segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Meia Maratona de Coimbra

"Força? Só se for para ti que estás no passeio. Desse lado é fácil falar, aqui dentro é mais difícil!"


Foi mais ou menos esta a reacção de um atleta ao meu lado, por volta do sexto quilómetro, quando alguém no passeio - com camisola da equipa Viseu 360º e com dorsal colocado - desejou força a uma colega que passava a correr. O comentário foi meio entre-dentes e só terá sido escutado por quem estava mesmo ali ao pé dele. Pode ter sido só um desabafo de alguém a ter um dia mais complicado, mas não gostei do tom da resposta. Também posso ter interpretado mal, mas não me pareceu de todo ter sido uma resposta em modo brincalhão. Marquei aquele atleta.

Isto tocou-me também de forma particular porque tínhamos acabado de passar pelo centro de Coimbra, zona cheia de público a assistir... em silêncio quase absoluto. À entrada fiz o que faço sempre que é pedir palmas e barulho e aquilo que ouvi foi o som de grilos, seguido de um lamento do atleta que vinha atrás de mim. "Ninguém apoia, ninguém disse nada." Ainda atirei para o ar se não era suposto ser uma festa, respondeu-me uma das voluntárias a dizer que o barulho que faz é para nos indicar que há águas ali à frente. É justo. Agradeci, continuei e concentrei-me nos atletas à minha volta. A partir daí praticamente ignorei a hipotética existência de público, sobretudo porque sabia que saíndo da cidade raras seriam as pessoas que estariam a assistir.


Depois dos quilómetros iniciais a aproveitar a descida da Universidade até ao centro da cidade era altura de estabilizar o ritmo e ignorar as vozes na minha cabeça que me diziam para continuar a atacar em busca de uma marca melhor. Olhei em volta e segui um atleta para me fazer de lebre improvisada. Só que ele agarrou-se à coxa, encostou ao passeio a alongar e não sei se terá continuado. Rapidamente olhei para outro mesmo ao lado, camisola da selecção vestida, que... encostou ao outro lado do passeio. Fiquei na dúvida se ia cumprimentar alguém mas pareceu-me que também não continuou. E dou por mim ao lado do tal atleta do comentário que dá início a este texto. Oh pá, não me apetece ir com ele. Felizmente ele tinha um ritmo mais rápido e passei a vê-lo mais ao longe.

Passa então por mim um grupo de 4 Viriathvs Runners (Viseu deve ser a cidade do país com maior concentração de equipas por metro quadrado) e fui na cola deles. Uma das atletas pareceu-me desconfiada porque olhou para trás vezes sem conta. Eu não disse nada mas devia ter metido conversa já que ainda fui quase dois quilómetros atrás deles até ao abastecimento dos 10km. Parou tudo para beber isotónico e eu segui à frente deles. Voltei a encontrá-los depois da meta. Um dos meus colegas de equipa conhece um deles e trocaram algumas palavras. Tão extrovertido que consigo ser e tão encavacado ao mesmo tempo!
Na segunda metade da prova vinha a parte que eu mais gosto: os retornos! Vi muitos amigos que iam à minha frente, deu para perceber quem vinha bem e quando virei vi os restantes elementos da equipa que vinham atrás de mim. Uma festa cruzar-me com a malta, festa que durou até próximo do abastecimento dos 15km. Ao meu lado ia seguindo quase sempre o tal atleta, em amena cavaqueira com outros dois amigos. De entre tantas camisolas de várias equipas dei por mim a puxar pelos Vicentes com quem me cruzava. Desta vez não conhecia nenhum, mas não fazia mal. Apoio é apoio!


A paragem no abastecimento foi ligeiramente mais prolongada para reforçar a dose de Red Bull. Olhei para o relógio, fiz umas contas em relação ao tempo final que percebi estarem erradas e passei os metros seguintes a corrigir mentalmente a minha matemática. E comecei a sentir umas dores de cabeça pouco vulgares. Pensei serem do facto de ter acordado às 6 da manhã e já ter conduzido 200kms até Coimbra - e de não ter bebido café! - mas descobri que era apenas o chapéu que estava apertado. Problema resolvido num ápice. Olhei em frente, porque olhar em frente era melhor que olhar em volta e ver a quantidade de árvores partidas e de troncos no chão ainda fruto das condições climáticas do fim de semana passado. Mas olhando em frente via lá ao fundo "o" atleta. Dez quilómetros depois daquele comentário ele continuava no meu raio de visão. Achei que o único modo de resolver isso era ir atrás dele para o ultrapassar. Pequenos objectivos parvos para uma pessoa se manter focada are à meta.

Pelo caminho já eram vários os atletas a fraquejar e a caminhar. Fui tentando dar alguma força e energia a quem ia ultrapassando. Passei por uma atleta em particular, do Correr Lisboa, com quem ainda troquei umas palavras. Vamos com 19 quilómetros, 'bora lá está quase, não dá para mais? Resposta negativa, já tinha rebentado. Infelizmente era sempre esta a reacção que tinha e não consegui trazer ninguém comigo na parte final. O que consegui foi ultrapassar o tal atleta, na recta que antecede a entrada na Ponte de Santa Clara. Ainda bem!

Não que o sucesso da prova dependesse disso, mas assim permitia-me concentrar na melhor parte: a chegada à meta. Em primeiro lugar foi preciso desviar-me de quem ia à minha frente para chamar a atenção da ET que estava lá do outro lado da ponte com a dupla tarefa de tirar fotos e de avisar a malta na meta de quem vinha aí. Depois entrando na meta foi ver onde estava a minha claque pessoal com quem tive novamente o prazer de atravessar a meta. Tem sido um hábito nas provas das Running Wonders e dá-me um gosto especial que assim seja.

A prova não terminava ali, ainda havia mais colegas de equipa em prova portanto estava na altura de voltar atrás. Rapidamente chegaram alguns, excepto uma que vinha um pouco mais atrás. Ainda nos preocupou a demora e lá íamos nós à procura dela quando a avistamos no horizonte com o seu maior sorriso. Tive direito a segunda passagem pela meta! Ou como ouvi depois: "Já sei porque quiseste passar a meta com a Maggie: foi para ires beber outra cerveja!" Tecnicamente não foi, mas como ela até não bebeu...

Completou-se assim a terceira presença na Meia Maratona de Coimbra. Infelizmente nunca deu para mais do que uma curtíssimo passeio antes da prova e um almoço sempre na Pastelaria Vénus onde se repõem os açúcares gastos apenas por olhar para a vitrine dos bolos. Seguiram-me mais 200kms de regresso a casa. Coimbra merece um fim de semana prolongado. E merece também uma ida à prova sem ser na antecâmara da Maratona do Porto para poder aproveitar ao máximo a altimetria negativa do percurso e não me retrair no ritmo. Para o ano, talvcz. Veremos. Foi a minha vigésima Meia Maratona e foi o meu quinto melhor tempo de sempre. Aproveitando a descida inicial para embalar e fazendo o resto em "ponto morto". Um dia que lá vá e acelere logo se vê o que acontece. Ou faço um tempo canhão - para as minhas possibilidades - ou rebento a meio e não acontece nada. 

Faltam duas semanas para o grande dia. Senti-me melhor que na Meia da semana anterior, sobretudo na zona intermédia da prova nos locais mais "chatos". Repito aqui o que já disse hoje: estou confiante, mas sem nunca perder o respeito pela distância.

Próxima paragem: Almeirim!

Prova nº 93 - Meia Maratona de Coimbra 2018 - 21km - 01:57:48

12 comentários:

  1. Esse cromo a mandar vir com o público faz-me lembrar o pessoal da prova curta lá em Abrantes que não me respondia. Urgh ainda hoje me irrita. Estás afinadinho para o Porto! É pena não estares de rédea solta nos 20 de Almeirim também. Encontramo-nos por lá!

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    1. Felizmente esta malta são a excepção e não são a regra!
      Sinto-me bem para o Porto, o que contraria o facto de ser a preparação para uma Maratona com menos quilómetros feitos. Vou a Almeirim conhecer o percurso este ano e em 2019 logo se vê o que diz o calendário. Encontramo-nos pois! Abraço!

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  2. Há quem se queixe da falta de apoio e depois há disto...
    Se fosse correr a Espanha, estava feito :)

    Muitos parabéns pela tua prova!
    Fiz a 1ª edição dessa Meia e gostei muito.

    Força, muita força para o Porto!!!

    Um abraço

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    1. Exacto!
      Já me disseram que Espanha é mesmo a minha cara por causa do público. :)
      Obrigado!
      Lá estaremos no Porto. Começo mesmo a ficar com aquela ansiedade boa! Um abraço!

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  3. Muito bem!!! Prontinho para a Maratona!!
    Temos que ir a Espanha, deve ser "Peniche ao cubo"... Maravilha

    **

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    1. Prontinho! (Espero eu!)
      "Peniche ao cubo" - deve ser mesmo isso! :)

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  4. Epah esse comentário... :((
    Espanha é mais do que Peniche ao cubo. Ainda estou na ressaca da meia de Bilbao deste fim de semana. Foi BRUTAL!! Sempre sempre gente a apoiar em TODO o percurso. Foi a primeira vez que corri em Espanha e todos os que correm têm de experenciar.
    Bom treino em Almeirim e vai com tudo para o Porto.
    Abraço

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    1. Também estiveste lá? Andei a seguir a aventura do Fábio Lima na Maratona. Não há dúvida que toda a gente que mete os ténis numa estrada em Espanha fica apaixonado pelo apoio. Um dia atravesso a fronteira e conto como foi. :)
      Obrigado! Abraço!

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    2. Experimenta Bilbao, não te vais arrepender.
      Prova noturna, sempre em cidade e sempre com apoio. É excelente.
      Dá uma vista de olhos nas fotos no site oficial e vais perceber;)
      Abraço

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    3. Edgar, leio este comentário minutos depois de ler um relato menos positivo do público de Bilbao. :) Por acaso nunca tinha pensado em Bilbao, o normal são aquelas tradicionais: Sevilha, Barcelona, Madrid, Valência. Uma delas há-de ser, um dia.
      Abraço!

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  5. Parabéns Nuno. Tudo pronto para o Porto. Não tive possibilidade de ir a Coimbra (a Dora foi) … por falar em Coimbra e se vale uma visita aqui para relembrar .. https://papakilometros.blogspot.com/2018/04/coimbra-tem-muito-encanto.html
    Aquele abraço e até dia 4

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    1. Obrigado! Falta tão pouco e parece que falta tanto.
      Lembro-me desse vossa viagem. A última vez que fui a Coimbra só em passeio foi há uns 7 anos. Ainda consigo saborear a maravilhosa broa recheada com bacalhau que comemos num restaurante mesmo ao lado da Câmara Municipal. Hummmm...!!!

      Ah, passei por duas "Montemorrows ou lá como se chamam" depois do abastecimento dos 15km, salvo erro. Estive quase para meter conversa. A quem ainda dei uma força final foi ao Serafim - se não me engano no nome - cuja camisola do CAL reconheci imediatamente.
      Abraço!

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