o serviço de gravação do nome e tempo no verso da medalha no final da prova. Recebi uma pulseira em troca para apresentar no stand depois de concluir. Foi um compromisso, um investimento a fundo perdido. Se o quisesse fazer no domingo, pagava 10€. Se não concluísse a Maratona, não ia recuperar os 5€. Meio forreta como sou, era mais uma motivação para chegar ao fim! 

Rumámos ao Hotel, a residencial Senhor de Matosinhos,um espaço modesto mas com excelentes condições, bons preços e onde fomos muito bem acolhidos tendo inclusive sido facilitada a questão do late check-out para conseguirmos tomar banho no hotel depois da prova. Outra vantagem era estarmos afastados do centro do Porto e estarmos a 1,5km da zona da partida. Perfeito!
Tinha que haver francesinhas no fim de semana e o almoço de sábado era a melhor altura para isso - porque ao jantar era loucura e porque no domingo queríamos regressar a Lisboa o mais cedo possível. Uns momentos de descanso, um passeio pelas redondezas com direito a vermos o mar e com passagem pela zona da partida. As conversas iam, inevitavelmente, parar ao assunto principal do fim de semana. E não, não estou a falar do Porto vs Benfica. Foi um fim de tarde super tranquilo e agradável, muito descontraído, o que contrastou com o resto do serão que não foi tão sereno como se desejava (mas adiante). Antes do fim da noite afinámos horários para a manhã seguinte e fomos todos descansar. 

A noite passou num ápice e acordei bem disposto. Já tínhamos percebido que havia mais malta ali hospedada que também ia participar na Maratona (e também na Family Race) e ao pequeno-almoço o stress chegava devagarinho. Estava na hora de sair e levámos connosco parte da nossa "claque" que nos acompanharam até à partida. Assim que chegámos perto da Anémona já estava um mar de gente, num misto de fotografias e aquecimento. Segundo grande - enorme - arrepio! Este não foi na espinha, foi no corpo todo. E não era de frio, era de excitação! Não estava nervoso, até final da prova só por uma altura estive verdadeiramente nervoso. Fotos finais, despedidas finais, um abraço "que até parece que vais para a guerra!"

Ficámos os dois, a avançar o mais possível dentro da nossa caixa. Ele a transmitir-me toda a calma do mundo e eu à procura de mais caras conhecidas para me ir distraindo e para ir absorvendo toda aquela energia. Nunca me senti preocupado com a distância, mas isso não significa que estivesse demasiado confiante. Estava tranquilo, como se fosse partir aqui do jardim rumo a mais um treino de equipa. Tranquilo como desejava, como precisava. Dei-lhe um abraço e um high-5 com votos de boa prova. Foi ritual que implementei sempre que vamos correr em equipa - e sinceramente não me lembro da última vez que fui a uma prova sozinho - e enquanto caminhávamos até passar debaixo do pórtico da partida quis agradecer-lhe por tudo, desde o primeiro treino até àquele momento, mas não quis armar-me em lamechas. No fundo, a amizade é algo que não se agradece, retribui-se!

Começou a Maratona!

Capítulo 1 - dos 0 aos 12kms

(viram como ainda agora começou a prova e eu já escrevi quilómetros de texto? Sejam pacientes, eu prometo acabar antes de fazer a próxima)

A prova começou de forma surreal, comigo ainda a tentar colocar correctamente os phones. O LS que vai sempre a ouvir música desta vez não tinha phones - ou pelo menos não aparentava ter - e como íamos os dois também não liguei o mp3 com a minha playlist. Mais ainda, o mp3 diz ter autonomia para 4h e apesar de eu ter confiança em mim mesmo, sabia que ia demorar mais que isso para concluir a Maratona - que fique já registado que naquele dia nunca me passou pela cabeça outro desfecho! - portanto até isso tinha que gerir não fosse necessário ter esse apoio extra mais tarde.
Ao começar a subir a Avenida da Boavista íamos comentando o facto dos atletas da Family Race terem partido depois de nós e terem um ritmo diferente, pelo que teriam potencialmente mais dificuldades por terem que nos ultrapassar. Como os primeiros quilómetros foram em direcção a Matosinhos sentia-me muito confortável porque ainda no fim da tarde de sábado tínhamos andado a passear naquela zona. Olhando com alguma distância, até isso deve ter ajudado a esquecer algum eventual nervosismo. Sentia-me a correr "em casa", como se conhecesse bem aquelas ruas. Começam os primeiros retornos e isso permitia ver quem estava atrás de nós e ir cumprimentando colegas e amigos. Ao mesmo tempo também ia passando malta conhecida por nós e havia energia mais que suficiente para trocar algumas palavras. Aos 5km ele pergunta-me pelas primeiras impressões. Eu digo-lhe que vou perfeitamente, que se me sentir assim a 5km do final estarei muito feliz. 

Tinha metido na cabeça que não queria fazer nenhum km abaixo dos 6:00 e sempre que ia olhando para controlar o ritmo estava a cumprir. Vá, mais ou menos. Mas sentia-me bem e isso era o mais importante. Aos poucos o LS foi-me dizendo que ia comigo até à Meia Maratona e ao vermos quem estava atrás de nós ia também vendo que companhia é que eu poderia ter para a segunda metade da prova. Deixei-o sempre à vontade para seguir quando quisesse porque eu nunca ficaria sozinho no pelotão e encontraria companhia ao meu ritmo caso necessário. Foi também nesta altura que passámos pela primeira vez pela nossa claque que estava do lado esquerdo da estrada numa altura em que íamos do lado direito. Foi um breve encontro que iríamos repetir aos 12km, na rotunda da Anémona, do lado certo da estrada. Até aos 12km ainda houve mais alguns retornos e eu sempre de olho no outro lado para ver quem lá vinha. Gosto muito de percursos que proporcionam este tipo de encontros imediatos porque são uma boa distracção e permitem que os kms passem quase sem darmos por ele. A certa altura até me encostei ao lado esquerdo para ver melhor e ele, mais contido, ficou do lado direito. Íamos afastados, mas paralelos um ao outro. Foi aos 8km que tomei o primeiro gel, dentro da estratégia que tinha planeada. Falando em estratégia, quando estudei o percurso dividi-o em quatro etapas distintas que se vieram a concretizar. Ao mesmo tempo, pensava sempre em olhar para o próximo abastecimento como meta e recebia o conselho de trocar sempre de garrafa de água e, naqueles onde havia, trazer um gel. Eu já levava quatro no Flipbelt, mas não fazia mal ir renovando o stock. E assim, de forma descontraída, chegámos aos 12km, à rotunda da Anémona, onde ele aproveitou para deixar os "manguitos" que levava porque o frio da manhã já tinha sido substituído pelo calor do sol que brilhou durante toda a manhã. Eu optei por manter a camisola de manga comprida debaixo da camisola da equipa e ir arregaçando as mangas sempre que necessário. E ainda tinha muito que as arregaçar até ao final! Foi também na rotunda que passámos por amigos de outra equipa amiga que, por lesão, ficaram a ver a prova de fora a dar apoio e a tirar fotografias. E eu não sou eu se não fizer uma palhaçada qualquer para a objectiva. Para terminar este capítulo, era ali que se fazia a divisão entre a Family Race e a Maratona. Seguimos pelo caminho certo, já não havia volta a dar. "Olha, 25% da prova já estão feitos!" - disse, radiante.

Capítulo 2 - dos 12kms aos 21kms

Passada esta fase de maior adrenalina era altura de acalmar e estabilizar o andamento. Olhava para o relógio e via que o ritmo total estava ligeiramente abaixo do planeado e a continuar assim iria pagar a factura mais tarde. Era altura de gerir a energia e de abrandar o LS sempre que ele se entusiasmava e ia quase naturalmente para os 5:30/km. Já nos treinos longos era a mesma coisa, ele a dizer que é para irmos com calma a "5:60/km" mas a tendência era sempre para acelerar um pouco mais e irmos todos na onda, até alguém recordar o grupo do ritmo estipulado. No domingo não foi preciso muito. O ímpeto inicial estava ultrapassado, tínhamos muito que percorrer até ao fim e, como dissemos vezes sem conta um ao outro, não tínhamos pressa. Por aqui havia menos público na estrada mas também havia mais animação e música ao vivo - nem sempre com um estilo musical que eu achasse apropriado, mas pode ser só embirração minha. Atrasei o segundo gel o mais que pude e tomei-o cerca dos 18km em vez dos 15km que era o que andava a testar nas meias. O que fiz aos 15km foi ter agarrado numa esponja molhada no abastecimento. Usei-a para molhar a cara e limpar o suor mas não gostei da sensação de ficar com a cara tão fria. Para além da cara, sentia os braços e parte do corpo encharcados com a água algo gelada da esponja. Estando numa zona de sombras e com um vento que soprava, tive tremores de frio. Não voltei a pegar em esponjas até ao fim.
Fora isto, continuava a sentir-me bem, solto, descontraído, sem sentir o peso da prova nos ombros. Longe parecem ir os tempos em que as pernas soluçavam ali entre os 15/17kms. No domingo terminei a Meia Maratona com 2:08, perfeitamente dentro do ritmo que queria e com a leveza de que estava a começar. Foi uma frase e uma ideia repetida várias vezes nos treinos e consegui - conseguimos - cumprir. Antes de chegarmos a essa fase, várias curiosidades, a começar pelo facto de nos termos cruzado com os primeiros classificados e termos percebido a enorme vantagem que o eventual vencedor já tinha em relação à concorrência. Alguns sorrisos por vermos um atleta asiático no meio dos africanos, embora fosse em 6º ou 7º e muitas palmas para o atleta português que passou na peugada dos primeiros. Foi com surpresa que vimos que ambos acabaram por recuperar bastantes lugares nos kms finais e completaram os lugares do pódio. Como fait-divert pessoal, ficou o momento ali pelo quilómetro 17 em que não havia banda ao vivo mas havia música a sair pelas colunas, com umas meninas da EDP a dançarem. Assim que eu passei tocou esta música. Tanto tempo a escolher uma playlist para quê? Obrigado, destino.

Não sei se ia absorto nos meus pensamentos, mas o LS toca-me no ombro e de forma assertiva diz-me para curtir a paisagem da Ribeira e para desfrutar do momento. Do lado esquerdo o Porto, do lado direito o Rio Douro e na outra margem o Cais de Gaia onde já corria um enorme número de atletas. Rapidamente passámos a Ponte Dom Luiz, entrámos em Gaia e chegámos a meio da prova. Em cima da ponte novo momento de contemplação de tudo o que nos rodeava, mas também uma chamada de atenção para não repetirmos a paragem num abastecimento como aconteceu no km 20. "Ok, combinado."

Abri os braços ao passar o pórtico da Meia Maratona e disse-lhe que a Meia do Porto estava feita, agora estava na altura de fazer a Meia de Gaia.   

Capítulo 3 - dos 21km aos 32kms

Na verdade, sabia que estava mesmo a começar outra prova completamente diferente a partir daquele pórtico. Não era só o cenário que mudava, a partir daqui era a tentação de começar a contar os quilómetros "ao contrário", olhando erradamente para quantos faltavam em vez de contar aqueles que já estão feitos. Consegui escapar a isso e como se tratava de nova zona de retorno foi altura de espreitar novamente para quem já vinha em sentido contrário e novamente muitas foram as caras amigas que passavam. A prova também mudava a partir deste ponto porque eu sabia que a qualquer altura o LS ia seguir a sua prova e eu já não podia pedir mais dele, mas nem ele dava mostras de querer ir embora nem eu o mandava ir. Eu não queria fazer a prova toda ao lado dele. Não me levem a mal, estamos a falar de um grande amigo, de uma pessoa que me deu uma ajuda fundamental, não só no Porto mas também durante estes anos todos! No meu subconsciente eu ia começar a atrasá-lo e embora ele não estivesse minimamente ralado com o tempo final - ele nunca, mas nunca se preocupa com isso, mas sim com acabar bem e correr puramente por prazer - era desnecessário ele fazer um tempo muito inferior ao habitual dele. Para além disso, eu não queria terminar com a sensação de ter tido uma muleta a amparar-me durante o percurso todo. Recordam-se do que ele me disse antes da partida? Aquilo de eu não ter que provar nada a ninguém, nem a mim mesmo. Pois o psicológico começava a dizer-me o contrário. Mais sobre este assunto mais à frente. Como se pode ver pelos ritmos, comecei a fraquejar e a reduzir o andamento em Gaia. Até aos 28kms ainda não se notou muito, ele meteu conversa com pessoal e eu, que vinha uns metros atrás, percebi que eles eram do Cacém e como morei lá ao lado durante anos acabei por acelerar para os apanhar e participar da conversa também. Pequenos nadas que nos ajudam a passar mais uns metros, mais um quilómetro. A zona de Gaia também foi complicada por causa do piso e era constante a fuga para o passeio para tentar apanhar zonas mais planas e sem aquele empedrado chato.

Instantes antes de sairmos de Gaia novamente rumo ao Porto tive necessidade de me queixar pela primeira vez. Começava a sentir algum desconforto e algum cansaço nas pernas e verbalizei. Ele continuou tranquilo e aconselhou-me a levantar mais as pernas em cada passada. Acrescentou: 
"Já percebeste que agora não te largo mais até ao fim?"
"Acho que sim, mas podes ir descansado. Macacos me mordam se não acabo esta m....!"
"Mas tens dúvidas? É garantido que acabas, mas com algumas dicas para minimizar o sofrimento!" 

Já disse algures lá para trás: no domingo nunca tive dúvidas!

E para confirmar que ainda precisava de ir acompanhado, aos 29kms ele foi novamente assertivo e pergunta-me porque raio não estou a ouvir música! "Não vais demorar 4h daqui até à meta, mete lá isso a bombar e relaxa!" Como ele também não estava e fomos sempre na conversa um com o outro, nunca mais me lembrei e até me parecia mal se de repente o deixasse a falar sozinho. "Mete é só um dos phones, senão deixas de me ouvir."

Até à próxima, Gaia! Regresso ao Porto, viragem à direita até ao ponto mais distante da prova e retorno. Os 30km já ficavam para trás. O subconsciente lembrava-me que não tinha feito nenhum treino longo de 30km na preparação para a Maratona. O LS lembrava-me que eu tinha andado a tomar magnésio neste último mês para evitar câimbras a partir daqui, ao contrário da malta que eu ia começar a ver a parar pelo caminho e a fazer alongamentos à beira da estrada. Curiosamente, não vi tanta gente em más condições como tinha visto em Lisboa a partir do momento em que o percurso da Meia se juntou ao da Maratona. Ele também me lembrava que a partir dos 30km não se pára, caso contrário fica mais difícil recomeçar. Eu estava a ouvir e a tentar assimilar tudo, mas era cada vez mais difícil aguentar o desconforto. Comecei a andar pela primeira vez aos 32kms. E agora?


Capítulo 4 - dos 32kms aos 42km

Tinha tomado um gel antes dos 25km, salvo erro. Tenho a ideia que tomei outro aos 30km, mas já não consigo precisar. Mesmo que tivesse escrito este texto logo a seguir à meta, já não me lembrava bem. Ele bem me tentava motivar, mas já não funcionava. Não por culpa dele, mas porque a luta agora era outra. Acompanhou-me meio a andar, meio a correr, até ao túnel. Nem o Rocky Balboa me conseguiu dar forças, caramba! Ia correndo mas pouco e já andava mais do que corria. Aqui deu-se um momento chave: ele seguiu e eu fiquei "sozinho". Antes de seguir disse-me que a prova estava feita. Fomos uns metros abraçados, novo high-5 bem sonoro e ele seguiu. Pedi-lhe para que assim que chegasse transmitisse a mensagem que eu estava bem. Mesmo ele já ia chegar à meta com algum atraso em relação ao tempo que costuma fazer (acabou uns segundos abaixo das 4:30 quando em condições normais faria entre as 4:10 e as 4:15) o que também provocou alguma ligeira preocupação.

Última fase da corrida: eu contra a estrada! Faltavam uns 8kms até ao fim e eu disse para mim mesmo que depois de ter passado pelo retorno mais longínquo da meta eu tinha agora três hipóteses para acabar a prova: a correr, a andar ou de ambulância. E obviamente que a última estava fora de questão!

Eu disse que só por uma vez estive verdadeiramente nervoso: foi pelos 32kms quando tudo o que ele me dizia me passava completamente ao lado. Tentava assimilar e não conseguia reter informação nenhuma. Preocupei-me a sério, não sabia se estava bem. Naquela fase só queria ouvir uma voz: a minha. Percebi no final da prova, quando conversámos, que ele já tinha estado na mesma situação que eu quando fez a primeira maratona e a melhor coisa que lhe aconteceu foi ter ficado sozinho. Foi o melhor que me aconteceu a mim também. Lutei contra mim mesmo até chegar ao abastecimento dos 35kms. Comecei a cruzar-me com amigos e conhecidos, mas agora já não era altura de retorno, agora estávamos todos no mesmo barco a fazer a gestão do esforço até ao final, como o João me disse quando se cruzou comigo.

Quando recomecei a correr senti outro arrepio! Uma dor constante acima do joelho direito. Durou uma, duas, três, quatro passadas e depois... passou. Continuei a medo, mas a dor não voltou. Aqui a ideia era chegar ao abastecimento dos 40km. Dos 40km em diante já era tranquilo, pensava eu. Fui correndo de forma lenta, depois aumentei o ritmo e estava novamente confortável - acho que meti um último gel algures por aqui. Quando cheguei ao tal abastecimento já ia bem. Ajudou ter metido conversa com outros atletas e até ter ouvido uma senhora à beira da estrada dizer que "o menino está a fazer esta prova com demasiada roupa vestida." Calma, não era nenhuma sugestão mais ousada, era apenas porque com as mangas compridas para baixo novamente. Arregacei-as, literal e figuradamente!
Por mim também passou por duas vezes um rapaz, chamado Luís, a quem eu também ultrapassei duas vezes neste vaivém de "agora corro eu um pouco mais, agora corres tu". À terceira vez que eu o ia passar ele quase me parou e disse que era proibido! Fomos na conversa um bocado, ele - que até tinha dorsal de sub 3:45 - estava a fazer de lebre e a dar apoio a uma amiga que ia em silêncio para poupar as energias. Disse-me que era a boa acção do ano. Eu sorri e respondi-lhe que boas acções dessas são muito importantes. Entretanto "vou seguir" - disse-lhe eu - "porque ainda vou bater o meu record pessoal hoje!"
"Boa, achas que ainda consegues?"
"Consigo de certeza, é a minha primeira maratona!" - rematei assim com um grande sorriso nos lábios. Já tinha feito a mesma espécie de piada com o João e fiquei muito satisfeito quando ele me respondeu que também estava a ir para record (algo que acabou mesmo por acontecer!)

Com isto, vieram os 40kms! Parei um pouco no abastecimento, bebi mais powerade, agarrei numa garrafa de água, respirei fundo e parti sem parar para o fim da prova!

#dontstopmenow dizia a hashtag do tal post que meti no Facebook a 23 de Dezembro de 2015 quando fiz a inscrição. Era isso que sentia naquela altura. E a playlist, embora tardia, ajudava.

A adrenalina agora era brutal. Eu passava a correr por toda a gente, tinha ganho força extra para terminar em grande. Atirava palavras de ânimo para todos os que sentia em dificuldades, passava de mão estendida para toda a gente que no passeio aplaudia os atletas, enfim, as coisas habituais quando estou a ficar eufórico numa prova!

Placa dos 41km - o momento que quase me fez chorar. Quase! Contive as lágrimas, ao contrário do que tinha acontecido na estreia na Meia Maratona quando, na altura, vi a placa dos 20km e entrava na recta da meta. Quero lá saber se a entrada para o Parque da Cidade é feita numa subida! Eu só vejo gente dos dois lados do gradeamento, gente que já terminou a prova, gente que espera por quem termina. Puxo eu pelo público, eufórico como nunca, corro aos saltos e peço palmas. 42km, última curva! Já só faltam aqueles 195 metros. Sempre disse que iam ser os mais fáceis! Difícil era chegar até eles. Já vejo a meta, já vejo as meninas dos pompons a fazerem uma espécie de mini-corredor para passarmos no meio delas. Ouço gritar o meu nome - percebo entretanto que tinha mais homónimos naquela prova do que nunca. Ouço vozes familiares, viro-me para elas e ergo os braços em festejo! Yeahhhhhhhhhhh! Um som capturado - percebi hoje - por uma das câmaras que recolheu os vídeos da chegada. Ergo as mão ao alto, vou conseguir, vou cruzar a meta! Um último momento antes disso - também capturado em foto - em que olho para o símbolo que trago na camisola, agarro-o com uma mão e aponto para ele com a outra. Naquele símbolo estão todos aqueles que me ajudaram, não só os membros da equipa, mas também pessoas fora dela. Foram todos comigo, passaram todos aquela meta comigo! Está feito, está feito, terminei a Maratona!

Não me lembro de metade das coisas que fiz depois de acabar. Felizmente há vídeos da organização que me refrescam a memória. Levei as mãos à cara, quase incrédulo, estiquei a mão para alguém (da organização, talvez) que estava mesmo ali ao meu lado e fui até às barreiras onde sou recebido com um abraço, um forte abraço e lágrimas. Tinha saído para a guerra há umas horas atrás, mas voltei são e salvo! Outro e outro abraço! Do outro lado das barreiras quase que se desfalecia. Correr a Maratona daquele lado da barricada é, aparentemente, mais desgastante e cansativo. O LS aparece-me à frente, radiante e até surpreendido porque tinha a certeza que eu ia acabar mas desde que tinha seguido sem mim presumiu que eu fosse demorar mais tempo. Ah, e mete-me uma cerveja na mão. Ainda agora tinha acabado e já estava a festejar como deve ser!

Agora só queria a medalha. Pegar nela e ir ao stand para gravar o meu nome e o meu tempo! Nem sabia quanto tinha feito, lembro-me de desligar o relógio já durante os festejos. Fiquei a saber o tempo de chip precisamente quando agarrei na medalha depois da gravação. Até foi mais saboroso e algo épico assim.

Regresso ao hotel para um merecido banho e para arrumar tudo para regressar a Lisboa. Fui o último a despachar-me portanto quando chego aos carros sou recebido quase como um herói. E venho com um sorriso rasgado, sorriso que ainda mantenho hoje ao olhar para todas as fotos e vídeos disponíveis, mas também ao fechar os olhos e ao imaginar cada quilómetro, cada passada, cada metro percorrido. No regresso a casa dissecou-se muito sobre a prova, vista por dentro e por fora. A entreajuda, os momentos chave, o suplantar das dificuldades, tudo. 

O último ponto: o tempo final da prova. Sempre disse - e fui aconselhado a pensar assim - que o mais importante era terminar. Sendo a primeira e sendo a prova rainha era impossível de pensar de outra forma. Mas eu sou ambicioso e, modéstia à parte, tenho alguma noção do meu razoável valor dentro das minhas capacidades, se estiver num dia bom. Tinha apontado a um tempo a rondar as 4 horas e 30 minutos, mas sempre disse que até às 5 horas ficava muito satisfeito com o resultado. Balizei estes tempos também para quem está de fora poder ter alguma noção . Felizmente acertei, fiquei mais perto do tempo mais baixo e, se não tivesse tido necessidade de andar alguns kms até teria ficado em boas condições para o atingir. 

Pronto, fim do texto.
Obrigado a todos por lerem. Escreveria sempre este texto, mesmo que fosse só para mim. Sei que de vez em quando hei-de cá vir recordar e reler.

E prometo que para a próxima Maratona não vou escrever tanto.
Sim, porque vai haver próxima!


Prova nº 47 - Maratona do Porto - 42km - 4:40:54

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Quiz

Sempre que ligo o PC do trabalho tenho que colocar a minha password para entrar no domínio e na minha sessão. Tudo normal, suponho que seja assim em muitos escritórios por esse país fora, dependendo dos métodos de segurança que cada empresa necessita de ter.

A nossa password tem que ter mais que x caracteres (nunca sei quantos são), letras maiúsculas e minúsculas e pelo menos um número e é válida por 45 dias. Normalmente escolhia sempre a mesma palavra e alterava só o número final sempre que o sistema pedia. Este ano, optei por mudar a password todos os meses. Escolho a palavra de acordo com a primeira letra do mês e acrescento um número aleatório no final.

Um exemplo: em Fevereiro a minha password foi Futebol1234 (não me lembro qual foi o número); em Março (ou Maio) a password foi Mafra1234 (mais uma vez, não me lembro que número escolhi).

E agora em Novembro, qual é a palavra da minha password?!?

Quem acredita no destino?

Mostraram-me o meu horóscopo para esta semana,  retirado de uma qualquer revista. 


A vida é TÃO simples. 

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Halloween

Tenho passado estes últimos tempos preocupado com lesões.

Neste treino, fui só eu e o colega a quem chamo de mentor. Ele ia uns metros à minha frente e íamos juntos à estrada, numa berma larga. Eram +- 20:30, mas estávamos bem visíveis e um carro que vinha de frente guinou propositadamente na direcção dele, fez-lhe uma razia, travou mesmo ao nosso lado e seguiu viagem a esbracejar. Ainda na semana anterior tínhamos comentado num treino de grupo os cuidados a ter quando vamos em zonas mais movimentadas à beira da estrada. Não comentei nada, mas foi um cagaço do caraças.

Cagaço maior foi descrito neste treino, dias depois.

Na semana passada tive que arrumar umas coisas na parte de cima do roupeiro do quarto e, estupidamente, agarrei no banco mais velho e instável que há cá em casa para o fazer. Não me aconteceu nada, mas só quando terminei é que percebi a idiotice que tinha feito.

No fim de semana, em casa dos meus pais, tive que fazer algo semelhante. Quando vi o banco velho que estava mais próximo de mim, percebi que afinal conseguia fazer o que era preciso sem subir para cima de nada. Tive juízo, por uma vez na vida.

O que eu não esperava era ter uma recaída. No verdadeiro espírito de Halloween, fui assombrado por fantasmas do passado. Quando não se conseguem fechar ciclos na totalidade, quando ficam feridas por sarar elas podem facilmente transformar-se em infecções quando menos esperamos. Neste caso, foi 6 meses depois. 

Tenho passado estes últimos tempos preocupado com lesões. Esqueci-me por completo que a cabeça corre mais que as pernas.

Desabafo feito, este blog segue dentro de momentos.