segunda-feira, 16 de abril de 2018

Estafeta Cascais-Lisboa

Desde que comecei a participar de forma regular em provas que fazer uma estafeta era um objectivo. Quando o concluí no ano passado fiquei com a certeza que era algo que queria repetir e esta era a prova que tinha em mente. Infelizmente nunca tinha tido oportunidade de a fazer antes, sobretudo por dificuldades de calendário, mas este ano foi o ano!

Tudo começou comigo com algumas dificuldades em encontrar outros três colegas disponíveis para fazermos equipa e acabou com uma comitiva de doze atletas que rumaram a Algés de manhã cedinho para apanhar o comboio para os diversos pontos de transmissão - ou no nosso caso, para ir a pé até à Cruz Quebrada. E pelo meio, uma equipa inteira que teve que ser gradualmente substituída por indisponibilidades que surgiram desde a data da inscrição, o que significa que para o ano se tudo correr bem até podemos levar mais gente para a prova. É que quem foi, quer repetir! (Embora nem todos pretendam o mesmo trajecto, mas sobre isso falo mais tarde.)

Não quero deixar passar a oportunidade de agradecer ao João Lima pelas imensas dicas de logística que me deu quando lhe pedi alguma ajuda, precisamente por saber que ele já tinha marcado presença na estafeta por várias vezes. Não segui todas a 100%, mas foram excelentes indicações para quem ia pela primeira vez e estava um pouco receoso de organizar tudo e depois lixar a prova a toda a gente ainda antes da partida por causa de algum percalço não calculado.

É claro que houve contratempos. Para além de ter andado a trocar elementos e a convidar outros para ocupar os lugares de quem não podia ir, o problema maior ainda aconteceu no próprio dia. Partida combinada para as 7:30 e às 7:45 ainda faltava uma pessoa - por acaso das mais certinhas e que nunca se atrasa. Tinha o telemóvel desligado. Ainda por cima era ele que ia iniciar a estafeta de uma das equipas. Tivemos que tomar a decisão de partir sem ele e de "aldrabar" um pouco a coisa, fazendo com que o segundo atleta fizesse os primeiros 10km. Mesmo que no final houvesse uma (justa) desclassificação daquela equipa, pelo menos toda a gente corria a sua parte do percurso. Felizmente não foi preciso e quando íamos a caminho ele ligou de volta depois de ter ido a casa buscar o telemóvel. Tinha ido para o ponto de encontro errado e pegou no carro, virou o boné ao contrário (é a sua marca registada a correr) e chegou a Algés dois minutos antes do último comboio partir. Ufa! 

Lá metemos três quartos da equipa no comboio e fui com as minhas duas parceiras de final de percurso a pé até à Cruz Quebrada, numa caminhada animada e pautada por alguma chuva constante. Fomos num misto de desejar estar no comboio com o resto da malta (e secos) com aproveitar os três para estar também na galhofa a fazer umas fotos pelo caminho. Tínhamos imenso tempo para queimar, mas como chegámos cedo ficámos logo abrigados debaixo dos toldos da organização e fomos metendo conversa com outros atletas, alguns até nossos conhecidos. A meio caminho, no entanto, uma chamada telefónica deixou alguma preocupação no ar. Onde estava a pulseira/testemunho do nosso colega que chegou atrasado? Com a confusão tinha ficado dentro do envelope, no carro. Seria possível a organização na partida no Estoril facultar outra?

Agora era aguardar. Num momento de pura telepatia perguntam-me ali se a malta do Estoril teria conseguido ir buscar uma pulseira nova. Exactamente ao mesmo tempo recebo um SMS a confirmar-me que sim. Perfeito.
Ainda recebemos um rápido esclarecimento da organização sobre a maneira como se deveria processar a transmissão para não ser demasiado confuso e passado alguns largos minutos - passados à conversa e a fazer mais fotos - começam a chegar os primeiros classificados dos 20km em linha. Quando passou o 3º classificado soltei um "Força Vítor!" Depois lancei vários outros "força" ao Joaquim, ao Rúben, ao Fernando, ao João, ao Nuno e a vários outros nomes que me possa estar a escapar, ao ponto das minhas colegas ficarem cansadas de me ouvir e terem dito "bolas, mas tu conheces toda a gente que passa?!?"  "Quase...!"

Fazíamos contas a qual de nós seria o primeiro a partir e para mim era óbvio que era a colega que por acaso até é a menos rápida dos três. Ela não acreditava, até porque foi ela que teve a equipa toda refeita depois da inscrição, mas tínhamos razão. O trio antes dela era rápido e muito homogéneo e o terceiro elemento chegou dentro do tempo de prova que eu lhe tinha dito. Ficou preocupada por ser a tartaruga da equipa, disse que ia fazer os 5km a um ritmo de 6:30m/km e ia demorar imenso. Nós dissemos-lhe que não se preocupasse, o importante sempre foi o espírito, mas eu ainda atirei que ela ia fazer 30 minutos de prova na boa. Fez 30:12. Excelente!

Eu parti pouco depois. Estava prontinho, mas foi tudo tão rápido que só meti o relógio a contar durante a descida. E arranquei a toda a velocidade por ali abaixo num sprint contante. Custou-me mais a controlar a respiração mas meti na cabeça que eram só 5km portanto era para deixar tudo ali. O colega que me passou o testemunho é uma das flechas que temos (fez abaixo dos 18:00) e eu já tinha dito que ele ainda fazia os últimos 5km mais depressa que eu. Ele disse-me que ia descansar um pouco enquanto bebia água e já me apanhava e assim foi. Fez o resto do percurso comigo não necessariamente para me marcar o ritmo mas para me ir dando ânimo. Com companhia a coisa faz-se melhor, eu é que mal falava porque estava a tentar ir no limite. "Então não digas nada e poupa o oxigénio para correr" - dizia-me ele. "Bora lá, bora lá!"

Passámos pela nossa colega do quarto percurso (e pelo colega do terceiro que lhe deu o testemunho) e continuámos em ritmo constante a rondar os 4:50m/km, excepto no primeiro quilómetro onde a descida foi claramente mais rápida. Para quem faz os restantes percursos não sei se sente o mesmo, mas fazendo o último fiquei com uma sensação bipolar de estar fresco e pronto para fazer uns quilómetros rápidos ao mesmo tempo que passava ao lado de atletas já cansados por estarem a terminar a prova de 20km e querer dar-lhes a eles umas palavras de força e ânimo. Ainda o fiz a um ou dois que há alguns minutos atrás tinham passado por mim.

Na aproximação à meta, o meu companheiro de percurso disse-lhe que ia voltar para trás para ir buscar a última participante que lá tinha ficado aos 15km à espera da sua vez. Agradeci-lhe a companhia e o espírito de solidariedade. Ninguém fica para trás. Fantástico como esta questão da estafeta reforça ainda mais os laços de companheirismo que já existem. Eu terminei a minha parte da prova sem bater o meu record aos 5km, embora tivesse pensado que se calhar o tinha feito. Só em casa percebi que estava a pensar no minuto errado, mas isso não era o mais importante.

Recolhi as medalhas do meu quarteto, mas não voltei para trás e acabei por ficar a tirar fotos e a conversar com quem ia chegando à meta. Muitos dos colegas tinham optado por regressar a correr fazendo o resto do percurso em ritmo de treino. Foi assim, aliás, que consegui convencer um colega a vir connosco. Ele queria fazer um treino longo, portanto ofereci-lhe a possibilidade de fazer os 5km do segundo percurso em competição e os restantes 10km em treino. Outros voltaram de comboio e aos poucos a equipa ia ficando completa em Belém, onde também tinha ido ter um outro colega. A festa fez-se no final quando a nossa terceira equipa completou o percurso. Desafio concluído.

Pensei várias vezes no stress que foi organizar a nossa ida à prova. Quase que jurei a mim mesmo que não voltava a passar pelo mesmo. Nada contra as pessoas que não puderam ir, atenção! Lesões, motivos profissionais e até um rapaz que tinha uma prova no mesmo dia foram tudo motivos mais do que válidos para não poder ir, mas procurar atletas disponíveis quase em cima da data não foi fácil. Felizmente houve malta receptiva. O feedback foi tão bom que já sei que para o ano assim que abrirem inscrições estou novamente a melgar a malta para fazermos equipas. E até já recebi pedidos para fazer percursos diferentes porque eu tinha sido mauzinho e lhes tinha dado o pior percurso. Confesso que a única coisa que fiz questão foi de ser eu a terminar numa das equipas. Para o ano logo vemos!

E para o ano também vemos melhor a ordenação das equipas. É certo que isto foi para brincar (e ainda aguardo os resultados individuais oficiais) mas também é verdade que podemos apostar todas as fichas numa equipa muito forte para tentar uma gracinha, eventualmente com uma equipa mista. Como a malta disse em tom de brincadeira, este ano fomos apalpar terreno e ver como funcionam as coisas, para o ano vamos lá a sério!

Próxima paragem: Santarém!

Prova nº 82 - Estafeta Cascais-Lisboa (percurso 4) - 5km - 23:19

P.S: Agora com os resultados oficiais vejo que a minha colega fez 29:55 de chip! Nunca correu tão rápido, disse-me. E sim, entrando por um patamar mais competitivo, sem a alteração forçada podíamos ter entrado na luta pelo top5 das equipas mistas, talvez até top3!

10 comentários:

  1. Deve ter sido bem giro! Parabéns pelo teu tempo :)

    Nunca fiz uma prova do género mas acho que era pessoa para me meter nisso... Para o ano logo se vê!

    Se não falarmos entretanto, diverte-te na Scalabis :)

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    1. Obrigado! Foi, foi! :)
      Para o ano pegas em mais 3 loucos e vens também. Não há mais discussão!
      Falamos de certeza, faço questão disso por causa daquilo que tu sabes. ;)

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  2. Parabéns pela aventura! :)

    Estou em sintonia com a Agri, acho a ideia super gira!

    Que sejas feliz por terras Ribatejanas!

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    1. Obrigado! :)
      Mais uma equipa para fazer se juntar à festa para o ano. Boa!
      Espero ser, nem que seja no convívio final depois da prova com a bela da imperial, bifana e pampilho! :D

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  3. Uma Estafeta é sempre muito giro e proporciona grandes momentos de convívio!
    Nesta, a logística até pode parecer complicada mas fica muito facilitada pelo comboio.
    Estiveste muito bem, com uma grande marca! Muitos parabéns!
    Isso que dizes, também notei no ano passado quando fiz o 4º percurso. Vamos cheios de força a passar por um pelotão que já vai desgastado pelo sector final dos 20 km. E parecendo que não, ultrapassar tanto pessoal com uma boa diferença de velocidade, ainda dá mais força :)

    Não sei se a esta hora já viste os resultados individuais. Caso não tenhas visto, aqui vão:
    http://joaolima.net/Resultados/Estafeta_Cascais_Lisboa/2018g.pdf

    Um abraço e que tenhas uma excelente Scalabis!

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    1. Apesar dos contratempos, valeu muito a pena! Da primeira vez parece sempre mais complicada. No nosso caso também houve a questão da alteração da hora da partida para as 9:15 o que nos obrigou a partir mais cedo do que eu tinha em mente.

      Vi os resultados ontem à noite, já editei o post com o meu tempo, mas ainda tenho que alterar o texto. A minha colega afinal fez 29:55, ainda foi abaixo dos 30 minutos!

      Não acredito que nunca tenhas feito a Scalabis! Tens que lá ir! Abraço!

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  4. Muito fixe! Eu tenho bastante vontade de entrar numa coisa destas (estafeta). Acabei de ler um livro sobre a corrida no Japão e lá os gajos levam mais a sério as provas de estafetas (Ekiden) do que a Maratona! Os corredores até se tornam vedetas de TV... mais ou menos como tu, na no GP de Natal EDP, eh eh eh Abraço!

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    1. Estava a correr tão bem até essa referência final ao meu desempenho televisivo... Humpf!
      Ekiden? Foste ao site da Decathlon procurar nomes em estrangeiro só para impressionar? :)
      Tens que experimentar. Eu sou fã!
      Grande abraço!

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  5. Bem fixe. Também nunca fiz uma estafeta, apesar de até existirem algumas em trail que dizem ser espectaculares. Um abraço e até sábado! Provavelmente vou estar na cauda, a acompanhar a minha mulher. Depois diz alguma coisa!

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    1. Pois há, em trail também há estafetas. Uma delas que me lembro até é pelas tuas zonas, em Abrantes.
      Vou tentar encontrar-te por lá sábado. Se tudo correr bem faço a minha prova normalmente e depois volto para trás para ir buscar a ET. Abraço!

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