segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O fim (?) do Fim da Europa

Há qualquer coisa nesta prova e no ar da serra de Sintra que me fez passar de um discurso de "ah e tal, vou lá uma vez só para marcar com um visto a prova do calendário" para "já cá vim 3 vezes seguidas e já estou ansioso pelo próximo ano!"

Escrevi isto no ano passado.
O ar da Serra de Sintra continua lá. Sinto que já conheço todos os pedaços de asfalto e de terra batida que fazem parte da prova. A subida inicial e a mítica aos 10kms já não me assustam. A chegada à Azóia e ver o Cabo da Roca e o mar lá ao fundo continuam a ser dos melhores momentos da prova. São momentos que vou guardar para sempre. Hei-de voltar ao Fim da Europa, mas não será para o ano. Nada contra a prova, atenção, apenas sinto que se fechou um ciclo de participação.

Inscrevi-me porque, mais uma vez, havia gente que lá queria ia pela primeira vez. Mesmo que depois cada um faça a sua prova, não resisti a estar presente e a apadrinhar as estreias. Fico contente por uma delas ter dito precisamente que só queria fazer a prova uma vez, mas no final já afirmou querer voltar em 2020.

Éramos muitos (tendo em conta que já passou um mês já não sei de cor quantos... uns 12 ou 13) elementos da equipa a participar e aproveitei o facto de ter uma amiga que mora próximo de Sintra para lhe pedir para nos levantar os dorsais. Correu mal. Não por ela, que fez tudo certinho, mas pela organização... e por minha culpa também. Ninguém percebia bem qual era o comprovativo de inscrição que era preciso levar. A organização também não esclarecia e só respondia que era o comprovativo ou o cartão de cidadão. O resultado foi que os comprovativos só começaram a chegar por e-mail - e em triplicado ou mais - na 6a feira ao fim da tarde. No meio de tanto rigor até nos deixaram levantar o kit de participação de uma colega que não iria participar na prova e que não me enviou nada para eu levantar o kit dela.

A cereja no topo do bolo foi no sábado ao fim da tarde quando um dos meus colegas preferiu vir cá a casa buscar o dorsal dele em vez de só o receber no dia da prova. Fui ao saco com os kits, tirei o dele e aproveitei para tirar o meu para ir preparando as minhas coisas também. E encontro o dorsal de uma pessoa que não sou eu, nem é nenhum dos meus colegas de equipa. Ao preparar o ficheiro com os nomes, números de dorsal, tamanho de t-shirt e etc para ela levantar cometi a proeza de trocar uns dígitos no meu dorsal. Quando ela foi levantar tudo, nem olharam para os documentos nem para os nomes. Viram o número de dorsais que ela tinha na lista e deram-lhe tudo. Liguei, em pânico, para o local onde estava a ser feita a entrega que ainda estava em funcionamento e disseram-me que teriam o meu dorsal - e todos os que não fossem levantados - num stand de secretariado junto à partida no domingo. Menos mal. No meio disto tudo prefiro ter-me enganado no meu próprio dorsal do que num dos restantes colegas e... a minha preocupação era com o atleta cujo dorsal eu tinha na mão e que, sem culpa, poderia não ter levantado o seu kit de participação. Chateia-me saber que basta uma pessoa chegar com uma lista feita manualmente com números de dorsais e poder levar todos sem stress sem que haja um controlo por parte de quem entrega. Eu sei que o erro no número foi meu, mas quem está do outro lado a entregar tem que detectar que algo está errado. E falo com conhecimento de causa porque eu já estive - e estarei novamente este ano - do outro lado a entregar dorsais.

Posto isto, passei quase todo o tempo em Sintra antes da partida junto do secretariado, também para resolver um erro numa das atletas femininas que aparecia num escalão masculino. O convívio pré-prova com o pessoal foi bastante curto, infelizmente. Resolveu-se tudo, pelo menos isso!

Já é hora da partida e já estava cansado. Lá fomos, ainda a tempo de umas fotos finais que é isso que fica para a história. Ao fim do primeiro quilómetro olhei pela primeira e única vez para o relógio ao longo de todo o percurso. Parei-o na meta, mas só olhei para ele novamente já na tenda da chegada enquanto me aquecia com um chá.

Ia ouvindo o constante bater dos ténis no chão e o arfar dos atletas ao longo dos primeiros quilómetros a serpentear serra acima. Uns mais audazes arriscavam mesmo trocar umas curtas palavras, sinal que iam a subir de forma mais tranquila. Tentei acompanhar os mais rápidos da equipa, mas sempre com um olho em quem vinha mais atrás. Acabei por ficar a meio, sem stress.

Agora seria a parte em que eu faria umas descrições da serra. Ela é linda e mágica, não há dúvida disso, mas sinto que não tenho nada para dizer que não tenha já dito nos anos anteriores. Dei por mim a olhar com bastante atenção para os restantes atletas, mais do que para a paisagem que me rodeava. Algumas caras e camisolas familiares, um constante rol de ultrapassagens entre todos ajudava a perceber quem estava mais confortável a subir e quem arriscava mais a descer. Eu, tal como a Suiça na Segunda Guerra Mundial, estava numa posição neutra. Soltava-me nas descidas, de facto, que em asfalto não me custa nada. Até o local onde os primeiros classificados das 10:15 me passaram foi o mesmo de sempre. Ao longe já tinha visto um colega de equipa, meu homónimo, e percebi que me estava a aproximar até que o ultrapassei desejando-lhe boa prova para o resto do percurso. E cada vez que passava alguém focava-me no atleta seguinte, que às vezes até era um que me tinha acabado de passar mas que tinha quebrado novamente.

Como habitual, havia pequenos grupos a treinar em Sintra e que iam apoiando de fora à nossa passagem. Numa dessas ocasiões ia sendo atropelado por uma bicicleta que vinha em contra-mão, junto ao início da tal mítica subida dos 10km que fiz sempre sem parar. Aliás, foi esse um dos meus objectivos, nunca parar! Consegui, inclusive na aproximação à meta que tem ali uma última subida enganadora.

Lembro-me bem de ter chegado lá acima e ter gritado que "Agora é sempre a desceeeeeeeeeeer!!!" True story! Acelerei por ali abaixo porque não me estava a sentir nada cansado. Percebi que isto de ir em modo neutro era bom para as pernas, mas que se notava no tempo final. Lembrei-me também que descer tanto também cansa portanto não me ia rebentar todo no primeiro quilómetro da descida. Tentei ir acompanhando alguns outros atletas, sobretudo aqueles que passavam por mim mais ao menos ao meu ritmo. A certa altura passou-me uma rapariga do Correr Lisboa que ficou ali à minha frente. Já tenho pacer até ao fim, pensei eu, meio hipnotizado pelo cabelo dela, apanhado num rabo de cavalo que oscilava para a direita e para a esquerda consoante o passo. Estava a impor um ritmo interessante e lá fui eu durante um bom bocado até ter perdido essa luta. Claramente que não posso competir contra atletas do escalão "menos de 25 anos e menos de 50 quilos". Aquela pequenita voou de uma forma imparável durante o resto e eu lá fiquei lado a lado com cotas da minha idade.

"Mete-te com alguém do teu tamanho" terá dito o meu cérebro quando despertou da hipnose. Ok, ok!

E lá fui. Entrada na Azóia para a parte da prova que mais gosto. Muita gente nas casinhas à beira da estrada. Alguns atletas que já terminaram a fazer o percurso de regresso até aos carros. O mar como cenário de fundo. O sentimento de dever cumprido porque ali o trabalho mais difícil está feito e é só desfrutar do final da prova. Muito vento, obviamente, mas isso faz parte.

Meta à vista, um colega de equipa à espera e outros dois que chegaram pouco atrás de mim. Vamos até à tenda aquecer e trocar de roupa enquanto aguardamos pelo resto da malta. Faz-se a festa, sobe-se ao pódio para uma foto de grupo da praxe e fazemos o caminho de regresso no autocarro. Um caminho que me pareceu interminável e mais longo que o habitual. A prova não me cansou, mas este ano a logística antes e depois deixou-me exausto.

Para o ano não volto, faço uma pausa sabática desta prova. Até sempre, Sintra! 

 


 
Prova nº 102 - Corrida Fim da Europa 2019 - 17km - 01:37:33

3 comentários:

  1. Bem-vindo de volta! (andas tão ausente que acho que digo isto em cada post...)

    É sempre uma prova única e especial... É uma prova de estrada que é na serra, juntando o melhor dos dois mundos, e com um ambiente que não encontras nas provas de estrada mais comerciais.

    Este ano não fui, já nem sei porquê... Talvez nos encontremos lá outra vez em 2021, que pode ser que me apeteça lá voltar.

    Muitos parabéns pelo teu tempo mas, sobretudo, pela forma como viveste e aproveitaste a prova!

    Até Domingo!

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  2. Só de ouvir falar em Sintra já bate uma saudade aqui no meu peito... E o coração já bate como se estivesse a subir a mítica subida dos 10k! Ahahahahah

    Percebo-te, agora andas no corta-mato e fora da tua zona de conforto e até estás a achar graça à coisa não é? Tanto que até já vais pausar estas provas que estão sempre previstas no nosso calendário! :P

    Eu este ano não fui por conselho do João Lima - "queres arriscar 6k a descer e a torturar os teus joelhos durante a preparação para uma Maratona?" - Achei por bem reconsiderar. Mas quero lá estar em 2020! :)

    Parabéns por mais uma meta!

    Até Domingo!

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  3. Pois... compreendo-te!
    Quanto ao engano nos dorsais, é curioso ler no regulamento de algumas provas a intransigência completa para depois se chegar lá e ser o mais à vontade possível.
    Ia explicar a razão porque não fui este ano mas está dada pela Fabiana no comentário em cima :)
    Um abraço e uma óptima preparação para a estreia internacional. Venga venga, animo animo. Campeone! :)

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