Ao contrário do que costuma acontecer, este post está a começar a ser escrito vários dias antes da prova. Regressar a Santarém este ano marca um ponto de viragem e tenho pensado imenso nisto sem o partilhar com ninguém. Faço-o aqui na semana antes da prova sempre que me lembrar de juntar uns parágrafos à história.
Então vamos lá fazer um pequeno flashback... No ano passado por esta altura estava - sem falsas modéstias - na minha melhor forma física até então e andava a bater recordes pessoais a cada prova que fazia. Fui a Santarém bater o que era na altura o meu record dos 10km e saí de lá a esconder as lágrimas, a frustração e o caos no qual me deixei afundar. Era o início antecipado do terrível mês de Maio e do descalabro que levou à desistência no Douro Vinhateiro.
Um ano depois tudo mudou - para melhor - e é com este espírito que a prova está a ser preparada! (Nota: não sei de que forma devo usar os tempos verbais porque hoje ainda é 2a à noite mas isto só vai ser publicado depois da prova.)
Fisicamente estou de volta ao meu andamento ideal, mentalmente estou com as ideias no sítio e estarei rodeado de verdadeiros amigos. Não posso pedir mais.
A minha análise prévia à prova diz que há ali uns quilómetros em que posso melhorar uns quantos segundos para tentar baixar o tempo de 2016 e fazer abaixo dos 50 minutos, mas sinceramente não tenho qualquer expectativa. É ver como estão as pernas, meter o meu melhor sorriso e ir até à meta.
E pronto, tudo o que vier a seguir já foi escrito depois da prova.
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E lá fomos para Santarém. Partimos cedo para termos tempo para estacionar com calma e levantar os dorsais antes das 19:00. Chegámos com alguma antecedência e deu mais que tempo para tudo, inclusivé comer e tirar fotos artísticas. E conversar bastante. No meu caso também foi bom para ver algumas caras conhecidas de outras equipas e foram várias as que encontrei, quase a cada esquina. Isto também é muito bom e ajuda a entrar no espírito antes da prova.
Minutos antes da partida fomos para o garrafão da meta. Já tinha percebido que - por alguma razão que sinceramente me ultrapassa - o meu dorsal tinha indicação de sub-50 por baixo do meu escalão de idade. Será que na altura da inscrição pediam comprovativos? Sinceramente só me lembro de enviar isso para as Fogueiras, mas se calhar nesta também. Por um lado isso foi óptimo porque me permitiu partir mais à frente - e nesta prova isso faz muita diferença nos primeiros kms - por outro lado eu era o único da equipa nessa caixa de atletas, pelo que depois dos cumprimentos habituais e dos votos de boa prova antes da partida estive uns 10 minutos "sozinho". Aproveitei para me isolar nos meus pensamentos e focar-me no que podia fazer.
O primeiro quilómetro foi o normal acertar de posição no meio do pelotão e ajustar o ritmo ideal. Nesta prova essa quilómetro inclui uma nova passagem pelo pórtico de partida para depois sermos lançados pelas ruas e ruelas de Santarém, passando a imensos pontos chave da cidade, incluindo as Portas do Sol e a Escola Prática de Cavalaria, de onde Salgueiro Maia partiu a 25 de Abril de 1974. Recordava-me de quase todos os cantinhos e pedras da calçada que estava a pisar. Estava a conseguir dois objectivos: meter um ritmo sempre constante abaixo dos 5m/km (4:45 era a média que o relógio marcava) e conseguir ter a música suficientemente alto nos phones para me manter imune a qualquer grito de golo que pudesse surgir. E descobri que os Starset da minha playlist são uma das bandas favoritas da filha adolescente de um colega meu quando antes da prova ele me mostrava a sua própria playlist. Isso será bom?
Prescindi do abastecimento de vinho na Taberna do Quinzena aos 3kms. Passei pela primeira mesa onde toda a gente se estava a aglomerar e quando dei por isso já não havia mais locais para agarrar um copo. Não sendo essencial, é icónico da prova e pareceu-me que este ano o abastecimento era mais contido. Segui, a pensar que um copinho me iria deixar mais descontraído para o resto, mas paciência.
Obviamente que a certa altura ia entrar no jogo psicológico de ter a cabeça a dizer-me que aquele ritmo era parvo. Ali aos 5/6kms ao dar a volta ao Jardim das Portas do Sol estava a quebrar um pouco mas reagi da melhor maneira que soube: meti um sorriso nos lábios e olhei à procura de quem vinha em sentido contrário. Tinha que passar um ar tranquilo ao pessoal da equipa com quem me cruzasse. E sorrir torna tudo muito mais fácil. E ver caras amigas também, mesmo que nem sempre tivessem reparado que eu estava ali do outro lado. Aos 7,5km já estava curado, fiz mentalmente o percurso que faltava até à meta e isso deixou-me calmo. A passagem pela Escola de Cavalaria também é um ponto alto da prova. No ano passado havia música alusiva à revolução - e televisões com imagens também? - e desta vez havia apenas silencio juntamente com a clássica fotografia que nos é tirada naquela zona. Já tinha havido música de intervenção antes, para além da sempre interessante presença de tunas e ranchos folclóricos durante o percurso, sempre dispostos a alegrar quem passa.
A partir dali estamos no último km até à meta. Olhei para o relógio e marcava média de 4:51/km. Ora isso é mesmo "resvés Campo de Ourique" do meu record, pá! Prego a fundo e um km final a 4:31 com um bónus de ainda ter puxado pelo público - há coisas que nunca mudam - a seguir à última rotunda antes da meta. E cheguei, feliz, eufórico, enfim... Qualquer adjectivo parece pouco para descrever o que me ia alma. Mas a prova não estava terminada.
Agarrei numa garrafa de água que bem precisava e comecei a fazer o percurso inverso por fora, sem nunca perturbar o trajecto de quem estava a chegar ao fim. Vi passar um, dois colegas que vinham bem. Passaram outras caras conhecidas, outras duas colegas que iam juntas - uma que podia fazer menos 3 ou 4 minutos, mas que vinha a fazer de lebre porque tem dos corações mais bondosos que eu já vi. Muita gente me dizia entretanto que eu estava a ir em sentido inverso, algumas por brincadeira e uma atleta com um verdadeiro ar de preocupação. Senti-me como uma pessoa a conduzir em contra-mão na auto-estrada. Quase não via uma outra colega de equipa que ia sozinha mas bem. É que o Benfica tinha acabado de marcar e naquela altura já podia estar stressado com o jogo. Passa por mim uma das atletas que eu estava à procura e uma rápida troca de palavras deu para perceber que ela ia bem - e para record pessoal. Pensei em seguir com ela para a ajudar, mas não foi preciso. Ela conseguiu e eu estava era mesmo a ver se via o pessoal da equipa que faltava porque sabia que uma colega - mesmo estando acompanhada - ia precisar de um incentivo extra. E quando apareceram fomos até à meta e ainda tivemos mais companhia que isto de vir ajudar quem precisa já está enraizado. Eu falo em colegas de equipa, mas na verdade o que somos é amigos e estamos lá sempre uns para os outros. Por isso é que a minha prova teve quase 1:20 porque só terminou quando toda a equipa passou a meta.
E lá fomos para Santarém. Partimos cedo para termos tempo para estacionar com calma e levantar os dorsais antes das 19:00. Chegámos com alguma antecedência e deu mais que tempo para tudo, inclusivé comer e tirar fotos artísticas. E conversar bastante. No meu caso também foi bom para ver algumas caras conhecidas de outras equipas e foram várias as que encontrei, quase a cada esquina. Isto também é muito bom e ajuda a entrar no espírito antes da prova.
Minutos antes da partida fomos para o garrafão da meta. Já tinha percebido que - por alguma razão que sinceramente me ultrapassa - o meu dorsal tinha indicação de sub-50 por baixo do meu escalão de idade. Será que na altura da inscrição pediam comprovativos? Sinceramente só me lembro de enviar isso para as Fogueiras, mas se calhar nesta também. Por um lado isso foi óptimo porque me permitiu partir mais à frente - e nesta prova isso faz muita diferença nos primeiros kms - por outro lado eu era o único da equipa nessa caixa de atletas, pelo que depois dos cumprimentos habituais e dos votos de boa prova antes da partida estive uns 10 minutos "sozinho". Aproveitei para me isolar nos meus pensamentos e focar-me no que podia fazer.
O primeiro quilómetro foi o normal acertar de posição no meio do pelotão e ajustar o ritmo ideal. Nesta prova essa quilómetro inclui uma nova passagem pelo pórtico de partida para depois sermos lançados pelas ruas e ruelas de Santarém, passando a imensos pontos chave da cidade, incluindo as Portas do Sol e a Escola Prática de Cavalaria, de onde Salgueiro Maia partiu a 25 de Abril de 1974. Recordava-me de quase todos os cantinhos e pedras da calçada que estava a pisar. Estava a conseguir dois objectivos: meter um ritmo sempre constante abaixo dos 5m/km (4:45 era a média que o relógio marcava) e conseguir ter a música suficientemente alto nos phones para me manter imune a qualquer grito de golo que pudesse surgir. E descobri que os Starset da minha playlist são uma das bandas favoritas da filha adolescente de um colega meu quando antes da prova ele me mostrava a sua própria playlist. Isso será bom?
Prescindi do abastecimento de vinho na Taberna do Quinzena aos 3kms. Passei pela primeira mesa onde toda a gente se estava a aglomerar e quando dei por isso já não havia mais locais para agarrar um copo. Não sendo essencial, é icónico da prova e pareceu-me que este ano o abastecimento era mais contido. Segui, a pensar que um copinho me iria deixar mais descontraído para o resto, mas paciência.
Obviamente que a certa altura ia entrar no jogo psicológico de ter a cabeça a dizer-me que aquele ritmo era parvo. Ali aos 5/6kms ao dar a volta ao Jardim das Portas do Sol estava a quebrar um pouco mas reagi da melhor maneira que soube: meti um sorriso nos lábios e olhei à procura de quem vinha em sentido contrário. Tinha que passar um ar tranquilo ao pessoal da equipa com quem me cruzasse. E sorrir torna tudo muito mais fácil. E ver caras amigas também, mesmo que nem sempre tivessem reparado que eu estava ali do outro lado. Aos 7,5km já estava curado, fiz mentalmente o percurso que faltava até à meta e isso deixou-me calmo. A passagem pela Escola de Cavalaria também é um ponto alto da prova. No ano passado havia música alusiva à revolução - e televisões com imagens também? - e desta vez havia apenas silencio juntamente com a clássica fotografia que nos é tirada naquela zona. Já tinha havido música de intervenção antes, para além da sempre interessante presença de tunas e ranchos folclóricos durante o percurso, sempre dispostos a alegrar quem passa.
A partir dali estamos no último km até à meta. Olhei para o relógio e marcava média de 4:51/km. Ora isso é mesmo "resvés Campo de Ourique" do meu record, pá! Prego a fundo e um km final a 4:31 com um bónus de ainda ter puxado pelo público - há coisas que nunca mudam - a seguir à última rotunda antes da meta. E cheguei, feliz, eufórico, enfim... Qualquer adjectivo parece pouco para descrever o que me ia alma. Mas a prova não estava terminada.
Agarrei numa garrafa de água que bem precisava e comecei a fazer o percurso inverso por fora, sem nunca perturbar o trajecto de quem estava a chegar ao fim. Vi passar um, dois colegas que vinham bem. Passaram outras caras conhecidas, outras duas colegas que iam juntas - uma que podia fazer menos 3 ou 4 minutos, mas que vinha a fazer de lebre porque tem dos corações mais bondosos que eu já vi. Muita gente me dizia entretanto que eu estava a ir em sentido inverso, algumas por brincadeira e uma atleta com um verdadeiro ar de preocupação. Senti-me como uma pessoa a conduzir em contra-mão na auto-estrada. Quase não via uma outra colega de equipa que ia sozinha mas bem. É que o Benfica tinha acabado de marcar e naquela altura já podia estar stressado com o jogo. Passa por mim uma das atletas que eu estava à procura e uma rápida troca de palavras deu para perceber que ela ia bem - e para record pessoal. Pensei em seguir com ela para a ajudar, mas não foi preciso. Ela conseguiu e eu estava era mesmo a ver se via o pessoal da equipa que faltava porque sabia que uma colega - mesmo estando acompanhada - ia precisar de um incentivo extra. E quando apareceram fomos até à meta e ainda tivemos mais companhia que isto de vir ajudar quem precisa já está enraizado. Eu falo em colegas de equipa, mas na verdade o que somos é amigos e estamos lá sempre uns para os outros. Por isso é que a minha prova teve quase 1:20 porque só terminou quando toda a equipa passou a meta.
Passei o resto da noite - enquanto me deliciava com a bifana, imperial (mais uma tinha calhado bem) e pampilho - a dizer que tinha novo record pessoal. Tecnicamente isso não é verdade, o RP aos 10km é 48:16, mas tendo em conta que até foi feito numa prova em que corri com dorsal alheio e tendo em conta que essa prova foi o Grande Prémio de Natal que é óptima para tempos por causa do percurso final do Saldanha até aos Restauradores, não tenho problemas em adoptar o tempo de hoje como RP oficial. Da próxima vez que tiver que enviar um comprovativo de tempo tem que ser este. Olhando para trás, então não é que tirei mesmo uns valentes segundos ao registo de 2016?
Prova nº 59 - Scalabis Night Race 2017 - 10km - 00:48:18
Muitos parabéns pelo FANTÁSTICO tempo!!!
ResponderEliminarForça para o primeiro de Maio. Lá nos veremos.
Um abraço
Obrigado João! Estou cada vez mais fã da Scalabis e isso também se reflecte no resultado final.
EliminarAté dia 1! Abraço!
Muitos parabéns então pelo record! Foi um grande tempo, e cumpriste o teu objectivo :)
ResponderEliminarMal falámos mas estava meio stressada quando te vi... Tinha acabado de chegar e andava à procura de quem tinha o meu dorsal! Depois não te vi mais. Nem sei se nos cruzámos durante a prova... Não estava nos meus melhores dias :/
Boa sorte para a próxima :)
Obrigado! :)
EliminarEu percebi o teu stress, não te preocupes. Também ainda estava à espera de dois colegas que ainda não tinham chegado e andava de cabeça no ar a ver se os via.
Só nos cruzámos duas vezes e tentei acenar-te mas ignoraste-me de forma olímpica. :P (Estou a brincar ctg, já percebi que foi um dia mau...)
Beijinhos!