Já disse e repeti esta frase hoje e em muitos outros dias em que por lá estive.
O picnic foi espectacular. O tempo ajudou imenso. Já ouvi falar em possíveis escaldões e tudo. A criançada que esteve presente brincou que se fartou no
parque desportivo municipal de Mafra. Recomendo vivamente para quem for da zona e estiver à procura de um sítio simpático para passar uma tarde agradável. E foi mesmo uma tarde tranquila de excelente convívio após a prova. A repetir.
Ah pois, e a prova?
A coisa começou mal na 6a feira quando acordei com algumas dores nos gémeos, fruto de um treino mais intenso na 5a à noite. Achei que a coisa ia passar, mas sábado estava igual. Não, estava pior e por vezes custava-me a andar. Comecei a ficar preocupado e até passei Voltaren para ver as a coisa acalmava. Hoje de manhã acordei... na mesma.
No sábado à noite um colega perguntou-me que tempo estava a pensar fazer e eu disse-lhe entre 1:18 e 1:22. Ele gostou da resposta e disse-me que assim sendo íamos um a puxar pelo outro. E depois disse-me que fazíamos 1:15. Medo!!! Não neguei o desafio, mas sabia que isso não ia acontecer.
E hoje lá fomos, partimos juntos e estivemos os 2 primeiros quilómetros em slalom constante a ultrapassar atletas, fruto de muita confusão na partida - mais que nos outros anos - provavelmente por termos ficado mais para trás do que teríamos gostado. Quando demos a volta à escola de armas do Convento de Mafra ele já ia lançado e eu fiquei para trás e nunca mais o haveria de apanhar. Tentei ignorar as dores nos gémeos mas era impossível. Felizmente nessa altura estávamos a começar a cruzar com quem vinha na prova dos Sininhos e isso foi muito bom para distrair e procurar caras conhecidas vindas em sentido contrário, algumas até inesperadas!
Na rotunda seguinte pelos 4km confesso que pensei em seguir para o lado da caminhada e ficar por ali. Para quê continuar se estava tão desconfortável? Alterei ali mesmo os planos: se não dava para o tempo que queria, então ia seguir em ritmo descontraído e fazer um treino longo sem pressão.
Foquei-me no som que estava a ouvir - e que tinha passado o sábado a ouvir sobretudo quando estava a preparar coisas para hoje - e relaxei. As dores estavam lá mas deixaram de me incomodar tanto. As pernas pareceram menos presas e a passada custava-me menos. Teria provavelmente aquecido o suficiente para o corpo entrar em ritmo de cruzeiro. Pensei novamente que agora estava tramado porque tinha que fazer a prova até ao fim. Deixei-me ir, deixei-me ir, aproveitei a descida e quando virámos para o retorno olhei para o relógio e percebi que estava dentro do tempo que tinha idealizado para hoje. Sempre que tinha olhado durante a descida vi que ia próximo ou abaixo dos 5:00/km, mas achei que era só coincidência. Também percebi que só devia ter um minuto de atraso para o meu colega. Tu queres ver?
Cheguei aos 10km - já a subir - com 50:45 e comecei logo a fazer contas de cabeça. 5km a 6m/km dava para acabar com 1:20:45. Fixe, era só defender-me bem nas subidas que tinha pela frente e não acabava assim tão mal quanto isso. Até que aos 11km caminhei pela primeira vez por breves momentos. Não gostei da sensação e voltei a correr. Nessa altura já pedia palmas a toda a gente que assistia à beira da estrada. Aos 12km aproveitei o percurso mais acessível e acelerei.
Por mais que uma vez um atleta passou por mim quando eu estava a passo mais lento e disse-me para não acelerar tanto a subir. Chamou-me sempre pelo nome e eu achei que era alguém conhecido, mas não era. Coisas normais de quem tem o nome nas costas da camisola. Também nesta altura a minha estratégia era meter as mesmas duas ou três músicas em loop nos phones por serem aquelas da playlist que me dão mais pica. Assim que acabavam voltava a puxar atrás para as ouvir. Se há dias em que não faz falta, hoje o suporte musical foi essencial.
Pelos 13km mais uma subida antes da parte crucial. Voltei a caminhar para beber água e nessa altura alguém grita atrás de mim o meu primeiro e último nome: "____ ____, tu não vais parar agora! Estás quase no fim!" Mais uma vez, era um atleta que me era totalmente desconhecido. Respondi-lhe que ele tinha razão, que eu tinha demasiada gente importante à minha espera na meta!
Pensei em tanta coisa naqueles segundos, em toda a gente que estava efectivamente presente hoje, nas pessoas que não estando presentes em Mafra têm estado sempre do meu lado. Pensei nas caras conhecidas - e desconhecidas - do pelotão e naquilo que me comprometi a tentar há dias no blog. Acelerei o mais que pude e aproveitei a descida para embalar mesmo sabendo que a subida seguinte, a última subida da prova, é aquela que mais me custa, opinião partilhada por outros colegas. Passou por mim o João Lima que me perguntou se eu ia conseguir. Confesso que não me recordo o que respondi. "Não sei" ou "acho que sim". E claramente não sabia.
Quando tive que andar uns metros ouvi o meu nome - OUTRA VEZ!
"___ ____, tu nem penses! Vai-te embora!" E só tive tempo para olhar de relance e ver aquela mesma camisola laranja do companheiro de estrada e ele empurrou-me - literalmente - para eu voltar a correr. Não voltei a parar. O meu muito obrigado àquele herói improvável que ainda me apanhou à entrada do Parque Desportivo antes de descermos para a pista de tartan. Eu sprintei por ali fora e não o voltei a ver. Quando passei a meta fiz pose para a foto do Armindo, ouvi o meu nome nas bancadas e quando procurei por uma camisola cor de laranja não a encontrei. Pode ser que consiga perceber quem era pelas fotos.
Eu já disse várias vezes que a cabeça corre mais que as pernas. Hoje tive o exemplo de passar por várias fazes distintas durante a prova. Travei uma batalha psicológica comigo mesmo e isso cansou-me mais que o normal. Se calhar cansou-me tanto que me fez esquecer os gémeos. E eles ainda me estão a doer. Alongamento deficiente na 5a e hoje também? Falta de aquecimento hoje? Uma questão a rever.
O meu colega falhou o objectivo por um minuto e meio mas mesmo assim bateu o seu record. Já comparei os meus tempos por km com os dele para ver onde perdi tempo e até houve quilómetros em que lhe ganhei alguns segundos. Para o ano lá estaremos para nova aventura e novo desafio!
E eu? Não bati o meu record aos 15km por uns míseros 24 segundos, mas retirei exactamente 4 minutos ao meu tempo dos Sinos no ano passado. Triste? Nem pensar! Basta lembrar que há pouco mais de um mês estava a abdicar da Meia Maratona de Cascais para completar a recuperação de uma lesão!
Histórico da prova:
2015 - 1:30:31
2016 - 1:22:49
2017 - 1:18:49
Venha a próxima! Dia 9 tenho dose dupla a fazer claque no Estádio da Luz e a brincar à Fórmula 1 no Autódromo do Estoril.
Prova nº 57 - Corrida dos Sinos 2017 - 15km - 01:18:49