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sábado, 28 de dezembro de 2019

Diz que...

... aos vinte e cinco dias do mês de novembro de dois mil e dezanove, voltei a abrir este blog e a escrever umas linhas.

O que é que aconteceu desde as Lampas?


Uma noite de bifanas em Tagarro:

Prova nº 120 - 10km de Tagarro - 10km - 00:54:25



Um trail. Sim, o meu trail anual! Sem quedas!

Prova nº 121 - Trail da Base Aérea da Ota - 15km - 02:06:48


Uma Maratona, que merecia bem mais que uma simples linha.

Prova nº 122 - Maratona de Lisboa - 42km - 04:40:04


Outro trail, onde estava inscrito nos 15km e acabei por optar por fazer a caminhada.

Prova nº 123 - Alverca SkyRace - 9km - 01:50:07


A única prova onde me lembro que sou totalista, mas não de forma oficial porque a fiz com um dorsal emprestado num ano.

Prova nº 124 - Meia Maratona de Évora - 21km - 02:09:48


E assim se completaram 1740 quilómetros, divididos por 43 provas de 10 quilómetros, 16 provas de 15 quilómetros, 25 meias maratonas, 5 maratonas e 35 outras provas em distâncias menos convencionais. Se não falar sobre as cinco provas deste post em mais detalhe, pelo menos já posso fechar 2019 de forma tranquila.

E sim, comecei a escrever este post na ressaca da Meia de Évora, com a voz ainda trémula e a saborear o sal das lágrimas que me começaram a correr pela cara nos metros finais e que se prolongaram por largos minutos após cruzar a meta e termino-o mais de um mês depois, ainda sem saber muito bem como absorver todas as sensações de ter estado do lado de fora das grades durante a São Silvestre de Lisboa neste fim de tarde solarengo.

Se não nos virmos antes, bom 2020!

domingo, 8 de setembro de 2019

Lampas 2019

"Olha que fresquinho que este vai! Parece que começou a prova agora!" 

Querem saber a verdadeira importância deste comentário?
Este blog nasceu numa madrugada de total solidão em que eu decidi agarrar-me a uma das coisas mais importantes da minha vida: as corridas! Peguei no meu excel e meti mãos à obra! Faltavam exactamente 100 dias para a minha primeira maratona e a minha vida estava lentamente a desmoronar com o início de um possível divórcio que acabou por não se concretizar

Pouco antes, quando isto tudo começou, tive a minha primeira e única desistência numa prova: a tal Meia Maratona do Douro Vinhateiro onde eu tinha a cabeça em todo o lado menos ali e que depois gerou um regresso atribulado e um novo regresso ainda melhor!

Quando desisti, estava com 15km.
Hoje quando ouvi esta frase na Meia Maratona das Lampas estava com 16km. Sentia-me naquela fase em que o subconsciente começa a sentir-se cansado mas não quer que as pernas ouçam. E quem já lá esteve sabe que 16km nas Lampas significam muita altimetria ja feita!
Hoje quando ouvi esta frase estava com medo de querer desistir novamente. Porque, três anos depois, o divórcio é mesmo uma realidade que está para muito breve e desta vez não há reatamento possível
Hoje não desisti. Hoje tive uma voz anónima que do lado de fora da estrada me fez acreditar em mim na altura em que eu podia ter dúvidas. Porque para dúvidas e incertezas já bastam as que tenho neste momento fora da estrada. Portanto quando estou no alcatrão quero ter, preciso de ter certezas!

E já não estou a 100 dias de uma maratona, estou a pouco mais de 40. Contei 42 dias para os 42kms, mas a esta hora, novamente a meio da madrugada, não sei bem se fiz as contas certas.

O que é certo é que melhorei o meu tempo nas Lampas tendo tirado uns segundos ao tempo do ano passado e comi uma bela bifana, uma grande imperial e uma fartura com café nas festas no final da prova! Amanhã não sei, mas hoje... Hoje não me doem as pernas! Será das meias de compressão que passei a usar nas últimas duas ou três semanas?



Prova nº 119 - Meia Maratona das Lampas 2019 - 21km - 02:07:46

sábado, 9 de março de 2019

Meia Maratona de Cascais 2019

Há imagens que valem por mil palavras, daí que o rescaldo desta prova se traduza nas fotografias que foram tiradas pelos inúmeros fotógrafos que nos continuam a brindar com o seu trabalho durante as corridas. Mas não são aquelas fotos que aparecem em destaque nas redes sociais, são as outras... aquelas que uma pessoa acaba por não partilhar porque não são assim tão apelativas para o público em geral e já se sabe que não vão render assim tantos "likes".


Prova nº 104 - Meia Maratona de Cascais 2019 - 21km - 01:59:12

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O regresso às origens - Descobrimentos 2018

"Tu já descobriste a tua fórmula para o sucesso: é não treinares durante a semana!"

Foram estas as palavras que eu ouvi quando disse, ao telefone, qual tinha sido o desfecho da Meia Maratona dos Descobrimentos. Na verdade, apesar de não andar desmotivado para correr, ando super preguiçoso. Depois de amanhã faz um mês desde a Maratona do Porto e desde então eu fiz três provas (Luzia Dias, Meia de Évora e a Meia dos Descobrimentos hoje) e UM treino! Um mísero treino que me correu super mal. Isto é algo que tem obrigatoriamente que mudar porque já não me vai ser possível colher mais frutos do trabalho feito pré-Maratona - e que, já agora, continuo a dizer que foi algo incompleto para o que queria originalmente.

Continuando... Corria o ano de 2014 quando uma certa e determinada pessoa me disse que estava na hora de fazer uma Meia Maratona. Eu disse logo que sim, sem ter bem noção daquilo em que me estava a meter. Fui e terminei feliz da vida com um tempo acima das 2:17. Voltei lá no ano seguinte para ir bater o meu record pessoal na distância. E em 2016, quando me sentia forte para repetir a dose, apanhei uma chuvada tal que foi o ponto de partida para uma prova que me correu mal. Em 2017 fui apoiar alguns colegas e fiquei na meta a fazer reportagem fotográfica. Em 2018 voltei ao lado de dentro da estrada. Nota-se que esta prova, também por ter sido àquela onde me estreei na distância, me é muito querida.

A tal falta de treinos, aliada a uma forte dor no peito do pé desde 5a feira deixavam-me apreensivo. Por outro lado, tinha-me sentido confortável em Évora apesar de ter perdido gás na parte final. Sabia que ia precisar de chegar à zona da partida para entrar no espírito da prova e ver como me sentia. E assim foi. Levantei quase todos os dorsais da equipa, combinámos as boleias e hoje de manhã lá estava, qual Pai Natal, a dar sacos de prendas aos colegas que comigo foram nesta aventura. Um pequeno aquecimento desde o carro até à zona do CCB, uma longa espera na fila para o WC e um aquecimento final a caminho da partida. Por falar em WC, desta vez funcionou tudo na perfeição assim que acordei, ao contrário da semana passada. Muitos atletas chegavam também em cima da hora, mas ainda houve tempo para umas fotos. Como fomos estacionar em sítios diferentes, acabámos por só fazer foto da grupo no final e, mesmo assim, ainda faltaram dois elementos.

Comecei bem, a tentar impor o ritmo que tinha planeado para esta prova. Estava muita gente mas dava para circular bem sem grandes problemas de trânsito e foi uma altura onde me cruzei com várias caras conhecidas. O normal, portanto, ao mesmo tempo que também piscava o olho a quem encontrava em sentido inverso na prova de 10km.

Dois quilómetros até Algés e dois quilómetros de regresso até à zona da partida. E sabem porque fui tão rápido no km4? Havia imensa gente a assistir e a aplaudir. Neste primeiro retorno deu logo para ver a Inês nos 10km e a Inês nos 21km, para além da maioria da malta da equipa. Fiquei contente que para mim os retornos são quase sempre passados a olhar para o outro lado da estrada. A partir daí atentem bem no meu ritmo certinho a 5:25m/km que se haveria de repetir ao longo de vários quilómetros. Foi um misto de ter metido na cabeça que era o ritmo a que queria terminar a prova com o facto de ter apanhado boas lebres involuntárias ao longo do percurso. Uma delas é a... Inês que corre por uma das várias equipas dos bancos do nosso país e outra era uma atleta com a camisola dos Évora Night Runners, mas cujo nome não sei, sendo que também não a encontro na classificação final. Deve chamar-se Inês, de certeza. Lá fui, fui, fui... E notei que, tal como na Luzia Dias, estava menos comunicativo. Poucas eram as vezes em que interagia com outros atletas, mas ia sempre atento a quem me rodeava. Queria mesmo manter-me naquele grupo de atletas que iam a um ritmo semelhante ao meu e estava a cumprir à risca os planos que trazia, não na manga, mas na mão. Sim, na mão.



Ora bem, o meu record na Meia vinha do Douro Vinhateiro em Maio deste ano com um tempo de 1:54:56, o que dava uma média de 5:27m/km. Assim sendo, na noite anterior tinha escrito na mão os parciais aos 5, 10 e 15km para um ritmo de 5:25m/km e a comparação com o record do Douro. "E foste escrever na palma da mão que é logo um sítio onde transpiramos muito?" - perguntou-me um colega quando lhe mostrei uma espécie de borrão que tinha no final da prova. De acordo com o meu padrão de aprendizagem, escrever é uma boa maneira que eu tenho de assimilar conhecimentos. Acima disso, sou uma pessoa muito visual, portanto as 50 vezes que olhei para a mão antes de ir dormir fizeram com que tivesse acordado sabendo de cor e salteado que tinha que passar com 27, 54 e 1:21 para estar com tempo de record pessoal. Para minha agradável surpresa, passei sempre abaixo do que tinha escrito. Yes! A motivação estava sempre em alta!

Tive receio do empedrado a partir da zona do Cais do Sodré até ao Terreiro do Paço. Achei que estava a perder velocidade, mas percebo agora ao ver no Strava que até aumentei um pouco ritmo nessa zona. Ia super focado e com muito cuidado para não pisar em falso. O gel já tinha sido tomado pelos 9km e se calhar tinha um efeito psicológico positivo, para além de ter cumprido a sua função original. 

Passo a passo, quilómetro a quilómetro, as pequenas metas iam sendo ultrapassadas. Agora o foco era rumar a Santa Apolónia para novo retorno. Ouço gritar o meu nome algumas vezes, grito um ou outro nome também mas o mais natural era esticar o braço para dar uns high-5 ou simplesmente para acenar ou levantar o polegar. Ora agora vamos para trás e dar um saltinho ao Rossio. Até tive suores frios por me lembrar que foi lá que a minha prova "terminou" em 2016. Desta vez tudo correu pelo melhor e o quilómetro 14 mostra isso. Incomodou-me que numa zona tão cheia de gente apenas 4 ou 5 pessoas tivessem reagido à nossa passagem mas como já estava à espera que assim fosse segui viagem de olhos postos na estrada, no relógio e no que faltava para terminar a prova. Ansiava pelos 15km para confirmar que continuava com alguns segundos de margem até ao final. E estava! Agora a luta era cada vez mais intensa com as pernas que estavam a sentir-se muito massacradas. Tenho cada vez mais a confirmação que foi a última prova feita pelos meus Adidas Energy Boost que estão à beirinha dos 1000km. Falarei disso num post em breve. A cabeça, essa, sabia o que queria, sabia ao que ia e tudo iria fazer para cumprir com o objectivo. Estou a cinco quilómetros de bater o meu record pessoal na Meia Maratona! Percebi que tinha perdido uns segundos no abastecimento - não por ter parado, mas porque estava a tentar apanhar um gel da prova que é igual ao que uso mas acabei por apanhar uma barrinha. Meti-a no flipbelt e tirei de lá o segundo gel que levava. Não consigo correr destas barras enquanto corro. 

E agora? Consigo aguentar-me até ao final? Tive dúvidas porque o relógio marcava sempre o mesmo. 5:25m/km... Estaria avariado ou eu tinha metido o piloto automático? O grupo que ia à minha volta era diferente mas igualmente certinho no ritmo. Éramos quase sempre os mesmos pelo que as minhas referências estavam bem identificadas. A única vez que ia perdendo a concentração foi quando me deixei apanhar por uma conversa mesmo atrás de mim em que um atleta motivava duas outras colegas e a conversa girava em torno do seu eterno desejo de fazer striptease de forma profissional ao mesmo tempo que a ___ (inserir um nome feminino, imagino que seria a sua mulher) gostava de aprender a dança do varão pelo que ele ainda lhe ia oferecer um voucher para umas aulas. Eu ri-me por dentro, mas não por fora porque o oxigénio tinha que ser bem gerido.

Foi aqui que passou por mim o Fernando Andrade que eu tentei acompanhar durante umas centenas de metros mas não mais que isso. Ele "deixou-me" junto a um casal onde ele dizia à mulher que ela estava novamente com aquela respiração orgásmica que não era apropriada para correr portanto ela tinha que a controlar. Oh pá, não me façam rir! Mas obrigado pela distração, com isto tudo o ritmo continua igual. Já contaram o número de quilómetros feitos a 5:25m/km?

Eu já só pensava em chegar ao vigésimo quilómetro e ele aproximava-se a passos largos e decididos. Passando nessa marca com cerca de 1:48 era o ataque final à meta. Não me surpreende que o último quilómetro tenha sido o mais rápido. Lembrei-me de tanta coisa. Das lágrimas de alegria em 2014, do record em 2015, do sofrimento em 2016. E embalei pela Praça do Império até ao fim! Não havia cá dores de pernas nem as dores no pé durante a semana. Havia um querer enorme em bater o meu melhor tempo e, eventualmente, baixar para o minuto 53. Ali sim, num último ímpeto era o local ideal para puxar pelo público. Ainda vi os meus colegas de equipa que já tinham terminado. Na realidade, o grupo que foi é muito forte e só um terminou atrás de mim. Descobri entretanto que, tal como a atleta dos Évora Night Runners foi a fazer de minha lebre, também eu fui a lebre deste meu colega que me foi a seguir até aos 12km, altura em que não conseguiu aguentar o andamento. Agradeceu-me imenso no final porque conseguiu bater o seu record pessoal com a minha ajuda involuntária. Porreiro!

A passagem pela meta foi rápida. Lembro-me vagamente de festejar mas nem sei como. Fiz pose para o fotógrafo da praxe que lá estava e encostei-me ao gradeamento. Feliz, muito feliz. O tempo do cronómetro e o tempo do relógio confirmavam claramente o record pessoal, mas não me garantiam se tinha descido ao minuto 53. Seria à justa.

O reencontro com os colegas foi excelente. Quase todos levavam recordes pessoais para casa, podíamos ir festejar após o regresso e assim fizemos. O brinde foi com minis, mas o sucesso foi da Meia!

Foi a quarta vez que marquei presença na prova e o meu histórico é este:









Foi também a terceira vez - uma delas obviamente na estreia - que bati um record pessoal aqui! Só não o consegui em 2016. Hoje foi a minha 22ª Meia Maratona. Esqueci-me por completo de mencionar a efeméride dos vinte e um 21kms em Évora.

O último mês e meio tem sido um fartote de coisas boas: record em provas de 20km, record na Maratona, uma experiência num pódio de escalão em 5km e record da Meia Maratona. Agora era giro bater o record dos 10km no fecho do ano numa prova pouco propícia a isso como a São Silvestre de Lisboa. Tentar não custa e sonhar não paga imposto!

O resto do dia ficou marcado pelo rescaldo desta prova mas também pelo saber de notícias vindas de terras de nuestros hermanos! Sobre isso também falo noutro texto.

Já sabem... para a semana estou inscrito num trail em Alcanena. Wish me luck...! 
 

Prova nº 98 - Meia Maratona dos Descobrimentos 2018 - 21km - 01:54:02

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Correr e comer...

... são duas palavras que se escrevem quase da mesma maneira. Acredito que não seja coincidência!
 
Nesse sentido, Évora é um local perfeito para se fazerem ambas! Não foi, portanto, surpresa que eu tenha ido fazer a Meia Maratona pelo quarto ano consecutivo, mantendo-me como totalista na prova. Em itálico, porque descobri recentemente que num dos anos fiz a prova com o dorsal de um colega de equipa que não pôde comparecer. Já nem me lembrava disso e foi um ligeiro balde de água fria. Sou totalista de forma oficiosa, mas por causa disto nunca serei de forma oficial. Fica aqui também a nota para juntar à discussão sobre participar em provas com dorsal alheio.

Confesso que, apesar de tudo, não estava com muita vontade em ir. Nenhuma razão em particular, circunstâncias da vida, talvez. Ou apenas parvoíce porque quando o despertador tocou às 6:00 não precisei de muito para saltar da cama e às 7:00 conforme combinado já estava o grupo todo reunido para arrancarmos. A viagem fez-se de forma tranquila e com chuva ligeira - o regresso foi com um temporal, mas não tão violento como o que apanhámos depois do Porto - que ainda caia quando chegámos ao estacionamento habitual. Os dorsais foram levantados de forma rápida e ficámos com bastante tempo para queimar que foi passado em amena cavaqueira num dos cafés próximos da partida. Cafézinho tomado, idas ao wc, tudo em ordem. Quase, porque da minha parte não ficou o serviço feito na totalidade, o que se veio a revelar muito incómodo a certa altura da prova.
 
Foi no café que percebi que a nossa enfermeira de serviço afinal não ia fazer a Meia Maratona, mas sim os 10km. Isso significava que desta vez eu seria o único elemento a fazer os 21km, dois fariam os 10km e o grosso do grupo estava presente na caminhada. Isso dava-me alguma pressão extra e azo a promessas de que se eu demorasse muito a terminar a malta ia pegar nos carros para irem andando para o restaurante e eu teria que ir a correr até lá. 'Tá bem... Também gosto muito de vocês!

Regresso aos carros para terminar de equipar, escolher os casacos certos para a chuva (que iria desaparecer antes do início da prova), tirar umas últimas fotos e lá fomos até aos pórticos de partida. E aqui tenho que fazer um comentário de algo que me incomodou e que parece ser cada vez mais habitual em provas. O speaker estava bastante animado e ia dando os agradecimentos finais nesta que foi a última prova do ano do circuito Running Wonders. Até aqui, tudo bem. Mas no momento em que disse que estavam presentes 6000 pessoas eu achei completamente descabido. Já vi que terminaram a Meia 604 atletas e os 10km 703 atletas. Aqui estão 1507 e garantidamente que não havia 4500 pessoas na caminhada. Também duvido muito que estivessem 6000 inscritos e que para aí metade não tenham aparecido. Este exagerar do número de participantes nas provas chateia-me. Desabafo feito.

Vamos é correr antes que chova! Os primeiros quilómetros no centro de Évora são complicados. As ruas estreitas, muita curva e contra-curva, empedrado, mais empedrado, sobe e desce. Um Urban Trail, ouvi eu de outro atleta. Senti foi menos atropelos e, mais importante, sentia-me bem pelo que fui andando a um ritmo agradável, mesmo quando se começa a subir pelo zona exterior das muralhas. Até achei que estava a ir demasiado depressa. Não sabia eu o furacão que aí vinha após o quarto quilómetro. Estou eu tranquilo nos meus pensamentos e a começar a ver que a malta da caminhada estava a começar a aparecer em sentido contrário quando alguém me dá o braço e me puxa. Era uma amiga, aquela que há uns tempos me chamou estúpido por ter desistido no Douro Vinhateiro naquela altura fatídica da minha vida. E fomos na conversa durante largos quilómetros, apenas interrompidos pelo facto de ter conseguido ver o nosso grupo de caminhada e termos feito uma grande festa!   
Ora, esta amiga é uma máquina. Daquelas que em dia sim faz tempos do caraças, mas que hoje me disse que ia mais tranquila porque estava toda lixada (mensagem original censurada) por causa do treino muito rápido feito ontem. Disse-me que ia comigo porque eu ia a um ritmo agradável. 5:30m/km, boa? Pronto, já tenho companhia, mas se ela acelera dá cabo de mim. E como se pode ver, os quilómetros seguintes foram bem rápidos. Íamos na conversa, em amena cavaqueira sobre provas, dilemas entre trail e estrada, a menos motivação dela para a estrada por sentir que está a perder velocidade portanto com mais vontade de dar prioridade ao trail. E eu confirmei que sentia que estava com dificuldades em reduzir o tempo aos 10km, mas que quem me tira o alcatrão tira-me tudo, portanto tenho-me sentido mais confortável nas provas mais longas. E fomos, e fomos, conversámos imenso e os quilómetros iam passando. Novamente no ritmo ideal, até porque a estrada inclinava um pouco para cima. Apanhámos novamente a malta da caminhada, desviei-me da estrada para me fazer à foto em modo aviador, de braços bem abertos e sorriso rasgado. Ela percebeu que aqueles breves momentos significavam uma motivação extra e continuou sempre a puxar por mim para nos mantermos juntos. Ela disse que nunca fez uma Meia acima das duas horas, eu respondi que queria tentar fazer Évora abaixo das duas horas pela primeira vez. Vamos ajudar-nos mutuamente! Assim fomos até meio da prova. Nessa altura ela já ia uns metros à minha frente e dois atletas tinham metido conversa com ela sobretudo quando ela gritou o meu nome e eu prontamente respondi a confirmar que estava perto. Ainda tentei puxar por mim, mas aos chegar ao abastecimento dos 10km ela já estava a ficar mais longe e ir atrás dela era escusado. Máquina é máquina! Via novamente no final onde demos um enorme abraço e ela me pediu desculpa por não ter esperado por mim. Qual desculpa, qual quê? Obrigado e mantém-te sempre assim, porque quando se tem bom coração a cor da camisola que representamos é irrelevante.
Parei uns segundos no abastecimento para beber isotónico. Tenho que tentar parar com esta mania, mas beber naqueles copos em andamento é virtualmente impossível
 

Baterias carregadas e um tempo de uma hora certinha aos 11 quilómetros, altura em que tomei um gel. Só preciso de fazer uma hora nos restantes 10km e a coisa fica feita. Tentei manter o ritmo anterior e até acelerei um pouco quando encontrei um atleta de Leião e meti conversa com ele. Estiquei-me um bocado e tive que abrandar, mas foi pena porque ir a falar com alguém estava a fazer-me bem. Nesta zona mais afastada da cidade sabia que íamos fazer uma espécie de quadrado. Mais um menos dois quilómetros e viramos à esquerda, a mesma coisa a seguir e novamente e repete outra vez até fechar os quatro lados, pelo que o meu objectivo era sempre chegar à próxima viragem à esquerda. Infelizmente tive mesmo que voltar a parar no abastecimento seguinte, aos 15km. Foi aqui que comecei a sentir o peso e o desconforto de não ter feito tudo o que devia no wc antes da prova.
Respirei fundo e tentei abstrair-me disso. Ia mais devagar que antes, mas mesmo assim a um ritmo controlado que me permitia gerir o tempo que tinha ganho até ali. Infelizmente não foi possível continuar assim até final. O quilómetro 19, onde havia um último abastecimento, foi mais complicado e tive mesmo que caminhar um pouco. Foi aqui que o objectivo de tempo para a prova se esfumou. Ainda tentei ganhar um ânimo final ao reentrar em Évora, mas aí foi o empedrado que me tirou as esperanças finais. Caraças que ao fim de quatro anos aquilo continua a custar. Nesta fase já me tinha cruzado algumas vezes com um atleta em que ou passava ele ou passava eu e antes da placa dos 20km ele pergunta-me se agora vamos a correr até ao fim. Disse-lhe que sim, só que não. Paciência, as pernas já não davam para muito mais. 

Engane-se quem pensa que eu estava desanimado com este rombo final no ritmo. Ainda deu para uma animada troca de palavras com um elemento da organização e para lhe dizer que a subida até ao Giraldo continua demasiado íngreme e com muito empedrado. Ficou a promessa de resolverem a situação para o ano. Deixe estar, se não tratarem disso eu venho cá na mesma comer sopa de cação.

E pronto, agora é só virar à esquerda para aqueles 500 metros finais até à meta que parecem ter 10 quilómetros. Um dos meus colegas veio ter comigo para um apoio final. O resto da malta está ali em cima, à direita. E a corda? Onde é que está a corda para me puxar? De alguma forma lá consegui subir aquela montanha até passar a meta com um ar de pura alegria. Nem percebi bem o tempo, mas pouco interessava. Vamos é almoçar, pá!

Fotos finais, abraços finais e muitos sorrisos. Mais uma prova feita e as dificuldades dos últimos quilómetros já estavam esquecidas. Enquanto descíamos para o estacionamento já ia todo contente a dar força a quem ainda acabava a prova. O sorriso transformou-se em ligeira preocupação quando me de uma valente câimbra quando estava a alongar. Nunca me tinha acontecido de forma tão intensa! Felizmente quem tem uma enfermeira como a nossa, tem tudo. E ela tinha uma ampola de magnésio que, por acaso, não tinha tomado antes da prova e deu-me para ajudar. E ajudou.
 
Vamos almoçar! E fomos, apesar da dificuldade em dar com o caminho certo tal era a quantidade de estradas ainda cortadas. O almoço demorou praticamente tanto tempo como a minha prova e devo ter recuperado todas as calorias que perdi. Oh meus amigos, come-se tão bem no Alentejo. E bebe-se igualmente bem. Deve haver por aí fotos, algumas até passíveis de causar algum embaraço. Felizmente eu faço sempre questão de reservar o lugar do pendura nos regressos pós-prova.

Não fiz abaixo das duas horas. Não melhorei o meu tempo em Évora por 21 segundos.
Chateado? Nada disso! Corri, comi e diverti-me. Enquanto for assim está tudo bem.
Venha a próxima, a Meia Maratona dos Descobrimentos.
 
 
Prova nº 97 - Meia Maratona de Évora 2018 - 21km - 02:02:31

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Meia Maratona de Coimbra

"Força? Só se for para ti que estás no passeio. Desse lado é fácil falar, aqui dentro é mais difícil!"


Foi mais ou menos esta a reacção de um atleta ao meu lado, por volta do sexto quilómetro, quando alguém no passeio - com camisola da equipa Viseu 360º e com dorsal colocado - desejou força a uma colega que passava a correr. O comentário foi meio entre-dentes e só terá sido escutado por quem estava mesmo ali ao pé dele. Pode ter sido só um desabafo de alguém a ter um dia mais complicado, mas não gostei do tom da resposta. Também posso ter interpretado mal, mas não me pareceu de todo ter sido uma resposta em modo brincalhão. Marquei aquele atleta.

Isto tocou-me também de forma particular porque tínhamos acabado de passar pelo centro de Coimbra, zona cheia de público a assistir... em silêncio quase absoluto. À entrada fiz o que faço sempre que é pedir palmas e barulho e aquilo que ouvi foi o som de grilos, seguido de um lamento do atleta que vinha atrás de mim. "Ninguém apoia, ninguém disse nada." Ainda atirei para o ar se não era suposto ser uma festa, respondeu-me uma das voluntárias a dizer que o barulho que faz é para nos indicar que há águas ali à frente. É justo. Agradeci, continuei e concentrei-me nos atletas à minha volta. A partir daí praticamente ignorei a hipotética existência de público, sobretudo porque sabia que saíndo da cidade raras seriam as pessoas que estariam a assistir.


Depois dos quilómetros iniciais a aproveitar a descida da Universidade até ao centro da cidade era altura de estabilizar o ritmo e ignorar as vozes na minha cabeça que me diziam para continuar a atacar em busca de uma marca melhor. Olhei em volta e segui um atleta para me fazer de lebre improvisada. Só que ele agarrou-se à coxa, encostou ao passeio a alongar e não sei se terá continuado. Rapidamente olhei para outro mesmo ao lado, camisola da selecção vestida, que... encostou ao outro lado do passeio. Fiquei na dúvida se ia cumprimentar alguém mas pareceu-me que também não continuou. E dou por mim ao lado do tal atleta do comentário que dá início a este texto. Oh pá, não me apetece ir com ele. Felizmente ele tinha um ritmo mais rápido e passei a vê-lo mais ao longe.

Passa então por mim um grupo de 4 Viriathvs Runners (Viseu deve ser a cidade do país com maior concentração de equipas por metro quadrado) e fui na cola deles. Uma das atletas pareceu-me desconfiada porque olhou para trás vezes sem conta. Eu não disse nada mas devia ter metido conversa já que ainda fui quase dois quilómetros atrás deles até ao abastecimento dos 10km. Parou tudo para beber isotónico e eu segui à frente deles. Voltei a encontrá-los depois da meta. Um dos meus colegas de equipa conhece um deles e trocaram algumas palavras. Tão extrovertido que consigo ser e tão encavacado ao mesmo tempo!
Na segunda metade da prova vinha a parte que eu mais gosto: os retornos! Vi muitos amigos que iam à minha frente, deu para perceber quem vinha bem e quando virei vi os restantes elementos da equipa que vinham atrás de mim. Uma festa cruzar-me com a malta, festa que durou até próximo do abastecimento dos 15km. Ao meu lado ia seguindo quase sempre o tal atleta, em amena cavaqueira com outros dois amigos. De entre tantas camisolas de várias equipas dei por mim a puxar pelos Vicentes com quem me cruzava. Desta vez não conhecia nenhum, mas não fazia mal. Apoio é apoio!


A paragem no abastecimento foi ligeiramente mais prolongada para reforçar a dose de Red Bull. Olhei para o relógio, fiz umas contas em relação ao tempo final que percebi estarem erradas e passei os metros seguintes a corrigir mentalmente a minha matemática. E comecei a sentir umas dores de cabeça pouco vulgares. Pensei serem do facto de ter acordado às 6 da manhã e já ter conduzido 200kms até Coimbra - e de não ter bebido café! - mas descobri que era apenas o chapéu que estava apertado. Problema resolvido num ápice. Olhei em frente, porque olhar em frente era melhor que olhar em volta e ver a quantidade de árvores partidas e de troncos no chão ainda fruto das condições climáticas do fim de semana passado. Mas olhando em frente via lá ao fundo "o" atleta. Dez quilómetros depois daquele comentário ele continuava no meu raio de visão. Achei que o único modo de resolver isso era ir atrás dele para o ultrapassar. Pequenos objectivos parvos para uma pessoa se manter focada are à meta.

Pelo caminho já eram vários os atletas a fraquejar e a caminhar. Fui tentando dar alguma força e energia a quem ia ultrapassando. Passei por uma atleta em particular, do Correr Lisboa, com quem ainda troquei umas palavras. Vamos com 19 quilómetros, 'bora lá está quase, não dá para mais? Resposta negativa, já tinha rebentado. Infelizmente era sempre esta a reacção que tinha e não consegui trazer ninguém comigo na parte final. O que consegui foi ultrapassar o tal atleta, na recta que antecede a entrada na Ponte de Santa Clara. Ainda bem!

Não que o sucesso da prova dependesse disso, mas assim permitia-me concentrar na melhor parte: a chegada à meta. Em primeiro lugar foi preciso desviar-me de quem ia à minha frente para chamar a atenção da ET que estava lá do outro lado da ponte com a dupla tarefa de tirar fotos e de avisar a malta na meta de quem vinha aí. Depois entrando na meta foi ver onde estava a minha claque pessoal com quem tive novamente o prazer de atravessar a meta. Tem sido um hábito nas provas das Running Wonders e dá-me um gosto especial que assim seja.

A prova não terminava ali, ainda havia mais colegas de equipa em prova portanto estava na altura de voltar atrás. Rapidamente chegaram alguns, excepto uma que vinha um pouco mais atrás. Ainda nos preocupou a demora e lá íamos nós à procura dela quando a avistamos no horizonte com o seu maior sorriso. Tive direito a segunda passagem pela meta! Ou como ouvi depois: "Já sei porque quiseste passar a meta com a Maggie: foi para ires beber outra cerveja!" Tecnicamente não foi, mas como ela até não bebeu...

Completou-se assim a terceira presença na Meia Maratona de Coimbra. Infelizmente nunca deu para mais do que uma curtíssimo passeio antes da prova e um almoço sempre na Pastelaria Vénus onde se repõem os açúcares gastos apenas por olhar para a vitrine dos bolos. Seguiram-me mais 200kms de regresso a casa. Coimbra merece um fim de semana prolongado. E merece também uma ida à prova sem ser na antecâmara da Maratona do Porto para poder aproveitar ao máximo a altimetria negativa do percurso e não me retrair no ritmo. Para o ano, talvcz. Veremos. Foi a minha vigésima Meia Maratona e foi o meu quinto melhor tempo de sempre. Aproveitando a descida inicial para embalar e fazendo o resto em "ponto morto". Um dia que lá vá e acelere logo se vê o que acontece. Ou faço um tempo canhão - para as minhas possibilidades - ou rebento a meio e não acontece nada. 

Faltam duas semanas para o grande dia. Senti-me melhor que na Meia da semana anterior, sobretudo na zona intermédia da prova nos locais mais "chatos". Repito aqui o que já disse hoje: estou confiante, mas sem nunca perder o respeito pela distância.

Próxima paragem: Almeirim!

Prova nº 93 - Meia Maratona de Coimbra 2018 - 21km - 01:57:48

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Meia Maratona do IC2

Surreal!
 
Até só ano passado, somando ambas as provas, tinham-se realizado 45 edições de Meias Maratonas das pontes. Nunca tinha sido necessário recorrer ao plano B por questões de segurança. Em 2018 isso aconteceu não numa ponte, mas em ambas. Tenho a sensação que por mais anos que corra isto nunca mais vai acontecer em qualquer das duas provas. Ter que activar o plano de contingência duas vezes no mesmo ano é algo único. E surreal! E eu, tal como muitos outros, teremos um dia o privilégio de dizer que participámos nestas edições "especiais". É claro que hoje ainda estou muito em cima do acontecimento para dizer de caras que "até foi engraçado" mas o certo é que já tenho esse sentimento em relação à prova de Março. 

Não me vou alongar novamente sobre a decisão de adiar a hora de partida das provas. Pessoalmente pareceu-me desnecessário no que diz respeito à Meia Maratona mas percebo que tendo que mudar a hora da Maratona então todo o programa teria que sofrer alterações. O que foi incompreensível foi a ausência de sanitários no IC2, por mais que se diga que não houve autorização da protecção civil para tal. A espera foi bastante desconfortável, não só por isso mas pela falta de espaço. Pelo menos no local em que estávamos inicialmente o aperto era grande.

Após as dúvidas da véspera a vontade de correr não era muita. A manhã já tinha começado atribulada quando um dos colegas da equipa teve que voltar a casa por se ter esquecido do dorsal. E ele até foi o primeiro a chegar à estação. Conseguiu chegar a tempo da prova mas já só o vimos durante o percurso e depois no final. Já no Oriente deu para uma foto de grupo com outros elementos que já lá estavam e que iam fazer a Mini. Votos de boas provas e lá fomos para os respectivos autocarros.

De volta ao IC2 conversava-se sobre provas, tempos, desafios futuros e objectivos para esta prova. Desde 1:30 a 2:30 havia expectativas de tempos para todos os gostos. Eu cá só queria fazer uns segundos abaixo das duas horas. Ir em modo de treino num ritmo a rondar os 5:40/km. Por causa das necessidades fisiológicas o nosso grupo separou-se e deixei de estar próximo do outro colega que também vai ao Porto e que também queria fazer um ritmo calmo. Ele acabou por fazer um belo tempo, sem querer. Eu ainda parti rápido à procura dele mas só o voltei a encontrar a descer o Marquês quando eu subia. Quem eu encontrei mesmo ali ao lado em amena cavaqueira foi a Vonita. Já estava a seguir a conversa dela há algum tempo até que aproveitei um momento oportuno para lhe dar um toque no ombro. Fizemos a foto da praxe e continuou-se em conversa. É tão bom que uma pessoa para cada lado que se vire encontre caras conhecidas. Ivone, espero que a prova tenha corrido bem às estreantes na Meia Maratona!

Parti rápido, mas ao fim de 500 metros tive um contratempo. Um atleta saltou o separador central vindo da outra faixa sem qualquer atenção para quem estava a correr. Para evitar um choque frontal com ele desviei-me, meti o pé na berma e torci-o. Felizmente foi coisa muito ligeira. Nós quilómetros seguintes fui a ver se sentia desconforto mas nunca me doeu nada. O meu receio era que só fosse sofrer as consequências depois de arrefecer, mas está tudo ok.

Apesar do início acima do ritmo pretendido passaram por mim alguns amigos a quem eu prontamente disse para seguirem porque eu estava em modo de passeio. Estabilizei o ritmo e ainda olhei demasiadas vezes para o relógio nesta fase. Depois acabei por só olhar quando ele indicava o ritmo do quilómetro que tinha acabado de concluir.

Fui separando a prova por pequenas metas. Sair do IC2, chegar ao Parque das Nações à separação da Mini, sair do Parque das Nações, Santa Apolónia e a primeira passagem no Terreiro do Paço. Estava mais preocupado em não me aborrecer na zona de Xabregas e Beato do que com a subida ao Marquês. Precisava de estar em zonas com mais público. O apoio era dado por alguns estrangeiros e por muitos elementos do Correr Lisboa espalhados pelo trajecto. Mesmo no Parque das Nações onde havia muita gente a assistir não havia muito apoio, apenas umas palmas circunstanciais. Ao contrário do que é habitual também não ia muito expansivo portanto mantive-me em silêncio. Por acaso do destino acabei por ter direito a claque pessoal quando vi lá ao longe uma cara que reconheci à medida que me aproximei. Era a Agridoce que, curiosamente, estava a fazer um directo da prova naquele preciso momento. Meti logo o meu melhor ar de corredor para a foto e afinal... Que desilusão! 😉

Querem ver a importância que o público tem numa pessoa durante uma prova? Não fazia ideia que ela estaria por ali - eu até podia ir mais próximo do outro lado do passeio e nem a encontrar - mas assim que passei por ela comecei a imaginar na minha cabeça mil e uma teorias. Será que x? Ou y? Querem ver que z? Corri grande parte do abecedário para descobrir ao fim do dia que estava enganado e todas as minhas teorias, inclusive teorias da conspiração, estavam erradas! Não faz mal! Enquanto pensava nisto passaram-se uns bons três ou quatro quilómetros sem eu dar por isso! Obrigado, já cheguei a meio da Meia.

Confesso que nos quilómetros seguintes tive uma espécie de apagão. Estava em piloto automático e não me lembro de quase nada. Apenas de agarrar umas quantas embalagens de gel num abastecimento - e confesso que não gostei muito dele - para além de estar sempre a trocar de garrafa de água, sendo isso também parte do treino para a Maratona. Parei uns segundos onde havia isotónico para beber sem me entornar e/ou engasgar todo. Lembro-me de ver o Panteão lá ao longe, eventualmente mais próximo até deixar de o ver. Estava ansioso por chegar a Santa Apolónia porque depois até ao Terreiro do Paço era um tirinho. Tantas vezes que já fiz o percurso inverso nas minhas caminhadas por Lisboa naquela zona, ontem era dia de o correr em sentido inverso.

Ao avistar a Praça do Comércio renasci na emoção e a primeira coisa que fiz foi - acertaram - pedir barulho ao público. Mas barulho a sério, palmas e tudo aquilo a que temos direito! Esbracejei como nunca e tive muito retorno! Estava na minha praia. Isto sem pessoal do lado de fora não tem piada. Não vou dizer que ganhei forças onde já não as tinha, porque na realidade eu não ia cansado, mas ganhei um ânimo para os quilómetros finais. Ao meu lado um atleta dizia que "agora é que vão ser elas!" Lembro-me de lhe responder que "Nem pensar, agora vem a melhor parte da prova! Vamos até ao Marquês festejar e depois festejamos outra vez na meta!"

Não era, mesmo, a subida que me preocupava. Chateia-me mais o empedrado, por exemplo. Como nestas coisas parece estar tudo feito à medida, a banda no Rossio tocava o Final Countdown quando passei a subir. (E o Highway to Hell quando desci. Pensando melhor, perfeito tinha sido ao contrário!) De por mim a cantar o refrão enquanto ia por ali acima e aproveitei também para ver quem vinha a descer no único ponto de retorno. Caraças, fizeram-me falta os retornos, pá.
 
Subi nas calmas. Vendo o ritmo depois até achei que não subi nada mal. E depois desci a todo o gás. Pelo menos com todo o gás possível ao fim de tantos quilómetros. E bom, foram os mais rápidos da prova. Um sprint final já na recta da meta e assunto encerrado. Medalha ao peito, grupo reunido novamente, gelado na mão, fotografia final e... caminhada rumo a Santa Apolónia para apanhar o comboio. Ainda deu para apoiar alguns atletas menos rápidos mas que estoicamente lutavam para completar a prova. E deu para me cruzar com a Inês e com o grupo de camisolas amarelas que iam com ela numa bela missão de amizade.

No comboio procurávamos saber resultados de amigos, resultados oficiais dos profissionais. Celebrávamos a estreia na distância de um companheiro de muitas lutas e que estava ali connosco. Foi uma longa aventura. A ida até à partida e a espera pelo início da prova duraram mais tempo que a Meia Maratona em si. Passei o resto da tarde a dormitar várias sestas e no intervalo delas espreitava as redes sociais que estavam cheias de medalhas, dorsais, fotos e textos de felicidade.
 
Mais um passo rumo ao Porto, rumo ao que o futuro trouxer!
 
Próxima paragem: Meia Maratona de Coimbra!
 
 
Prova nº 92 - Meia Maratona Ponte Vasco da Gama 2018 - 21km - 01:59:52



terça-feira, 11 de setembro de 2018

O regresso às Lampas

"O que eu não gosto mesmo nada são aquelas provas em que passamos pela meta a meio do percurso e ainda temos que dar uma grande volta até terminar."
"Mas esta é uma dessas provas. Passamos pela meta aos 13km e depois ainda temos mais oito até chegar ao fim! Não sabia?"
"A sério? Ah não, é que eu é a primeira vez que venho e não vi o percurso."

Esta conversa aconteceu entre duas atletas a meio da subida por volta do quilómetro 4. Na verdade, eu já tinha reparado na atleta que iniciou esta conversa porque tinha passado por ela na subida anterior e ela ia a andar. Dei-lhe um toque nas costas, desejei-lhe força e ela disse que estava tudo ok. Na descida seguinte ultrapassou-me novamente em alta velocidade e instantes depois era isto que relatei. Eu sou muito picuinhas com os percursos das provas, gosto de saber ao que vou. Se é a primeira vez tento ver com algum detalhe aquilo em que me vou meter, se estou a repetir então vejo com atenção o meu desempenho anterior.

Se eu acho que nesta fase do mundo em que vivemos, onde a informação está ao alcance de um ou dois clicks, é absurdo ir para uma prova sem ter o mínimo de noção do trajecto e da altimetria, então quando se trata de uma prova como a Meia Maratona das Lampas isso é imensamente pior! Não estamos a falar de uma prova qualquer, é "apenas" uma das Meias de estrada mais exigentes do calendário. E nem sequer é uma prova recente e desconhecida, já tem a bela idade de 42 anos! Mesmo antes da partida os atletas foram avisados pelo speaker para fazer uma boa gestão de esforço e para não nos deixarmos embalar logo de início. Não sei que tempo final fez e se chegou bem ou se terá cedido à tentação de desistir à passagem pelos 13km. Espero obviamente que esteja bem! (Entretanto já saíram as classificações e penso que encontrei a atleta, que terminou com um tempo semelhante ao que eu fiz nas Lampas há dois anos.)

Tendo em conta que fui sozinho e cheguei cedo, tinha tanto tempo para queimar que até me dei ao luxo de mudar o carro de parque de estacionamento. Foi de forma muito preguiçosa que me fui terminando de equipar e dei um curto passeio por São João onde me fui começando a encontrar com alguns amigos. Estava super tranquilo e assim estive durante toda a prova. Quando começou, deixei-me ir. A ideia era fazer a prova a um ritmo de 6:00m/km e, sobretudo, fazer melhor que as 2:16 de... 2016.

Tive que meter um travão ao fim dos dois primeiros quilómetros porque já ia em excesso de velocidade. Era o ímpeto inicial que me iria levar ao cansaço num ápice, mas rapidamente medi um ritmo mais apropriado com o percurso e o carrossel inicial ajudou-me a fazer isso. Cheguei então à tal atleta e não podendo fazer muito mais para a ajudar, fui seguindo ao meu ritmo. Nesta fase fiquei também sem música porque o auricular ficou sem bateria. Paciência, mais disponibilidade tinha para meter conversa com quem me rodeava dentro e fora do asfalto.E se do lado tos atletas as subidas tiravam grandes hipóteses de conversa, do lado do público muitos eram os que nos batiam palmas quer por iniciativa própria, quer a pedido.

Foi pelos 6kms que comecei a seguir um pequeno grupo que ia mesmo por ali à minha frente. E um dos elementos era uma espécie de... eu! A cada grupo de espectadores que via, puxava por eles, pedia palmas, metia conversa, dizia uns disparates. E eu logo ali atrás não podia fazer o mesmo senão estava copiá-lo. Ora, se não os podes vencer, junta-te a eles. E foi uma companhia fantástica até perto dos 10/11kms. Sempre na palhaçada e na galhofa, a prova foi-se fazendo com uma alegria imensa. E é assim que eu gosto de estar na estrada: alegre! Nem se dava pelo tempo passar, falava-se do jantar que o esperava, das minis que ninguém nos oferecia à passagem pelos cafés, das subidas que continuam fortes e não baixam por mais que uma pessoa as vá calcando ao longo do tempo e da promessa de que se estivermos lá para o ano é porque estamos vivos. E nisto, numa subida, uma senhora ultrapassa-nos a todo o gás e eu digo que enquanto nós estamos na parvoice os atletas a sério estão a dar-nos uma abada! Ela riu-se e ficou por ali comigo, porque entretanto o meu parceiro de conversa disse que ia abrandar e mandou-nos seguir caminho.

Este companheiro de circunstância chama-se Fernando. Nós temos um Fernando na equipa que é exactamente igual em termos de convívio e diversão. O Fernando que conheci ali fez-me lembrar o Fernando que já conheço há alguns anos. Descobri que ambos são amigos nas rede sociais!

Seguindo, tinha agora uma nova parceria para continuar a prova. Descobri que ela também não conhecia o percurso, mas como ia fazer a Meia Rampa estava quase a acabar. Fomos juntos mais um quilómetro, altura em que continuei viagem e lhe desejei um bom fim de prova. Ao mesmo tempo lembro-me de me meter com um grande grupo de miúdos que estavam à beira da estrada a recolher high-5s e disse-lhes que para o ano eram eles a correr. Riram-se. Muito. Não sei porquê.

Ao chegar a São João das Lampas ia a sentir-me muito bem, com algum cansaço acumulado mas nada que me estivesse a desanimar. Lembrei-me então que tinha combinado comigo mesmo tomar um gel nessa altura e assim o fiz. Ia no encalce de nova companhia e tinha duas camisolas amarelas à frente: uma virou para a meta da Meia Rampa e a outra seguiu para os 21km mas voltou logo para trás. Penso que terá desistido e espero que esteja bem. Foi nesta altura que eu pensei na minha prova de 2016 e em como a partir daquele momento as coisas começaram a piorar.


Na verdade, começou a piorar aos 15km onde a subida é pouco acentuada mas constante. No sábado estava bem e não ia quebrar. A partir da passagem pelos 13km meti um objectivo meio parvo na cabeça, mas que terá funcionado: não podia ser ultrapassado por nenhum atleta! E assim aconteceu!

Devo ter ganho uns 30 lugares na geral nestes 8km finais. As contas da classificação apontam para isso e confirmam que fui fazendo uma corrida de trás para a frente. A certa altura estávamos já tão espaçados que não tinha ninguém à frente num raio de talvez 300 metros. E quando olhei para trás também não tinha ninguém por perto. Pensei que era algo semelhante que deve sentir quem vai a liderar uma prova e agarrei-me a esse bom feeling para continuar. E senti que estava a ultrapassar-me a mim mesmo e a deixar claramente para trás a prova de 2016.

Já nem precisei de tomar o segundo gel. Agora quem me dava força era o público a quem eu pedir para bater palmas sem parar e eram os próprios atletas que eu estava a ultrapassar. Eu desejava-lhes força e eles incentivavam-me a continuar. "Vais bem, segue!" "Continua, não pares!" "Aguenta assim até aos 20km, o último é sempre a descer!" foram algumas das coisas que ouvi, juntamente com um "És o maior!" que não percebi se veio de um atleta ou do público numa altura em que pedi para fazerem barulho. Acabo este parágrafo e vou deixar de me vangloriar, mas foi o meu momento de consagração pessoal. Uma espécie de karma. E a prova de que na cauda do pelotão também somos todos campeões à nossa maneira e até temos mais tempo para desfrutar do bom ambiente.

Faço aqui um reparo: fui ultrapassado sim! À entrada para o último km ouço alguém atrás de mim a dizer que já ia quase com 42. Anos de idade? Não, quilómetros feitos. Descobri que um grupo de, salvo erro, quatro atletas partiu às 15:00 para fazer uma primeira volta ao percurso e fez a segunda volta durante a prova. Sim, fizeram os 42km das Lampas na 42ª Edição. Excelente iniciativa! E foi aquele atleta, com o dobro da distância corrida, o único que me passou nos tais 8km finais... Espectáculo!

Com a meta à vista e com a descida a ajudar acabei a prova estupidamente feliz. Nem sequer consegui manter-me dentro da média que pretendia, falhei esse objectivo por pouco, mas isso não interessava. A prova estava feita, peguei na medalha, larguei um até para o ano e agarrei-me à melancia do abastecimento final. Só faltou a massagem, mas estava uma fila gigantesca. Alonguei, ainda vi amigos e conhecidos subirem ao pódio, estive um pouco à conversa e regressei a casa. Feliz.
Muito feliz. A 13 de Março, no rescaldo da Meia Maratona de Lisboa escrevi:

"E se a ideia é apagar resultados menos conseguidos do passado, então alguém avise a Meia das Lampas que em Setembro conversamos."

Pronto, estamos conversados! Hei-de voltar às Lampas para ver se também esta Meia passa a ter aquele rótulo de duas horinhas que eu digo sempre que parto para mais uns 21km. Ou para me rebentar todo e dar o litro e meio na Meia Rampa.

Próxima prova: Meia Maratona Ponte Vasco da Gama (vivam os passatempos!!!)

Prova nº 91 - Meia Maratona de São João das Lampas 2018 - 21km - 02:08:38

  

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Desempate no Douro Vinhateiro

"Eu vou devagarinho, vou só para curtir a vista e ficar a conhecer o percurso. Vamos todos juntos e fazemos 1:40." - foi este o mote dado pelo nosso amigo e colega de treinos que é uma flecha. 

"Isso são mais de 15 minutos abaixo do meu record pessoal (1:57:08 - Coimbra 2017), nem penses nisso." E nem a mudança de planos para 1:50 me convenceu, se bem que ele tinha razão quando dizia que às vezes é preciso um empurrão extra para sair da nossa zona de conforto. "Eu quero ir a 5:30m/km, tudo o que for abaixo disso é lucro." - rematei minutos antes da partida.

Meus caros, eu estava empatado com esta prova e hoje era o dia D, de desempate. E não ter treinado nas duas semanas anteriores não era grande augúrio, pois não? Pois. Andar com desarranjo intestinal desde a madrugada de 4a para 5a também não foi fixe. Em cima da barragem do Bagaúste sentia o Flipbelt a pressionar-me essa zona... e ter que me colocar de cócoras para voltar a apertar os atacadores dos ténis também não ajudou. Felizmente esqueci-me disso assim que tudo começou.

O pré-prova foi muito porreiro, sempre em excelente companhia e só por causa disso já estava a prova ganha. Obrigado pela companhia, do fundo do coração! Uma viagem longa mas que vale sempre a pena fazer quando vamos bem acompanhados.

Já na 6a tentei combater a coisa é acabei por ter uma pasta party caseira. A oficial foi no sábado à noite e foi muito melhor que a do ano passado. Na Régua, inspirados pelo tal colega que só ia passear, a coisa teve Favaios em dose dupla, já depois de ter tido paragem obrigatória pelo Bar 21 com um copo de branco. Isto explica a razão pela qual eu ainda sinto a boca seca. 
 

 
 
Voltando atrás, é por causa destes momentos que vale a pena fazer estas aventuras.
Por falar nisso, assim que entramos no secretariado para levantar os dorsais, quem é que eu encontro? O André, cuja página e desafios tenho andado a seguir desde o seu início. Reconhecemo-nos quase imediatamente e percebemos que ambos íamos à pasta party, portanto havíamos de voltar a falar.

Pasta Party caseira com massa integral na 6a

Pasta Party oficial no sábado

Dorsais levantados, "login" feito no hotel e regresso ao Museu do Douro para o jantar. Ao entrar descobrimos que ainda estava menos gente que no ano passado, mas que o espaço estava mais requintado. E a refeição não desiludiu. Estar pouca gente até foi melhor, foi tudo tão tranquilo que era o que estávamos todos a precisar depois da longa viagem. E já estava o André a a Sofia, com quem estive à conversa. Foi um prazer conhecê-los e ter a oportunidade de transportar para a "vida real" esta malta com quem comunicamos apenas atrás de um teclado vale muito, porque são estas as medalhas e os recordes que ficam. E percebemos que no dia seguinte tínhamos autocarro marcado para a mesma hora. E, sem combinar, lá nos encontrámos à hora prevista.  

Houve Favaios, disse eu. A meio da tarde com cerveja depois de levantar os dorsais e depois de jantar como digestivo com o café. A malta abusou? Diz que sim, um bocadinho, mas a ideia era fazer da prova uma festa e estávamos rodeados de muitos amigos.

 
Este ano mudámos de Hotel - a primeira opção era o Columbano, mas o meu colega que tratou disto já tinha estado no Império Hotel. A escolha foi óptima, sobretudo pela proximidade da estação da Régua, local da partida dos comboios e autocarros. A noite passou depressa e nem sequer senti que tivesse dormido tão bem quando gostaria, mas acordei tranquilo, com aquela calma de "Este gajo sempre que diz que vem sem pensar em tempos faz sempre grandes resultados!" e foi assim que cheguei ao pequeno-almoço, não sem antes decidir à última da hora que não ia levar música. Dali até à Barragem do Bagaúste foi um tirinho, já com a equipa toda reunida. Felizmente optámos por partir mais tarde que em 2017 e assim o tempo de espera antes da partida foi menor. Após a típica separação da Mini e da Meia, estávamos todos nos locais certos para partir para as nossas provas. E nós estávamos bem mais à frente do que o habitual, o que vinha dar alguma razão à nossa ideia que estaria, possivelmente, muito menos gente este ano. É que na noite anterior o ambiente na cidade era quase inexistente, pelo menos na zona onde andámos. A chuva que começou a cair de forma acentuada e a final da Champions League explicavam tudo?

E se chovia na noite de sábado, a manhã de hoje acordou encoberta mas durante pouco tempo. O calor já se fazia sentir e eu estava todo contente, apenas pelo facto de poder justificar a minha nova aquisição e que ia estrear na prova: um boné de corrida! Eu sei experimentar coisas novas em dia de prova é um erro, mas como nesta semana não treinei (novamente) não tive oportunidade de o testar. Passou no teste com distinção, já agora.

Então e vamos correr? Vamos a isso. Sempre a 5:30m/km ou um pouco menos, se possível.
A prova para mim tem três partes: da Barragem até ao retorno, do retorno até à Barragem, da Barragem até à Meta.
 
O começo é sempre um momento onde tentamos ganhar a melhor posição no pelotão. Rapidamente perdi de vista os restantes elementos da equipa. Vi a flecha ir lá para a frente, pelo menos um colega ir com ele e os restantes teriam ficado para trás. Sem música, sem companhia conhecida, mas no meio de muitos atletas fui tranquilo, ao ritmo que a tabela mostra. Fui fixando outros companheiros de pelotão que também iam por ali ao mesmo ritmo e ia apreciando a paisagem. Tranquilidade era mesmo a palavra de ordem e os quilómetros iam passando com o relógio a dar-me boas notícias. A prioridade era mesmo refrescar-me e apanhar água em todos os abastecimentos porque o calor apertava a sério. Deixei-me ir quase sempre com as mesmas caras e camisolas por perto até começarem a passar os primeiros atletas vindos do retorno: primeiro os da prova de 21km em cadeira de rodas e depois os nossos onde eu procurava encontrar as caras conhecidas da equipa e não só. Não vi todos, nem todos me viram, mas é sempre dos momentos que me permitem esquecer algum eventual cansaço que, na altura, não sentia.

Logo após o retorno passei um dos meus colegas que me pareceu ter quebrado muito cedo - e comprovei isso pelo tempo final. Dei-lhe umas palavras de força e continuei. Chego ao décimo quilómetro exactamente com 55:00 marcados no relógio. Ritmo perfeito para o que queria, mas agora era preciso manter na segunda-metade-mais-o-km-final. Tomei o gel conforme planeado e o André passou por mim. Estes quilómetros do 11 ao 15/16 até regressar à Barragem são sempre os mais difíceis para mim psicologicamente e eu já estava a sentir que estava a ficar desgastado, mas seguir a poucos metros dele e ir mantendo o ritmo e a distância estavam a ajudar-me. O Strava explicou-me entretanto a razão pela qual achei que estava a custar-me mais fazer esta parte. Vejam lá bem. Confesso que no fim não sei se lhe agradeci ter sido a minha lebre sem saber, mas se não o fiz hei-de fazê-lo. Nem quis olhar muito para o relógio nesta fase porque tive receio de ver a média a piorar e isso ia deixar-me desanimado. Afinal...
E chegou o quilómetro 16 onde a coisa piorou... Perante a promessa de água fresquinha - o resto daquela que levava comigo estava quente - fiquei atento ao momento do abastecimento, mas a loucura para as garrafas era imensa. Acabei por ter que optar pelo Red Bull e no meio de tantos copos agarrei... numa lata! Que estava quase cheia. E super fresca! Tentei beber em andamento, tal como já tinha conseguido fazer com o copo de Isostar uns quilómetros antes sem ter que abrandar muito, mas engasguei-me ao primeiro gole, ao ponto de outro atleta se ter assustado e me ter logo perguntado como estava e recomendado cuidado. Parei uns 20 segundos, bebi e segui. Gostava de ter levado água para o resto da prova, mas paciência.

Era a entrada na última etapa. Nesta paragem perdi de vista o André, mas estava novamente com outro grupo que já me tinha acompanhado durante largos metros antes. Não fiquei ali muito tempo e zarpei para tentar recuperar os segundos perdidos. Acelerei tanto que quando dei por mim ia abaixo de 5:00m/km. Aguenta os cavalos, rapaz, que não consegues fazer isso até à meta. Estabilizei aos 18km, na tentativa de perceber se aquela paragem seguida de um esticão tinha feito estragos. Achei que tinha, ao ponto de me ter baralhado a matemática. E na viagem de regresso a minha malta mais próxima ainda gozou comigo porque eu sou certinho nestas coisas e, por alguma razão, naquele quilómetro achei que a continuar a um ritmo de 5:30 ia acabar com 1:58, algo longe do objectivo que tinha. Não sei que contas fiz, não faço ideia. Fiquei com isso na cabeça e pensei que fazer menos de duas horas é sempre um resultado simpático e ficava satisfeito na mesma. Entretanto vejo ao longe a Lúcia, de quem já aqui vos falei e que encontro sempre nas provas da Running Wonders. Decidi que a ia tentar apanhar e eventualmente fazer aqueles últimos quilómetros com ela. Trocámos umas rápidas palavras, percebi que eu ia com melhor ritmo e segui com a promessa de falarmos melhor no final. Estava finalmente na ponte pedonal que nos leva a entrar na Régua e perante o maior número de espectadores comecei a puxar por eles e a dar cinco a quem esticava a mão. A Lúcia passou-me mais ou menos nessa altura. Teria ido buscar forças para o quilómetro final, talvez. Disse-lhe para dar tudo até à meta que tínhamos tempo para descansar depois. Já só a vi logo a seguir à meta. Chegada ao quilómetro 20. E o relógio marcava 1:48 e qualquer coisa e... espera lá! Se é assim afinal estou melhor do que tinha pensado! Pernas para que te quero. Agora as contas eram fáceis, tinha que fazer o último quilómetro-mais-quase-cem-metros em seis minutos. Entrei em modo "faca nos dentes e coração na boca" mas aquela recta até à meta parecia interminável, mesmo comigo a tentar abstrair-me de tudo e a continuar a pedir apoio ao - cada vez mais - público. Foi brutalmente importante ver a nossa dupla da Mini ali no passeio próximas dos metros finais para dar aquele boost final e com tudo o que tinha e não tinha acabei e parei o relógio com 1:55:03! Gritei de alegria ao mesmo tempo que pensei "Estúpido, menos quatro segundos parado e era épico!"

Medalha na mão, ergui-a ao alto e fotografei na minha memória aquele momento só para mim. A não ser que alguém o tenha capturado em imagem, mas penso não haver fotógrafos naquela zona híbrida depois da meta e antes dos stands. Foi com muita alegria também que comecei a ver colegas e amigos - Sofia e André novamente incluídos neste lote - e que a malta da equipa estava prontinha a pedir cervejas. Não vos digo quantas bebi antes de irmos embora de regresso ao hotel.

Prova concluída e sim, record pessoal batido no Douro Vinhateiro pelo segundo ano consecutivo. Estou a ganhar 2-1. De volta ao hotel era hora de aproveitar o late check-out para tomar banho antes de se pensar num sítio para almoçar. O anho estava muito bom e foi regado com vinho tinto, que até é coisa que eu não costumo beber. À mesa conversava-se sobre a prova e dava uma preguiça aliada a uma vontade imensa de ficar mais uma noite. Repete-se a promessa de voltar noutra altura fora da prova para apreciar ainda mais e melhor aquela zona lindíssima do nosso país. E a promessa de regressar em 2019, naquela que é uma das duas provas - a outra é o Fim da Europa - onde eu disse que só ia uma vez para ficar a conhecer e onde já marquei presença pelo terceiro ano consecutivo. Curiosamente no restaurante estava alguém com uma camisola do Fim da Europa misturada com várias outras do Douro Vinhateiro. Agora comparem os slogans e vejam lá se não faz sentido.

Corrida Fim da Europa - "Dificilmente haverá corrida mais bonita"
Meia Maratona do Douro Vinhateiro - "A mais bela corrida do mundo"

Deixo-vos só com mais umas fotos, antes de perceberem a razão pela qual dei um salto de alegria ainda maior do que na meta quando já estava em casa, de pijama vestido, e abri o site das classificações.









Prova nº 87 - Meia Maratona Douro Vinhateiro 2018 - 21km - 01:54:56

Yesssssss!!!!! Tempo oficial dentro do minuto 54!!!
E alguém ainda se lembra que eu andei - e ainda ando ligeiramente - com desconforto intestinal? É que nem eu me lembrei (excepto em cima da barragem), a avaliar por tudo o que comi e bebi neste fim de semana!
Acabaram as provas em Maio. A próxima será apenas nas Fogueiras, em Peniche. Agora já posso pensar nos planos de 5a feira e nos outros que estamos a preparar internamente.