segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O que raio aconteceu aqui?

12 horas depois de ter terminado a Meia Maratona de Évora, ainda não consigo muito bem explicar o que aconteceu. Vinha de regresso no autocarro da equipa a pensar que viria aqui apenas partilhar o tempo final e guardar tudo o resto para mim. Aliás, admito já que vou mesmo guardar coisas que são só minhas.

Sair de casa às 6:30 da manhã depois de só ter ido dormir por volta das 2:00 se calhar é um bom tópico de partida para as parvoíces que se vão seguir.

Corria tudo dentro do previsto: ponto de encontro, viagem, levantamento dos dorsais. E depois da prova também correu tudo às mil maravilhas: almoço (a fabulosa sopa de cação!), viagem de regresso, etc.

O primeiro sinal menos bom ocorreu a 15 minutos do início da prova. Liguei o relógio e... bateria fraca. Mesmo fraca. Com o símbolo de bateria completamente vazio. Picuinhas como sou - e o relógio fica "esquecido" ligado ao pc depois de descarregar treinos - não sei como é que isto foi acontecer. Terá sido sinal do destino o facto de ter sido a última coisa que me lembrei de arrumar? Enfim, entrei um bocado em parafuso. A última vez que fiz uma prova sem relógio foi nos - agora - extintos 20kms de Cascais e correu malzinho, vá.

Tentei esquecer isso, não havia nada a fazer. Fui andando para a meta a mentalizar-me que tinha que gerir o esforço "às cegas" sem ter noção dos tempos que iria fazer. E mesmo quando tive oportunidade para isso, acabei por nunca perguntar a atletas com quem me cruzava com quanto tempo de prova íamos.

Apesar do percurso ter sido alterado em relação ao ano passado, o início da prova era exactamente igual: mau! Atletas da Meia, dos 10kms e até - como??? - da caminhada juntos a tentar avançar pelas ruas e ruelas estreias do centro de Évora, num sempre complicado empedrado. O mais importante era não tropeçar nos outros atletas, nos carros, em todos os obstáculos naturais, num slalom constante e desgastante. Se a ideia é permitir que os atletas aproveitem para ver os monumentos e a beleza da cidade numa altura em que ainda estão frescos, não resulta. Seria bem mais viável fazer um começo diferente e passar à Praça do Giraldo (onde é efectivamente a partida) com uns 3 ou 4 kms nas pernas já com alguma divisão no pelotão e ainda com a frescura suficiente para nos deliciarmos com a cidade. Seria mais monumental do que é, na minha modesta opinião. No fim da prova quase que jurei a pés juntos a quem fez a caminhada que o nosso percurso não passava ao Templo de Diana,

Estou por ali. Não, não sou um dos coelhos cor-de-rosa.
Continuando.

Ao sairmos de Évora, ali à entrada do terceiro quilómetro pensei em desistir. Não estava a entrar no espírito da coisa, o corpo não estava a reagir, foram quilómetros penosos. Depois achei que não tinha feito quase 150kms para desistir ao fim de dois. Segui, vi o LS passar com outro colega nosso e fui atrás deles sempre a uns 100 metros de distância. Pouco depois encontrei esta amiga que tinha ido no autocarro connosco e que estava em bom ritmo. Segui ao lado dela, apanhei o duo da frente aos 7kms e passei-os. Pouco depois seguia-se a separação das provas e meti na cabeça desviar-me para os 10km e ficar por ali. Ideia parva, por várias razões. Virei para o lado da Meia e meti pernas à obra!

Parei uns bons 30 segundos no abastecimento dos 10kms a beber um copo de isotónico - faria o mesmo aos 15kms - e nessa altura o meu colega apanhou-me, sem o LS que tinha ficado para trás com dificuldades fruto de uma lesão que o incomoda de vez em quando. Na altura nem percebi se tinha seguido logo para a meta dos 10kms ou se ainda lá vinha. Percebi mais tarde que lá vinha.

Sou o primeiro a querer ajudar em treinos e a "prescindir" de um treino e andar na cauda do grupo para dar apoio a alguém que precise. Por outro lado, não gosto muito de correr acompanhado em provas, a não ser que seja algo previamente combinado. Chamem-lhe egoísmo, mas isto tanto é válido para ir a rebocar alguém como para ser rebocado. A não ser que seja um caso daqueles óbvios em que a entreajuda é a única forma de prosseguir. O meu colega seguiu comigo até aos 13kms e começou a fraquejar na altura em que apanhámos subidas em empedrado. Por outro lado eu estava a sentir-me melhor a cada km que passava e segui. Tenho mesmo pena de não ter os meus tempos por km, tenho a certeza que estes terão sido os meus melhores e ia ultrapassando imensos atletas. 

Sabia que ainda me esperava a subida mais complicada que terminava aos 19kms, mas nesta altura já ia mais ou menos lançado e - acho eu - rápido. Por outro lado estava farto da prova e só queria mesmo acabar. Em diversas alturas do percurso meti na cabeça ceder o meu dorsal para a Meia dos Descobrimentos por falta de pachorra para passar por outros 21kms novamente para a semana.

Lá ultrapassei a subida dos 19kms, já com a mente na descida seguinte e na aproximação à meta - outra subida curta e dura, mas onde me esperava o melhor momento da prova e aquele que me fez sempre querer continuar.

Meta à vista e nem percebi bem quanto tempo tinha feito. Só sabia que tinha passado na partida com 1:30 de atraso em relação ao tempo total. Pronto, venham de lá as medalhas e no próximo domingo há mais.

Ouvi várias vezes durante a semana que isto em Évora era "só" uma meia maratona e que depois do Porto tudo iria parecer quase irrisório. Eu sei que foi dito sempre na brincadeira, mas é certo que não há duas provas iguais e nenhuma distância deve ser menosprezada porque todas são um desafio. Esta prova custou-me e desgastou-me mais que a Maratona. É tudo uma questão de mentalização.

Em termos globais foi a minha 8ª Meia Maratona e obtive a minha 3ª melhor marca na distância, tendo melhorado em relação à prova do ano passado que era o objectivo que me tinha proposta a atingir. E entre os dois abastecimentos com isotónico, ainda estive cerca de um minuto parado. Posto isto, para quê tanta complicação mental durante a prova?

P.S: Tenho um post agendado, escrito há uma semana, para ser publicado na 2a feira. Foi curioso voltar a lê-lo enquanto escrevia este.

Prova nº 49 - Meia Maratona de Évora - 21km - 02:02:10 

9 comentários:

  1. Ao ler o artigo, esperava um tempo muito diferente do bom que fizeste.
    Terá sido o pouco que dormiste?
    Cansaço mental enquanto o fisico ia muito bem como comprova o tempo?
    Desorientação pela falta de relógio?
    ALogo me cheira que para a semana vais estar completamente diferente.
    Força!

    Um abraço

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    1. João, a tua primeira frase exprime exactamente aquilo que eu queria transmitir e foi precisamente o que senti na subida para a meta quando vi o cronómetro oficial e descontei o tempo que tinha demorado na partida. Depois de todos os pensamentos negativos descobri com surpresa que afinal... estava tudo bem e dentro da normalidade.
      Acredito nessa previsão, espero mesmo que assim esteja. Vais lá também?
      Um abraço!

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  2. Já te disse o que achava, mas repito: é quando as coisas nos correm pior, que nos sabem melhor os bons resultados! A corrida, para mim, é muito isto: altos e baixos, dúvidas, receios, vontades de desistir, e depois uma alegria tremenda quando consigo fazer aquilo a que me propus!

    Na última meia aconteceu-me isso, como sabes... Foi o telemóvel que avariou dois dias antes, foi ter ido com um emprestado onde não tinha a minha playlist e cujo GPS não funcionou e fiz a prova toda sem tempos. Sei o que custa. Mas sabes também o que fiz... Aproveitei o momento, fui andando ao meu ritmo, e fui a ouvir o meu corpo. Não é um relógio que me diz que eu estou cansada. É o meu corpo. Às vezes, acho que estamos a ficar demasiado dependentes da tecnologia e paranóicos com os tempos... É isso que, realmente, importa na corrida?... Acho que não.

    Desculpa a divagação, vinda de quem corre há meia dúzia de dias. Mas a verdade é que as provas em que me diverti mais foram aquelas em que não me preocupei com isso :)

    Parabéns, mais uma vez, pelo teu tempo! Para a semana estamos lá, com ou sem tempos ;)

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    1. Meia dúzia de dias. Gostei. :)
      Tens razão em muito do que dizes e lembro-me dessa tua sequência de imprevistos. Não peças desculpas, divaga à vontade, é para isso que esta cantinho serve.

      Admito a minha relógio-dependência, mas não no sentido de estar super preocupado em fazer mais e melhores tempos. É uma questão de controlo - emocional, talvez. Na preparação para a Maratona o relógio era importante para me ajudar a manter o ritmo certo, não para andar a bater records, por exemplo.

      O que quer que tenha sido, foi uma lição que aprendi. Pensar menos, soltar-me mais. Uma coisa é certa, há uns meses atrás teria mesmo desistido.

      Obrigado. Lá estaremos. Com relógio, com tempos e com sorrisos no rosto! :)

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  3. A nossa cabeça é tramadaaa!! Mas fica mais uma vitoria para juntar a outras alcançadas e às que ainda virão :D De facto, cada prova é uma prova e as vezes estou a correr 10 e a pensar... fogo! Ja correste 21!! Isto nao custa nada! Tu ja correste 42!!! :) És grande!! :)

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    1. Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga. E ontem pagou sem necessidade nenhuma! :)
      Ora aí está, ainda há pouco tempo fiz 42 e ontem estava ali feito parvo a lutar comigo mesmo para fazer 21.
      Obrigado e as melhoras!

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  4. Também me desoriento toda sem a aplicação a informar-me dos tempos... Sei lá, uma pessoa vai gerindo melhor a coisa.
    Tal como tu, também prefiro correr sozinha. Assim vou ao meu ritmo.

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    1. Exacto, é um conforto extra. Às vezes olho para o relógio e nem vejo informação nenhuma, já se torna uma espécie de tique. Mas é mesmo uma linha ténue entre apoio e dependência!

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