segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O regresso às origens - Descobrimentos 2018

"Tu já descobriste a tua fórmula para o sucesso: é não treinares durante a semana!"

Foram estas as palavras que eu ouvi quando disse, ao telefone, qual tinha sido o desfecho da Meia Maratona dos Descobrimentos. Na verdade, apesar de não andar desmotivado para correr, ando super preguiçoso. Depois de amanhã faz um mês desde a Maratona do Porto e desde então eu fiz três provas (Luzia Dias, Meia de Évora e a Meia dos Descobrimentos hoje) e UM treino! Um mísero treino que me correu super mal. Isto é algo que tem obrigatoriamente que mudar porque já não me vai ser possível colher mais frutos do trabalho feito pré-Maratona - e que, já agora, continuo a dizer que foi algo incompleto para o que queria originalmente.

Continuando... Corria o ano de 2014 quando uma certa e determinada pessoa me disse que estava na hora de fazer uma Meia Maratona. Eu disse logo que sim, sem ter bem noção daquilo em que me estava a meter. Fui e terminei feliz da vida com um tempo acima das 2:17. Voltei lá no ano seguinte para ir bater o meu record pessoal na distância. E em 2016, quando me sentia forte para repetir a dose, apanhei uma chuvada tal que foi o ponto de partida para uma prova que me correu mal. Em 2017 fui apoiar alguns colegas e fiquei na meta a fazer reportagem fotográfica. Em 2018 voltei ao lado de dentro da estrada. Nota-se que esta prova, também por ter sido àquela onde me estreei na distância, me é muito querida.

A tal falta de treinos, aliada a uma forte dor no peito do pé desde 5a feira deixavam-me apreensivo. Por outro lado, tinha-me sentido confortável em Évora apesar de ter perdido gás na parte final. Sabia que ia precisar de chegar à zona da partida para entrar no espírito da prova e ver como me sentia. E assim foi. Levantei quase todos os dorsais da equipa, combinámos as boleias e hoje de manhã lá estava, qual Pai Natal, a dar sacos de prendas aos colegas que comigo foram nesta aventura. Um pequeno aquecimento desde o carro até à zona do CCB, uma longa espera na fila para o WC e um aquecimento final a caminho da partida. Por falar em WC, desta vez funcionou tudo na perfeição assim que acordei, ao contrário da semana passada. Muitos atletas chegavam também em cima da hora, mas ainda houve tempo para umas fotos. Como fomos estacionar em sítios diferentes, acabámos por só fazer foto da grupo no final e, mesmo assim, ainda faltaram dois elementos.

Comecei bem, a tentar impor o ritmo que tinha planeado para esta prova. Estava muita gente mas dava para circular bem sem grandes problemas de trânsito e foi uma altura onde me cruzei com várias caras conhecidas. O normal, portanto, ao mesmo tempo que também piscava o olho a quem encontrava em sentido inverso na prova de 10km.

Dois quilómetros até Algés e dois quilómetros de regresso até à zona da partida. E sabem porque fui tão rápido no km4? Havia imensa gente a assistir e a aplaudir. Neste primeiro retorno deu logo para ver a Inês nos 10km e a Inês nos 21km, para além da maioria da malta da equipa. Fiquei contente que para mim os retornos são quase sempre passados a olhar para o outro lado da estrada. A partir daí atentem bem no meu ritmo certinho a 5:25m/km que se haveria de repetir ao longo de vários quilómetros. Foi um misto de ter metido na cabeça que era o ritmo a que queria terminar a prova com o facto de ter apanhado boas lebres involuntárias ao longo do percurso. Uma delas é a... Inês que corre por uma das várias equipas dos bancos do nosso país e outra era uma atleta com a camisola dos Évora Night Runners, mas cujo nome não sei, sendo que também não a encontro na classificação final. Deve chamar-se Inês, de certeza. Lá fui, fui, fui... E notei que, tal como na Luzia Dias, estava menos comunicativo. Poucas eram as vezes em que interagia com outros atletas, mas ia sempre atento a quem me rodeava. Queria mesmo manter-me naquele grupo de atletas que iam a um ritmo semelhante ao meu e estava a cumprir à risca os planos que trazia, não na manga, mas na mão. Sim, na mão.



Ora bem, o meu record na Meia vinha do Douro Vinhateiro em Maio deste ano com um tempo de 1:54:56, o que dava uma média de 5:27m/km. Assim sendo, na noite anterior tinha escrito na mão os parciais aos 5, 10 e 15km para um ritmo de 5:25m/km e a comparação com o record do Douro. "E foste escrever na palma da mão que é logo um sítio onde transpiramos muito?" - perguntou-me um colega quando lhe mostrei uma espécie de borrão que tinha no final da prova. De acordo com o meu padrão de aprendizagem, escrever é uma boa maneira que eu tenho de assimilar conhecimentos. Acima disso, sou uma pessoa muito visual, portanto as 50 vezes que olhei para a mão antes de ir dormir fizeram com que tivesse acordado sabendo de cor e salteado que tinha que passar com 27, 54 e 1:21 para estar com tempo de record pessoal. Para minha agradável surpresa, passei sempre abaixo do que tinha escrito. Yes! A motivação estava sempre em alta!

Tive receio do empedrado a partir da zona do Cais do Sodré até ao Terreiro do Paço. Achei que estava a perder velocidade, mas percebo agora ao ver no Strava que até aumentei um pouco ritmo nessa zona. Ia super focado e com muito cuidado para não pisar em falso. O gel já tinha sido tomado pelos 9km e se calhar tinha um efeito psicológico positivo, para além de ter cumprido a sua função original. 

Passo a passo, quilómetro a quilómetro, as pequenas metas iam sendo ultrapassadas. Agora o foco era rumar a Santa Apolónia para novo retorno. Ouço gritar o meu nome algumas vezes, grito um ou outro nome também mas o mais natural era esticar o braço para dar uns high-5 ou simplesmente para acenar ou levantar o polegar. Ora agora vamos para trás e dar um saltinho ao Rossio. Até tive suores frios por me lembrar que foi lá que a minha prova "terminou" em 2016. Desta vez tudo correu pelo melhor e o quilómetro 14 mostra isso. Incomodou-me que numa zona tão cheia de gente apenas 4 ou 5 pessoas tivessem reagido à nossa passagem mas como já estava à espera que assim fosse segui viagem de olhos postos na estrada, no relógio e no que faltava para terminar a prova. Ansiava pelos 15km para confirmar que continuava com alguns segundos de margem até ao final. E estava! Agora a luta era cada vez mais intensa com as pernas que estavam a sentir-se muito massacradas. Tenho cada vez mais a confirmação que foi a última prova feita pelos meus Adidas Energy Boost que estão à beirinha dos 1000km. Falarei disso num post em breve. A cabeça, essa, sabia o que queria, sabia ao que ia e tudo iria fazer para cumprir com o objectivo. Estou a cinco quilómetros de bater o meu record pessoal na Meia Maratona! Percebi que tinha perdido uns segundos no abastecimento - não por ter parado, mas porque estava a tentar apanhar um gel da prova que é igual ao que uso mas acabei por apanhar uma barrinha. Meti-a no flipbelt e tirei de lá o segundo gel que levava. Não consigo correr destas barras enquanto corro. 

E agora? Consigo aguentar-me até ao final? Tive dúvidas porque o relógio marcava sempre o mesmo. 5:25m/km... Estaria avariado ou eu tinha metido o piloto automático? O grupo que ia à minha volta era diferente mas igualmente certinho no ritmo. Éramos quase sempre os mesmos pelo que as minhas referências estavam bem identificadas. A única vez que ia perdendo a concentração foi quando me deixei apanhar por uma conversa mesmo atrás de mim em que um atleta motivava duas outras colegas e a conversa girava em torno do seu eterno desejo de fazer striptease de forma profissional ao mesmo tempo que a ___ (inserir um nome feminino, imagino que seria a sua mulher) gostava de aprender a dança do varão pelo que ele ainda lhe ia oferecer um voucher para umas aulas. Eu ri-me por dentro, mas não por fora porque o oxigénio tinha que ser bem gerido.

Foi aqui que passou por mim o Fernando Andrade que eu tentei acompanhar durante umas centenas de metros mas não mais que isso. Ele "deixou-me" junto a um casal onde ele dizia à mulher que ela estava novamente com aquela respiração orgásmica que não era apropriada para correr portanto ela tinha que a controlar. Oh pá, não me façam rir! Mas obrigado pela distração, com isto tudo o ritmo continua igual. Já contaram o número de quilómetros feitos a 5:25m/km?

Eu já só pensava em chegar ao vigésimo quilómetro e ele aproximava-se a passos largos e decididos. Passando nessa marca com cerca de 1:48 era o ataque final à meta. Não me surpreende que o último quilómetro tenha sido o mais rápido. Lembrei-me de tanta coisa. Das lágrimas de alegria em 2014, do record em 2015, do sofrimento em 2016. E embalei pela Praça do Império até ao fim! Não havia cá dores de pernas nem as dores no pé durante a semana. Havia um querer enorme em bater o meu melhor tempo e, eventualmente, baixar para o minuto 53. Ali sim, num último ímpeto era o local ideal para puxar pelo público. Ainda vi os meus colegas de equipa que já tinham terminado. Na realidade, o grupo que foi é muito forte e só um terminou atrás de mim. Descobri entretanto que, tal como a atleta dos Évora Night Runners foi a fazer de minha lebre, também eu fui a lebre deste meu colega que me foi a seguir até aos 12km, altura em que não conseguiu aguentar o andamento. Agradeceu-me imenso no final porque conseguiu bater o seu record pessoal com a minha ajuda involuntária. Porreiro!

A passagem pela meta foi rápida. Lembro-me vagamente de festejar mas nem sei como. Fiz pose para o fotógrafo da praxe que lá estava e encostei-me ao gradeamento. Feliz, muito feliz. O tempo do cronómetro e o tempo do relógio confirmavam claramente o record pessoal, mas não me garantiam se tinha descido ao minuto 53. Seria à justa.

O reencontro com os colegas foi excelente. Quase todos levavam recordes pessoais para casa, podíamos ir festejar após o regresso e assim fizemos. O brinde foi com minis, mas o sucesso foi da Meia!

Foi a quarta vez que marquei presença na prova e o meu histórico é este:









Foi também a terceira vez - uma delas obviamente na estreia - que bati um record pessoal aqui! Só não o consegui em 2016. Hoje foi a minha 22ª Meia Maratona. Esqueci-me por completo de mencionar a efeméride dos vinte e um 21kms em Évora.

O último mês e meio tem sido um fartote de coisas boas: record em provas de 20km, record na Maratona, uma experiência num pódio de escalão em 5km e record da Meia Maratona. Agora era giro bater o record dos 10km no fecho do ano numa prova pouco propícia a isso como a São Silvestre de Lisboa. Tentar não custa e sonhar não paga imposto!

O resto do dia ficou marcado pelo rescaldo desta prova mas também pelo saber de notícias vindas de terras de nuestros hermanos! Sobre isso também falo noutro texto.

Já sabem... para a semana estou inscrito num trail em Alcanena. Wish me luck...! 
 

Prova nº 98 - Meia Maratona dos Descobrimentos 2018 - 21km - 01:54:02

8 comentários:

  1. Muitos parabéns pelo record!!! A arma foi a regularidade em torno dos 5.25 :)

    Grande abraço!!!

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    1. Obrigado! Foi mesmo! Seis quilómetros a esse ritmo e muitos outros ligeiramente ao lado. Para a próxima escrevo na mão os tempos de passagem a um ritmo de 5:20m/km. Pode ser que resulte! Abraço!

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  2. PARABÉNS!!!!
    Adorei o relato, as coisas que se ouvem ao longo de 21km... E mais não foste com os marretas lol...
    Estás forte, e para a semana ninguém te pára!!!
    **

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    1. Obrigado!!
      Para a semana fujo antes de lá chegar e ninguém me apanha, é isso? :D
      ***

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  3. Parabéns páh … agora toca a motivar para treinar porque como dizes, está-se a acabar o "plafond" da Maratona do Porto :P
    Abraço e vamos lá ao RP dos 10km (aproveita a embalagem)

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    1. Obrigado pá! Tens toda a razão, já estou a usar o subsídio de Natal deste plafond.
      Aproveito pois, também daqui até lá é um tirinho!
      Abraço!

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  4. Muitos parabéns pelos resultados, pela eficácia e pelo foco nos objetivos :)!! Sempre que leio os teus relatos dá-me vontade de voltar a correr, mesmo que sejam apenas 5 km. Não sei como as pessoas conseguem falar enquanto correm, eu mal consigo respirar... :(

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    1. Muito obrigado! :)
      Corre, anda daí! Um quilómetro é um quilómetro independentemente da velocidade a que o corras! E serem só 5km é mau? Quando comecei também não falava. Isso foi óptimo porque ia ainda mais concentrado em ouvir os conselhos de quem me rodeava. :)

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