quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Évora, Évora, Évora

Então já passou quase uma semana da prova e tu não te dignas a escrever sobre o assunto?
Na verdade esta falta de tempo deve-se não só às obrigações pessoais do dia-a-dia, mas também a outros projectos que têm merecido a minha atenção.

Disse várias vezes nas semanas antes da prova que Évora era para fazer nas calmas e que o mais importante ia ser o convívio. A prova é dura, mas aquele duro de ser desafiante ao ponto de uma pessoa querer sempre lá voltar. Porque se fosse fácil qualquer um fazia, porque uma pessoa queixa-se das subidas nos treinos mas também são elas que nos fazem chegar mais longe e melhorar o nosso desempenho.

Juntando ao facto de ainda estar em período de esvaziamento da bolha da Maratona e de estar a fazer menos treinos - mas não estou letárgico como fiquei por esta altura em 2016 - sabia que ia ter um fim de semana bastante agitado ainda antes de chegar a Évora. 6a feira tive o jantar de Natal da minha empresa. Este ano foi tão antecipado que estávamos a celebrar o facto de faltar um mês para o Natal! Tendo em conta que na noite de 5a feira tive uma chatice que até me fez desligar por um dia do mundo virtual, passei esse dia algo irritado e em modo de birra portanto foi um jantar onde afoguei algumas mágoas e onde só cheguei a casa pelas 4:00 da manhã

Gin e capirinha e mais gin




No sábado deu para tentar recuperar um pouco, mas ao fim da tarde/início da noite tive uma festa de anos. Mais tranquila e sem os excessos da noite anterior, mas mesmo assim cansativa. E domingo toca a acordar às 6:00 que a viagem é longa e é para chegar cedo a Évora para estacionar sem stress.

Correu tudo bem, sobretudo pelo facto de um casal da equipa ter lá ficado de véspera e ter levantado os dorsais da equipa no sábado. Foi uma ajuda preciosa. E domingo pouco antes das 9:00 já estávamos estacionados no local do costume e pouco depois era hora de tirar a foto de grupo antes de rumar à partida. Éramos 15 no total: 3 na Meia, 2 nos 10km e os restantes na caminhada. Percebi que ia ser o último da equipa a chegar porque em condições normais seria o menos rápido do trio de elementos que faziam a Meia Maratona. Já imaginava a equipa em peso a acompanhar-me na subida final até à Praça do Giraldo!

Da prova havia uma novidade já anunciada pela organização: o percurso era diferente. Foi uma inversão do que tinha sido feito nos dois anos anteriores e depois do início dentro de Évora faríamos a zona dentro da cidade em vez de sairmos para o IP2 e para a EN354. Isso significava que a parte mais complicada do percurso seria na primeira metade e a segunda parte tinha tudo para ser mais tranquila por ser em alcatrão plano em vez de empedrado com sobe e desce que só voltaríamos a apanhar na reentrada em Évora por volta do km19. Quem fez a prova de 10km também achou este trajecto mais duro mas onde a participação do público era muito mais activa por estarem sempre em zona urbana.

Assim sendo decidi dar o tudo por tudo para fazer esta parte enquanto tinha energia e força nas pernas para depois gerir na segunda parte. E isso correu às mil maravilhas! Senti-me muito bem nesta fase e os quilómetros iam passando com a dificuldade esperada mas com alguma confiança. Foi bom ver muita gente nas ruas a apoiar, mesmo que um senhor de um grupo a quem pedi palmas me tenha dito, a sorrir e com sotaque alentejano: "Ah amigo, palmas? Agora na temos tempo p'ra isso!"

A zona que era crítica nos anos anteriores tornou-se super interessante este ano: do lado esquerdo da estrada vinham os atletas a fazer o retorno e do nosso lado direito começávamos a ver os participantes da caminhada a vir na nossa direcção. Não sabia para onde olhar, não sabia se havia de tentar encontrar os meus colegas dos 21km ou o grupo da caminhada. Percebi entretanto - porque não vi ninguém - que o grupo tinha ficado bastante para trás no início e que eu ainda estava a ver a parte da frente. Consegui ver quem ia à minha frente e quando fiz eu o retorno cruzei-me com as colegas dos 10km. E ainda tive o bónus de ter encontrado um grupo de malta amiga - incluindo a minha chefe de trabalho - que estava em passeio de fim de semana por Évora e onde um deles estava a correr. Curiosamente é um amigo que encontro em todas as provas sem nunca combinarmos e desta vez vi o grupo de apoio mas não estive com ele. Aliás, foi mais uma prova onde encontrei algumas caras conhecidas e muitas outras ficaram por cumprimentar pessoalmente.

Ao passar pela divisão entre os 10km e os 21km também reparei que se tivesse ido para o outro lado teria feito um tempo muito simpático para o tipo de prova e percurso. Seguindo para o lado da Meia Maratona dou por mim a entrar no Complexo Desportivo de Évora onde estava o abastecimento dos 10km e voltei a pensar que bonito era darmos uma volta pela pista de tartan em vez de apenas a vermos ali tão perto e tão longe. Aos 11km tinha exactamente 60 minutos de prova. Se fosse de propósito não tinha conseguido. Fiz contas, obviamente. Tal como em Coimbra pensei que agora era só fazer mais 60 minutos nos 10km restantes e chegaria ao objectivo de fazer um tempo final dentro das duas horas. E agora era um percurso maioritariamente a rolar! A diferença para Coimbra era que aqui não tínhamos começado com um tal percurso sempre a descer.

Vamos a isso! Para ajudar tinha umas camisolas conhecidas de um grupo vizinho ali à frente a marcar o ritmo e podia aproveitar essa espécie de boleia. E até aos 15km fui a um ritmo mais ou menos estável a rondar os 5:30m/km mas a começar a sentir algum desgaste e senti necessidade de fazer uma paragem um pouco maior no abastecimento dos 15km. Tentei voltar a um ritmo tranquilo e baixei para os 6:00m/km. Sabia que não precisava de ir mais depressa portanto não valia a pena forçar. Lá está, já tinha feito o pior, tinha tomado um gel há instantes e agora era só gerir.

Mas... há sempre um mas... Se esta zona era calma em termos de dificuldade também era calma em termos de ambiente. Na realidade, à excepção de um café cheio de gente a aplaudir e um bairro com muitas pessoas à beira da estrada todo o resto era uma pasmaceira e a única companhia que havia era a de outros atletas. Tendo optado desta vez por não levar música senti imensa falta dela nesta fase para me distrair, mas lá fui a um ritmo mais lento, a ritmo mais ou menos de treino. Ora se o percurso não tivesse sido alterado esta fase teria sido feita ainda dentro dos primeiros dez quilómetros portanto ainda haveria muita energia e pouco desgaste. E o pensamento estaria nas dificuldades que estavam para chegar. Também senti um pouco de Coimbra aqui porque já só queria voltar a entrar na cidade e esse momento estava a aproximar-se.

Novo abastecimento aos 18km e o momento chave da minha prova foi aqui porque depois de passar por ele e de ganhar novas forças perdi-as rapidamente no momento em que não me consegui desviar devidamente de uma garrafa de água que estava no chão, pisei mal e torci o pé esquerdo - aquele que torço sempre. Na altura soltei um grito e quem ia à minha frente ainda olhou para trás. Fiz sinal positivo com o polegar e continuei. Estando quente e a menos de 3km da meta pouco me estava a doer e pouco podia fazer a não ser continuar até ao fim. Aqui sim tive que optar pela minha segurança e estando novamente nas ruas de Évora e de volta ao empedrado alternei entre correr devagar e caminhar em algumas zonas. Aquilo que menos queria era que o mesmo me voltasse a acontecer agora por causa do chão sinuoso. Muito pessoal que passava ia puxando por mim, muitas pessoas novamente na berma da estrada e algumas caras conhecidas. Ia timidamente explicando que tinha torcido o pé, mas estava ok e só não queria forçar até ao final. A minha cara de esforço a correr devia contrastar com o sorriso que ia fazendo ao falar.

Quando chego finalmente à subida final até à meta encontro duas colegas de equipa que me começam a acompanhar. Não me recordo se lhes falei na altura do susto com o pé, mas era a altura de esquecer isso naqueles metros finais e só voltar a pensar no que tinha acontecido quando estivesse do outro lado da meta. E a partir dali foi uma alegria imensa com a malta toda, sobretudo a minha claque pessoal que me leva ao sprint final. Meta atingida, prova superada. Percebi antes da partida que esta foi a terceira edição da prova, o que faz de mim um dos totalistas do evento, estatuto que quero manter até onde me for possível.

Felizmente o que se passou com o pé foi mesmo um susto e à medida que ia arrefecendo a caminho do carro não sentia qualquer dor, para além daquelas mazelas normais de quem completa uma Meia Maratona. Durante o resto da tarde e agora que já passaram alguns dias confirma-se que não tenho qualquer mazela no pé, mas é cada vez mais óbvio que depois da primeira vez este vai sempre ser o meu pé preferido para torcer.

Estava longe de saber que o momento mais mágico da prova ainda estava para acontecer. Depois de voltarmos dos carros e quando estávamos a caminho do restaurante que tínhamos marcado para almoçar íamos novamente começar a subir a recta que nos levaria até à meta. Sentimos uma imensa algazarra nas nossas costas e quando olhamos percebemos que o último estava a chegar fortemente acompanhado por um grupo de atletas que vim a perceber serem dos Évora Night Runners. Foi memorável! Quem me conhece sabe o quanto eu me emociono com momentos destes e o quando isto me toca. Há largos anos atrás o senhor Reinaldo que estava ali a correr devagar mas imensamente feliz era eu e se eu não tivesse tido apoio semelhante não seria nem metade do que sou hoje.

Lembrei-me de tantos momentos. De Peniche, do Autódromo do Estoril e depois da Scalabis conforme já estava prometido, de Alverca, de não ter conseguido fazer isto em Coimbra este ano. Foi um momento muito bonito e um final perfeito para o circuito das 7 Running Wonders de 2017. Já tinha ficado prometido que para o ano só iria fazer Coimbra e a Évora com muita pena por Guimarães ser sempre no mesmo fim de semana das Fogueiras. Mas sem esperar abriu-se meia porta para o Douro Vinhateiro. E há sempre uma porta aberta para Castelo Branco.

Resta falar do tempo. Estava frio de manhã e imenso calor que foi aumentando durante a prova. Ah, não era esse tempo? Ok, dos três anos em que fui a Évora era aquele em que ia melhor lançado para o tempo que queria e acaba por ser o meu tempo mais fraco. Só hoje é que reparei nisso, mesmo antes de começar a escrever este texto. Sabem o que isso significa? Que apesar de querer fazer um tempo específico e desse tempo ter estado perfeitamente ao meu alcance isso sempre foi a menor das minhas preocupações.

E comer no Alentejo? Que maravilha! Que valente almoço!

Prova nº 71 - Meia Maratona de Évora 2017 - 21km - 02:04:09

Participações anteriores na prova: 2015 e 2016

5 comentários:

  1. Ainda bem que o pé foi apenas um susto.
    Essa Meia é bonita, ou não fosse em Évora.

    Um abraço e boas corridas!

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    1. Ainda bem mesmo. Pena ter-me estragado aqueles kms finais, mas para o ano lá estarei novamente.

      Abraço!

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  2. Um dia hei-de fazer essa Meia :)

    Já falámos o que havia para falar, por isso... Venha a próxima :)

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    1. É em 2018, ok? Fica já marcado? :)
      É isso! Venha a próxima! :)

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    2. Ui... O planeamento de 2018 está muito complicado! Veremos :)

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