sábado, 22 de setembro de 2018

It's oh so quiet

A casa está silenciosa. Ao meu lado ouve-se a ventoinha a trabalhar. Lá fora ecoa o barulho dos carros que aproveitam também a calma da madrugada para circular de forma mais veloz na estrada onde o máximo é 50km/hora. De vez em quando ouço algum ruído vindo do bar que está tranquilamente instalado mesmo em frente de minha casa, do outro lado da rua. É normal numa noite quente de 6a feira, mesmo tendo em conta que este foi para muitos um mês mais "longo" e que o Dia de São Receber está ao virar da esquina, mas ainda distante. Há anos que vivo aqui e nunca lá fui.

Acabo de matar uma melga enquanto escrevia este texto. Há som mais incómodo do que uma melga no quarto a zumbir aos ouvidos? Claro que sim: o som de várias melgas!

Ali ao fundo da sala a TV está ligada e vai-me fazendo companhia a estas horas impróprias da noite. Já não consigo perceber sequer o que está a dar. Quando prestava atenção ia sorrindo ao rever pela 2745ª vez os episódios que passavam do How I Met Your Mother.

Adoro a série, confesso. No meio de tantas teorias do Barney, hoje lembrei-me de uma outra, da mãe do Ted que lhe dizia: "Nothing good ever happens after 2 a.m.".

Olhei para o relógio.
Era 1:35 quando comecei a escrever este texto. Demorei vinte minutos a escrevê-lo.
Missão cumprida. Se for rápido ainda chego à cama antes das duas da manhã.

Quando acordar amanhã logo vejo como me sinto. Provavelmente na mesma.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

O regresso às Lampas

"O que eu não gosto mesmo nada são aquelas provas em que passamos pela meta a meio do percurso e ainda temos que dar uma grande volta até terminar."
"Mas esta é uma dessas provas. Passamos pela meta aos 13km e depois ainda temos mais oito até chegar ao fim! Não sabia?"
"A sério? Ah não, é que eu é a primeira vez que venho e não vi o percurso."

Esta conversa aconteceu entre duas atletas a meio da subida por volta do quilómetro 4. Na verdade, eu já tinha reparado na atleta que iniciou esta conversa porque tinha passado por ela na subida anterior e ela ia a andar. Dei-lhe um toque nas costas, desejei-lhe força e ela disse que estava tudo ok. Na descida seguinte ultrapassou-me novamente em alta velocidade e instantes depois era isto que relatei. Eu sou muito picuinhas com os percursos das provas, gosto de saber ao que vou. Se é a primeira vez tento ver com algum detalhe aquilo em que me vou meter, se estou a repetir então vejo com atenção o meu desempenho anterior.

Se eu acho que nesta fase do mundo em que vivemos, onde a informação está ao alcance de um ou dois clicks, é absurdo ir para uma prova sem ter o mínimo de noção do trajecto e da altimetria, então quando se trata de uma prova como a Meia Maratona das Lampas isso é imensamente pior! Não estamos a falar de uma prova qualquer, é "apenas" uma das Meias de estrada mais exigentes do calendário. E nem sequer é uma prova recente e desconhecida, já tem a bela idade de 42 anos! Mesmo antes da partida os atletas foram avisados pelo speaker para fazer uma boa gestão de esforço e para não nos deixarmos embalar logo de início. Não sei que tempo final fez e se chegou bem ou se terá cedido à tentação de desistir à passagem pelos 13km. Espero obviamente que esteja bem! (Entretanto já saíram as classificações e penso que encontrei a atleta, que terminou com um tempo semelhante ao que eu fiz nas Lampas há dois anos.)

Tendo em conta que fui sozinho e cheguei cedo, tinha tanto tempo para queimar que até me dei ao luxo de mudar o carro de parque de estacionamento. Foi de forma muito preguiçosa que me fui terminando de equipar e dei um curto passeio por São João onde me fui começando a encontrar com alguns amigos. Estava super tranquilo e assim estive durante toda a prova. Quando começou, deixei-me ir. A ideia era fazer a prova a um ritmo de 6:00m/km e, sobretudo, fazer melhor que as 2:16 de... 2016.

Tive que meter um travão ao fim dos dois primeiros quilómetros porque já ia em excesso de velocidade. Era o ímpeto inicial que me iria levar ao cansaço num ápice, mas rapidamente medi um ritmo mais apropriado com o percurso e o carrossel inicial ajudou-me a fazer isso. Cheguei então à tal atleta e não podendo fazer muito mais para a ajudar, fui seguindo ao meu ritmo. Nesta fase fiquei também sem música porque o auricular ficou sem bateria. Paciência, mais disponibilidade tinha para meter conversa com quem me rodeava dentro e fora do asfalto.E se do lado tos atletas as subidas tiravam grandes hipóteses de conversa, do lado do público muitos eram os que nos batiam palmas quer por iniciativa própria, quer a pedido.

Foi pelos 6kms que comecei a seguir um pequeno grupo que ia mesmo por ali à minha frente. E um dos elementos era uma espécie de... eu! A cada grupo de espectadores que via, puxava por eles, pedia palmas, metia conversa, dizia uns disparates. E eu logo ali atrás não podia fazer o mesmo senão estava copiá-lo. Ora, se não os podes vencer, junta-te a eles. E foi uma companhia fantástica até perto dos 10/11kms. Sempre na palhaçada e na galhofa, a prova foi-se fazendo com uma alegria imensa. E é assim que eu gosto de estar na estrada: alegre! Nem se dava pelo tempo passar, falava-se do jantar que o esperava, das minis que ninguém nos oferecia à passagem pelos cafés, das subidas que continuam fortes e não baixam por mais que uma pessoa as vá calcando ao longo do tempo e da promessa de que se estivermos lá para o ano é porque estamos vivos. E nisto, numa subida, uma senhora ultrapassa-nos a todo o gás e eu digo que enquanto nós estamos na parvoice os atletas a sério estão a dar-nos uma abada! Ela riu-se e ficou por ali comigo, porque entretanto o meu parceiro de conversa disse que ia abrandar e mandou-nos seguir caminho.

Este companheiro de circunstância chama-se Fernando. Nós temos um Fernando na equipa que é exactamente igual em termos de convívio e diversão. O Fernando que conheci ali fez-me lembrar o Fernando que já conheço há alguns anos. Descobri que ambos são amigos nas rede sociais!

Seguindo, tinha agora uma nova parceria para continuar a prova. Descobri que ela também não conhecia o percurso, mas como ia fazer a Meia Rampa estava quase a acabar. Fomos juntos mais um quilómetro, altura em que continuei viagem e lhe desejei um bom fim de prova. Ao mesmo tempo lembro-me de me meter com um grande grupo de miúdos que estavam à beira da estrada a recolher high-5s e disse-lhes que para o ano eram eles a correr. Riram-se. Muito. Não sei porquê.

Ao chegar a São João das Lampas ia a sentir-me muito bem, com algum cansaço acumulado mas nada que me estivesse a desanimar. Lembrei-me então que tinha combinado comigo mesmo tomar um gel nessa altura e assim o fiz. Ia no encalce de nova companhia e tinha duas camisolas amarelas à frente: uma virou para a meta da Meia Rampa e a outra seguiu para os 21km mas voltou logo para trás. Penso que terá desistido e espero que esteja bem. Foi nesta altura que eu pensei na minha prova de 2016 e em como a partir daquele momento as coisas começaram a piorar.


Na verdade, começou a piorar aos 15km onde a subida é pouco acentuada mas constante. No sábado estava bem e não ia quebrar. A partir da passagem pelos 13km meti um objectivo meio parvo na cabeça, mas que terá funcionado: não podia ser ultrapassado por nenhum atleta! E assim aconteceu!

Devo ter ganho uns 30 lugares na geral nestes 8km finais. As contas da classificação apontam para isso e confirmam que fui fazendo uma corrida de trás para a frente. A certa altura estávamos já tão espaçados que não tinha ninguém à frente num raio de talvez 300 metros. E quando olhei para trás também não tinha ninguém por perto. Pensei que era algo semelhante que deve sentir quem vai a liderar uma prova e agarrei-me a esse bom feeling para continuar. E senti que estava a ultrapassar-me a mim mesmo e a deixar claramente para trás a prova de 2016.

Já nem precisei de tomar o segundo gel. Agora quem me dava força era o público a quem eu pedir para bater palmas sem parar e eram os próprios atletas que eu estava a ultrapassar. Eu desejava-lhes força e eles incentivavam-me a continuar. "Vais bem, segue!" "Continua, não pares!" "Aguenta assim até aos 20km, o último é sempre a descer!" foram algumas das coisas que ouvi, juntamente com um "És o maior!" que não percebi se veio de um atleta ou do público numa altura em que pedi para fazerem barulho. Acabo este parágrafo e vou deixar de me vangloriar, mas foi o meu momento de consagração pessoal. Uma espécie de karma. E a prova de que na cauda do pelotão também somos todos campeões à nossa maneira e até temos mais tempo para desfrutar do bom ambiente.

Faço aqui um reparo: fui ultrapassado sim! À entrada para o último km ouço alguém atrás de mim a dizer que já ia quase com 42. Anos de idade? Não, quilómetros feitos. Descobri que um grupo de, salvo erro, quatro atletas partiu às 15:00 para fazer uma primeira volta ao percurso e fez a segunda volta durante a prova. Sim, fizeram os 42km das Lampas na 42ª Edição. Excelente iniciativa! E foi aquele atleta, com o dobro da distância corrida, o único que me passou nos tais 8km finais... Espectáculo!

Com a meta à vista e com a descida a ajudar acabei a prova estupidamente feliz. Nem sequer consegui manter-me dentro da média que pretendia, falhei esse objectivo por pouco, mas isso não interessava. A prova estava feita, peguei na medalha, larguei um até para o ano e agarrei-me à melancia do abastecimento final. Só faltou a massagem, mas estava uma fila gigantesca. Alonguei, ainda vi amigos e conhecidos subirem ao pódio, estive um pouco à conversa e regressei a casa. Feliz.
Muito feliz. A 13 de Março, no rescaldo da Meia Maratona de Lisboa escrevi:

"E se a ideia é apagar resultados menos conseguidos do passado, então alguém avise a Meia das Lampas que em Setembro conversamos."

Pronto, estamos conversados! Hei-de voltar às Lampas para ver se também esta Meia passa a ter aquele rótulo de duas horinhas que eu digo sempre que parto para mais uns 21km. Ou para me rebentar todo e dar o litro e meio na Meia Rampa.

Próxima prova: Meia Maratona Ponte Vasco da Gama (vivam os passatempos!!!)

Prova nº 91 - Meia Maratona de São João das Lampas 2018 - 21km - 02:08:38

  

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Quilómetro 37

Estou um bocado frustrado.

O Benfica não foi campeão na época passada, pelo que não consigo colocar aqui o mesmo tipo de imagem que coloquei nos anos anteriores. Meter uma foto de uma tarja a dizer "Rumo ao 37" não é a mesma coisa. E também não há nenhum jogador no plantel principal que vista a camisola 37.

Fui incapaz de encontrar uma música onde o número 37 tivesse um papel importante na letra, no título, onde quer que fosse. Ou qualquer citação que fizesse referência ao número, mesmo sem ser de uma música. 

Não encontrei imagens engraçadas com o número 37. Eventualmente daquelas coisas a dizer que "não tenho 37, tenho 25 com 12 anos de experiência", mas isto tem mais sentido quando são números redondos.
 
Nunca usei o dorsal 37 numa prova. Nem sequer consegui encontrar por esse Google fora uma foto de um qualquer dorsal com o número 37! O mais parecido foi uma camisola de um jogador de futebol americano. Não é a mesma coisa!

A minha prova número 37 foi... aquela a Meia Maratona do Douro Vinhateiro em que desisti. Sem comentários!

Devo ter passado uns bons 37 minutos a pesquisar e a escrever este texto, até que encontrei isto.
Simples e perfeito!


Faltam 5 anos para uma Maratona. Vamos a isso!

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Imagine Dragons no Altice Arena, ou...

...o dia em que me questionei sobre a minha orientação sexual.

     
   
Fotos: Inês Barrau (Arte Sonora)

Agora que fiz uma revelação bombástica e vos distraí com umas fotos, segue o texto e pode ser que já se tenham esquecido do que disse. E não, não é qualquer gajo de calções em tronco nú e com meias Adidas que me cai no goto. A tradição ainda é o que era e antes disso é preciso jantar e cinema. Flores não são obrigatórias. Ou então basta apresentar um concerto brutal e eu fico rendido!

Foi em Abril que surgiu este plano para Setembro. A vida tem destas coisas cíclicas muito curiosas...
Neste caso foi uma prenda de anos antecipada (é amanhã, by the way) e depois de um domingo passado a tentar combater uma febre que teimou em não desaparecer, ao ponto de ter ficado em casa na 2a feira, estava com algum receio de não estar em grandes condições. Lá me enchi de coragem para ir trabalhar, até porque tinha coisas para resolver antes de entrar de férias e depois rumei ao concerto, ainda com dores de cabeça já não tanto pela febre, mas sobretudo por ter passado o dia ao computador. Vá, agora é para curtir o concerto sossegadinho e sentado sem grandes maluqueiras. Só que não, passei-o sempre em pé e aos saltos.

Descobri entretanto que havia uma primeira parte a cargo dos The Vaccines. A banda inglesa é um dos nomes que fica sempre bem num palco secundário de um qualquer festival de Verão, mas confesso que na altura não me consegui lembrar de nenhum single, nem quando tocaram umas músicas mais antigas. Agora que escrevo este texto lá fui pesquisar melhor e já me vieram à cabeça dois singles do primeiro álbum. Entraram em palco ao som do Waterloo dos ABBA, estiveram bem e conseguiram dar uma boa injecção (ah, viram o trocadilho? Magnífico!) de energia ao público para aquecer os ânimos antes da banda principal.
 
Sempre que há uma primeira parte gosto da altura em que dizem algo como "Ah e tal, estamos contentes por estar aqui, obrigado pelo apoio, vamos tocar a última música, curtam o resto da noite porque sabemos que estão ansiosos por ver e ouvir o/os (inserir nome da banda principal)!" Fico sempre à espera de ver alguém ao meu lado a levantar-se e a dizer que não e a ir embora porque só tinha mesmo ido para ver a banda de abertura. Um dia faço eu isso, só para ver a reacção da malta ao meu lado e depois vou-me sentar noutro sítio.

Outra coisa que eu acho curiosa é que há imensa gente medricas nos concertos. Em todos! Estávamos todos à espera do início dos Imagine Dragons ao mesmo tempo que ouvíamos música clássica quando, de repente, se apagaram grande parte das luzes do recinto. O que se ouviu de seguida foi um coro brutal de gritos histéricos! Malta, para quê tanto pânico? Tudo com medo do escuro, a sério? Vá-se lá perceber...! Para lhes dar um conforto maior, a maioria dos presentes optou imediatamente por pegar nos telemóveis e levantá-los no ar para terem alguma luz. O dilema veio a seguir. Os últimos acordes do trecho clássico deram início a uma introdução a fazer lembrar Muse e, após nova escuridão e mais gritos de histeria medo rebentava o Radioactive. Podem ver parte disso aqui:


E agora? Já há luz, já podemos baixar os telemóveis, bater palmas ao som da música e curtir o som? Para muitos ainda ficava esse dilema. Eu, que estou aqui a ironizar com esse flagelo, também estou a ser completamente incoerente porque escrevo ao mesmo tempo que vejo registos do concerto de ontem no YouTube e nas redes sociais. E até já partilhei um neste tópico. 

O que ficava bem agora era eu dar uma de super culto e dizer exactamente que trechos clássicos é que foram escutados no intervalo entre os The Vaccines e os Imagine Dragons. Não sei, nem encontro, mas o que é certo é que foi um toque interessante. A partir da primeira música foi um chorrilho de singles e êxitos que nunca deram descanso ao público presente, não sem antes o Dan Reynolds deixar uma mensagem importante: "Hoje deixem tudo lá fora: política, religião, stress, trabalho (...) aqui dentro só existe paz!"

Percebe-se a mensagem, mas o que é certo é que cada música também tem uma mensagem própria muito forte, muito pessoal e há ali letras ou momentos de músicas em que somos confrontados com questões do nosso foro íntimo. 

Foi também em modo mais íntimo que tocaram três músicas em formato acústico num mini-palco no meio do recinto com o vocalista a interagir bem de perto com o público, tal como já tinha feito no palco principal. Não vou comentar cada música e cada bocadinho do concerto - deixo isso para as publicações da especialidade. No meio de todas, a que me toca é o Next to Me. (Incrível, ainda não há registos desta ontem no YouTube!)

"Oh, I always let you down
You're shattered on the ground
But still I find you there
Next to me
And oh, stupid things I do
I'm far from good, it's true
But still I find you
Next to me (next to me)"
 
Sim, bota lamechas nisso, mas não faz mal que isto é post para mostrar todo um lado mais sensível e cenas. Só não vale a pena chorar. Para isso temos este pequeno apontamento no meio desta música.
 
 
Outra música chamada Demons é, curiosamente, uma das músicas emblemáticas da minha playlist de corrid. Adiante.
 
A festa prolongou-se por pouco mais de duas horas de concerto. Houve direito a canhões de confetis e a balões gigantes caídos do tecto da Altice Arena.
 
 
 
A malta queria mais, talvez por não ter percebido que as mudanças entre o palco principal e o mini-palco já eram os encores. Ter lido, de forma inadvertida, qual era a setlist também me ajudou a perceber que o final estava próximo. Preferia ter ficado na ignorância que eu gosto que o alinhamento seja surpresa. Neste caso, tem sido exactamente igual em todos os concertos da tour, portanto a todos os italianos, espanhóis ou alemães que me estejam a ler, ficam já a saber que os concertos desta semana vão ser iguais ao de Lisboa, está bem? Isso também significa que o Dan vai continuar a fazer os concertos sem ter o cuidado de vestir uma t-shirt a meio do espectáculo ou sempre que faz uma pausa fora do palco. O rapaz assim transpirado ainda apanha uma corrente de ar e fica constipado...

Fotos: Rita Carmo (Blitz)

E agora, se não fosse a Meia Maratona das Lampas, o que eu ia fazer era ir ali ver se ainda havia bilhetes para o concerto de Madrid e qual a melhor forma de lá chegar para assistir ao concerto de sábado.