A primeira etapa deste louco mês de Maio começou em
Setúbal, na 29a edição da Meia Maratona da cidade. E começou graças a um
passatempo que ganhei, caso contrário acho que ainda não era este ano
que lá ia experimentar a prova. Mas... há sempre tantos mas... estive em
risco de não ir porque no sábado ao fim da tarde o carro voltou a dar
um ar de sua graça e foi dormir à porta do mecânico à espera que a
oficina abra na 2a feira. Felizmente havia alternativa (não 100% viável,
porque eu e carros andamos de candeias às avessas, mas uma alternativa)
e a viagem fez-se rumo à promessa de um almoço de choco frito, promessa
essa que também não se cumpriu. E para fechar este capítulo, imaginem
aqui este vosso amigo às 7:45, equipado, num posto de abastecimento a
não conseguir atestar o depósito e a rogar pragas ao mundo inteiro.
Porquê? Porque estava a tentar meter gasóleo no carro a gasolina e a
agulheta não entrava no depósito. Agora já consigo rir do sucedido e
sempre aprendi qualquer coisa. Aprendi eu e o senhor a quem fui
desesperado pedir ajuda.
Viagem
feita, dorsais levantados, cumprimentos da ordem ao cruzar com alguns
amigos. Comentário certeiro: "Ah bom, estava a achar estranho já teres
entrado no Alegro há dois minutos e ainda não ter falado a ninguém!"
Éramos dois elementos da equipa (mais claque de apoio) e na fila para os
dorsais estava também o terceiro elemento com quem não tínhamos
combinado boleia mas que encontrámos ali, na partida e depois na
chegada. Alturas perfeitas para fazermos as fotos da praxe.
A
minha colega ia fazer a estreia na Meia Maratona e ficou assustada
quando ouviu o outro companheiro de equipa a falar da Arrábida. Na 5a
feira pediram-me para não lhe dizer nada para não a assustar, mas ali
não fui a tempo de travar a descrição da prova. "Ainda se fosse
trail..." dizia ela... "Fazes de conta que é. Fala-se em Arrábida, olhas
para a paisagem e imaginas que é trail."
No meio disto tudo saíram uns últimos votos de força e que ela se divertisse acima de tudo. Partida!
Música
nos ouvidos, buff na cabeça a proteger dos 27 (30 em algumas zonas)
graus que se fizeram sentir e um ritmo vivo durante os primeiros
quilómetros. O tal colega dizia-me que eu podia bater o meu melhor
tempo, mesmo com a dureza da prova. Eu não acreditei nele, nem sequer ia
com essa ambição. Mesmo assim arranquei confiante e a sentir-me solto.
Descemos para a Av. Luísa Todi, viragem para o Estádio do Bonfim e
primeiro ponto de retorno. Achei muito estranho não ter reconhecido
quase ninguém que vinha em sentido contrário, mesmo sabendo que havia
por ali algumas caras conhecidas cujas pernas são mais rápidas que as
minhas. Iria demasiado depressa, demasiado distraído ou encadeado pelo
sol? Pelo menos encontrei malta conhecida atrás de mim quando eu fiz a
primeira viragem.
A
primeira metade da prova foi mesmo rápida e cheguei aos 10km com 53:37.
Melhor do que isso, não estava a mostrar sinais de cansaço, mas sabia
que o pior estava para vir. Para além disso já tinha notado que já tinha
bebido mais água até àquele momento do que às vezes em toda uma meia. O
calor não perdoava.
Arrábida
à vista! Ritmo a reduzir ligeiramente primeiro e depois de forma mais
acentuada ao km 12. E foi nesta subida que apareceu o meu herói
improvável. Ia eu a gerir o esforço - ainda sem parar, ao contrário de
muitos outros à minha volta - quando sinto um toque nas costas, seguido
de um "Bora lá, N., anda daí" que consegui ouvir por cima da música que
levava nos ouvidos. E eu fui durante uns metros, até não conseguir
acompanhar mais aquele atleta. Não o reconheci e ele chamou-me pelo nome
que viu nas costas da camisola. A seguir à subida (feita a ritmo de
7:03) veio uma descida (a 5:09) e eu passei por aquele amigo de
circunstância. Dei-lhe uma palmada nas costas e disse-lhe que ele já me
apanhava na próxima subida. Ele concordou e disse-me que "já te apanho."
Ainda olhei para o dorsal dele e ri-me com o nome. Norberto! A sério?
Mesmo?
Mas ele nunca
mais me apanhou naquela fase. Fiz o retorno e segui rumo ao
abastecimento dos 15km que já tinha visto quando ia do outro lado da
estrada. Quando lá cheguei parei. Tinha ficado de olho nas laranjas e
assim que comi um quarto percebi que ia ficar ali um bocado, como se
fosse um abastecimento de trail. Devo ter comido uns 5 ou 6 quartos de
laranja. Eu e muitos outros, sedentos de algo que nós ajudasse a
refrescar. Espero sinceramente ter havido laranjas para todos. Se não
houve, as minhas desculpas pela minha quota parte de culpa. Parei
durante um minuto e meio e assim que voltei a correr tinha pela frente a
última subida, que tão facilmente tinha descido há uns quilómetros
atrás. Comecei a andar até aparecer o Norberto novamente. E ainda olhei
para o dorsal outra vez para confirmar o nome. "Anda, mete ritmo na
subida. Mexe os braços para ajudar, vamos lá!" Fui novamente com ele
subida acima até que segui sem ele. Não lhe consegui agradecer nem
trazê-lo comigo na descida. Fiquei com peso na consciência, mas o que é
certo é que meti mesmo um ritmo certinho que gradualmente era maior que o
dele. Encontro-te no fim. Ou depois na classificação e procuro-te na
rede social.
De regresso a
Setúbal vinha uma parte da prova que eu achei mais dura que a Arrábida:
uma passagem mesmo ao lado da meta aos 18km. Não sei se há algo que me
tire mais a força como passar na zona da meta e ainda ter que dar uma
volta algures. Apesar de estarmos em plano tive que andar algumas vezes.
O calor não perdoava e aumentava o factor cansaço. A quinhentos metros
da meta ainda tive que voltar a caminhar mas depois consegui finalmente
arrancar e só parar com a medalha na mão.
Falhei
o objectivo das duas horas. Não tivesse parado a comer laranjas tinha
ficado résves. Mas sem o apoio do Norberto também tinha ficado longe
desde marca.
Estava na
hora da função habitual de voltar atrás para ir buscar a minha colega.
Como fui pelo percurso da corrida fui encontrando amigos em puro estado
de cansaço. E ela também vinha assim mas, felizmente, não tão longe.
Receava que ela tivesse quebrado mais, mas aguentou-se bem. Mesmo assim
grande parte dos quase 3km que fiz ao lado dela foram a caminhar.
Excepto na recta da meta. Aí foi a correr para todos verem!
Missão cumprida e registada pela claque. A primeira Meia Maratona dela estava feita! O nosso outro colega chegou pouco depois.
Não
houve choco frito, já tinha dito? Ele fugiu a correr dali para fora e
aproveitou o cansaço dos atletas para escapar. Ou então a confusão era
tal que não dava para entrar em nenhum restaurante. No entanto, a tarde
naquela zona correu igualmente bem.
A
classificação foi muito rápida a sair e lá fui eu à procura do
Norberto, só que não. Nada. Nem um único Norberto nesta prova. Seria ele
real? Ou uma miragem causada pelo calor? Teria eu inventado? E logo com
este nome? Fica a dúvida... E fotos? De certeza que alguém teria tirado
uma foto ao rapaz! Mas nada...
(À
hora que escrevi o rascunho do texto da prova era este o estado das
coisas, mas ao final da noite houve, finalmente, uma evolução.)
Depois
de muito tempo sem perceber pela classificação quem seria o Norberto,
eis que aparecem mais fotos da prova e num desses álbuns lá conseguir
encontrar uma fotografia do jovem. Afinal é Roberto, caramba! Resta-me
encontrá-lo na rede social porque a atitude dele foi 5 estrelas. Ainda
hoje me diziam que o meu hábito de voltar atrás nas provas para ir
buscar colegas menos rápidos merece mais que uns kudos e uns likes. Ora
aqui está a maneira do universo me retribuir!
O
resto da tarde foi agradável, num dia de sol e calor fantástico. Como
dizia um agente da autoridade, estava um tempo óptimo, excepto para quem
corre.
O desfecho foi super positivo, mas não sei
se volto a fazer a prova sem uma melhor preparação. Cheguei a comentar
com o João Lima que isto era um Fim da Europa mais longo. E em nada fica
a dever à meia das Lampas, por exemplo, outra prova que passa pela
metas.
Próxima paragem: Loures
Prova nº 84 - Meia Maratona de Setúbal 2018 - 21km - 02:02:20
Muitos parabéns pela tua prova e marca (só dois e zeros) neste percurso e dia tão difíceis!
ResponderEliminarUm abraço e boa Loures
Obrigado João! Foi duro, mesmo!
EliminarSerá que isto é uma nova espécie de código binário?
Forte abraço e força!
Parabéns, parabéns, parabéns!!! Só de me lembrar como é correr debaixo do sol com o calor a apertar... Desespero!
ResponderEliminarBeijinhos
Obrigado, vezes 3!!! Eu até prefiro o calor ao frio, mas no domingo, caramba...! Só posso agradecer ao "Norberto" que foi impecável comigo. Vivam os Norbertos! :)
EliminarBeijinhos!
Parabéns!! Estava mesmo calor e ainda tiveste energia para ir buscar a M!!! Tu não existes!!
ResponderEliminar**
Obrigado! Pouca energia, confesso. Ainda andei a vaguear pela zona da chegada meio perdido sem encontrar a nossa claque de apoio. Ela merecia e estava a precisar daquele empurrão no final. ** :)
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