Tentei não ler o post do ano passado, mas falhei redondamente e foi o que acabei de fazer antes de começar a escrever este. Não sei se há mais semelhanças ou diferenças.
Desta vez não me caiu um dorsal na véspera, já me tinha inscrito com a devida antecedência e sabia ao que ia. E ia com esperança de melhorar o tempo do ano passado. É que eu continuo com um problema: o meu record pessoal aos 10km foi no GP Natal 2016 com 48:16 mas com um dorsal que cedido por um amigo. O meu record pessoal em nome próprio é 48:18 feito na Scalabis 2017. É este que eu uso quando me perguntam e quero de uma vez por todas poder deixar de ter que explicar que tenho "dois recordes pessoais".
Spoiler alert: não foi hoje que isso aconteceu! Serei um dos 7 atletas num universo de 4356 finishers que não o fizeram hoje. Vamos já colocar de lado esta questão. Quem estava à espera de um relato épico de um record pode ficar por aqui. Temos "apenas" um relato épico de uma excelente prova, culminada com uma aproximação à meta onde beijo o símbolo da equipa na camisola e depois de terminar ergo os braços, danço ao som da música que saía dos altifalantes terminando com um soco no ar. Tudo isto com um sorriso na cara, imagine-se. Descobri no carro na viagem que regresso a casa que parte disto foi também filmado em directo pelo canal que fez a transmissão da prova e prontamente colocado a circular na rede social. Bonito!
Não fiz grandes análises à prova. Sabia o ritmo final que tinha que atingir, sabia as dificuldades pelo caminho, sabia que é aquele final que (quase) toda a gente gosta. O que não estava nos planos era a jantarada de Natal até às tantas na 6a feira, não pelo jantar em si mas pelo frio que apanhei. Ontem acordei meio constipado e isso manteve-se hoje, apesar de ter atacado com medicação. O nariz entupido era o maior inimigo, mas descobri antes dos 3kms que a respiração estava também a ficar afectada, daí que tenha ido ao bolso dos calções agarrar a bomba para a asma na esperança que fosse ajudar a acalmar. Resultou por uns quilómetros ou pelo menos enquanto o psicológico deixou.
Ao contrário do ano passado comecei forte nas subidas iniciais. Tinha que chegar ao fim com média de 4:49m/km e comecei dentro desse registo mesmo sabendo que podia pagar a factura mais tarde, mas queria chegar a Telheiras abaixo do ritmo desejado sem pensar que podia recuperar alguma perda na descida final. Disse isto no ano passado: estava a correr em ruas que me são familiares mas mantinha a concentração e podia ter as 7 maravilhas do mundo ao lado do passeio naqueles quilómetros que não as teria visto.
Escolhi até levar o relógio "antigo" por ser mais rigoroso a mostrar o ritmo instantâneo e mais fácil para começar/terminar o treino. O novo tem um ligeiro delay no ritmo, embora mostre depois com exactidão o ritmo por quilómetro no final dos mesmos. Mas eu queria saber sempre a quantas andava e fazia eu as contas da média por quilómetro. Era importante chegar a meio da prova com 24 minutos e chegar aos 8km abaixo dos 39 minutos. Foi por isso que fiquei muito contente quando atravessei o tapete de controlo dos 5km com 24:03.
Pequena pausa para dizer que não me vou alargar nos comentários às questões da organização que já foram muito debatidas pela rede social. A camisola é feia, a animação durante a prova foi bastante pior que no ano passado, mas por outro lado a existência de caixas de tempos facilitou no arranque. Aquilo que me vou queixar é da falta de apoio popular nas ruas de Lisboa. Excepto na Avenida da Liberdade onde havia muitas pessoas também por estarem à espera de amigos e familiares, o restante percurso foi uma pasmaceira em termos de apoio. Se ouvi 5 pessoas a bater palmas foi muito. Eu sei que ia focado, mas parece-me que não estou a ser injusto.
Agora vinha a fase dos túneis. Três quilómetros até ao Saldanha, três túneis. Se no primeiro a coisa não correu mal, no segundo já me senti a fraquejar, não tanto por falta de pernas mas porque a respiração estava a ficar descontrolada. Fiquei até na dúvida se ainda haveria um terceiro túnel de tão desorientado que me sentia. Claro que havia e quando saí dele já tinha a mira apontada ao Saldanha, mas ali a estrada sobe um pouco. Uma pessoa nem nota muito, mas sobe. Mesmo antes de começarmos a descer um amigo apanha-me e mete conversa rápida. Basicamente só me disse para respirar melhor. Eu ia ofegante ao ponto de se notar para quem estava nas redondezas. Já tinha pensado se esse seria o caso e tive ali a confirmação. Como sei que - em estrada - desço melhor que ele arranquei. A chegada ao quilómetro 8 deu-se já bem acima dos 39 minutos. Não consigo precisar exactamente com que tempo foi, mas já era o suficiente para colocar de lado a hipótese de recorde.
Teria que fazer dois quilómetros finais loucos e embora o coração me tivesse dito para partir tudo até aos Restauradores, a razão mandou-me descer a um ritmo forte mas que eu conseguisse manter de forma regular até ao final e foi isso que fiz.
Terminei da forma que já relatei no início. E muito feliz, diga-se! Uma frase feita que aparece de vez em quando no mundo da corrida é "Celebrate finish lines, not finish times!" Nesta prova celebrei ambos porque a chegada à meta marcava um tempo excelente para mim. Trata-se da 5a vez que baixo dos 50 minutos e é o meu quarto melhor tempo aos 10km. Está óptimo! Queria bater o recorde, sim... mas não preciso disso para me sentir feliz numa chegada à meta.
Para juntar à festa, antes da partida e depois da chegada estive com imensos amigos e vi caras conhecidas em catadupa. Tirei fotos, conversei com malta amiga com quem não me cruzava há algum tempo, falei imenso com outros atletas. Assim que me despedia de alguém tinha logo outra cara conhecida a chamar-me ou a cruzar-se comigo. E percebo pelas fotos que já vi que ainda houve muitos outros que não encontrei, mas que também estavam por lá a correr. Ficará para uma próxima oportunidade.
Agora para terminar o ano resta uma prova do troféu das localidades, a primeira onde vou marcar presença nesta nova época. Tive que ir ali ao Excel ver que é na Cruz Quebrada, porque nem tinha ainda visto muito bem onde era. Vou passar a semana a dizer que estas provas são só para o convívio - o que é verdade - mas quando lá chegar vou cerrar os dentes e dar o meu máximo naqueles percursos sempre muito sinuosos.
Prova nº 72 - Grande Prémio de Natal 2017 - 10km - 00:48:53