terça-feira, 16 de outubro de 2018

Meia Maratona do IC2

Surreal!
 
Até só ano passado, somando ambas as provas, tinham-se realizado 45 edições de Meias Maratonas das pontes. Nunca tinha sido necessário recorrer ao plano B por questões de segurança. Em 2018 isso aconteceu não numa ponte, mas em ambas. Tenho a sensação que por mais anos que corra isto nunca mais vai acontecer em qualquer das duas provas. Ter que activar o plano de contingência duas vezes no mesmo ano é algo único. E surreal! E eu, tal como muitos outros, teremos um dia o privilégio de dizer que participámos nestas edições "especiais". É claro que hoje ainda estou muito em cima do acontecimento para dizer de caras que "até foi engraçado" mas o certo é que já tenho esse sentimento em relação à prova de Março. 

Não me vou alongar novamente sobre a decisão de adiar a hora de partida das provas. Pessoalmente pareceu-me desnecessário no que diz respeito à Meia Maratona mas percebo que tendo que mudar a hora da Maratona então todo o programa teria que sofrer alterações. O que foi incompreensível foi a ausência de sanitários no IC2, por mais que se diga que não houve autorização da protecção civil para tal. A espera foi bastante desconfortável, não só por isso mas pela falta de espaço. Pelo menos no local em que estávamos inicialmente o aperto era grande.

Após as dúvidas da véspera a vontade de correr não era muita. A manhã já tinha começado atribulada quando um dos colegas da equipa teve que voltar a casa por se ter esquecido do dorsal. E ele até foi o primeiro a chegar à estação. Conseguiu chegar a tempo da prova mas já só o vimos durante o percurso e depois no final. Já no Oriente deu para uma foto de grupo com outros elementos que já lá estavam e que iam fazer a Mini. Votos de boas provas e lá fomos para os respectivos autocarros.

De volta ao IC2 conversava-se sobre provas, tempos, desafios futuros e objectivos para esta prova. Desde 1:30 a 2:30 havia expectativas de tempos para todos os gostos. Eu cá só queria fazer uns segundos abaixo das duas horas. Ir em modo de treino num ritmo a rondar os 5:40/km. Por causa das necessidades fisiológicas o nosso grupo separou-se e deixei de estar próximo do outro colega que também vai ao Porto e que também queria fazer um ritmo calmo. Ele acabou por fazer um belo tempo, sem querer. Eu ainda parti rápido à procura dele mas só o voltei a encontrar a descer o Marquês quando eu subia. Quem eu encontrei mesmo ali ao lado em amena cavaqueira foi a Vonita. Já estava a seguir a conversa dela há algum tempo até que aproveitei um momento oportuno para lhe dar um toque no ombro. Fizemos a foto da praxe e continuou-se em conversa. É tão bom que uma pessoa para cada lado que se vire encontre caras conhecidas. Ivone, espero que a prova tenha corrido bem às estreantes na Meia Maratona!

Parti rápido, mas ao fim de 500 metros tive um contratempo. Um atleta saltou o separador central vindo da outra faixa sem qualquer atenção para quem estava a correr. Para evitar um choque frontal com ele desviei-me, meti o pé na berma e torci-o. Felizmente foi coisa muito ligeira. Nós quilómetros seguintes fui a ver se sentia desconforto mas nunca me doeu nada. O meu receio era que só fosse sofrer as consequências depois de arrefecer, mas está tudo ok.

Apesar do início acima do ritmo pretendido passaram por mim alguns amigos a quem eu prontamente disse para seguirem porque eu estava em modo de passeio. Estabilizei o ritmo e ainda olhei demasiadas vezes para o relógio nesta fase. Depois acabei por só olhar quando ele indicava o ritmo do quilómetro que tinha acabado de concluir.

Fui separando a prova por pequenas metas. Sair do IC2, chegar ao Parque das Nações à separação da Mini, sair do Parque das Nações, Santa Apolónia e a primeira passagem no Terreiro do Paço. Estava mais preocupado em não me aborrecer na zona de Xabregas e Beato do que com a subida ao Marquês. Precisava de estar em zonas com mais público. O apoio era dado por alguns estrangeiros e por muitos elementos do Correr Lisboa espalhados pelo trajecto. Mesmo no Parque das Nações onde havia muita gente a assistir não havia muito apoio, apenas umas palmas circunstanciais. Ao contrário do que é habitual também não ia muito expansivo portanto mantive-me em silêncio. Por acaso do destino acabei por ter direito a claque pessoal quando vi lá ao longe uma cara que reconheci à medida que me aproximei. Era a Agridoce que, curiosamente, estava a fazer um directo da prova naquele preciso momento. Meti logo o meu melhor ar de corredor para a foto e afinal... Que desilusão! 😉

Querem ver a importância que o público tem numa pessoa durante uma prova? Não fazia ideia que ela estaria por ali - eu até podia ir mais próximo do outro lado do passeio e nem a encontrar - mas assim que passei por ela comecei a imaginar na minha cabeça mil e uma teorias. Será que x? Ou y? Querem ver que z? Corri grande parte do abecedário para descobrir ao fim do dia que estava enganado e todas as minhas teorias, inclusive teorias da conspiração, estavam erradas! Não faz mal! Enquanto pensava nisto passaram-se uns bons três ou quatro quilómetros sem eu dar por isso! Obrigado, já cheguei a meio da Meia.

Confesso que nos quilómetros seguintes tive uma espécie de apagão. Estava em piloto automático e não me lembro de quase nada. Apenas de agarrar umas quantas embalagens de gel num abastecimento - e confesso que não gostei muito dele - para além de estar sempre a trocar de garrafa de água, sendo isso também parte do treino para a Maratona. Parei uns segundos onde havia isotónico para beber sem me entornar e/ou engasgar todo. Lembro-me de ver o Panteão lá ao longe, eventualmente mais próximo até deixar de o ver. Estava ansioso por chegar a Santa Apolónia porque depois até ao Terreiro do Paço era um tirinho. Tantas vezes que já fiz o percurso inverso nas minhas caminhadas por Lisboa naquela zona, ontem era dia de o correr em sentido inverso.

Ao avistar a Praça do Comércio renasci na emoção e a primeira coisa que fiz foi - acertaram - pedir barulho ao público. Mas barulho a sério, palmas e tudo aquilo a que temos direito! Esbracejei como nunca e tive muito retorno! Estava na minha praia. Isto sem pessoal do lado de fora não tem piada. Não vou dizer que ganhei forças onde já não as tinha, porque na realidade eu não ia cansado, mas ganhei um ânimo para os quilómetros finais. Ao meu lado um atleta dizia que "agora é que vão ser elas!" Lembro-me de lhe responder que "Nem pensar, agora vem a melhor parte da prova! Vamos até ao Marquês festejar e depois festejamos outra vez na meta!"

Não era, mesmo, a subida que me preocupava. Chateia-me mais o empedrado, por exemplo. Como nestas coisas parece estar tudo feito à medida, a banda no Rossio tocava o Final Countdown quando passei a subir. (E o Highway to Hell quando desci. Pensando melhor, perfeito tinha sido ao contrário!) De por mim a cantar o refrão enquanto ia por ali acima e aproveitei também para ver quem vinha a descer no único ponto de retorno. Caraças, fizeram-me falta os retornos, pá.
 
Subi nas calmas. Vendo o ritmo depois até achei que não subi nada mal. E depois desci a todo o gás. Pelo menos com todo o gás possível ao fim de tantos quilómetros. E bom, foram os mais rápidos da prova. Um sprint final já na recta da meta e assunto encerrado. Medalha ao peito, grupo reunido novamente, gelado na mão, fotografia final e... caminhada rumo a Santa Apolónia para apanhar o comboio. Ainda deu para apoiar alguns atletas menos rápidos mas que estoicamente lutavam para completar a prova. E deu para me cruzar com a Inês e com o grupo de camisolas amarelas que iam com ela numa bela missão de amizade.

No comboio procurávamos saber resultados de amigos, resultados oficiais dos profissionais. Celebrávamos a estreia na distância de um companheiro de muitas lutas e que estava ali connosco. Foi uma longa aventura. A ida até à partida e a espera pelo início da prova duraram mais tempo que a Meia Maratona em si. Passei o resto da tarde a dormitar várias sestas e no intervalo delas espreitava as redes sociais que estavam cheias de medalhas, dorsais, fotos e textos de felicidade.
 
Mais um passo rumo ao Porto, rumo ao que o futuro trouxer!
 
Próxima paragem: Meia Maratona de Coimbra!
 
 
Prova nº 92 - Meia Maratona Ponte Vasco da Gama 2018 - 21km - 01:59:52



8 comentários:

  1. Muitos parabéns pela bela prova!
    Ias a dar-lhe bem na descida quando nos cruzámos (esse retorno é giro, para quem vai a descer são só sorrisos, para quem vai a subir são só caretas)
    É como dizes, fica na nossa história as meias dos planos B. Na de Março gostei de andar no eixo Norte-Sul, experiência inédita e provavelmente única. Nesta já conhecia a IC2 pois nos primeiros anos que fiz esta Meia, íamos até ali e não passávamos do Parque das Nações, em vez de se ir até ao Terreiro do Paço como nos anos anteriores a esta mudança do Marquês.
    Força para a bela Meia de Coimbra (fiz a edição inaugural) e muita, muita força para o Porto!!!
    Um abraço

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    1. Obrigado João. Ia a compensar o ritmo mais lento da subida para cumprir o tempo final desejado. É um retorno giro, é!
      Foi apenas a segunda vez que fiz esta, nunca apanhei esse percurso que falas.
      Gosto muito de Coimbra, será o terceiro ano seguido lá. E o Porto é já ali.
      Um abraço!

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  2. Parabéns por mais uma experiência, por mais um prova, por mais um tempo espetacular, por mais um texto que nos remete para o melhor da corrida!

    "esse retorno é giro, para quem vai a descer são só sorrisos, para quem vai a subir são só caretas" - Adorei o comentário do João, lembro-me disso na São Silvestre e é exatamente assim ahahahaha

    E por falar em João Lima... Ele chegou logo atrás de ti! Está outra vez "no ritmo"!

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    1. Obrigado pelas tuas palavras. Espero em breve ver-te também a relatar as tuas aventuras do lado de dentro do pelotão.
      Já me aconteceu ir a descer numa São Silvestre e gritar por uma amiga que ia a subir e ela no fim dizer-me que foi o meu "Força!" que evitou que ela fizesse o resto a caminhar até lá acima. É uma das razões pelas quais gosto dos retornos.
      O João vai fazer uma excelente Maratona em Valência, mas só podemos dizer isso no fim para não agoirar. ;)
      Beijinho!

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  3. Parabéns pela prova!! Identifico-me completamente com esse ultimo parágrafo. Adoro os fins de semana de maratona, mesmo não participando. Grande abraço, bom tapering para o Porto!

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    1. Obrigado! É tão bom, não é?
      O tapering para o Porto faz escala em Almeirim.
      Abraço!

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  4. E eu que estava convencida que tinha comentado este post e não o fiz.

    Já fora de horas vi o directo da Agridoce... de repente vejo-te a passar e fiquei incredula. Tive de voltar atrás e confirmar com o A. que eras mesmo tu! :P

    O Porto está quase quase aí. Pode ser que ainda nos cruzemos no inicio e no fim! :)

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    1. Fizeste agora e ainda em tempo útil!
      Eu fiquei tão pasmado quando a vi! Que bela surpresa que foi! :)
      Já falta pouquinho. De certeza que nos encontramos! Eventualmente na Alfândega ou na Pasta Party. :)
      Beijinhos e abraços!

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