segunda-feira, 29 de maio de 2017

A mais bela (e longa) corrida do Mundo

Apaguei o post que tinha pré-escrito para fazer o relato da prova. Ou melhor, editei-o e transformei-o no post anterior. Não ia escrever mais nada, mas tenho que o fazer.

Ontem durante a viagem até à Régua saltou a pergunta:
"Olha lá, este fim de semana e esta prova são uma espécie de fecho de ciclo, certo?"

Estava, finalmente, feito o click e dado o mote para voltar ao Douro Vinhateiro. Não era só ter desistido no ano passado, era tudo o que aconteceu em Maio do ano passado. E tudo o que Maio desde ano está a fazer para apagar de vez as más memórias que ficaram.

Eu disse - mais que uma vez - que não sou vingativo. Diverti-me imenso ao ler há pouco os comentários destas publicações, tal como me emocionei ao ler as palavras de força e ânimo que me deixaram recentemente aqui (e ali ao lado na rede social também). Obrigado, esta vitória também é vossa!

Esta prova tinha tudo para correr bem, após a lesão no início do ano regressei de forma bastante ambiciosa e recuperei a forma que tinha perdido entretanto. Bati record dos 10km em Santarém, dos 15km no 1º de Maio e até dos 5km também em Maio, embora em circunstâncias diferentes do habitual. O problema foi a falta de treino nas últimas semanas. Andava quase a correr de prova em prova e quando na semana passada consegui finalmente voltar a treinar duas vezes por semana acontece-me um daquelas coisas que nunca é boa mas que há alturas em que é mesmo horrível: pisei uma pedra e torci um pé a meio do treino de 5a. 

Assustei-me, enervei-me, estava a rir - de nervos! - e quase a chorar ao mesmo tempo. Felizmente o destino tem destas coisas e no meio das 20 pessoas que apareceram no treino eu estava ao lado da nossa colega que é enfermeira. Ela não me disse absolutamente nada que eu não soubesse "Vais para casa, fazes gelo, tomas anti-inflamatório e usas uma meia elástica. Repousas o pé ao máximo e vais ver que isso não há-de ser nada." mas disse-o de uma forma tão calma e confiante que me tranquilizou imediatamente. Ossos do ofício. Muito obrigado, esta vitória também é tua!

Ainda me passou pela cabeça continuar o treino e fui meio a andar, meio a correr ter com o resto do grupo que tinha parado à nossa espera. Como nós íamos na cauda do grupo mais ninguém sabia o que tinha acontecido. Também assustei e enervei a minha colega que me confortou no ano passado. Aquela que me deu a medalha e que não a quer de volta e já me explicou porquê. E eu percebi e aceitei a justificação. Assustei-a ao ponto de ter corrido mais depressa quando foi à nossa procura do que no resto do treino todo! Muito obrigado, esta vitória também é tua!

Depois tive o apoio todo do resto do grupo. O treino continuou - the show must go on! - e enquanto uns colegas foram buscar o meu carro à outra ponta da cidade (às 3as os treinos começam quase à minha porta, mas às 5as não e eu nem sempre me despacho a tempo para ir a fazer um aquecimento até lá) outro ficou a fazer-me companhia e fui a andar devagar até casa. Este carinho da equipa vale ouro. Ninguém ficar para trás também é isto. Obrigado malta, esta vitória também é vossa!

Felizmente foi mesmo mais o susto que outra coisa. Passei 6a e sábado sem dores e apenas com uma ligeira impressão na zona torcida. No sábado até deu para fazer parte do caminho até Peso da Régua a conduzir, o que me deixou bastante confiante. Hotel, levantamento dos dorsais, passeio pela cidade, fotos, selfies, relax total e... pasta party. Era a primeira vez que ia a uma e primeiro estranhou-se e depois entranhou-se. Será algo a repetir no Porto. Com tudo pronto de véspera, era hora de ir descansar e domingo chegou rapidamente. Acordar cedo, tomar pequeno almoço, confirmar que dava para fazer late check-out até às 14:00. Tudo correu às mil maravilhas no Hotel Columbano e quando é assim, fica a referência.

Feita a divisão entre comboio e autocarro, entre Meia e Mini, era hora de embarcar. À chegada à Barragem do Bagaúste ainda nos voltámos a cruzar até que fiquei com a companhia de amigos de outra equipa com quem estive até à partida. Poucas caras conhecidas, equipas e camisolas menos familiares do que em provas por Lisboa e arredores. O tempo estava encoberto e era perfeito continuar assim. Levantou e abriu o sol 20 minutos antes da partida e senti-o bem até ao retorno aos 8kms. Antes de partirmos, uma das pessoas que estava comigo lembrou-se de me falar do ano passado. Confirmou que eu tinha desistido à passagem pela barragem, a cerca de 5 ou 6 quilómetros do final. Chamou-me estúpido - assim a frio e com todas as letras. Eu ri-me e disse-lhe que tinha toda a razão. Disse-me que sabe bem que a cabeça é que manda, muito mais que as pernas e que percebia o que tinha acontecido mas que sabia que este ano não ia ser assim. Ela tinha a certeza, disse-me que eu estou mais forte, fisicamente e não só, disse-me tudo o que eu precisava de ouvir e que eu não esperava que fosse ela a dizer. Obrigado! Todos os elogios que trocámos naqueles abraços depois da meta foram sinceros e sentidos.

Mas vamos começar a correr ou nem por isso? Já vamos com um testamento e ainda nem passei a partida! Vá, vamos lá correr! Não sem antes dizer que passei debaixo do pórtico de partida com esta música a tocar nos altifalantes da organização. A minha power song. E por falar em música, ao fazer o primeiro quilómetro o leitor de mp3 foi-se abaixo. Eu já tinha percebido que isso era capaz de acontecer na noite anterior. Devo tê-lo deixado ligado depois de o carregar. Paciência. Guardei-o tranquilamente no bolso dos calções e fui a cantarolar na minha cabeça todas as músicas da playlist até que me esqueci disso e a música não me fez falta.

Decidi que a prova era só para acabar, que ia meter um ritmo "de maratona" a rondar os 6m/km e sempre sem stress. Vi que não era isso que estava a acontecer de início, fartei-me de olhar para o relógio nos quilómetros iniciais e aquilo marcava quase sempre o mesmo ritmo. Vejam bem este relógio quase suiço até ao quilómetro 9! Na verdade estava a sentir-me muito bem e sem dores. Senti-me a destilar até ao retorno, mas ia-me sempre hidratando nos abastecimentos tanto a beber água como a molhar a cara e testa. Assim que se deu a volta deixei de sentir esse problema. Tinha dividido a prova em 3 partes: até ao retorno aos 8kms, de regresso à barragem aos 16km e os últimos 5kms que não fiz no ano passado e que não conhecia. Passei aos 10km com 55 minutos e comecei a fazer contas que assim iria terminar com cerca de duas horas. Esqueci-me logo disso porque sabia que ia quebrar na segunda metade, para além de ter o efeito psicológico da chegada à barragem. Mas não quebrei, antes pelo contrário. Apenas no km 12, exactamente onde comecei a quebrar e a andar na prova de 2016. respondi da melhor maneira: aumentei o ritmo! Foi de forma involuntária e foi o sub-consciente a falar mais alto. Se no ano passado comecei a quebrar aos 12km, hoje comecei a ganhar a prova no mesmo sítio.
Já via a barragem ao longe, estava a aproveitar todos os abastecimentos tanto de água como de isotónico - também ajudou num deles o staff estar a colocar garrafas inteiras em vez de dividir por copos, porque assim trouxe uma para ir bebendo - e segui à risca o plano do gel: um no retorno aos 8km, outro na barragem aos 16km.
Algo que eu tenho que tentar perceber é a ilusão de óptica do percurso. Tanto na ida como no regresso parecia visualmente que ia a descer, embora o gráfico de altimetria confirme que nem sempre foi assim.
Os quilómetros continuavam a voar e eu sem nunca sentir cansaço, nem dores, nem quebras de ritmo, nem quebras psicológicas. Estava bem, muito bem. A partir dali era o desconhecido, era completar duas provas ao mesmo tempo. Mas eram também os quilómetros mais fáceis por serem os mais próximos da meta. (tem sido uma frase que eu digo muito ultimamente)
Fui ver que no ano passado desisti aos 15,3kms. Este ano parei exactamente nessa mesma altura, mas foi apenas para beber um copo de isotónico que neste abastecimento estava mesmo em copo e não em lata. Depois segui e nessa altura já estava a ver bastantes atletas em dificuldades, sobretudo pelo calor. Tenho sorte que historicamente não me dou mal com temperaturas altas. Nem senti que estivesse abafado, mas aparentemente estava.
Começou a fase em que tentava perceber os nomes dos colegas que estrada se tivessem na camisola ou se tivessem o dorsal nas costas e puxava por eles pelo nome quando os passava. E eu ia passando bastantes. E ia aumentando ainda mais o ritmo naqueles quilómetros. Já era impossível não fazer contas. Se fosse a x minutos por quilómetro ia ficar abaixo das duas horas. Se mantiver vou para record. Na verdade, a primeira vez que pensei em record foi aos 5kms mas decidi ignorar esse pensamento por ser absurdo.

Estando cada vez mais perto de entrar em Peso da Régua começavam a aparecer cada vez mais espectadores e/ou membros de staff no percurso. Comecei a minha saga de puxar pelo público, a pedir palmas, a pedir barulho, a pedir apoio. Normalmente faço isto quando estou a começar a fraquejar e preciso de motivação ou quando estou feliz na estrada. E eu estava radiante a transpirar de alegria por todos os poros! A malta retribuía os meus pedidos. Ouvi palmas, muito barulho. Ouvi alguém de fora gritar "És grande, Nuno!", ouvi outra pessoa dizer "Calma jovem, não te canses tanto!" Mas eu não estava nada cansado! Nada!

Passagem pela ponte pedonal, mais apoio, mais barulho, mais gente a meter-se comigo. Acho que deixei a minha marca bem vincada naqueles quilómetros finais. Acho que também assustei um ou outro atleta que ia à minha frente.

Meta à vista, nem me preocupei em olhar para o relógio do pulso, mas vislumbrei o relógio da meta que me garantia o record (batido por 31 segundos) e nunca mais pensei nisso. Metros finais emotivos, olho para as barreiras, para quem me apoiava da parte de fora. Braços no ar, sorriso estampado no rosto e... acabei! Já vi algumas fotos da chegada e nunca, nunca me vi tão feliz ao passar uma meta.

Soltei um grito, um sonoro "YES!" onde estavam contidas todas as emoções. Atirei tudo cá para fora. Vi quem estava lá, pensei em toda a gente que não estava mas que gostava de estar, em toda a gente que eu sabia que estava à espera de notícias. Continuei a correr e só parei quando me meteram a medalha na mão. É minha, é nossa!

Depois foi a descompressão, sacos de ofertas, imperiais que tão bem me souberam, garrafas de vinho também oferta. Fotos finais e festejos. Muitos abraços e mais palavras reconfortantes que me encheram o coração. Já só queria voltar ao hotel para tomar banho e partilhar o resultado com o mundo. Depois foi almoçar e fazer a viagem de regresso que ainda é longa e foi preenchida com muitas mensagens de parabéns. Agora é o voltar à normalidade do dia-a-dia e pensar na próxima, a Corrida de Santo António no próximo sábado à noite.

E porque há coisas que não vale a pena mudar, também este ano o Benfica deu uma alegria durante o regresso a casa. No ano passado foi o campeonato, este ano foi a Taça.
Estou exausto e feliz. Já devia ter ido dormir há 3 horas atrás.
Parecendo que não, terminei duas meias maratonas no mesmo dia. O ciclo está fechado.


Prova nº 63 - Meia Maratona Douro Vinhateiro 2017 - 21km - 01:57:16
Prova nº 36 - Meia Maratona Douro Vinhateiro 2016 - 21km - 378 dias, 2 horas e 4 minutos, mais coisa, menos coisa

domingo, 28 de maio de 2017

Meia Maratona do Douro Vinhateiro

A prova da letra R. A começar por (Peso da) Régua
Dedico esta prova:

- à Rute
- à Raquel
- a todos os Runners que me deram umas palavras de incentivo e de carinho. Não só os da equipa, mas todos os outros com quem me cruzei.
- à Rita
- bati um Record ao concluir a prova de 2016 378 dias depois de a ter começado.
- bati outro Record, ao concluir a meia em 1:57:18

O relato há-de surgir quando eu processar tudo. E tem mais de duas linhas, garantidamente!

sábado, 27 de maio de 2017

Vamos a isso!

Gelo, meia elástica, anti-inflamatório.
Quase sem dores nestes dias. Terá sido só um susto, espero eu.




Amanhã vou estar na partida para a Meia Maratona do Douro Vinhateiro. E se vou estar na partida isso significa que vou terminar!

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Inserir asneira

E torcer o pé no último treino antes do Douro Vinhateiro?

Inserir asneira
Inserir asneira
Inserir asneira

Respirar fundo

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Ainda a Corrida de Alverca

Não houve relato no post anterior. Também não haverá neste. Permitam-me algum egoísmo para guardar as emoções para mim. Prometo que depois de Maio* voltam os relatos habituais das provas que farei. Desta vez deixo que outros falem por mim:



Entretanto não resisto a deixar umas notas na mesma sobre o assunto. Fiz pior que no ano passado e ao fim de 7km as pernas cederam um pouco e tive mesmo que andar um bocado. A partir daí não voltei ao ritmo imposto e nos 3km finais perdi quase 2 minutos em relação ao tempo que faria se tivesse mantido o andamento que tive até aos 7km. Duas razões para isso: o percurso de terra batida não estava nas melhores condições e a falta de treino nos últimos tempos.

Olho para o Strava e aquilo que vejo no mês de Maio são 3 provas (15km + 5km + 10km), uma caminhada de 3,5km por Lisboa e UM treino que foi ontem. Se esticar a coisa mais uns dias, o último treino de equipa que fiz foi antes da Scalabis. Depois tive dois treinos sozinho: um muito manhoso que não correu como queria e outro que foi bastante bom. Para quem devia estar focado numa Meia Maratona que lhe ficou atravessada no ano passado, não me parece o suficiente. Não vale a pena pensar muito mais nisso, é ir com calma que a meta lá estará à minha espera.

* - por falar nisso, ontem ganhei um dorsal para a Corrida de Santo António num passatempo. Yeah!

domingo, 21 de maio de 2017

Alverca



Prova nº 62 - Corrida Cidade de Alverca 2017 - 10km - 00:51:17
Prova nº 62 a) - Corrida Cidade de Alverca 2017 - 10km - 01:28:11

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Aos 19 dias do mês de Maio...

"Of all the gin joints in all the towns in all the world, she walks into mine." - Casablanca


...voltaste a dirigir-me a palavra. Quase um ano depois de teres deixado, por tua iniciativa, de falar comigo. Ainda por cima fizeste-o com um sorriso rasgado, aquele sorriso simpático que eu sempre fiz questão de tentar que tivesses.

Já partilhei que não tenho sentido a tua falta nos treinos. Mas recordo todas as vezes que me pediste para te acompanhar e marcar o ritmo para te ajudar a progredir e eu sempre o fiz de bom grado.

Tomaste para ti as dores de outros. Outros que garantidamente não fizeram o mesmo por ti. Sei bem o quanto me tentaste ajudar - e conseguiste - quando eu mais precisei. Nunca esquecerei isso. Mas também sei que "o-bla-di o-bla-da life goes on".

Não sinto falta das nossas conversas quase diárias, não sinto a falta das viagens de comboio esporádicas quando o teu horário era compatível com o meu. Mas de certeza que sinto qualquer coisa, qualquer coisa mais que aquele bom dia meio seco que te retribui, sem sorrir e quase sem olhar para ti. Alguma reminiscência terei daquela coisa a que chamávamos de amizade e que dizíamos ser para sempre, caso contrário não estaria aqui a escrever. 

Pode ser que para a próxima - se existir - eu consiga responder-te com algo mais parecido com um sorriso. De preferência que não seja às 7 da manhã e no meio de dois espirros. Confesso que a certa altura pensei em voltar para trás, dar-te um abraço e seguir a minha vida. Sei que tens bom coração, sei que mereces ser feliz. Espero que o sejas.

Até qualquer dia, algures no Strava, provavelmente. Se um dia ainda quiseres o teu tupperware de volta avisa. Eu bem te avisei que ia ficar com a custódia parental dele.



(...)
Yah, eu sei que um dia tudo muda
Hey
Eu queria saber se tu tas bem
Curtia ouvir o teu ok
Só pa sentir que não tas down

Yah, eu sei que um dia tudo muda
Yah, eu sei que um dia tudo muda
Yah

Sem Facebook
Sem Instagram
Sem Snapchat
Só com o silêncio
E toda a gente teme

(...)

terça-feira, 16 de maio de 2017

36

Felizmente nem tudo o que aconteceu em Maio do ano passado foi penoso. No dia em que chorei copiosamente no Douro Vinhateiro (Carlos, mesmo assim a minha Meia Maratona consegue ter mais quilómetros que a tua Maratona!) o Benfica conseguiu dar-me uma alegria pela conquista do tricampeonato.

Seja como for, o momento pessoal não dava azo a qualquer celebração portanto foi uma vitória que me passou ao lado. Lembro-me bem da noite penosa que foi. Adiante. A história repetiu-se e este ano veio um tetracampeonato. Vinguei-me e tirei a barriga de misérias com festejos em dose dupla!

Sábado no Marquês, onde nunca tinha ido pelo Benfica, apenas lá tinha estado no ano passado após a vitória de Portugal no Euro. Curiosamente tanto nesse dia como no sábado vi o jogo em Campo de Ourique e a coisa correu bem. Raios, que eu sou supersticioso nestas coisas e se calhar agora tenho que lá estar sempre nos jogos decisivos. Já agora, a malta que ficou a ver a Eurovisão depois do jogo diz que lá por casa se festejou a vitória do Salvador Sobral com mais intensidade que o golo do Éder. Acredito, mas desta vez ninguém gravou o momento para a posteridade.



Depois do Marquês veio o meu ritual habitual destes últimos anos (excepto, lá está, o ano passado): a recepção da equipa nos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa. Já tinha saudades e foi tudo aquilo que eu me lembrava. O Marquês é mítico mas continuo a preferir estes momentos mais intimistas, se é que posso usar este termo para descrever o momento.




As corridas seguem dentro de instantes.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Entrelinhas

Sabem quando têm um segredo que querem mesmo mesmo partilhar e não podem? Pois eu tenho que partilhar uma coisa com alguém e não o posso fazer de forma declarada, portanto vou falar por código. Tudo o que estiver em itálico é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

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Há uns dias atrás - chamemos-lhe segunda-feira - estava eu - chamemos-me Norberto - a falar com uma pessoa próxima - chamemos-lhe Teresa - que dizia que se tinha encontrado com alguém que não conhecia e tinha estado a conversar com ela durante um bocado. Partilhou um pouco dessa conversa, disse que esse alguém estava a lidar com um problema recente e que estava a fazer umas renovações a vários níveis. Acrescentou que tinha uma energia semelhante a outra pessoa que nós conhecemos e a conversa ficou por ali, sem dar mais detalhes específicos.

Passado uns instantes aqui o vosso amigo Norberto pegou no telemóvel, ligou-se à net, mostrou algo à Teresa e perguntou-lhe: "- Tu estiveste a falar com a - chamemos-lhe - Carolina??"

A Teresa ficou confusa, o Norberto ficou radiante com os seus dotes divinatórios e muito curioso pelo desfecho da situação. E a Carolina? Não ficou nem uma coisa nem outra porque nem faz ideia disto. Mas se a Carolina ficar eu depois aviso.

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Pedimos desculpa pela interrupção, este blog segue o seu percurso normal dentro de momentos.

domingo, 7 de maio de 2017

Estafeta

Cumpri hoje o meu objectivo de fazer uma prova por estafetas. Recebi um convite que muito me honrou, sobretudo porque havia uma lista infindável de elementos da equipa que podiam ter participado, mas eu acabei por ser a primeira escolha. Gosto quando o carinho que damos é retribuído com gestos destes. É assim que gosto de andar pelo mundo das corridas.

Na altura nem me fez click que a prova era organizada pela Associação pela qual corre o Vítor Oliveira, cujos excelentes resultados tenho andado a acompanhar.

Por uma ou outra razão, não fiz qualquer treino esta semana pelo que a última vez que corri foi no 1º de Maio e isso deixava-me nervoso. Já tive uma fase em que durante umas poucas semanas só corria em provas e isso não me agrada. Faz-me falta pelo menos um treino a meio da semana, nem que sejam só 5km para descontrair a cabeça e as pernas.

Para ficar a conhecer melhor os elementos da equipa, fui ontem à Pista Municipal Professor Moniz Pereira onde acabei por assistir à segunda prova do Circuito dos Parques de Lisboa e passar uma tarde muito agradável tendo confraternizado com bastantes atletas conhecidos. A pergunta da praxe era em relação às calças de ganga e pólo que tinha vestido que não era equipamento adequado para correr. Acabei a tirar fotos e deixei-me envolver completamente pelo ambiente. No final, tudo combinado para hoje.

Ponto de encontro em Odivelas às 8:30, uma breve conversa e eu até algo tímido por não estar a 100% no meu ambiente. Depressa passou que nisto de correr estamos 99% do tempo entre amigos, mesmo que sejam recentes. A prova consistia num percurso de 10km que era feito por duas vezes. A mim calhou-me o percurso que era maioritariamente a descer. Obrigado por isso que nos últimos tempos - apesar de provas com algum desnível como os Sinos ou o 1º de Maio - não tenho incluído muitas subidas nos treinos.

Percebemos que eram 23 equipas e embora não tivéssemos qualquer ambição na classificação final era notório que estavam ali elementos muito fortes e não havia ninguém que fosse só para descontrair um pouco como normalmente acontece em algumas provas. Isso preocupou um dos elementos da equipa que embora tenha conseguido fazer o seu melhor tempo aos 5km, não evitou chegar à primeira transmissão no último 23º lugar. (Só soube disso quando acabei a minha parte) Sem stress, quem estava preocupado com a classificação eram outras equipas. Enquanto esperava pela minha vez cheguei a ouvir um dos outros atletas que iam fazer o terceiro percurso dizer que "sabia que ia ganhar, mas que era inadmissível a organização deixar participar atletas federados porque assim há sempre o risco de 4 gajos do Benfica ou do Sporting fazerem uma equipa e ganharem eles." Juro! Só não percebi se ele estava a falar de algum atleta em particular que estivesse a correr. Enfim.

Foi após 52 minutos de espera que chegou a minha vez. Quem me passou o testemunho é um craque. Se no primeiro trajecto fizemos cerca de 31 minutos (a descer) ele no regresso fez cerca de 21 (a subir!) e parti em 16º com um minuto e pouco de atraso em relação à atleta da equipa que ia à nossa frente. Uma coisa que me preocupou a certa altura foi tentar não me perder! Isto quando vamos em pelotão é mais fácil, mas agora as referências que íamos ter eram as marcas no chão para além do trânsito cortado. Haveria polícia e membros da organização suficientes? Havia, mas percebi em conversa com mais gente que isso era preocupação geral.

Como tinha a tal atleta à frente meti na cabeça que o objectivo era tentar não a perder de vista - nem que fosse para saber sempre o caminho! Sendo a descer, arranquei muito rápido e tentei ao máximo manter o ritmo elevado nas partes planas. Também tinha umas subidas mais curtas, atenção. Corri que me fartei - porque descer muito também cansa - e sabia que tinha que deixar tudo naquelas estradas. Cheguei finalmente a Odivelas e no quilómetro final aproveitei a última subida até à última transmissão e ultrapassei-a. Quando acabei estava morto porque foram 5km de sprint quase contínuo, no entanto estava numa fase em que já tinha um ritmo estável e se tivesse que fazer mais 5km faria uma gestão do esforço até ao fim.

Até tinha pensado em regressar pelo mesmo caminho em ritmo de descompressão, mas como havia um autocarro para nos levar até à meta não hesitei, porque o regresso era duro e porque tinha a companhia do primeiro elemento da equipa e não a ia deixar sozinha.

Não sei a classificação final, mas penso termos terminado em 16º na mesma. O último atleta da equipa que eu tinha ultrapassado era muito forte e recuperaram o lugar perdido. Sem stress. Valeu muito pela experiência da estafeta, pelo convívio com o pessoal com quem estive, tanto hoje como ontem. Vou ficar a aguardar novas provas semelhantes para desafiar a malta da equipa. A estafeta para a qual olho todos os anos tem calhado num dia que não é ideal, portanto ainda não a fiz.

As quebras de ritmo são sobretudo as rotundas e as viragens de direcção do percurso.
Ainda não tinha feito nenhuma prova de exactamente 5km e mesmo nos registos intermédios noutras provas maiores nunca tinha feito um tempo destes. É claro que a altimetria ajudou, mas a título pessoal fica mais uma marca que é record pessoal da distância.

Prova 61 - GP Estafetas Vale Grande - Subida às Colinas de Odivelas - 5km - 00:22:16

Maio, o 7º...

Faz hoje 13 anos.
Faz hoje 1 ano.

Quase à mesma hora.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Maio, o 2º

Quis o destino que - tal como no ano passado - eu tivesse um concerto marcado para o dia 2 de Maio.
Se em 2016 ver Muse no Pavilhão Atlântico se tornou no pior concerto da minha vida, ontem Placebo foi um dos melhores. Fantástico como as coisas mudam. Fantástico como o universo às vezes se completa e fecha ciclos de forma natural e sem grande esforço.

"Without you, I'm nothing"

20 anos de Placebo. Ainda nem tinha acabado o secundário quando eles surgiram e eu os comecei a acompanhar. 20 anos em que a minha vida mudou, definiu-se, estragou-se e voltou a ter sentido. E consegui sentir isso em vários momentos do concerto porque posso saber letras de cor e salteado mas quando são ouvidas no momento certo, no timing ideal ganham todo o sentido.

"We are loud like love!"

O concerto começou bem, depois teve uma parte (demasiado) melancólica (assumida pelo próprio Brian Molko) em que confesso me perdi e quase me desliguei, mas depois disto foi sempre a abrir até ao fim. Saltei, gritei, cantei e gastei certamente mais calorias do que num treino. Felizmente o caminho até ao carro foi uma espécie de descompressão.

"It's a song to say goodbye."

A minha favorita? No meio de muitas, escolho esta, a partir do minuto 3:45.
(O facto da letra falar em correr é pura coincidência, juro! E sim, estou ali de braços no ar no meio da molhada!)



Infra-Red
Placebo
One last thing before I shuffle off the planet
I will be the one to make you crawl
So I came down to wish you an unhappy birthday
Someone call the ambulance, there's gonna be an accident
I'm coming up on infra-red,
There is no running that can hide you
'cause I can see in the dark
I'm coming up on infra-red,
Forget your running, I will find you
One more thing before we start the final face off
I will be the one to watch you fall
So I came down to crash and burn your beggar's banquet
Someone call the ambulance there's gonna be an accident
I'm coming up on infra-red,
There is no running that can hide you
'cause I can see in the dark
I'm coming up on infra-red,
Forget your running, I will find you (find you!)
Someone call the ambulance
There's gonna be an accident!
I'm coming up on infra-red
There is no running that can hide you
'cause I can see in the dark
I'm coming up on infra-red
Forget your running, I will find you
'cause I can see in the dark
I'm coming up on infra-red
There is no running that can hide you
'cause I can see in the dark
I'm coming up on infra-red
Forget your running, I will find you
I'll find you
I'll find you

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Maio, o 1º

"Próxima meta: Corrida 1º de Maio, onde vou novamente atacar o record dos 15km. Porque estando bem comigo mesmo a única coisa que faz sentido é dar 110% para melhorar os meus registos. Sempre entre amigos, sempre a sorrir."
Foi isto que escrevi no rescaldo da Scalabis Night Race. Salto já para o desfecho ou mantenho o suspense?
Depois do fim de semana de Páscoa disse que ia ter uma semana regrada, sem tocar em doces e em bebidas alcoólicas. Não que abuse da bebida, atenção, mas o calor já pede uma cervejinha e não nego um copo de vinho à refeição caso se proporcione. Ora, no dia a seguir à Scalabis tive um dia de aniversário e de grande festa portanto compensei todas aquelas cervejas que não bebi, para além de ter visitado com frequência a mesa dos doces. Descompressão total. O problema é que muitas das sobras vieram para casa e mantive-me nessa onda menos regrada toda a semana.
Talvez com isso a pesar no subconsciente, acordei com pouco espírito e pouco motivado. Éramos poucos hoje e todos os olhos estavam em mim para obter um grande resultado, até porque duas das colegas tinham ido ontem a um trail e hoje iam só rolar com muita calma.
Como é normal fiz a minha análise habitual ao percurso e comparei com o ano passado. Para chegar onde queria tinha que atacar na primeira metade, sobretudo na descida para depois me aguentar na Almirante Reis até ao Areeiro. Sabia perfeitamente os ritmos que tinha que fazer, chegar ao Rossio com média abaixo de 5m/km e subir o mais próximo possível dos 5:30m/km para perder o menor tempo possível.
Tudo corria bem na primeira metade. Passou-me pela cabeça que era porreiro serem só 10km e já só conseguia pensar na subida. Curiosamente nessa altura ia ao lado de um grupo de atletas e num momento entre duas músicas ouço um deles dizer que a prova não acaba ao chegar ao Areeiro como muita gente "pensa". Dali até à meta ainda há mais 3kms para fazer. Sorri, mas sabia que terminando bem a subida nada me iria parar. As primeiras passadas a subir não me agradaram. Chegou o receio de quebrar física e psicologicamente. Nesta eterna questão de cabeça vs tecnologia hoje ganhou o relógio porque me foi dando sinais que o ritmo era bom. 5:15/5:20, raramente andava mais devagar que isto e só tenho um km acima de 5:30.
Lisboa não costuma ser pródiga em apoio em dias de prova. Na zona do Rossio e Martim Moniz havia imensos turistas muito eufóricos à nossa passagem, mas o que gostei mesmo de ver foram as inúmeras camisolas amarelas do Correr Lisboa pelo percurso, sobretudo na subida. Já fiz questão de dizer que mesmo não sendo Vicente senti esse apoio e foi fundamental nos momentos críticos. E quem me lê já sabe o quanto eu gosto de puxar pelo público de dentro para fora.
12km, final da subida, uma hora de prova. 3kms para fazer em 15 minutos. Senti um arrepio igual ao que acabo de sentir ao escrever esta parte do texto. Terminando bem a subida nada me iria parar! Já só via a meta, já ao imaginava a entrar no estádio e a terminar em grande estilo.
E consegui, caramba! Aqueles últimos quilómetros passaram literalmente a correr. Um crescendo de emoção que só terminou nos metros finais da pista onde tive o final desejado e ansiado. Já pensei em como descrever a chegada mas aquilo de não haver palavras não é só um cliché. Dei abraços, gritei, festejei! Passei das barreiras para o relvado e atirei o buff ao ar. Não o apanhei e deixei-me cair no chão em cima da relva. Estive assim algum tempo a tentar assimilar o que tinha acontecido ao mesmo tempo que confirmava a quem perguntava que não me tinha dado nenhuma coisinha má.
Levantei-me quando vi chegar o segundo elemento da equipa mas não tive coragem para ir buscar os restantes elementos. Comecei a cruzar-me com várias caras conhecidas e por ali fiquei a confraternizar. Chegou o terceiro elemento e nessa altura um amigo puxa-me para ir com ele. Fui, sem saber onde. Fomos dar duas voltas ao relvado para descomprimir e depois alongar. Só tenho que lhe agradecer porque já nem me passava pela cabeça essa parte tão essencial. Ao dar uma volta ao estádio chegou o último elemento da equipa e ainda fizemos meia volta com ela até à meta.
Prova superada. Cumpri hoje o desafio que me foi feito nos Sinos. Tirei mais de 3 minutos ao meu record anterior, feito aqui no ano passado. Fiz menos 3:40 do que nos Sinos há um mês. Estou radiante e sei que tenho razões para isso. Dizia no final que agora dificilmente baixo mais que isto mas rapidamente me disseram para não pensar assim. Melhore ou não, o sorriso continua cá e isso é o mais importante.
Maio começou bem! "Don't stop me now!"
Prova 60 - Corrida 1º de Maio 2017 - 15km - 01:15:13