segunda-feira, 7 de maio de 2018

Obrigado Norberto!

A primeira etapa deste louco mês de Maio começou em Setúbal, na 29a edição da Meia Maratona da cidade. E começou graças a um passatempo que ganhei, caso contrário acho que ainda não era este ano que lá ia experimentar a prova. Mas... há sempre tantos mas... estive em risco de não ir porque no sábado ao fim da tarde o carro voltou a dar um ar de sua graça e foi dormir à porta do mecânico à espera que a oficina abra na 2a feira. Felizmente havia alternativa (não 100% viável, porque eu e carros andamos de candeias às avessas, mas uma alternativa) e a viagem fez-se rumo à promessa de um almoço de choco frito, promessa essa que também não se cumpriu. E para fechar este capítulo, imaginem aqui este vosso amigo às 7:45, equipado, num posto de abastecimento a não conseguir atestar o depósito e a rogar pragas ao mundo inteiro. Porquê? Porque estava a tentar meter gasóleo no carro a gasolina e a agulheta não entrava no depósito. Agora já consigo rir do sucedido e sempre aprendi qualquer coisa. Aprendi eu e o senhor a quem fui desesperado pedir ajuda.

Viagem feita, dorsais levantados, cumprimentos da ordem ao cruzar com alguns amigos. Comentário certeiro: "Ah bom, estava a achar estranho já teres entrado no Alegro há dois minutos e ainda não ter falado a ninguém!" Éramos dois elementos da equipa (mais claque de apoio) e na fila para os dorsais estava também o terceiro elemento com quem não tínhamos combinado boleia mas que encontrámos ali, na partida e depois na chegada. Alturas perfeitas para fazermos as fotos da praxe.

A minha colega ia fazer a estreia na Meia Maratona e ficou assustada quando ouviu o outro companheiro de equipa a falar da Arrábida. Na 5a feira pediram-me para não lhe dizer nada para não a assustar, mas ali não fui a tempo de travar a descrição da prova. "Ainda se fosse trail..." dizia ela... "Fazes de conta que é. Fala-se em Arrábida, olhas para a paisagem e imaginas que é trail."
No meio disto tudo saíram uns últimos votos de força e que ela se divertisse acima de tudo. Partida!

Música nos ouvidos, buff na cabeça a proteger dos 27 (30 em algumas zonas) graus que se fizeram sentir e um ritmo vivo durante os primeiros quilómetros. O tal colega dizia-me que eu podia bater o meu melhor tempo, mesmo com a dureza da prova. Eu não acreditei nele, nem sequer ia com essa ambição. Mesmo assim arranquei confiante e a sentir-me solto. Descemos para a Av. Luísa Todi, viragem para o Estádio do Bonfim e primeiro ponto de retorno. Achei muito estranho não ter reconhecido quase ninguém que vinha em sentido contrário, mesmo sabendo que havia por ali algumas caras conhecidas cujas pernas são mais rápidas que as minhas. Iria demasiado depressa, demasiado distraído ou encadeado pelo sol? Pelo menos encontrei malta conhecida atrás de mim quando eu fiz a primeira viragem.

A primeira metade da prova foi mesmo rápida e cheguei aos 10km com 53:37. Melhor do que isso, não estava a mostrar sinais de cansaço, mas sabia que o pior estava para vir. Para além disso já tinha notado que já tinha bebido mais água até àquele momento do que às vezes em toda uma meia. O calor não perdoava.

Arrábida à vista! Ritmo a reduzir ligeiramente primeiro e depois de forma mais acentuada ao km 12. E foi nesta subida que apareceu o meu herói improvável. Ia eu a gerir o esforço - ainda sem parar, ao contrário de muitos outros à minha volta - quando sinto um toque nas costas, seguido de um "Bora lá, N., anda daí" que consegui ouvir por cima da música que levava nos ouvidos. E eu fui durante uns metros, até não conseguir acompanhar mais aquele atleta. Não o reconheci e ele chamou-me pelo nome que viu nas costas da camisola. A seguir à subida (feita a ritmo de 7:03) veio uma descida (a 5:09) e eu passei por aquele amigo de circunstância. Dei-lhe uma palmada nas costas e disse-lhe que ele já me apanhava na próxima subida. Ele concordou e disse-me que "já te apanho." Ainda olhei para o dorsal dele e ri-me com o nome. Norberto! A sério? Mesmo? 

Mas ele nunca mais me apanhou naquela fase. Fiz o retorno e segui rumo ao abastecimento dos 15km que já tinha visto quando ia do outro lado da estrada. Quando lá cheguei parei. Tinha ficado de olho nas laranjas e assim que comi um quarto percebi que ia ficar ali um bocado, como se fosse um abastecimento de trail. Devo ter comido uns 5 ou 6 quartos de laranja. Eu e muitos outros, sedentos de algo que nós ajudasse a refrescar. Espero sinceramente ter havido laranjas para todos. Se não houve, as minhas desculpas pela minha quota parte de culpa. Parei durante um minuto e meio e assim que voltei a correr tinha pela frente a última subida, que tão facilmente tinha descido há uns quilómetros atrás. Comecei a andar até aparecer o Norberto novamente. E ainda olhei para o dorsal outra vez para confirmar o nome. "Anda, mete ritmo na subida. Mexe os braços para ajudar, vamos lá!" Fui novamente com ele subida acima até que segui sem ele. Não lhe consegui agradecer nem trazê-lo comigo na descida. Fiquei com peso na consciência, mas o que é certo é que meti mesmo um ritmo certinho que gradualmente era maior que o dele. Encontro-te no fim. Ou depois na classificação e procuro-te na rede social.

De regresso a Setúbal vinha uma parte da prova que eu achei mais dura que a Arrábida: uma passagem mesmo ao lado da meta aos 18km. Não sei se há algo que me tire mais a força como passar na zona da meta e ainda ter que dar uma volta algures. Apesar de estarmos em plano tive que andar algumas vezes. O calor não perdoava e aumentava o factor cansaço. A quinhentos metros da meta ainda tive que voltar a caminhar mas depois consegui finalmente arrancar e só parar com a medalha na mão.

Falhei o objectivo das duas horas. Não tivesse parado a comer laranjas tinha ficado résves. Mas sem o apoio do Norberto também tinha ficado longe desde marca.

Estava na hora da função habitual de voltar atrás para ir buscar a minha colega. Como fui pelo percurso da corrida fui encontrando amigos em puro estado de cansaço. E ela também vinha assim mas, felizmente, não tão longe. Receava que ela tivesse quebrado mais, mas aguentou-se bem. Mesmo assim grande parte dos quase 3km que fiz ao lado dela foram a caminhar. Excepto na recta da meta. Aí foi a correr para todos verem!
Missão cumprida e registada pela claque. A primeira Meia Maratona dela estava feita! O nosso outro colega chegou pouco depois.



Não houve choco frito, já tinha dito? Ele fugiu a correr dali para fora e aproveitou o cansaço dos atletas para escapar. Ou então a confusão era tal que não dava para entrar em nenhum restaurante. No entanto, a tarde naquela zona correu igualmente bem.

A classificação foi muito rápida a sair e lá fui eu à procura do Norberto, só que não. Nada. Nem um único Norberto nesta prova. Seria ele real? Ou uma miragem causada pelo calor? Teria eu inventado? E logo com este nome? Fica a dúvida... E fotos? De certeza que alguém teria tirado uma foto ao rapaz! Mas nada...

(À hora que escrevi o rascunho do texto da prova era este o estado das coisas, mas ao final da noite houve, finalmente, uma evolução.)

Depois de muito tempo sem perceber pela classificação quem seria o Norberto, eis que aparecem mais fotos da prova e num desses álbuns lá conseguir encontrar uma fotografia do jovem. Afinal é Roberto, caramba! Resta-me encontrá-lo na rede social porque a atitude dele foi 5 estrelas. Ainda hoje me diziam que o meu hábito de voltar atrás nas provas para ir buscar colegas menos rápidos merece mais que uns kudos e uns likes. Ora aqui está a maneira do universo me retribuir!

O resto da tarde foi agradável, num dia de sol e calor fantástico. Como dizia um agente da autoridade, estava um tempo óptimo, excepto para quem corre.
O desfecho foi super positivo, mas não sei se volto a fazer a prova sem uma melhor preparação. Cheguei a comentar com o João Lima que isto era um Fim da Europa mais longo. E em nada fica a dever à meia das Lampas, por exemplo, outra prova que passa pela metas.
 
Próxima paragem: Loures

Prova nº 84 - Meia Maratona de Setúbal 2018 - 21km - 02:02:20

6 comentários:

  1. Muitos parabéns pela tua prova e marca (só dois e zeros) neste percurso e dia tão difíceis!

    Um abraço e boa Loures

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    1. Obrigado João! Foi duro, mesmo!
      Será que isto é uma nova espécie de código binário?
      Forte abraço e força!

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  2. Parabéns, parabéns, parabéns!!! Só de me lembrar como é correr debaixo do sol com o calor a apertar... Desespero!

    Beijinhos

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    1. Obrigado, vezes 3!!! Eu até prefiro o calor ao frio, mas no domingo, caramba...! Só posso agradecer ao "Norberto" que foi impecável comigo. Vivam os Norbertos! :)
      Beijinhos!

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  3. Parabéns!! Estava mesmo calor e ainda tiveste energia para ir buscar a M!!! Tu não existes!!

    **

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    1. Obrigado! Pouca energia, confesso. Ainda andei a vaguear pela zona da chegada meio perdido sem encontrar a nossa claque de apoio. Ela merecia e estava a precisar daquele empurrão no final. ** :)

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