segunda-feira, 22 de abril de 2019

Antes só vinho que mal acompanhado

"Cesto!!!" - gritaram os 5 ou 6 miúdos que estavam a aplaudir junto ao caixote do lixo após o habitual abastecimento de vinho tinto durante a prova. Pois que este ano o copo até estava muito cheio e eu parei e bebi-o todo de penalty antes de o atirar com convicção lá para dentro sem ter noção que tinha público a observar-me. Arrependi-me logo a seguir porque até me custou a respirar quando voltei a correr. Não faz mal, ir à Scalabis e não beber vinho é como ir a Roma e não ver o Papa. Festejei com eles e com aquela família toda e segui viagem pelas ruas de Santarém, onde me sinto sempre muito bem a correr.

Dou um salto rápido até à meta: foi a minha pior Scalabis das quatro que já fiz, mas se alguém me tivesse dito antes da prova que eu ia fazer abaixo dos 52 minutos eu assinava logo por baixo e ia beber copos para a Taberna do Quinzena em vez de correr.

E agora volto atrás, que isto é um recurso de estilo muito usado na literatura e fica sempre bem. Este ano éramos seis atletas presentes em Santarém. O dobro do ano passado, mas metade dos que já fomos noutros anos. Esta contabilidade, no fundo, apenas serve para encher mais um parágrafo do texto e para parecer que escrevi muito.

Fomos cedo, como bem gostamos, para sentir a cidade, o espírito da prova, para levantar os dorsais nas calmas, passear um pouco, comer e beber e apoiar a malta da caminhada antes de nos equiparmos para a nossa epopeia. E foi isto.






Infelizmente o lanche ajantarado caiu mal a uma das nossas colegas e a prova dela acabou por não correr de forma tão agradável como esperado. Um pequeno contratempo que espero não lhe retire a vontade de voltar porque tudo o resto correu às mil maravilhas, entre convívio e fotos e mais convívio. É que para além do abafadinho na TasCá (nome mais original de sempre para uma tasca) havia sobremesa e mais umas coisinhas para encher o copo na mala de um dos carros. Como no caminho nos juntámos a outra equipa de amigos, a festa foi a dobrar. Já nem era preciso correr, realmente.

Se há coisa que eu não gosto de fazer é aquecer antes das provas. Um misto de preguiça com uma desculpa esfarrapada que me vou cansar ainda antes de começar a correr... Mesmo assim ainda fui puxado para um aquecimento e uma corridinha ligeira até ter parado num banco junto da ET. Lá ao fundo vejo duas figuras a acenar na nossa direcção. Pitosga como sou - e ainda por cima à noite - não tinha a certeza se era para mim. Pareceu-me reconhecer a Agridoce, mas quem raio estava ao lado dela? Era a Fabiana, descobri eu quando elas vieram ter connosco, provavelmente por terem achado que estavam a acenar para o boneco. Gostei imenso de vos ver e de falar um pouco das nossas aventuras deste fim de semana. Obrigado por todas as dicas sobre Madrid!

E sim, depois houve mesmo uma corrida. Lá fui eu para um bloco de sub-50 que já sabia que não ia conseguir atingir no final, mas não estava preocupado com isso. Queria era chegar bem e pronto. O percurso foi aquele que já conhecíamos, com uma ligeira alteração porque passámos na rua ao lado da meta em vez de passar por baixo do pórtico após completar uma pequena volta inicial. Depois foi o normal com a passagem por vários sítios emblemáticos da cidade - para além do abastecimento de vinho, o tal aos 3,5km.

Até essa altura estava a conseguir manter um ritmo a rondar os 5:00/km e decidi continuar para ver até onde aguentava. Foi até ao vinho. Depois disso acabei por baixar o ritmo e penei ali um pouco até meio da prova e só após os 5km consegui voltar a sentir-me bem. Ter tomado um gel nessa altura pode ter ajudado, nem que seja psicologicamente. O que sei é que raras foram as vezes em que olhei para o relógio e lembro-me de o fazer exactamente a meio porque dois atletas atrás de mim estavam a questionar-se quanto tempo estariam a fazer à passagem pela placa. 26 minutos, disse-lhes eu.

Na segunda metade senti-me verdadeiramente tranquilo e bem. As subidas não me incomodaram propriamente, não senti cansaço e mantive-me sempre satisfeito com aquilo que estava a fazer. Entrei em modo cruzeiro até ao final enquanto ia olhando em redor à procura de caras conhecidas tanto do meu lado como do outro lado da estrada nos retornos. Entrando no último quilómetro aumentei novamente a velocidade, sobretudo ao chegar à meta e apanhar novo banho de gente e algum apoio de colegas que já tinham terminado. Ter olhado para o cronómetro também ajudou, para ficar abaixo do minuto 52.

A prova estava longe de estar concluída. Voltei atrás, mas antes disso perdi-me em (mais que) dois dedos de conversa com um grupo de amigos de outra equipa. Um deles pegou no filho e ia também regressar para trás para ir buscar a mulher que estava a completar os seus primeiros 10km. No meio da distracção, esqueci-me de meter o relógio novamente a contar mas percebi que fiz mais 5km de descompressão neste momento de "ninguém fica para trás". Enquanto ainda não tinha encontrado a ET - que na altura já estava acompanhada pelo gajo e por outro colega nosso - uma atleta ainda em prova meteu-se com a amiga do lado que tinha parado para alongar, mas a falar sobre mim:

"- Olha este filho da mãe já acabou! E aposto que já comeu a bifana também!"
"- Já acabei sim, mas ainda não comi nada! A prova só termina quando a equipa toda passar a meta!"
"- Maravilha, é isso mesmo! Então vai até lá atrás e pergunta pela Luciana que nós estamos à espera dela!"
"- Oh LUCIAAAAAAAAAAAAAAAAAAANA!!!"

E foi isto. Aparentemente ela estava mesmo ali ao pé. E logo a seguir vinha a ET e a sua guarda de honra à qual eu me juntei. Aproveitei para comentar com a tal atleta: "Olha, estes dois também já acabaram!" Ela continuou a chamar-nos filhos da mãe, mas sem malícia, sempre com boa onda e seguimos mais ou menos em grupo até perto do final.

Era um momento importante para a nossa extra-terrestre - que ainda não escreveu o seu relato da prova! - e já dentro do quilómetro final estávamos os seis a correr juntos até ao final. Descobri entretanto que eu fui o único a passar a meta com ela porque o resto da malta encostou às grades e saiu antes. Foi (mais) uma chegada simbólica, das muitas que já temos tido ao longo destes anos. Outra para ficar guardada no baú das memórias!

Bifaaaana! Imperial, pampilho! Vamos a isso!
Na verdade, nunca tenho muita fome depois das provas, mas soube mesmo bem! Inventámos uma mesa e ficámos a reviver a prova que tínhamos acabado de fazer até se levantar um vento muito frio que nos fez querer regressar depressa aos carros. O rescaldo era bom, com o Gajo a ter batido o seu record aos 10km com uma marca que ele já andava a perseguir há algum tempo. Agora temos ambos o nosso melhor tempo na distância em Santarém!

Pelo caminho, nova prova que eu não posso sair de casa em dias de corridas...
"N.!"
"N. sou eu e vou-te cumprimentar mesmo sem te conhecer!"

Era uma escalabitana que me reconheceu de um grupo em que ambos estamos ali na rede social onde já tinha perguntado se alguém ia marcar presença. Eu acusei-me e no meio de tanta gente ela conseguiu descobrir-me naquela altura.

E pronto, tudo actualizado, finalmente. Só falta meter aqui o meu histórico da prova.



Agora venha de lá Madrid...!

Prova nº 108 - Scalabis Night Race - 10km - 00:51:57


De mãos dadas rumo ao futuro

"Força Nuno! Actualiza o blog!"

Corria o quilómetro 16 quando sou interpelado por um atleta que me dirige estas palavras. Fiquei um bocado aparvalhado, não o reconheci imediatamente, mas ele fez questão de se apresentar logo de seguida. (Olá Edgar! Obrigado!)

Depois do sucesso que foi a nossa participação nesta prova no ano passado, regressámos em força com um total de 26 atletas em competição - eu e outro colega nos 20km em linha e os restantes em várias equipas da estafeta, naquilo que foi uma fantástica demonstração de espírito de equipa a todos os níveis. De referir que ainda me lembro de estar no serão de dia 30 de Dezembro a organizar as equipas e as inscrições para aproveitar o preço inicial. E estava cheio de medo de acontecer o que se passou em 2018 com várias lesões e impedimentos de última hora que obrigaram a fazermos algumas trocas de elementos. Se com 3 equipas já não era fácil coordenar eventuais trocas, imaginem com 6!
Felizmente poucos foram os colegas a precisar de serem substituídos e tudo se resolveu com relativa calma.

No dia da prova estava tudo pronto no ponto de encontro. Apenas um atleta não compareceu, mas avisou com antecedência, pediu para deixar o kit na pastelaria onde nos juntámos e ele haveria de lá passar antes de rumar ao Estoril para ser o primeiro da sua equipa da estafeta. De referir que quando eu parti para os 20km, ainda não o tínhamos encontrado por lá e um dos momentos mais felizes da minha prova foi quando vejo o terceiro elemento daquela equipa a passar por mim em alta velocidade rumo à passagem de testemunho dos 15km. Era sinal que ele tinha aparecido e que estava tudo ok!

A partida dos 20kms deu-se com algum atraso, quase dez minutos depois da hora, o que fez com que ao fim de poucos quilómetros já o primeiro classificado das estafetas tivesse passado por mim. Quem também passou por mim ainda antes dos 5km foi o nosso primeiro atleta da equipa mais rápida. As minhas contas diziam-me que eu chegaria à primeira passagem de testemunho antes disso acontecer, mas a diferença nas partidas foi apenas de 5 minutos em vez de 15 portanto fui rapidamente apanhado, que isto de correr a ritmo tranquilo a rondar os 5:30/km não se compara com as flechas da equipa que terminou a estafeta com um ritmo final de 3:55/km! Que brutalidade de flechas!

Sabia que a prova começava logo a subir - nos meus ouvidos ainda estavam as queixas de quem no ano passado fez o primeiro percurso - e que ao longo da Marginal iria encontrar algumas outras subidas difíceis. Na minha mente ia distraído pela calma que a paisagem do meu lado direito me transmitia e pelo imaginar do que estaria a ser a festa do pessoal nos pontos de passagem de testemunho. Ia embalado como fui na Meia Maratona de Cascais e tudo isso ajudava-me a esquecer que fazer aquele trajecto numa Maratona de Lisboa tem certamente outra dureza. O que é certo é que cheguei ao fim e não senti que as subidas fossem assim tão aterradoras. Difíceis sim, mas não temíveis. Até me deu a sensação que fiz grande parte da prova a descer.

Como era de esperar senti nas pernas o peso da falta de treinos decentes. Ali algures depois dos 10km notei que tive que abrandar um pouco o ritmo e fui-me juntando a outros atletas que senti que estavam sempre por ali por perto naquelas companhias de circunstância. Não tendo metido conversa com ninguém, era agradável ter pessoal por ali. Para além disso, de 5 em 5 quilómetros era uma festa porque ainda apanhava colegas da estafeta à espera de entrar em acção. E assim fui indo rumo a Belém.

O último trajecto foi um misto de emoções. Para além da aparição surpresa do Edgar que tinha feito o segundo percurso da estafeta e seguiu até à meta, tive algum pessoal que já tinha terminado a prova e vinha em sentido contrário a cumprimentar-me pelo nome. Alguém que eu conhecia ou era por causa do dorsal? Não sei, não reconheci ninguém, mas é sempre agradável. Para além disso uma das nossas atletas lesionadas fez questão de aparecer e estava por lá a tirar fotos. Foi aos 17,5km que senti necessidade de caminhar um pouco. Queria ter feito tudo sem parar, mas não deu. Paciência. O mesmo aconteceu um quilómetro mais tarde, mas logo a seguir retomei a corrida até ao final sendo que tive escolta de honra no último quilómetro porque em sentido contrário vinham uns quantos colegas de equipa (as flechas e não só...!) que me escoltaram até à curva final antes da meta. Muito obrigado pessoal, foi o boost que eu precisava para concluir a prova, num tempo muito semelhante ao que fiz nos 20km de Almeirim em 2018, naquele que foi na altura o último treino longo antes da Maratona do Porto. Nota: o meu melhor tempo numa meia maratona continua a ser melhor que o meu tempo em provas de 20km.

Depois de terminar veio o habitual cumprimento a vários amigos deste mundo com quem ali me cruzei. É sempre um prazer ver caras conhecidas e trocar dois dedos de conversa. Aquilo que acabei por não fazer foi voltar atrás para ir ter com a ET que iria fechar a nossa última equipa.  Eram mais uns quantos quilómetros neste treino longo. Quando consegui respirar um pouco estavam a chegar outros elementos da equipa, tanto os que estavam a fazer apenas a última parte da estafeta como outros que começaram há 15 ou 20 quilómetros atrás e seguiram até ao final. Foram todos fantásticos, sem dúvida! Até que chegou a nossa ET, muito bem acompanhada e quando passou por mim agarrou-me pela mão e só a largou metros antes da meta. Se há alguém que me tem dado uns calduços reais e virtuais na tentativa de me tirar das areias movediças onde tenho andado nestes últimos tempos é ela, daí que este gesto tenha sido bastante simbólico. Não podendo mudar o passado, há que ganhar foco para o futuro!

A ti, em especial, obrigado!

Para trás ficava o nevoeiro e a chuva com que fomos brindados no início da prova, para a frente ficaram os sorrisos, os Twix que estavam a ser dados na meta e uma série de contas para voltarmos novamente em 2020, desta vez para tentar ir a um pódio. Planos mais próximos incluem a ida à Scalabis (o relato sai ainda esta semana), a Maratona de Madrid (ai, cruzes credo...) e o cancelamento da ida ao Douro Vinhateiro (mais vale não ir do que ter 2016 all over again...).

Prova nº 107 - 20km da Marginal - 20km - 01:56:48


P.S: de regresso aos carros que ficaram em Algés foi altura de distribuir as t-shirts da prova e a oferta que fazia parte do kit. Enquanto a malta se despedia troquei de roupa e fui o último a despachar-me. Meti o saco que levava com as minhas coisas no tejadilho do carro e tal. Lá de dentro diz-me o gajo da ET: "Não te esqueças disso aí, ok?" "Ok, claro!" Entro no carro devidamente pronto e saímos do estacionamento rumo à rotunda da entrada do IC17. Ele fez uma manobra qualquer estranha, que eu nem percebi o que foi e um outro carro a entrar na rotunda desata a apitar intensamente, instantes após ouvirmos um "catrapum!" 

"Está qualquer coisa no chão!" Pois claro que está! Era o meu saco amarelo que tinha dado um tralho desde o tejadilho do carro onde eu obviamente não o ia deixar e estava a rebolar mais que o Neymar depois de uma entrada a pés juntos do Pepe... Meia volta à rotunda e o condutor do tal carro - estrangeiro, por sinal - já tinha parado para nos entregar o saco. Só lá tinha as chaves de casa, as chaves do carro, a carteira... 😧 

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Uma mão cheia de Sinos

No último fim de semana de Março deu-se a habitual romaria a Mafra para a Corrida dos Sinos. Não é segredo para ninguém que gosto desta prova, do ambiente, do final no estádio e do convívio com a malta da equipa no final. Tudo isso esteve lá, excepto o picnic. Éramos muitos como sempre, mas este ano regressámos ao conforto dos respectivos lares depois de todos termos cruzado a meta. 

Foto: Running and Medals (https://www.runningandmedals.com/sinos)

Eu já falei aqui em provas nas quais conheço cada pedacinho de alcatrão, já falei aqui em fechar ciclos. Ao fim de cinco anos consecutivos a participar, não sei se esta é daquelas nas quais devo ponderar uma pausa sabática. Veremos.
O que é certo é que sem o treino devido não há resultados. No meu caso tratou-se de um retrocesso de três anos, tendo em conta que fiz um tempo pior do que em 2016. Ahhhh, e as memórias que esse ano me deixou no geral são assim catitas, são.


A pedido de várias famílias - vá, de uma pessoa muito especial para mim - o texto sobre a próxima prova, a Estafeta Cascais-Oeiras-Lisboa, já será um pouco mais detalhado e mais à imagem dos textos a que vos habituei. Assim tenha eu inspiração para isso.


Prova nº 106 - Corrida dos Sinos - 15km - 01:23:14

Corta Mato de Vale Figueira

Foi a 17 de Março, um mês após o anterior, que regressei a esta coisa engraçada do corta-mato. Como se previa foi mais exigente que os anteriores. Quase que ficava no top-10 do escalão, mas na verdade também só estavam presentes 12 atletas. Talvez consiga numa das próximas provas, se não comparecerem todos. Sem stress, havia garrafa de vinho para todos e isso é que é importante!

Próxima prova em que estarei presente é a "Rota do Queijo" em Lousa. Diz que é durinha como o raio, mas há queijo no fim. Alinho nisso!

Prova nº 105 - Troféu Corrida das Colectividades do Concelho de Loures - Corta-Mato de Vale Figueira - 5,5km - 00:28:09