domingo, 28 de outubro de 2018

20km de Almeirim - uma luta a três

"Estás a ser cobaia para tudo o que hei-de escrever no blog."

Estava eu a partilhar as aventuras da ida a Almeirim quando me saiu esta frase. E não é mentira, tudo o que eu estava a dizer já era um resumo das ideias chave que tinha pensado em partilhar aqui. Ora bem, assim sendo não é tarde nem é cedo (são 18:00) e toca a escrever já o texto enquanto está tudo muito fresco na minha cabeça.

E, por falar em cabeça, ela hoje foi essencial para que este último desafio em modo de treino longo corresse às mil maravilhas. Nem vou guardar suspense, até porque já partilhei o resultado de forma generalizada.

Grande parte da prova foi feita numa luta a três: o coração dizia-me que eu aguentava na boa um ritmo de 5:15m/km e sempre que eu me deixava ir as pernas puxavam-me para um um ritmo de 5:30m/km. Felizmente a cabeça meteu juízo em ambos e fez-me manter o foco num ritmo médio final de 5:45m/km que era exactamente o que estava planeado. Tinha demasiada gente preocupada com o facto de fazer esta prova uma semana antes do Porto e eu próprio tinha que ganhar esta luta. E é tão difícil forçar a correr mais devagar quando nos sentimos bem. Aquilo que me fui mentalizando ao longo das semanas foi que o plano de treinos - se é que eu o posso usar a meu favor depois de o ter seguido de forma ligeira - dizia para fazer 8km lentos seguidos de 11km a ritmo de maratona. Ora eu transformei isso em 20km a ritmo controlado. Vou acabar no Porto com 5:45m/km? Não, tirem daí a ideia, vá.

A ida até Almeirim correu bem, as dicas do Filipe ajudaram a estacionar longe da confusão, mas entre ir levantar os dorsais e regressar ao carro para equiparmos já me tinha cruzado com 3287 amigos e conhecidos. Felizmente os meus companheiros de equipa também reconheceram algumas caras que lhes eram familiares portanto não desesperaram por eu ter que parar ao fim de 10 passos. Até deu para falar duas vezes com o João Lima acompanhado pela armada dos 4 ao KM onde se incluíam a Isa e o Vítor. Na segunda das vezes ele diz-me que o Filipe já tinha perguntado por mim. Só me cruzei com ele num retorno e depois tive finalmente o prazer de o conhecer pessoalmente depois da prova. Muito prazer Filipe, tive imenso gosto em conhecer-te em carne e osso, em visitar Almeirim sem ser em dias de almoços de aniversário e em fazer esta prova. Também vi o Vítor, alguns elementos dos azulinhos com quem corro nos troféus das localidades, caras conhecidas do Correr Lisboa e estou certamente a esquecer-me de alguém.

Com tantos encontros imediatos o que ficou para o fim foi a ida ao WC que tanto eu e um dos meus colegas tanto precisávamos antes da partida. Foi aliviar a bexiga, correr até à partida e começar a correr, não sem antes desejar os habituais votos de boa prova. Deixei-os ir ao ritmo deles e fiquei para trás para não me entusiasmar. Talvez por causa do vento frio, fiquei com dor de burro ao fim do primeiro quilómetro. Assustei-me um pouco, tentei controlar a respiração e a coisa passou para não mais voltar.

Os primeiros 5km são uma volta inicial dentro de Almeirim para depois se voltar a passar pela meta. Achei que estava pouca gente nas ruas, mas estava muita malta concentrada na zona da partida e meta. Na segunda passagem a coisa não melhorou mas havia quem fizesse barulho e batesse palmas para aquecer as mãos. Não fiquei desiludido, percebo que o frio era mesmo muito e o vento não ajudava. Se um dos nossos colegas de equipa acabou por ficar em casa por causa do tempo, entendo que o público também tivesse reservas em sair à rua.

Pouco depois da saída de Almeirim o João passa por mim e diz-me, de forma inspiradora, que vou bem a controlar o ritmo e que ao contrário do habitual não ia desejar força, mas sim calma. Ele seguiu em óptimo andamento e aquela frase deu azo a que um senhor mais experiente metesse conversa comigo. Falou-me de quando no ano passado começou feito louco e pagou a fava aos 18,5kms e ali fomos juntos durante uns quantos quilómetros. Eu disse-lhe que ia ao Porto para a semana, daí hoje ter que ir de forma tranquila, mas que em provas longas também gostava de fazer provas de trás para a frente e já tinha aprendido isso por má experiência própria. A conversa durou e durou e eu senti que estava a baixar o andamento mais que o desejado portanto acabei por deixar aquele companheiro mais ou menos na altura em que começaram a vir de frente os primeiros classificados.

O vento ali fazia-se sentir de forma mais pronunciada. Dentro da cidade estávamos mais protegidos pelos prédios, mas a caminho da ponte não havia hipótese de abrigo. Era uma fase de luta contra outro elemento que não conseguimos controlar. Fui-me distraindo a ouvir conversas alheias e à procura de mais caras conhecidas do outro lado. Vi passar o casal de colegas de equipa com quem fui e iam bem. Fiquei tranquilo com isso e segui até ao ponto de retorno. Aquela subida é chatinha.

O que eu não percebi foi que tinha ido a subir ligeiramente durante largos quilómetros e só notei isso quando... comecei a descer. Nota-se bem ali ao quilómetro 14, não é? 

Se para lá tinha visto passar os primeiros, agora no regresso  vi passar os últimos e lá estava uma cara conhecida a quem desejei uns enormes fotos de força para o resto da prova. Recebi um grande agradecimento no final. Nesta altura, precisamente a partir do quilómetro 14 formou-se de forma tácita um grupo de 4 atletas onde eu estava incluído. Fomos calados até ao abastecimento dos 15kms, até que eu tive que quebrar o gelo. "Estamos juntos há um quilómetro e vamos todos calados. É fome ou cansaço?". Recebi risos de volta e respostas de fome, de cansaço e de ambos. Uma senhora era de Almada e disse já ter 50 e não sabia se aguentava o ritmo. Os 50 não eram quilómetros como eu insinuei, eram anos. O ritmo era marcado por um atleta que já tinha 60. Anos também. E a tentar manter-se connosco estava uma atleta do Correr Lisboa que eu ainda pensei ser a mesma que tinha encontrado em Coimbra, mas não era. E eu ali feliz e contente por ter companhia, por ir bem disposto e por poder também ajudar. Fomos puxando à vez e sempre juntos até à meta. Íamos trocando umas palavras e uns rasgados sorrisos para os fotógrafos. Às palavras de cansaço seguiam-se outras de ânimo e de força. Tinha pensado esticar um pouco nos quilómetros finais, mas acabei até por abrandar para não largar ninguém. A tal atleta de 50 ficou ligeiramente para trás no final, mas acompanhada por outra atleta com quem já tinha ido no início da prova. Depois da meta esperámos por ela, dei-lhe um abraço e quando viro costas ouço-a comentar com alguém que "estes dois senhores ajudaram-me imenso a acabar, estou-lhes muito agradecida." Foi o momento #ninguemficaparatras!

Quem também ia quebrando era a atleta do Correr Lisboa, mas não a deixámos terminar sozinha. Uns cumprimentos finais de agradecimento entre todos antes de cortar a meta e estava feito. Já diz o ditado que sozinhos podemos correr mais rápido, mas juntos corremos mais longe. E estava tão pouco preocupado com o meu tempo que nem vi o que marcava quando parei o relógio. Foi mais importante o abraço. Assim que parei para respirar já estava o João novamente (belo tempo!) com quem troquei ideias sobre recordes dos 20km. Tecnicamente o meu record é no Douro Vinhateiro no dia em que bati o record da Meia, mas vou contabilizar que em provas de 20km o meu record foi batido hoje. Não era difícil, já vinha de Fevereiro de 2016, dos extintos 20km de Cascais, e era de 02:01:57.

Tecnicamente, portanto, bati um record antes da Maratona. Mesmo que esse record em provas de 20km seja superior ao meu record em Meias Maratonas. Confuso? O melhor é voltar a Almeirim para o ano sem rédea curta para fazer abaixo de 1:50! E foi de voltar a Almeirim que se falou enquanto se comia a bela da sopa da pedra no final. E voltar com mais malta da equipa, porque uma prova com este convívio no final e a este preço merece ter mais gente, tal como acontece quando vamos a Tagarro, Mafra ou Peniche, por exemplo. Temos marcado sempre presença em Almeirim, mas por uma razão ou outra sempre em número modesto.

O tempo final aqui apresentado é o absoluto. O relógio marca 1:55:50. O tempo de chip estará entre um e outro.

Nada mais havendo a dizer, encerrou-se assim esta prova da qual se lavrou o presente texto.

Próxima paragem: Maratona do Porto. (E um arrepio na espinha ao escrever isto!)



Prova nº 94 - 20kms de Almeirim 2018 - 20km - 01:56:25

12 comentários:

  1. Boa crónica dessa mítica prova. Para o ano tenho que a fazer.
    Agora, o palco dos sonhos é o Porto. Vamos com tudo.
    Um abraço

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    1. Obrigado Caramba! E bem-vindo a este cantinho.
      Lá nos encontramos. É para a diversão total, faça chuva ou faça sol!
      Um abraço!

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  2. Já está!! Para a semana ainda vai correr melhor!!
    **

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    1. Já está. Agora é não estragar nada.
      Vai ser tão bom! ***

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  3. Muito bom. Parabéns pelos teus primeiros 20! Sinto que este ano desiludimos um bocado com a falta de público..tens de voltar para fazer como deve ser! Grande abraço, foi um prazer finalmente conhecer-te! É o que dá só fazer 2 provas de estrada por ano :)

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    1. Obrigado! Sinto que farei mais 20s nos próximos anos! Não te preocupes, quem estava e fez a festa ajudou quem corria. Para o ano há mais. Ora essa! Marcamos já encontro para a tua próxima prova de estrada em Abril de 2019? :)
      Abraço!

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  4. Parabéns pelo recorde!
    E muita força para o Porto!
    É sempre uma alegria correr num percurso bonito e cruzarmo-nos com malta conhecida :)
    Beijinhos e MUITA FORÇA!

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    1. Obrigado! É um record meio estranho, apesar de tudo. Já corri 21km mais rápido que domingo. :D
      Ver malta conhecida é logo metade da festa! :)
      Beijinhos e agora sim, está na hora da força! Para vocês ainda falta mais um pouco.

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  5. Um recorde é um recorde. Parabéns por isso. Eu acho isso de refrear tanto falta de juízo :P … até domingo. Vamos lá ver se nos encontramos na confusão :)
    Grande abraço

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    1. E um escudo é um escudo! :D
      Podemos discutir a problemática do juízo no domingo com umas cervejas à frente. Até lá!
      Abraço!

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  6. Usaste muito bem a cabeça e da melhor forma. Muitos parabéns!
    Quanto ao tempo, a IAAF considera records os tempos de passagem, o próprio record mundial de 20 foi obtido em Meia. Mas digamos que tens o record dos 20 no Douro e em provas de 20 em Almeirim :)

    Estás quase na centena de provas. Tens que fazer uma festa na altura.

    Agora... altura para desejar TUDO DO MELHOR para domingo! Muita, muita força para seres tri-maratonista :)

    Grande abraço

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    1. Obrigado João! É mesmo difícil uma pessoa não se deixar levar no espírito da prova. Exacto, ficamos assim em termos de records, pelo menos para já. :)

      Estou... e já estou a preparar uma coisinha para celebrar.

      OBRIGADO! Vamos a isso!!! Grande abraço!

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