domingo, 19 de agosto de 2018

Alive 2018

Era suposto não ir. Ou ir meio arrastado à pala de Pearl Jam. Depois apareceram ali os Franz Ferdinand, também no dia 14, e os meus olhos brilharam. Só que aconteceu um daqueles golpes de marketing com a organização a anunciar que os bilhetes diários estavam esgotados e acabei por ficar com um passe para os três dias na mão e um rombo inesperado no cartão de crédito. A coisa está bem feita, está, e a malta cai que nem patinhos. Continuando.

Já não ia a um festival com passe para todos os dias desde os idosos tempos de 2006. Na altura bisei o Super Bock depois de lá ter estado em 2004. Belas memórias desde ouvir a Nelly Furtado cantar o hino do Euro 2004 até àquele concerto que durou e durou até às 3 da manhã com a banda sempre a bombar. Eram os Franz Ferdinand. Nessa madrugada entrei em casa às 4 e tal da manhã para encontrar um morcego na sala. True story. E às 8:00 já tinha estacionado no parque da empresa e estava à secretária prontinho a trabalhar. True story again!

A logística de ida resolveu-se com os autocarros do Alegro Alfragide até ao recinto. Foi porreiro e correu sempre bem. À entrada tirava-se a foto do pórtico e nos espelhos e era hora de curtir o ambiente e os concertos. Como todo o bom português, a malta gosta de coisas de borla, portanto havia filas quase intermináveis em tudo o que era ofertas dos patrocinadores. Ainda deu para ir buscar umas coisas durante os três dias. E a malta também gosta de comer e beber, mas aí as filas eram sempre rápidas. O aglomerado de copos no chão à medida que as noites avançavam é que se dispensava.

O pórtico mais partilhado nas redes sociais nestes três dias

Foi simpático o palco principal abrir em português com o Miguel Araújo, em claro contraste com a página de Facebook do evento cujas publicações recentes eram sempre em inglês. E muitos eram os ingleses presentes, mais até que os espanhóis. Ou então é defeito profissional e eu fico logo a pensar quantos daqueles são clientes da empresa onde trabalho. 

Miguel Araújo

Jain

No primeiro dia a minha principal preocupação era ver Snow Patrol e apesar de ter gostado soube-me a pouco. Tocaram certinhos, mas não se destacaram. Fico com a clara sensação que não funcionam em festival, o que aumentou a vontade de os rever em nome próprio quando cá voltarem em Fevereiro do próximo ano. Antes deles, e durante a hora de jantar, um som no palco Sagres entrou pelos ouvidos e não voltou a sair: Jain! Já aqui deixei um breve destaque e deixo o convite a que ouçam. É claro que os nomes grandes do primeiro dia eram os Arctic Monkeys mas faziam parte daquele conjunto de bandas que havia curiosidade em ver ao vivo apesar de não se conhecer muito bem a discografia, a mesma categoria onde estavam inseridos os Queens of the Stone Age e os The National no segundo dia. 

Snow Patrol
Aliás, o segundo dia era daqueles em que se fosse possível "alugava" a pulseira por um valor simbólico para depois a reaver para o dia final. A sério, havia bons nomes no cartaz mas nenhum nome forte o suficiente dentro do que costumo ouvir. Mesmo assim deu para picar o ponto nos The National e matar a tal curiosidade. Foi agradável. As fotos do segundo dia são maioritariamente de palhaçada e de copos. É melhor nem meter aqui. Continuemos! Houve na mesma muita música, com passagens pelo Palco Coreto e pelo Palco Sagres onde os Eels foram boa companhia musical durante o jantar. E saltou a gargalhada geral quando o vocalista viu toda a gente a agarrar nos telemóveis e incentivou a plateia a fazê-lo dizendo, em traços gerais, que era boa ideia porque ele está a ficar velho e havia uma forte possibilidade de cair para o lado em palco portanto isso era um momento que toda a gente iria querer registar!

E num ápice chegávamos ao dia mais esperado. E num ápice também mudou completamente o "cenário". O recinto estava a abarrotar de gente desde muito cedo e a malta presente tinha uma faixa etária ligeiramente mais alta. As filas triplicaram de tamanho em todo o lado. Ir ao WC foi das experiências mais caóticas da minha vida, num claro sinal que os homens bebem mais cerveja que as mulheres. Mesmo que os preços sejam exorbitantes lá dentro, mas isso já se sabe que é sempre assim. Pessoalmente até só bebi uma cerveja nestes três dias. Juro! Andei mais virado para a cidra.



O plano era simples: ir buscar algo para beber e abancar no mesmo sítio o dia todo. Foi prova mais ou menos bem sucedida. Pelas 18:00 na altura em que Alice in Chains estavam a começar tentei encontrar-me com um casal amigo que estava do outro lado do palco. Cruzei-me com outro casal conhecido pelo caminho, depois os meus olhos bateram numa mochila verdinha da Maratona do Porto e ao lado dela estava o Perneta, com quem ainda estive uns minutos à conversa. E depois de várias trocas de mensagens só encontrei este casal 7 horas depois, no fim de Pearl Jam e antes da longa espera para MGMT. Pelo meio ela dizia-me que do alto do seu metro e meio (true story) até agradecia ao pessoal que estava de telemóvel em riste porque era a única maneira que tinha de ver o palco. Fora isso, não há nenhuma outra razão para essa praga que são os écrans de telemóvel à frente do palco. Também sou culpado disso, atenção, mas em doses curtas e tentando não chatear quem me rodeia. Eventualmente a moda há-de passar porque, tal como perguntava alguém nas redes sociais, quantas vezes é que depois vamos rever aqueles 50 segundos de uma filmagem a tremer com um som de má qualidade? Pois.

Para fechar o capítulo das irritações, então e aquele gajo que durante Franz Ferdinand estava permanentemente a falar com o grupo de amigos que estavam a ver o concerto ao lado dele? E notem que não estamos a falar de malta que estivesse no fundo do recinto. Passei meia música a olhar fixamente para ele até o ouvir dizer aos amigos que ia dar uma volta e já voltava. Pareceu-me que até eles agradeceram! 

Franz Ferdinand
Franz Ferdinand deram um espetáculo brutal. Que saudades que tinha disto! Agarraram o público desde os primeiros acordes e foi sempre a rasgar até ao fim. Valeu muito a pena forçar a ida para uma zona próxima do palco. Pulei, saltei, dancei no meu estilo trapalhão, cantei a plenos pulmões e queimei mais calorias que em muitos treinos, suponho. O This Fire no final foi uma coisa épica e podiam ter continuado em loop! Não querem cá voltar também em nome próprio? Por mim a noite estava feita, mas era preciso esperar pelos tais senhores de Seattle, não sem antes acompanhar à distância o Jack White que terminou com o Seven Nation Army entoado pela maioria das 55 mil pessoas ao bom estilo de um estádio de futebol.

Não é uma camisola dos Queens of the Stone Age, ok?
De repente, toca de ir novamente lá mais para a frente porque parece que era pecado ter visto os pelos do nariz do Alex Kapranos e apenas ver o Eddie Vedder pelo ecrã gigante ao lado do palco. Certo. E foi um concerto fabuloso que valeu muito a pena, até para quem não é fã como eu. Cantei as músicas que conheço, respirei tranquilamente nas outras. Deu para tudo, dueto final com o Jack White, mensagens de esperança num mundo melhor, discursos de teor político, garrafinha de vinho em palco e uma actuação épica e sem cair naquilo que seria o básico de chegar e debitar todos os clássicos. Houve covers: Imagine, Comfortably Numb, Rocking in the Free World e de entre as músicas mais emblemáticas houve emoção no Black e no hino do festival, o Alive.

Depois disto deu só para ouvir uma música de MGMT e ir escutando as seguintes a caminho do autocarro. Já vi o concerto depois na RTP online e sinceramente fiquei algo desiludido. Ou pelo horário tardio, ou por ser absurdo meter alguém naquele palco depois de Pearl Jam ou simplesmente por ter achado que não é tipo de música que funcione em festival num palco principal. Se calhar quem ficou a assistir pode ter tido outra opinião.

Afinal foram duas cervejas! Esta foi no fim da festa!

Se calhar por causa disso é que a foto ficou estupidamente desfocada.

 E assim acontece. Próximo concerto no horizonte: Imagine Dragons em Setembro.

2 comentários:

  1. Choque nº1: como é que The National foi "agradável"?

    Choque nº2: como é que um festival dessa dimensão, nos dias que correm, ainda tem copos de plástico?...

    No fim de contas, parece que valeu o rombo e que foi uma bela experiência, com encontros inesperados :)

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    1. Choque nº1: desculpa, é só o que posso dizer. (ao ritmo de Tracy Chapman) Se serve de consolo, fiquei a cantarolar o Day I Die na minha cabeça o resto da noite.

      Choque nº2: é daquelas coisas para as quais ainda não há explicação. Um dia há-de cair a ficha ao mundo, eventualmente tarde demais.

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