Surreal!
Até só ano passado, somando ambas as provas, tinham-se realizado 45 edições de Meias Maratonas das pontes. Nunca tinha sido necessário recorrer ao plano B
por questões de segurança. Em 2018 isso aconteceu não numa ponte, mas em
ambas. Tenho a sensação que por mais anos que corra isto nunca
mais vai acontecer em qualquer das duas provas. Ter que activar o plano de
contingência duas vezes no mesmo ano é algo único. E surreal! E eu, tal como muitos outros, teremos um dia o privilégio de dizer que participámos nestas edições "especiais". É claro que hoje ainda estou muito em cima do acontecimento para dizer de caras que "até foi engraçado" mas o certo é que já tenho esse sentimento em relação à prova de Março.
Não
me vou alongar novamente sobre a decisão de adiar a hora de partida das
provas. Pessoalmente pareceu-me desnecessário no que diz respeito à
Meia Maratona mas percebo que tendo que mudar a hora da Maratona então
todo o programa teria que sofrer alterações. O que foi incompreensível
foi a ausência de sanitários no IC2, por mais que se diga que não houve
autorização da protecção civil para tal. A espera foi bastante
desconfortável, não só por isso mas pela falta de espaço. Pelo menos no
local em que estávamos inicialmente o aperto era grande.
Após
as dúvidas da véspera a vontade de correr não era muita. A manhã já
tinha começado atribulada quando um dos colegas da equipa teve que
voltar a casa por se ter esquecido do dorsal. E ele até foi o primeiro a
chegar à estação. Conseguiu chegar a tempo da prova mas já só o vimos durante o
percurso e depois no final. Já no Oriente deu para uma foto de grupo com
outros elementos que já lá estavam e que iam fazer a Mini. Votos de
boas provas e lá fomos para os respectivos autocarros.
De
volta ao IC2 conversava-se sobre provas, tempos, desafios futuros e
objectivos para esta prova. Desde 1:30 a 2:30 havia expectativas de
tempos para todos os gostos. Eu cá só queria fazer uns segundos abaixo
das duas horas. Ir em modo de treino num ritmo a rondar os 5:40/km. Por
causa das necessidades fisiológicas o nosso grupo separou-se e deixei de
estar próximo do outro colega que também vai ao Porto e que também
queria fazer um ritmo calmo. Ele acabou por fazer um belo tempo, sem
querer. Eu ainda parti rápido à procura dele mas só o voltei a encontrar
a descer o Marquês quando eu subia. Quem eu encontrei mesmo ali ao lado
em amena cavaqueira foi a Vonita. Já estava a seguir a conversa dela há algum tempo até que aproveitei um momento oportuno para lhe dar um toque no ombro. Fizemos a foto da praxe e continuou-se em conversa. É tão bom que uma pessoa para cada
lado que se vire encontre caras conhecidas. Ivone, espero que a prova
tenha corrido bem às estreantes na Meia Maratona!
Parti
rápido, mas ao fim de 500 metros tive um contratempo. Um atleta saltou o
separador central vindo da outra faixa sem qualquer atenção para quem
estava a correr. Para evitar um choque frontal com ele desviei-me, meti o
pé na berma e torci-o. Felizmente foi coisa muito ligeira. Nós
quilómetros seguintes fui a ver se sentia desconforto mas nunca me doeu
nada. O meu receio era que só fosse sofrer as consequências depois de
arrefecer, mas está tudo ok.
Apesar
do início acima do ritmo pretendido passaram por mim alguns amigos a
quem eu prontamente disse para seguirem porque eu estava em modo de
passeio. Estabilizei o ritmo e ainda olhei demasiadas vezes para o
relógio nesta fase. Depois acabei por só olhar quando ele indicava o
ritmo do quilómetro que tinha acabado de concluir.
Querem ver a importância que o público tem numa pessoa durante uma prova? Não fazia ideia que ela estaria por ali - eu até podia ir mais próximo do outro lado do passeio e nem a encontrar - mas assim que passei por ela comecei a imaginar na minha cabeça mil e uma teorias. Será que x? Ou y? Querem ver que z? Corri grande parte do abecedário para descobrir ao fim do dia que estava enganado e todas as minhas teorias, inclusive teorias da conspiração, estavam erradas! Não faz mal! Enquanto pensava nisto passaram-se uns bons três ou quatro quilómetros sem eu dar por isso! Obrigado, já cheguei a meio da Meia.
Confesso que nos quilómetros seguintes tive uma espécie de apagão. Estava em piloto automático e não me lembro de quase nada. Apenas de agarrar umas quantas embalagens de gel num abastecimento - e confesso que não gostei muito dele - para além de estar sempre a trocar de garrafa de água, sendo isso também parte do treino para a Maratona. Parei uns segundos onde havia isotónico para beber sem me entornar e/ou engasgar todo. Lembro-me de ver o Panteão lá ao longe, eventualmente mais próximo até deixar de o ver. Estava ansioso por chegar a Santa Apolónia porque depois até ao Terreiro do Paço era um tirinho. Tantas vezes que já fiz o percurso inverso nas minhas caminhadas por Lisboa naquela zona, ontem era dia de o correr em sentido inverso.
Não era, mesmo, a subida que me preocupava. Chateia-me mais o empedrado, por exemplo. Como nestas coisas parece estar tudo feito à medida, a banda no Rossio tocava o Final Countdown quando passei a subir. (E o Highway to Hell quando desci. Pensando melhor, perfeito tinha sido ao contrário!) De por mim a cantar o refrão enquanto ia por ali acima e aproveitei também para ver quem vinha a descer no único ponto de retorno. Caraças, fizeram-me falta os retornos, pá.
Subi nas calmas. Vendo o ritmo depois até achei que não subi nada mal. E depois desci a todo o gás. Pelo menos com todo o gás possível ao fim de tantos quilómetros. E bom, foram os mais rápidos da prova. Um sprint final já na recta da meta e assunto encerrado. Medalha ao peito, grupo reunido novamente, gelado na mão, fotografia final e... caminhada rumo a Santa Apolónia para apanhar o comboio. Ainda deu para apoiar alguns atletas menos rápidos mas que estoicamente lutavam para completar a prova. E deu para me cruzar com a Inês e com o grupo de camisolas amarelas que iam com ela numa bela missão de amizade.
No comboio procurávamos saber resultados de amigos, resultados oficiais dos profissionais. Celebrávamos a estreia na distância de um companheiro de muitas lutas e que estava ali connosco. Foi uma longa aventura. A ida até à partida e a espera pelo início da prova duraram mais tempo que a Meia Maratona em si. Passei o resto da tarde a dormitar várias sestas e no intervalo delas espreitava as redes sociais que estavam cheias de medalhas, dorsais, fotos e textos de felicidade.
Mais um passo rumo ao Porto, rumo ao que o futuro trouxer!
Próxima paragem: Meia Maratona de Coimbra!
Prova nº 92 - Meia Maratona Ponte Vasco da Gama 2018 - 21km - 01:59:52
Muitos parabéns pela bela prova!
ResponderEliminarIas a dar-lhe bem na descida quando nos cruzámos (esse retorno é giro, para quem vai a descer são só sorrisos, para quem vai a subir são só caretas)
É como dizes, fica na nossa história as meias dos planos B. Na de Março gostei de andar no eixo Norte-Sul, experiência inédita e provavelmente única. Nesta já conhecia a IC2 pois nos primeiros anos que fiz esta Meia, íamos até ali e não passávamos do Parque das Nações, em vez de se ir até ao Terreiro do Paço como nos anos anteriores a esta mudança do Marquês.
Força para a bela Meia de Coimbra (fiz a edição inaugural) e muita, muita força para o Porto!!!
Um abraço
Obrigado João. Ia a compensar o ritmo mais lento da subida para cumprir o tempo final desejado. É um retorno giro, é!
EliminarFoi apenas a segunda vez que fiz esta, nunca apanhei esse percurso que falas.
Gosto muito de Coimbra, será o terceiro ano seguido lá. E o Porto é já ali.
Um abraço!
Parabéns por mais uma experiência, por mais um prova, por mais um tempo espetacular, por mais um texto que nos remete para o melhor da corrida!
ResponderEliminar"esse retorno é giro, para quem vai a descer são só sorrisos, para quem vai a subir são só caretas" - Adorei o comentário do João, lembro-me disso na São Silvestre e é exatamente assim ahahahaha
E por falar em João Lima... Ele chegou logo atrás de ti! Está outra vez "no ritmo"!
Obrigado pelas tuas palavras. Espero em breve ver-te também a relatar as tuas aventuras do lado de dentro do pelotão.
EliminarJá me aconteceu ir a descer numa São Silvestre e gritar por uma amiga que ia a subir e ela no fim dizer-me que foi o meu "Força!" que evitou que ela fizesse o resto a caminhar até lá acima. É uma das razões pelas quais gosto dos retornos.
O João vai fazer uma excelente Maratona em Valência, mas só podemos dizer isso no fim para não agoirar. ;)
Beijinho!
Parabéns pela prova!! Identifico-me completamente com esse ultimo parágrafo. Adoro os fins de semana de maratona, mesmo não participando. Grande abraço, bom tapering para o Porto!
ResponderEliminarObrigado! É tão bom, não é?
EliminarO tapering para o Porto faz escala em Almeirim.
Abraço!
E eu que estava convencida que tinha comentado este post e não o fiz.
ResponderEliminarJá fora de horas vi o directo da Agridoce... de repente vejo-te a passar e fiquei incredula. Tive de voltar atrás e confirmar com o A. que eras mesmo tu! :P
O Porto está quase quase aí. Pode ser que ainda nos cruzemos no inicio e no fim! :)
Fizeste agora e ainda em tempo útil!
EliminarEu fiquei tão pasmado quando a vi! Que bela surpresa que foi! :)
Já falta pouquinho. De certeza que nos encontramos! Eventualmente na Alfândega ou na Pasta Party. :)
Beijinhos e abraços!