Se há uma palavra que pode definir o que tenho sentido desde o Douro Vinhateiro, essa palavra é "ressaca". Desde então até ontem, apenas tinha corrido uma vez, num evento que fizemos em Lisboa e apesar de ter sido um treino com alguma altimetria, foi sobretudo uma brincadeira para o convívio com bastantes paragens para fotos de grupo.
Conheço perfeitamente este processo de ressaca, já tinha passado por ele logo a seguir à primeira maratona. Uma pessoa está muito focada num objectivo e quando ele está concluído (e felizmente com muito sucesso) rebenta aquela bolha de excitação que andou a crescer gradualmente até ao dia 27 de Maio. Já reconheço os sintomas e sei lidar com eles melhor, o que não invalida que não pudesse ter feito mais para lutar contra esta inércia consciente que se gerou.
Mas não foi tudo, não senhores. Neste fim de semana em particular houve outra "ressaca", aquela causada pelas jolas (a minha nova palavra favorita) no sábado à tarde e pelo vinho branco no jantar de aniversário de sábado à noite. Juntemos a isto algum desleixo durante estes últimos dias (hei-de fazer um post sobre as "actividades extra-curriculares" que tenho feito) e lá fui eu em bonitas condições correr no domingo a Palmela. As provas do crime:
Ora, era suposto em Junho a minha única prova ser a das Fogueiras, mas para além da questão do Challenge 3000 que já aqui abordei, também tive o privilégio de receber um convite para participar na Corrida Volkswagen através de uma empresa que é cliente de um colega de equipa. E lá fomos nós fazer uma prova que é daquelas que sempre esteve nos meus planos mas na qual nunca tinha participado.
A Autoeuropa é um mundo lá dentro. Não tinha noção da dimensão das instalações e mesmo tendo visto o percurso na página da prova, ainda me intrigava como é que íamos fazer 10km lá dentro. E após ver e rever o mapa, nunca consegui também meter na cabeça o caminho que íamos fazer. Como eu sou uma pessoa muito visual em termos de aprendizagem (obrigado às formações na empresa que me ajudaram a descobrir isto ao longo dos anos) preciso de analisar bem os percursos para me conseguir situar durante as provas e isso ontem nunca aconteceu. Não é grave, pensei, isto nem estava na agenda, é só ir atrás dos outros até à meta.
Fomos 7 elementos da equipa até Palmela, encontrámos lá um oitavo para além de alguns outros amigos. A grande curiosidade era mesmo as passagens pelos corredores junto às linhas de montagem da fábrica e nessa zona éramos brindados também com bastantes aplausos dos funcionários presentes. O tempo estava encoberto e a malta dividia-se entre os que tinham frio e os que não tinham. Eu levei a nossa camisola e vesti por cima a do nosso patrocinador de ocasião, ambas de manga curta, e se havia quem me dissesse que eu ia ter calor, também havia quem achasse boa ideia ter uma segunda camada de roupa. Como ambas as camisolas até têm o mesmo padrão de cor, não estranhei e ambas de acabaram por fundir numa só. Uma coisa certa era que o boné ia servir mais para proteger da chuva do que do sol.
À medida que se aproximava a hora de início da prova, o espírito ia entrando e após os votos finais de boa sorte não foi surpresa que eu tenha começado logo em bom ritmo a tentar fugir à confusão inicial da partida. Apesar do espaço ser largo, havia imensa gente e muitos zigue-zagues. Não tinha nenhuma estratégia definida, para além de dizer ao corpo que aqueles 10km eram a minha punição pelo que tinha andado a fazer nos últimos tempos, portanto era para os fazer até ao fim sem me queixar. Aguenta e não chora, rapaz!
Tentei ir atrás da dupla de colegas mais rápidos e durante os primeiros 3km ainda os fui acompanhando primeiro ali perto e depois cada vez mais longe até deixar de os ver no meio do pelotão. Foi mais ou menos quando percebi que estava a ficar sem pernas para o ritmo a que ia e moderei o esforço. Achei que tinha, pelo menos, ganho margem suficiente para gerir o resto da prova por forma a terminar abaixo dos 50 minutos e honrar não só a nossa camisola mas também a camisola extra que tinha vestida. E lá fui sem pensar em muito mais.
As passagens pelas linhas de montagem foram, de facto, interessantes. Tentando não perder o ritmo ia espreitando em volta para conseguir capturar alguns detalhes do interior e de todas aquelas peças do puzzle que acabam por formar os carros que dali vão saindo. E lá dentro não chovia, ao contrário do que ia acontecendo cá fora. Uma chuva não muito intensa, mas constante que se fez sentir durante um terço da prova, talvez.
Outro ponto de interesse foi a pista de testes cá fora. Suponho que é o local dos testes dos travões e afins. Mais ou menos como aquilo que encontramos quando vamos com o carro à inspecção, mas ali estendia-se por quase um quilómetro de distância. Foi aqui também que havia um retorno que me permitiu ver praticamente todo o resto da equipa e fazer a festa quando nos cruzámos todos.
Depois deste ponto faltavam 2,5km e era altura de focar na meta que nunca mais chegava. Ao entrar nos pavilhões das linhas de montagem o sinal de GPS tinha sido perdido, portanto era impossível contar com as médias do relógio para saber a quantas andava. Acabou por me marcar 9kms no final da prova. Olhando para o tempo decorrido mantinha a convicção que abaixo dos 50 minutos era garantido e tive essa garantia quando tinha 44 minutos ao passar a placa dos 9kms. Só um infortúnio me faria fazer 6 minutos no quilómetro final e fiz um último esforço para terminar o melhor possível. E consegui.
Depois da prova veio um momento de maior tristeza ao saber que um amigo tinha caído a cerca de 300 metros da meta e veio a confirmar-se depois que fracturou duas costelas. E aqui veio um daqueles momentos de entre-ajuda que me faz orgulhar de estar neste mundo. Quem ia mesmo atrás do nosso amigo era o meu mentor que ia a acompanhar uma colega nossa rumo a um bom tempo, mas pararam imediatamente para o ajudar e foram chamar ajuda da organização (para além de entrarem logo em contacto com a mulher dele que aguardava na meta) e só o deixaram quando já estava na companhia dos bombeiros. Provas há muitas e foi mais uma confirmação de que aprendi tudo o que sei com a pessoa certa.
Aprendi - ou recordei - também outra lição. Logo na meta percebi que a nossa enfermeira bateu o seu record aos 10km e vendo os resultados mais a frio percebi que o mesmo aconteceu com um dos colegas mais rápidos que eu (ou com ambos até, não tenho a certeza). Para além da muita felicidade pelos resultados deles fica no ar a ideia que eu poderia ter conseguido o mesmo se não tivesse andado mais na balda nos últimos tempos. É que olhando para o meu próprio resultado final acabei por não ficar nada longe. Obviamente que não tenho nenhuma obsessão com os tempos e esta prova nem fazia parte do calendário, mas é a prova de que não podemos/devemos baixar a guarda em nenhum momento porque há oportunidades que aparecem que podem ser únicas e temos que estar preparados para as agarrar com ambas as mãos ambos os pés. Por outro lado, há mais da vida para além das corridas, portanto não me arrependo de nenhum dos momentos de lazer e de nenhuma das jolas. Mal seria se assim fosse. Venham mais: corridas e jolas! Já disse que jolas é a minha nova palavra preferida?
Prova nº 88 - Corrida Volkswagen 2018 - 10km - 00:48:42
:):):) … olha-me este melro a descobrir os "segredos" da pernetada :) … dou-te mais uma pista … "jolas" ou "bejecas" combinam bem com corridas, há que manter é as duas juntas ;) … excelente tempo … parabéns
ResponderEliminarXiiiiu então. Guardemos esses segredos só para nós então! :)
EliminarEstão sempre juntas, nem podia ser de outra forma. Obrigado, abraço!
Jolas, jolas, jolas, se possível "bem tiradas" com pouca espuma!!! E faltou a ginginha!!!!
ResponderEliminarMáquina!!!
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As mal tiradas também se aproveitam. :) A ginginha vai ter que ser hoje! Máquinas foram os dois que não consegui acompanhar, para além daquelas máquinas de 4 rodas que estavam por lá. :) ***
EliminarMais uma daquelas que adorava fazer! Conheço essa cena da ressaca... O melhor é forçar a correr nesses dias, é assim que a ultrapasso. Espero que o teu amigo esteja bem. Parabéns pelo tempo, vamos embora que estão aí as fogueiras a seguir À curva!
ResponderEliminarÉ porreira e vale pelo menos uma visita. O meu refúgio nesses dias são os doces e as porcarias. Como tento ser regrado antes de uma prova mais importante, depois "compenso" (ou descompenso) a seguir. Nada melhor como levar assim um estalo como no domingo para voltar ao normal. O meu amigo está ok, agora tem que repousar o mais possível. Obrigado, estão mesmo! :)
EliminarEssa corrida é bem gira! Quando a fiz foi com imenso calor... Não sei se com chuva será melhor! Mas ainda bem que, no meio de tudo, acabou por te correr bem :)
ResponderEliminarÀs vezes, é mesmo mais importante termos equilíbrio na nossa vida, do que termos mais um PR :)
Eu, que não costumo ter problemas com o calor, até agradeci o tempo fresco. Correu sim. :)
EliminarTens razão, há mais para além das corridas e dos PRs. Aliás, um dia tenho que fazer um resumo destes últimos dois meses que têm sido cheios de actividades extra-curriculares. :)
Tempo fantástico!!! Já nem precisas de treinar com afinco para baixares facilmente dos 50!!!
ResponderEliminarEsta corrida é muito gira em especial a passagem pela zona de montagem!
Um abraço e muitos parabéns!!!
Já faço ponto de honra de fazer sub-50, desde que esteja em condições normais, mas sem nunca me esquecer da altura em que achava ser sub-50 uma meta inatingível.
EliminarFoi uma boa experiência, sem dúvida.
Um abraço! Obrigado!